Arnaldo Soares é presidente da Junta de Freguesia de Alfena e falou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, sobre a entrada em funcionamento do novo Centro de Saúde de Alfena, que culminou com o fim de uma luta que teve a duração de 14 anos e sobre os projetos que implementa e que ainda pretende incrementar, tento em vista a promoção da qualidade de vida da população.
Depois de 14 anos de luta, o novo Centro de Saúde de Alfena abriu ao público. Qual é a importância da entrada em funcionamento deste equipamento, que se realizou no passado dia 24 de fevereiro?
O novo Centro de Saúde de Alfena é bem o exemplo de que temos de ser persistentes e lutar por aquilo em que acreditamos. Quando, em 2006, quiseram passar os utentes do Centro de Saúde de Alfena para o Centro de Saúde de Ermesinde Bela, a Junta de Freguesia de Alfena achou que isso era impossível, porque Alfena precisava era de um novo Centro de Saúde e não de deixar de ter o que tinha, mesmo sendo velhinho. Nós fomos à procura e, junto da entidade competente, conseguimos, desde logo, o primeiro objetivo, que era que o Centro de Saúde de Alfena não fechasse e que não nos passassem para Ermesinde e, a partir daí, foi uma caminhada de 14 anos, tentando junto de todos e lembro-me das primeiras reuniões com o então deputado na Assembleia da República, Dr. Manuel Pizarro, que era na altura secretário de Estado da Saúde, que nos manifestou, desde logo, todo o apoio e nos questionou sobre a localização e sobre os terrenos. Portanto, foi também a Junta de Freguesia de Alfena e era presidente de Junta o Dr. Rogério Palhau, no mandato em que eu não estive aqui na Junta, que conseguiu junto do proprietário a cedência do terreno e fomos tentando e alertando de forma permanente para a necessidade de um novo Centro de Saúde em Alfena. Quando, ao fim de 14 anos, nós vemos o novo Centro de Saúde de uma população de 18 mil habitantes, um Centro de Saúde com cerca de 14 mil utentes, é bem a prova de que nunca podemos desistir daquilo em que acreditamos. A população sempre acreditou que isto era possível e sempre nos apoiou nas lutas que nós fomos travando. O novo Centro de Saúde de Alfena entrou em funcionamento no dia do meu aniversário e eu não poderia ter melhor prenda de aniversário do que a abertura deste equipamento, para alguns velhos do restelo, porque os há sempre em todo o lado, isto nunca haveria de acontecer, mas está aí e tal como outras conquistas, esta é mais uma e enche-nos de orgulho, tal como enche de orgulho a todos os alfenenses.
Quais foram os fatores que conduziram a este longo período de espera?
Primeiro foi a questão do terreno, ou seja, diziam-nos na ARS, e muitas vezes em conversas informais, que o Estado investia, mas que tinham sempre prioridade aqueles que já tinham terreno e nós percebemos isso, que sem terreno não íamos a lado nenhum. Portanto, a nossa primeira preocupação foi logo o terreno, contudo arranjar um terreno com as condições exigidas para a construção do novo Centro de Saúde, um terreno bem situado, em que a acessibilidade fosse boa, pois para má já bastava a que tínhamos, não foi fácil. Acontece que quando conseguimos o terreno foi naquela fase da troika e pós-troika, pelo que demoramos mais uma série de anos até conseguirmos incluir a verba no Orçamento do Estado. Por isso, se nós nos tivéssemos calado, se não tivéssemos ido à procura de um terreno, nada aconteceria, porque houve uma coisa que nós sempre fizemos que foi nunca deixar esquecer o assunto e mesmo quando nos diziam que estava tudo encaminhado nós, pelo menos de seis em seis meses, recordávamos o assunto e questionávamos sobre o estado do processo. Eu penso que também os vencemos um bocadinho pelo cansaço, porque, de facto, nós nunca nos calamos, porque isto era extremamente importante, até porque a saúde é algo de básico e muito relevante e como a saúde é prioritária para nós, este projeto foi sempre prioritário.
Qual foi o valor investido e o papel da Junta de Freguesia na construção do novo Centro de Saúde de Alfena?
