Responsável pela organização da primeira Noite Branca de Gaia, a AMARGAIA é uma instituição sem fins lucrativos, que promove o desenvolvimento com ações, com o intuito de melhorar a qualidade de vida no concelho gaiense. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Manuel António Ribeiro, presidente do conselho diretivo da Associação para o Desenvolvimento de Gaia, fez um balanço muito positivo deste evento, revelando que superou todas as expectativas. Honrado pelo trabalho que tem desempenhado à frente dos destinos da AMARGAIA, o dirigente falou sobre os seus maiores sonhos, mencionando, ainda, os inúmeros projetos inovadores, que têm vindo a ser implementados, com o intuito de dar respostas sociais e apoiar tanto o setor público, como o privado.
Com o grande objetivo de promover o desenvolvimento local, a AMARGAIA realizou entre os passados dias 9 e 10 de setembro a primeira Noite Branca de Vila Nova de Gaia. Como surgiu a ideia para a realização deste evento? Qual foi o principal objetivo?
Quando nós tivemos a ideia de organizar este evento, não foi para superar nenhuma das Noites Brancas que existe no país, quer em Braga, quer em Gondomar, quer em Albufeira, quer noutras cidades. Não foi esse o objetivo, até porque cada cidade tem o seu carisma, a sua geografia, a sua paisagem e a sua cultura. Por isso, nenhuma Noite Branca vai ser igual em qualquer cidade. Aliás, eu estou convencido de que, nos próximos anos, quase todas as cidades terão uma Noite Branca, porque o conceito, se não estou em erro, vem de Paris, com o espírito do branco, da paz, partilha, amor, amizade e solidariedade, ou seja, é uma cor neutra, não há religiões, não há cores partidárias, não há clubismos, pois todos partilham o mesmo espaço com um único propósito, poderem divertir-se, conhecer melhor a cidade e poderem, culturalmente, também, digamos, inovar-se, até porque estes eventos têm uma componente cultural de elevada envergadura, uma vez que há animação de rua, que é um outro conceito de animação cultural, pois não é só nos espetáculos fechados que o há. Grande parte destas noites são feitas no verão, numa altura em que há turismo e onde as pessoas também gostam de se divertir, passear e viajar com a família, para criarem memórias. Relativamente à origem desta ideia, a AMARGAIA é uma Associação de Desenvolvimento Local, que tem como propósito, no seu objeto social, a promoção do desenvolvimento em variadas áreas, nomeadamente cultura, desporto, empreendedorismo, formação, ação social, área financeira, turismo, gastronomia e etnografia, portanto esbarra em quase todas as áreas da nossa sociedade. Nós não podemos estar à espera de promover, por exemplo, o turismo apenas através de publicações nas redes sociais. Hoje nós competimos, passo a expressão, com outras cidades, porque quando falamos em turismo, em economia e no mercado, aqueles que tiverem os melhores hotéis, as melhores paisagens, a melhor gastronomia, os melhores acessos em termos de mobilidade e apresentarem algo diferenciador de todos os outros municípios, captam turismo e Gaia tem um potencial enorme na resposta, digamos, a esse mercado, mas nós só temos capacidade, porque, em termos de equipamentos, o concelho já está dotado de infraestruturas significativas, com dignidade e nobreza, em termos de modernidade, e a nova linha do metro, que vai ligar Gaia ao Porto, na zona do Campo Alegre, vai aumentar ainda mais esta rede de mobilidade, não tenho dúvidas nenhumas. Posso partilhar consigo que nós tivemos turistas que, em plena Noite Branca, disseram-me que adoraram estar na parte nova da cidade do Porto, ou seja, achavam que estavam no Porto, logo, isto é preciso ser desmontado. Não é nada contra o Porto, mas nós temos que, de facto, dar valor e tornar isso, digamos, visível para que as pessoas venham a Gaia e não digam que estão no Porto, pois são duas cidades completamente diferentes, com dois potenciais ímpares. Aliás, eu até eu posso dizer que não conheço, no mundo, nenhum local com a beleza única daquelas duas zonas ribeirinhas, que são ímpares, daí a ideia de criar este evento, que contou com uma afluência, que até superou as nossas expectativas, pois foi o ano zero, o ano embrião. Eu acho que nasceu o bebé, que, agora, há de crescer, naturalmente, mas não tenho dúvidas nenhumas de que esta iniciativa tem todas as condições e todas as capacidades para ser um grande evento em Gaia, porque aquela montra, aquele pátio, aquele palco daquela zona ribeirinha e o rio, têm potencialidade, tanto a praça do lado de Gaia como do lado do Porto, pois, ali, é possível concretizar coisas incríveis, que podem, de facto, dinamizar todo aquele tecido empresarial. Porquê? Porque nós achámos, e aqui o objetivo da ideia, que considerando o tecido empresarial que existe nesta localização, as pessoas acham que já vão para lá muitos turistas e que já é muito movimentado e é verdade que, relativamente às freguesias do interior, tem muito mais pessoas a frequentar, só que, contrariamente às