Era eu ainda pequenita e já sentia que, na sua maior parte, as pessoas eram estupidamente más.
A Maria comprava uma boa mobília nova. A colega Beatriz conseguia logo uma, ainda melhor, mais valiosa, de encher o olhar.
O Sr. Alfredo aparecia com um carro brilhante, de excelente marca. O seu amigo Zé Pedro ia, a todo o custo, comprar um mais brilhante e de maior valor.
É um pequeno exemplo que explica certas palavras, como inveja, ciúme, egoísmo, ódio.
Eram-me indiferentes porque não viviam dentro de mim, mas pulavam-me na mente, em busca de uma solução em que todos fossem amigos e se regozijassem com o bem-estar Uns dos Outros.
Dentro dos meus sonhos de adolescente, desenhava galáxias, planetas, outras estrelas, talvez. E pensava que, se os habitantes de um desses planetas quisessem destruir a Terra e a atacassem com as suas armas próprias, fortes, verdadeiramente bélicas, os habitantes do nosso Planeta se uniriam, conciliando forças para se defenderem.
Pura inocência, os meus sonhos.
Acreditar na união, na solidariedade…
Hoje em dia, um inimigo, muito mais forte do que um exército bem armado, invencível, está a dominar-nos, a seu belo prazer, com garras de vencer tudo e todos, toda a Terra, com países e respetivos povos.
Seria, então, de acreditar que esta calamidade aterradora a que se chama pandemia e que entrou de rompante, sem sequer bater ao ferrolho, tornaria mais tarde um mundo diferente, melhor, muito melhor até. Todos unidos, a lutar para o mesmo lado, com a mesma garra, igual mestria, pensando em ajudar-se uns aos outros, e não em se exibir pessoalmente.
Humildade, luta em comum, discernimento, cooperação, solidariedade…
Enganaram-se os que se convenceram que iriam todos refletir e mudar, pensando sempre nos Outros e cooperar com eles.
Mas não, o egoísmo tornou-se ainda maior. As pessoas aumentaram a sua ânsia de ser Alguém.
Mas pergunto a mim mesma – O que é ser Alguém? Não sei, nem nunca saberei.
O que sei é que é absolutamente inaceitável, incompreensível e, acima de tudo, criminoso, haver contínuos conflitos, conjuntos de opiniões antagónicas e falta de honestidade intelectual para, serenamente, as entrosarem num Todo equilibrado, estável, bem posicionadas, sem colisões insolúveis.
Nada disso. Elas são sim o empurrão para toda uma falência na Saúde, na Economia, na Educação, na Justiça, no Governar um país desorientado.
Não podemos dramatizar demais esta terrível crise total, nem, de modo nenhum, apenas ignorá-la levianamente.
Assim, todos, em conjunto, poderemos ter Esperança no Futuro que há-de chegar.
Lutemos por ele!
Ana Maria Ponce, 82 anos – Residente no Lar Imaculada Conceição, da Santa Casa da Misericórdia da Trofa