A construção do edifício contou com um investimento de cerca de 1,6 milhões de euros, isto porque o terreno foi cedido. O nosso orgulho passa mesmo pelo facto de não termos deixado que nos tirassem o velhinho, por termos lutado por aquilo que eram os interesses dos alfenenses e por nunca termos desistido, porque, de resto, a Junta de Freguesia não pôs um cêntimo, nem nós temos capacidade para isso, isto são obras do poder central. Portanto, o novo Centro de Saúde de Alfena foi financiado totalmente através do Orçamento do Estado. Assim, o nosso papel aqui foi sermos porta-vozes daquilo que eram os sentimentos da população, porque, na generalidade, a maioria das Juntas de Freguesia não têm poder para realizar um investimento assim, porque a capacidade financeira é reduzidíssima, agora, o que somos é a primeira porta a que as pessoas batem. No fundo, muito daquilo que tem sido, digo eu, esta transformação de Alfena, passa também por investimento da Junta de Freguesia, mas relativamente ao muito que se tem conseguido é, essencialmente, esta capacidade de influenciar, de ir à luta, de pedir e de justificar os motivos.
O novo Centro de Saúde de Alfena foi construído a pensar na população. Relativamente às condições, o que é que este equipamento tem, que o outro não tinha?
O outro Centro de Saúde localizava-se num edifício adaptado, com grandes problemas de acessibilidade, mesmo interior, portanto existiam dificuldades no funcionamento interno. A acessibilidade, principalmente, ao próprio edifício, principalmente para pessoas com mais dificuldades, era extremamente difícil e não tinha estacionamento, como tal este novo acaba por ter tudo isso, tem acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, uma vez que funciona num piso só, está situado na zona mais central de Alfena, com transportes públicos a passar à porta e tem um parque de estacionamento, portanto eu penso que é uma mudança radical e que foi o passar de uma casa velhinha para um palácio em termos de condições físicas. Contudo, haverá sempre alguém que diz que não tem médico de família, que diz que ainda não está como gostaria de estar em termos de saúde, infelizmente haverá sempre, mas nós tínhamos e sempre tivemos um serviço de saúde de excelência, com ótimos técnicos, pelo que aquilo que muda de forma significativa são as condições em que estes serviços são prestados. Portanto, a excelente equipa que está a trabalhar neste Centro de Saúde é a mesma que estava a trabalhar no outro Centro de Saúde, as condições de trabalho, as condições de acesso à saúde, em termos de condições físicas, é que se transformaram e se existem melhores condições todos nós sabemos que o serviço também acaba por melhorar, mas não tem a ver com equipas, com médicos, com enfermeiros, com todos os intervenientes, nem com todos os técnicos de saúde, mas sim com as condições físicas.
Portanto, acredita que a saúde vai melhorar em Alfena?
Não tenho dúvida nenhuma de que se existirem técnicos suficientes, as pessoas recorrerão ao Centro de Saúde de Alfena, assim como recorrem. Eu acho que a saúde vai melhorar e vai melhorar até porque o novo Centro de Saúde está localizado numa zona que está em transformação e que está a transformar Alfena, que é um dos nossos grandes projetos, que vai andando devagarinho e este aqui, sim, com dinheiro nosso, que é o Parque Vale do Leça e que é composto por seis hectares, bem aqui no coração da cidade. São seis hectares nas margens do Rio Leça, mesmo aqui atrás do Centro de Saúde. A Junta de Freguesia abraçou este projeto há cerca de quatro anos e, aos bocadinhos, consoante vai podendo, vai fazendo algo bastante substancial, que se tornou, digo eu, no ponto de encontro de todos os alfenenses. Então, eu acredito que não há melhor do que um Centro de Saúde integrado num parque natural em torno do Rio Leça e eu acho que a própria localização também traz saúde, porque, de facto, o Parque Vale do Leça é o ponto de encontro de gerações e é o quintal coletivo, porque esta zona da cidade é bastante urbana e bem no coração da cidade, o que não é muito normal, temos um parque com seis hectares, que permite às pessoas saírem dos seus apartamentos, encontrarem-se, caminharem e viverem em comunidade, porque, muitas vezes, um dos grandes