Pode o leitor, legitimamente, considerar o título cínico. Há uns anos atrás registei uma frase de uma formadora: “sobre esse assunto, devemos confiar, desconfiando”. Escalpelizemos. Então devemos desconfiar dos anúncios de emprego? Eles não são uma coisa boa? Sim e não. Tem dias.
Quem procura emprego deve observar sempre os vários anúncios de emprego com que se vai deparando. Não se é mais ou menos bonito, mais ou menos artístico, se tem melhores ou piores condições.
A observação deve ser outra. O anunciante é reputado, uma entidade credível e fortemente implantada? O anúncio faz sentido ou é para “vender gelados no inverno e chocolate quente no verão”? O anúncio tem demasiado texto a explicar os grandes atributos do empregado e pouquíssimo texto a descrever as funções, o perfil pretendido e as condições sob as quais se pretende estabelecer a relação laboral?
O anúncio é omisso em tudo o que importa? Estamos perante um “anúncio mistério”, do tipo “contacte-nos que depois logo lhe dizemos como tudo se vai passar”? O anúncio exibe várias vias de contacto com o empregador ou pede respostas para emailcriadoapenasparaisto@maildescartavel.pt? O anúncio é recorrente, dando a entender que “ninguém quer, ninguém pode com isto”? Parece demasiado bom para ser verdade?
Bom, se chegou até aqui, talvez já pense que o melhor é desconfiar de tudo e de todos e atirar a toalha ao chão. Não é esse o caso.
Existem muitas ofertas de emprego credíveis que todos os dias vão surgindo na nossa praça.
Considere como bons sinais verificar se se trata de uma entidade conhecida, estabelecida ou em ascensão; Google se necessário. Se encontrar boas ou más referências, poderá tomar a sua decisão. Se não encontrar nada, desconfie. Qualquer leigo cria uma conta nas redes sociais em poucos minutos. Observe se se trata de um anúncio logicamente organizado, que explique quem procura, do que se trata, o que se pretende e como se concorre. Apresentar vários canais de comunicação (website, redes sociais, email, contacto telefónico) é sempre bom sinal. Quem não deve não teme. O anúncio pode não dizer diretamente quem contrata, mas se cumprir as regras anteriores e disser algo como “empresa com forte implementação” ou “empresa na área de…” e cumprir as regras anteriores, deverá ser credível. Existem motivos pelos quais as entidades poderão optar pelo anonimato como, por exemplo, não dar a entender à concorrência que estão a recrutar.
Atente nisto e lembre-se que não é apenas a organização que escolhe o candidato, o candidato também escolhe onde vai e onde não vai. Confie, sempre desconfiando.