Entramos hoje na reta final de todas as decisões do Concurso de Contos “Um Caso Policial em Gaia”. Perante oito trabalhos apresentados, o Júri começou por selecionar seis para uma nova leitura com premiação garantida, tendo decidido numa segunda fase atribuir menções honrosas a dois deles.
Flor (Madame Eclética) e Jardim do Morro (Gomes) foram os autores dos contos que mereceram essa distinção. Os restantes quatro contos ficam agora sujeitos ao crivo final do Júri, de onde sairá o grande vencedor, que autorizou, entretanto, a pré-publicação das primeiras linhas desses originais. E é o que passamos a fazer a partir de agora, respeitando a ordem da sua receção.
O Roubo da Abelha Gaia, de Tutan Kamon
Advertência ao leitor:
Para o leitor mais distraído, ou até indiferente, garantimos que esta história é uma verdadeira história policial. Entram ladrões, há roubo, há chantagem. Querem sangue?
Não sou portista nem sou gaiense. Gosto mais do Porto visto de Gaia e mais de Gaia visto do Porto. Afinal o que eu gosto mesmo é do Rio Douro. Sempre neutral acorrentado entre as margens, obrigado a correr para chegar ao mar antes da maré cheia.
Eu sou como ele. Independente e imparcial. E se não o sou faço por isso. Pressiono-me.
Um dia destes fui a Gaia para ver o Porto. Fui ao Jardim do Morro para ter a melhor vista do Porto. Gosto do casario a escorregar até cair na Ribeira. Gosto das cores das casas, Sobretudo gosto das muitas janelas de guilhotina. Coisas que mais ninguém tem senão o Porto.
Mas a vida não é feita de olhares sonhadores. As coisas acontecem e muitas vezes estamos nós no meio do turbilhão e nem damos por isso. Foi o que me sucedeu.
Junto ao miradouro onde me encontrava fica a quinta dos Smith – uma família inglesa que está em Gaia há várias gerações.
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Cruzeiro no Douro, de Z. B. Deu
Tempo maravilhoso. Céu quase limpo, nuvens esparsas que não cobriam o sol. Uns vinte e poucos graus excelentes, convidando à manga curta sem incomodar pelo calor…
Assim tinha decorrido o cruzeiro, nos seus quase oito dias pelo Douro!
Paisagens de deleite, encostas verdejantes polvilhadas de casas lindas. Várias paragens e excursões para visitar a Régua, Pinhão, Castelo Rodrigo e, claro, um par de produtores de vinho do Douro e do Porto. Com provas, naturalmente.
Agora, já no fim do cruzeiro, os viajantes davam por bem empregue a semana, já um pouco cansados de tanta movimentação em tão poucos dias.
Não tinham sido apenas as vistas e as visitas. A convivência dentro do excelente barco, as refeições em conjunto, as pernoitas todos num mesmo local tinham levado a que os viajantes se tivessem conhecido em pouco entre si, eles que, à partida, se desconheciam completamente.
O encanto dos locais visitados, aliado à natural predisposição de todos para passarem uma semana agradável, facilitou o estabelecimento de amizades ou, pelo menos, de uma convivência bem para além de simples “compagnons de route”. A ponto mesmo de gerar alguns flirts ocasionais… Ou, quem sabe, talvez não tão ocasionais…
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Sol de Inverno, de Papa Gaia
O dia amanheceu frio. O Sol brilhava em todo o seu esplendor, mas o vento cortante que soprava dos lados do Marão, fazia com que todos se refugiassem em roupa bem quente, encolhendo o pescoço para quase só sobrarem as orelhas de fora.
Carreira estava debaixo de fogo. A sua vida tinha dado uma cambalhota quando meses atrás se envolveu na investigação de um caso muito completo, em Lisboa, que o obrigou a correr riscos extremos, que se estenderam à sua família, à mulher Vera e aos filhos Joca e Sara. No momento de maior risco, foi mesmo forçado a retirar toda a sua família de Lisboa e instalá-la na aldeia, perdida na Beira Alta, numa operação de recurso, na calada da noite, em que foi auxiliado pelo seu colega e amigo de sempre, o Farinha. Toda a restante investigação acabou de forma trágica, com elevados danos colaterais, o que deixou profundas marcas em Carreira. Dois civis foram mortos em trocas de tiros e a repercussão nos meios de comunicação foi muito forte, ao ponto de quase ter sido crucificado na praça pública.
(…)
Assalto ao Banco, de Cherloque Lobão
Começava a amanhecer.
Rui aproximava-se de Vila Nova de Gaia. Conduzia veloz o carro roubado. Celso tinha-lhe ligado para ir ter com ele e o Zé, ao hotel onde estavam hospedados.
Entrou numa rua movimentada, abrandou. Os transeuntes apressados caminhavam até à paragem do autocarro, a fim de se deslocarem para o trabalho.
No hotel, Celso – o chefe da quadrilha. Cara de patife, erudito mal sucedido, vagamente licenciado em qualquer coisa, com o crime por profissão – brincava por se ter acabado a cerveja e o tabaco simultaneamente. De telemóvel no ouvido esperava que a namorada atendesse. Não sabia dela. Entretanto Zé chamou-o. Rui estava ao telemóvel a perguntar pelo domicílio do hotel.
– Não tens que enganar, rua da Bélgica, mais ou menos a um quilómetro da ponte da Arrábida – disse-lhe.
Rui chegou, estacionou e dirigiu-se à receção. Minutos depois estava com os amigos.
Tratava-se de um “trabalhinho” lucrativo, a efetuar numa discreta agência bancária, que tinham debaixo de olho.
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O JURI DECIDIU, ESTÁ DECIDIDO
Estes são os contos que o júri do concurso decidiu agrupar numa única classificação geral, cabendo-lhe agora a responsabilidade de os escalonar entre o 1º e o 4º lugar da tabela. E dessa decisão daremos conta em próxima edição. Até lá, deixamos os nossos leitores que se escondem por detrás dos pseudónimos com que assinaram os quatro contos objeto de uma última análise “à beira de um ataque de nervos”. Qual deles conquistará o primeiro lugar? – eis a grande questão!