problemas, e se não é um problema é uma constatação da nossa sociedade, é que falamos todos muito sem nos conhecermos ou muitas vezes sem contacto humano, isto é, sentamo-nos atrás de um computador e depois todos falamos e todos temos opinião sobre tudo e o que nos falta, muitas vezes, para se resolverem os problemas da comunidade é falarmos uns com os outros, olhos nos olhos, e o Parque Vale do Leça permite isso e tem permitido um conjunto de eventos que, de outra forma, seriam completamente impossíveis. Portanto, o Centro de Saúde, de facto, insere-se, aqui, num conjunto que nós esperamos que seja enriquecido também no futuro, mas num conjunto de serviços, porque estamos a falar de uma cidade com 18 mil habitantes, com, eventualmente, neste momento mais de 18 mil habitantes, que está a 10 minutos do Porto, que está a 7 ou a 8 minutos do Aeroporto Sá Carneiro, que está a 10 ou 15 minutos do Porto de Leixões e que, no fundo, está afastada, mas está próxima de tudo, porque aqui tem a A41, tem a A3 e tem a A4, ou seja, nós estamos rodeados de vias rápidas. Eu tenho pessoas amigas que viviam no Porto e que vieram viver para Alfena, porque continuam a trabalhar no Porto, mas chegam mais depressa ao local de trabalho indo de Alfena para o Porto, do que deslocando-se dentro do Porto, mas elas quando vieram perguntaram-me “quanto a saúde como é que estamos? Quanto a escolas como é que estamos? Quanto a parques desportivos como é que estamos? Quanto a zonas de lazer como é que estamos?”, ou seja, as pessoas sabem que têm de trabalhar, mas depois disso querem ter qualidade de vida e isto é mais uma infraestrutura nessa caminhada de criar qualidade de vida em Alfena, porque é muito difícil nós sensibilizarmos as entidades que, de facto, têm dinheiro, para que Alfena seja uma prioridade no que respeita a criação de qualidade de vida. Primeiro, porque quando se fala em Área Metropolitana fala-se muito no Porto e, por vezes, quando se fala no norte, fala-se muito no Porto, e às vezes parece que o resto é um bocadinho paisagem, mas depois quando saímos para os concelhos limítrofes, como o nosso de Valongo, há uma cidade que, como tinha a estação de caminho-de-ferro, Linha do Douro, explodiu que é Ermesinde, que tem quase metade da população do concelho, depois do outro lado tem Valongo que é a capital do concelho e muitas vezes o poder municipal focaliza-se nestas duas cidades, numa porque tem 40 ou 45% da população e na outra porque é a sede do concelho, mas nós temos a melhor localização do concelho e é uma pena nós vermos que as pessoas querem vir e, por vezes, não vêm porque ainda falta em Alfena um conjunto de infraestruturas que possam melhorar e elevar a qualidade de vida das pessoas, pois, de facto, é isso que nos motiva e a nossa luta é essa e eu penso que o Centro de Saúde é mais um passo nessa caminhada, assim como o Parque Vale do Leça. Eu acho que o Parque Vale do Leça nos dá água pela barba, porque, de facto, é muito grande e, para as nossas capacidades, cria-nos aqui algum stress e alguma dificuldade, mas está-se a transformar, também, porque Alfena é atravessada por uma Estrada Nacional com um movimento tremendo e cresceu à volta desta rua, não tinha um centro e com o Parque Vale do Leça conseguimos criar esse centro, para o qual já veio o Centro de Saúde.
O novo Centro de Saúde de Alfena foi um sonho de 14 anos que se tornou realidade. Existem outros projetos em carteira? Quais são as suas perspetivas, desejos ou ambições para o futuro da Freguesia de Alfena?
Há um projeto que tem os mesmos anos que o Centro de Saúde e que, para nós, é a menina dos nossos olhos, porque cada terra tem de ter algo que a distingue, por exemplo, quando se fala em regueifa fala-se em Valongo, quando se fala em bugias fala-se em Sobrado, e quando se fala em brinquedo tradicional português tem de se falar em Alfena e Alfena é cada vez mais a terra do brinquedo, porque é uma imagem que criamos e que está a pegar. Tudo isto começou em 2006 ou em 2007 com uma exposição fenomenal, porque não foi uma exposição do brinquedo, foi uma exposição do nosso brinquedo, onde foi possível ter os brinquedos, onde foi possível ter as máquinas que faziam os brinquedos, ter os moldes dos brinquedos e ainda ter fabricantes, porque Alfena tem essa riqueza e o Américo, que é um expert nessa área, bem como o Dr. Jorge, que é um colaborador da Junta de Freguesia que, de facto, percebe de brinquedo como poucas pessoas percebem no nosso país, pelo que lançamos este projeto porque o brinquedo é imemorial, uma vez que o brinquedo passa gerações. Eu tenho um neto e ele gosta de brincar com o ciclista de madeira ou com a pombinha ou com os carrinhos. Os netinhos e as netinhas também gostam de brincar com as máquinas de costura ou com os fogões, mas as avozinhas também gostam, porque fazem parte das suas memórias e, portanto, Alfena teve, a nível nacional, uma pujança muito grande em termos de fabricação de brinquedo em madeira, em chapa e, na altura, já em chapa reciclada, pois já se pensava na economia circular, e, mais tarde, no plástico, com injeção em simultâneo com os outros materiais. Mas esta foi uma indústria florescente, que foi decaindo, fruto destas exigências quanto à segurança, das normas quanto à evolução do conceito de brinquedo e estava-se a perder, pelo que nós, com esta exposição, em 2006 ou 2007, pegamos nisso e olhamos para o brinquedo como algo que é de Alfena e, portanto, que nos pode tornar distintivos relativamente a outras localidades. Assim, nós criamos o slogan “Alfena Terra do Brinquedo”, mas o slogan é o que menos interessa, o que interessa é o trabalho que se tem feito. Eu posso dizer que ao longo destes 12 ou 13 anos partimos do zero e, nesta altura, nós teremos uma das melhores coleções de brinquedo deste país, essencialmente do nosso brinquedo, mas não só e não tenho dúvidas nenhumas de que teremos o melhor espólio em termos de brinquedo deste país e não foi à custa de dinheiro, foi à custa de algum dinheiro, mas, acima de tudo, de muitas parcerias e da colaboração de muita gente que gosta muito do brinquedo e que entendeu que a Junta de Freguesia poderia dar a visibilidade ao brinquedo que ele merece, não com intuitos comerciais, mas com o intuito de preservar o país e de preservar a memória. Neste seguimento, a Câmara Municipal, e muito bem, entendeu este nosso desígnio, se assim podemos dizer, de preservar as nossas memórias e também candidatou a fundos comunitários aquilo a que nós chamamos de Oficina do Brinquedo, ou seja, não vamos ter um museu, vamos ter uma Oficina do Brinquedo, porque vamos lá ter expostos, essencialmente, os nossos brinquedos, mas também vamos ter as máquinas que os fabricavam e vai haver inclusive a possibilidade de lá se fazerem brinquedos. Portanto, uma criança pode ir visitar a Oficina e vai ter também a possibilidade de trabalhar nela e de construir o seu próprio brinquedo e eu penso que isto será algo que eu não sei se haverá neste país, é natural que sim, mas estamos a falar de algo muito concreto, que é o nosso e nós temos a possibilidade de o perpetuar desta forma. Eu acredito que este projeto é extremamente valorizador, porque vai trazer muita gente a Alfena, porque sendo a “Terra do Brinquedo”, o facto de nós termos a Oficina do Brinquedo vai ser extremamente valorizador, porque vai atrair muita gente a Alfena e depois ainda vão ter a possibilidade, eventualmente, de visitar uma fábrica onde ainda se faz o brinquedo, que ainda está intacta, um dos fabricantes, o senhor Avelino Ferreira, faleceu há relativamente pouco tempo, mas a oficina dele, onde ele fazia as famosas pombinhas e o famoso ciclista, ainda está intacta e a nossa intenção é preservar tudo isso e eu penso que é daqueles projetos que são projetos de várias gerações e tudo isso insere-se numa filosofia, porque o próprio Parque Vale do Leça tem de ser o parque da brincadeira também. Portanto, Alfena agora tem um espaço onde também as crianças, os pais, as gerações e as pessoas em geral podem estar e é este conjunto que promove a tal qualidade de vida de que falei anteriormente. Outro dos projetos, e neste campo também está a haver agora disponibilidade por parte da Câmara Municipal, é a construção de um novo edifício da Junta de Freguesia. Eventualmente, aqui a culpa é nossa, do executivo e de forma com certeza mais específica minha, porque a Junta de Freguesia, para 18 mil habitantes, é mais pequena do que a Junta de Freguesia da aldeia onde eu nasci em Trás-os-Montes, que deve ter cerca de 700 habitantes.
É este o edifício da Junta, mas o dinheiro era sempre tão pouco, que nós preferimos investir no exterior, todavia chegou agora o momento, porque já não há condições nem de trabalho, nem de atendimento para as pessoas, por isso a construção de um novo edifício da Junta de Freguesia é imprescindível e nós gostaríamos que fosse também numa zona central. O senhor presidente da Câmara tem mostrado disponibilidade para nos ajudar neste desígnio e vamos ver se conseguimos e se ainda durante este mandato se inicia a construção. Um outro projeto, que eu penso que está a fazer muita falta, é a construção de infraestruturas desportivas municipais, porque nós temos, por exemplo, dois pavilhões ligados ao Centro Social e Paroquial, que estão permanentemente saturados. Nós estamos a falar de uma população de 18 mil habitantes, de uma população jovem e dinâmica muito grande, pelo que faz-nos falta a concretização e a existência de um pavilhão municipal, onde os nossos jovens pudessem, de facto, praticar desporto sem terem de se deslocar a freguesias vizinhas. Em termos de grandes construções, em termos de grandes infraestruturas, eu penso que serão estas aquelas em termos físicos. Há um outro problema que nos aflige e que deteriora a qualidade de vida de Alfena, e muito, que é a Estrada Nacional 105, porque Alfena tem uma zona industrial muito grande, onde também se localiza a plataforma logística da Jerónimo Martins, que movimenta por dia centenas de camiões. As freguesias vizinhas, que nomeadamente já pertencem a Santo Tirso, também têm um tecido empresarial muito forte e acontece que quando as autoestradas e vias rápidas passaram a ser pagas e foram lançadas portagens, os camiões passaram a deslocar-se pela estrada antiga, deixaram de ir pela via rápida, pela A41, e passaram a atravessar Alfena. Nós temos uma Estrada Nacional que corta o coração de Alfena, que não tem investimento praticamente nenhum há décadas, que cria uma insegurança, pois grande parte dela não tem passeios e a insegurança é tremenda, o piso é uma miséria e nós não sabemos o que havemos mais de fazer, porque, de facto, não tem havido investimento, neste caso, por parte das Infraestruturas de Portugal e este é um problema gravíssimo.
Contudo, isto só se conseguirá resolver se passar por duas ou três situações, porque nós estamos a falar do futuro de Alfena e que eu acho que é tão ou mais importante do que algumas das coisas que eu já referi antes. Se me perguntassem se eu preferia ter um edifício novo da Junta de Freguesia ou o Nó de Lombelho eu não hesitava em dizer que nós continuávamos a aguentar-nos neste cantinho e que o edifício da Junta vinha mais tarde, porque nós temos uma portagem, um pórtico aqui na parte norte da freguesia, que obriga todos os veículos que queiram sair para Alfena ou para Água Longa a pagarem uma portagem, uma das portagens mais caras do país por quilómetro quadrado, o que quer dizer que quer dizer que quer o trânsito ligeiro, quer o trânsito pesado sai todo aqui na Rotunda de Alfena e não vai sair à parte de cima. Nós não estamos a pedir para eliminarem o pórtico, mas se o deslocassem 700 ou 800 metros, já permitira a saída do trânsito depois de Alfena e, claro que, quem seguisse para Felgueiras, Lousada, Amarante, Vila Real ou Chaves continuava a pagar e iria pagar a portagem, mas isto aliviava-nos, porque nós fazemos parte do Grande Porto, portanto a requalificação da Estrada Nacional 105, o desvio do pórtico e outra obra que é imprescindível é aquilo a que nós chamamos de Nó de Lombelho, ou seja, na A41, que atravessa Alfena, há uma zona que faria a ligação com Valongo, em que a obra de arte está construída, os terrenos laterais estão expropriados, só que na altura não foi construído o nó de acesso, pelo que todo o trânsito que vem de Valongo e que vem apanhar a A41 tem de atravessar Alfena e se esse Nó de Lombelho fosse construído as pessoas já não precisavam de atravessar Alfena, pois entravam de imediato na A41 quer quisessem ir para a zona do Porto, quer quisessem ir para Amarante ou Chaves. Estas três obras são fundamentais, a requalificação da Estrada Nacional 105, o desvio de pórtico e a construção do Nó de Lombelho, porque isto transformaria por completo Alfena e melhoraria imenso a qualidade de vida em Alfena. Há um projeto que nós concretizamos e concretizamos já há 4 anos e que para mim é bem o paradigma da resiliência deste executivo.
Aquando da construção da A41, que atravessa o coração da cidade, por baixo do viaduto que tem 900 metros de comprimento não tinha nada e nós, no coração da cidade, olhamos para aquele espaço por baixo do viaduto e lá estava mais uma lixeira, lá estava mais um monte de coisas que nós não queríamos ver no coração da cidade e andamos mais de dois anos a apelar junto das entidades oficiais e a envolver um conjunto de ministérios, para que nos cedessem o espaço que se encontra por baixo da autoestrada e conseguimos que o espaço nos fosse cedido e nós hoje temos lá uma feira semanal, que tem telhado e tudo, de um dos lados e do outro lado um grande parque de estacionamento, mas não é só a feira, nós acabamos por ter uma sala de espetáculos ao ar livre, porque muitos eventos são lá realizados e, principalmente, quando o tempo está mais incerto, lá vamos nós para debaixo do viaduto porque ali, pelo menos, está mais abrigado. Este é um espaço que se estava a transformar numa lixeira e nós acabamos por transformá-lo numa mais-valia para a realização da feira semanal, para a feira das velharias, que se realiza uma vez por mês, e para todo o tipo de encontros que elevam a freguesia. Daqui a pouco vai realizar-se o aniversário do Motoclube de Alfena e vai ser neste espaço que nós reabilitamos, onde tem sido sempre, porque tem a vantagem de ter um espaço com um edifício de apoio e, por outro lado, um estacionamento com lugar para centenas de carros. Falando em eventos, há outra relação que faz parte desta Junta de Freguesia desde o início, que é o apoio ao associativismo, porque as associações têm um papel fundamental em qualquer comunidade, pelo menos na comunidade portuguesa, por vários motivos, primeiro porque ocupam as pessoas com o que elas gostam de fazer, segundo são momentos de partilha, porque para além das pessoas estarem ocupadas, criam relações com pessoas que não estão e muitas vezes são essas relações que as ajudam a resolver problemas do dia-a-dia, porque é muitas vezes nas associações que as pessoas encontram uma almofada mesmo para as suas vidas privadas e nós entendemos desde o início que a nossa missão muitas vezes não era fazer eventos, mas sermos parceiros das associações para tornar possível que elas desempenhem a missão a que se propuseram, pelo que muitos dos eventos que estão permanentemente a acontecer exigem muito da Junta de Freguesia e é essa a nossa missão, porque praticamente não existem eventos onde a Junta de Freguesia não esteja envolvida como parceira das associações e nós procuramos, de alguma forma, equiparmo-nos para termos esta proximidade com as associações, porque as associações desempenham um papel fundamental na comunidade e são as dinamizadoras do conjunto de preservação da nossa cultura, portanto há um papel muito importante da Junta de Freguesia na dinamização do apoio às associações.
Dentro do associativismo, nós também fomos parceiros do Mercado Medieval, porque Alfena sempre esteve sempre no cruzamento dos caminhos entre o norte e o sul, porque Portugal tinha uma ponte que ligava Porto a Guimarães e que agora foi substituída pela Estrada Nacional 105 e, em termos medievais, teve uma feira que fornecia ferro e é por isso que existe um lugar chamado Ferraria em Alfena, que fornecia de ferro o Porto e nós o ano passado achamos por bem e, em parceria com a Associação Expande Conquistas, fizemos o primeiro Mercado Medieval, que foi um êxito e que se realizou no Parque Vale do Leça e nós esperamos este ano voltar a realizá-lo no primeiro fim de semana de julho. Este Mercado Medieval foi uma surpresa para todos nós e projetou Alfena de uma forma inimaginável. Nós, na altura, mandamos fazer pulseiras de ingresso para um dia e para o fim de semana e colapsou na sexta-feira porque vendemos as de sexta e as de sábado e no sábado tivemos de recorrer a amigos que têm empresas de impressão, porque no sábado já tínhamos vendido todas as de domingo. Portanto, nós não conseguimos ter uma noção, mas ao todo acreditamos que mais de 12 mil pessoas passaram estiveram no evento. Neste seguimento, ainda temos outro evento, que já terá a quarta edição, o Folk Fest, que é organizado pela associação ASPRECA – Grupo de Danças e Cantares de Alfena, e este ano com uma amplitude ainda maior, porque o Folk Fest é um festival de folclore internacional, que tem aportado a Alfena, nas últimas três edições, grupos oriundos de várias proveniências, do Brasil, da Eslovénia, da Eslováquia, de França, de Itália e da Sérvia. A duração é de três dias, portanto realiza-se durante o fim de semana, mas, na realidade, ocorre durante cerca de 10 dias, porque como os grupos têm de se deslocar dos seus países até cá, acabam por vir antes e depois permanecem aqui. Nós arranjamos alojamento, restauração e é um evento que este ano também vai ter uma nova localização, pois tem decorrido no Centro Cultural, mas este ano vai ser no nosso Parque Vale do Leça. De acordo com o responsável da ASPRECA a intenção é que este ano corra tão bem que possa ser integrado no circuito internacional da UNESCO. Este evento é extremamente interessante pela envolvência que cria com a comunidade, porque para além daqueles três dias de festival em si, durante a semana os grupos têm de trabalhar para ganhar dinheiro para comer como diz o Ricardo Oliveira, presidente da ASPRECA, assim, durante a semana os grupos vão a diversos locais da freguesia, não a locais centrais, e dão um espetáculo para as pessoas da localidade e, no fundo, percorrem a freguesia é uma forma de divulgarem o Festival, mas, ao mesmo tempo, criam interação com a própria freguesia e acaba por criar uma envolvência muito grande.
Há também que fazer referência a um evento de dimensão muito grande, que foi permitido graças à existência do Parque, em que a organização, em termos de custeio, é inteiramente da Câmara Municipal de Valongo, nós somos parceiros, mas parceiros pobres, que é a Festa do Brinquedo, que é um projeto da Câmara Municipal, que é realizado em parceira com a Junta de Freguesia, mas a parte financeira e a organização técnica é da parte da autarquia e é também um dos eventos marcantes. A concentração motard, organizada pelo Motoclube de Alfena, que contemplou 12 anos no passado dia 7 de março e, segundo a Federação Portuguesa de Motociclismo, é já, a norte do país, a maior concentração e a terceira maior no âmbito nacional e esta concentração tem aportado a Alfena cerca de 10 mil motards no encontro que se realiza em junho. O Motoclube de Alfena já é a nível nacional o segundo motoclube com mais sócios e estes eventos ultrapassam, claramente, aquilo que são os limites da freguesia. Há um outro projeto que é um projeto social de que nos podemos orgulhar muito, porque não haverão, com certeza, muitas Juntas de Freguesia que tenham tido essa sensibilidade. Nós ganhamos as eleições em 2005 e em 2006 a nossa sociedade pensava, nós estamos a falar há 14 anos atrás, pelo que a realidade da nossa sociedade era bem diferente da de hoje, porque hoje já pensamos nisto, mas há 14 anos atrás a nossa sociedade estava mais virada para as crianças e para os jovens e não tinha tanta sensibilidade para aqueles que já tinham vivido e que tinham dado tudo. Assim, em 2006 ou 2007, nós recuperamos um edifício, que era de uma associação, do Atlético Clube Alfenense, e aí fundamos a nossa Escola Sénior, onde um conjunto muito grande de seniores ocupava uma parte significativa do seu dia com atividades culturais. Durante este período surgiu o interesse por parte de uma entidade privada de saúde, o Grupo Trofa Saúde, em localizar aqui uma unidade de saúde, então temos o Hospital Privado de Alfena, que pertence ao Grupo Trofa Saúde e nós fomos parceiros na criação de ligações com os proprietários dos terrenos, onde o Grupo estava interessado em instalar-se, porque nós acreditamos que, embora privado, o Hospital era daqueles investimentos que constituem uma mais-valia para Alfena e fruto desta relação deram-nos um autocarro de 22 lugares, avaliado em quase 100 mil euros, que nos permite trazer, até aos dias de hoje, um conjunto de atividades para, essencialmente, os nossos seniores, mas onde não vão só aqueles que têm muita mobilidade ou que têm carro, onde vão aqueles que se nós não fossemos busca-los, eles nunca sairiam de casa e, por isso, o nosso autocarro, e às vezes já é curto porque as nossas escolas também nos pedem colaboração, vai buscar as pessoas leva-as à hidroginástica, à ginástica e à sala de convívio, ou seja nós demos este arranque e depois, mais tarde, a Câmara envolveu-se e nesta altura também há uma parceria com a Câmara, mas os nossos seniores, de facto, só não estão ocupados se não quiserem, porque até o mimo de os irmos buscar nós conseguimos dar e isto, para mim, faz todo o sentido e hoje já há uma sensibilidade diferente, mas quando nós começamos eu penso que fomos, de alguma forma, inovadores, pois tivemos sensibilidade para isso, mas, em simultâneo, pensamos também naqueles que estão fragilizados, porque, hoje, o desemprego não é residual, para quem está desempregado não é residual, é importante e hoje os valores são menores, mas não vai há muitos anos que tínhamos uma taxa de 15, 16, e 17% de desemprego e havia muita gente que não tinha o que comer ou não tinha dinheiro para pagar a fatura da água ou da luz e nós criamos, também dentro das nossas possibilidades, quer o apoio alimentar, que permitia que quem necessitasse não fosse embora sem um saco com alimentos, quer um Banco de Horas, através do qual nós pagávamos as faturas da água e da luz em troco da prestação de serviços à comunidade, porque não era a Junta que estava a pagar, era o dinheiro de todos, e isto era feito de forma criteriosa, porque o que a Junta de Freguesia teve, desde cedo, no seu quadro foi uma técnica social, para acompanhar e para analisar todos os casos. Portanto, nós estamos a falar de um Banco Alimentar local, estamos a falar de um Banco de Horas e estamos a falar de algo que nós fizemos muito antes de se ouvir falar na Refood, porque nós vamos buscar todos os dias sobras de comida e há cinco ou seis famílias que, diariamente, vêm ao fim da tarde buscar aquilo que houver, às vezes só há sopa, mas vêm buscar as sobras que nos dão.
Para além disto, nós praticamos a economia circular talvez há 10 anos, aliás eu acho que o conceito ainda não circularia por aí ou se circulava seria de uma forma muito restrita, e dentro deste âmbito do projeto social, nós já mobilamos dezenas e dezenas e dezenas de casas, porque ninguém deita nada fora em Alfena, isto é, quando alguém tem alguma coisa para deitar fora liga-nos, se tem um quarto, se tem uma sala, se tem um frigorífico liga-nos, nós vamos buscar os artigos e aquilo que olhamos e que vemos que já não tem condições levamos ao ecocentro e preferimos ir levar do que ver as coisas na berma da estrada, aquilo que ainda tem condições, nós pagamos o aluguer de um armazém aqui ao lado e guardamos e depois, quando chega alguém junto da técnica social e lhe pergunta se temos, por exemplo, um carrinho de bebé, um berço, um quarto, nós vamos ao armazém buscar e vamos levar a casa das pessoas e nós já fazemos isto há mais de 10 anos. Nós já fomos buscar tudo a apartamentos, desde louças, mobílias, roupas, tudo e tudo é dado e nós não deitamos nada fora. Nós temos um conjunto de instituições ligadas aos hipermercados com as quais temos protocolos, onde nós vamos, regularmente, buscar alimentos ou porque estão prestes a expirar, ou porque as embalagens rebentaram e é muito com isso que completamos o nosso Banco Alimentar. Na questão do vestuário é exatamente a mesma coisa, as pessoas não deitam a roupa usada fora. O nosso projeto social funciona num antigo infantário e é lá que nós temos a nossa plataforma e temos também inclusive uma sala com toda a roupa que nos foi dada exposta. Quando nos dão roupa, nós fazemos uma seleção e a que está em condições nós lavamos e expomos na nossa Loja Social, a que não está em condições nós entregamos a uma instituição que a reaproveita para fazer outras coisas. A nossa Loja Social está organizada e tem provadores. Se for por indicação da técnica social, que lá trabalha, a roupa é dada, se não for, as peças podem ter o custo de 0,50 cêntimos ou de 1 euro, isto é, de um valor simbólico, só para racionalizar a utilização. Portanto, é este conjunto de atividades que nós desenvolvemos no dia-a-dia. Nós também estamos inseridos num outro projeto que é Alfena Circular, dentro da Economia Circular e já é a segunda vez que nos candidatamos ao Projeto da Economia Circular e fomos contemplados dois anos seguidos com o fundo ambiental. Neste seguimento foi criada uma plataforma digital onde podem ser trocados artigos de geriatria e de puericultura.
Puericultura, porque os pais compram tudo para os bebés, mas aquilo passa tudo muito rápido e os artigos ficam novos e geriatria, porque também, muitas vezes, no fim da vida se compra tudo para dar o máximo conforto àqueles que nos são queridos, mas que também acabam por não utilizar durante muito tempo e muitas vezes as pessoas guardam estes artigos, que ainda estão novos, e nesta plataforma as coisas não têm de ser dadas. No outro projeto que nós temos é tudo dado, mas neste não, nós criamos uma plataforma, em que o que lá se coloca é controlado por nós, mas que vai permitir o encontro entre quem tem produtos de geriatria e puericultura e quem precisa de algum artigo de geriatria ou de puericultura, depois o negócio é feito entre as partes interessadas, porque nem tudo precisa de ser dado, o que é preciso é fazer circular. Porém, a gestão daquilo que lá é colocado é feita por nós, depois o negócio é feito entre as duas pessoas diretamente, mas lá está, mais uma atividade, tudo isto dentro do projeto social. A grande característica da Junta de Freguesia, e eu acho que este executivo prima nisso, é que andamos na rua, cruzamo-nos com as pessoas, conhecemo-las, sabemos o nome delas e há uma interação permanente, pois nós não estamos em nenhum gabinete onde tomamos decisões, nó não estamos longe. A Junta de Freguesia tem esta proximidade, o que depois também tem o reverso da medalha, porque a proximidade por vezes também nos traz dissabores, mas o saldo é muito, muito, muito positivo. Há uma frase que eu utilizo e que nós utilizamos como filosofia de vida autárquica, desde o início, “não adianta nada termos um castelo dourado se lá dentro vive gente infeliz”, por isso, não fazemos mais do que a nossa obrigação, em ajudar e em educar também, porque muitas vezes também é preciso, porque não é a dar só que se ajuda a crescer, é preciso também educar. Nós trabalhamos muito todos os dias, porque de outra forma também não seria possível um Movimento Independente estar há 16 anos na Junta de Freguesia.