freguesias do interior, tem uma enorme capacidade de resposta, com restaurantes, cafés, vários tipos comércio, até hotéis, que precisam de pessoas, porque se não forem alimentados, não há, digamos, a progressão de desenvolvimento daquela zona, porque, por exemplo, ainda há muito imobiliário degradado lá e esta capacidade do empreendedor investir na aquisição ou arrendamento dos espaços e na sua transformação em restaurantes, cafés ou outro tipo de comércio ou bares, vem, de facto, dar uma dinâmica àquele local, preservando os habitantes e, aí, cabe ao município fazer uma gestão, porque estamos numa zona histórica e Património Mundial, dos locais que podem e não podem deixar de ser habitação, para passarem a ser a comércio ou outro tipo de equipamento, porque eu sou contra que se “expulsem” e não se protejam as pessoas que vivam naquela zona, pois é muito importante, para manter a edilidade daquele local, porque há muitas pessoas que visitam aquele espaço, para verem o carisma, os hábitos quer de Gaia, quer do Porto, porque eu confesso, por exemplo, que acho que a Ribeira do Porto está a correr o risco de perder a identidade, porque estão quase que obrigar aquelas pessoas que, no passado, estendiam a roupa nas varandas e usavam aquele vocabulário característico a saírem, ou seja, está a descaracterizar-se, pelo que quando nós pensamos neste evento, o objetivo era que se promovesse o desenvolvimento, digamos, em todo este local e, por último, acho que é uma consequência, também, a promoção de Gaia. Quando foi criada a marca de Gaia, pelo atual presidente de Câmara, houve um propósito, promover o município. Com esta iniciativa, e eu faço uma pequena ideia da quantidade de selfies e fotos que foram tiradas nestas duas noites, o concelho foi divulgado pelas redes sociais fora, ou seja, as pessoas ficaram com a consciência de que Gaia é aquela zona onde tem a Serra do Pilar, a Ponte Luís I, as caves de vinho do Porto, aquela gastronomia típica e própria daquela região. Tudo isto junto, dá, na minha opinião, o resultado e a essência do que é a AMARGAIA, ou seja, uma associação que promove o desenvolvimento com as ações. Ora, com este evento, eu não tenho dúvidas nenhumas de que, neste fim de semana, faturaram-se milhões de euros, em todo aquele tecido empresarial, quer nos hotéis, como nos restaurantes, cafés e comércio, ou seja, movimentaram ali milhares de euros e o nosso propósito era que aquele tecido empresarial conseguisse absorver, digamos, aquela contrapartida, mas mais, pois o objetivo é que quem veio, queria repetir. O que mais me tocou foi primeiro achar que todos os eventos são difíceis de serem organizados, mais ainda pela AMARGAIA, porque é uma instituição sem fins lucrativos, que não tem técnicos, nem organiza eventos. Todos nós somos voluntários, ou seja, organizar um evento desta natureza tem o seu grau de dificuldade e depois, também, tem a consciência de que este evento foi aprovado em Assembleia, em 2020, no Plano de Atividades, mas não o conseguimos fazer, fruto da pandemia, então adiamos para 2021, altura em que confinamos e voltamos a adiar para 2022. Em janeiro e fevereiro de 2022 estávamos confinados e em março a coisa começou a abrir, a DGS começou a levantar algumas restrições e em maio começamos a ver que o país começou a regressar à normalidade e nós, em reunião, achamos que não devíamos adiar mais um ano e como era o ano zero, era normal se fosse mais humilde. Na altura, falamos com o presidente da Câmara, no sentido de perguntar se ele apoiava e ele apoiou, mas não o conseguia fazer financeiramente, porque o Orçamento para 2022 foi aprovado em 2021, mas apoiou e autorizou as licenças e o evento. Mas, sem o apoio financeiro seria extremamente difícil. Tivemos um apoio inexcedível da Junta de Freguesia de Santa Marinha e São Pedro da Afurada e eu tenho de dar, digamos, esta palavra ao executivo, em especial ao doutor Paulo Lopes, que, desde o primeiro dia, ficou do nosso lado e demonstrou-se disponível para o que precisássemos. A Junta financiou a animação de um palco, o próprio barco no qual fizemos a abertura do evento, portanto, tivemos uma ajuda inexcedível por parte do executivo e, depois, recorremos a todo o tecido empresarial. A AMARGAIA, como é uma associação que também apoia as empresas associadas, porque tem esta relação que eu acho que deve existir entre o setor privado e social, tem uma grande rede de parceiros. Então, nós recorremos ao setor empresarial, fomos bater a várias portas e de uma forma muito nobre todos apoiaram o evento, porque acharam que era uma iniciativa que vinha para ficar, isto é, foi uma semente que germinou, no próprio evento. As dificuldades continuam a existir, para fazer face aos compromissos que nós assumimos. A questão financeira foi, de facto, a nossa dificuldade. Se nós tivéssemos tido um apoio da Câmara, em termos financeiros, era uma coisa, mas não foi possível, porém, estou certo de que no próximo ano e nas próximas edições, o município abraçará esta cooperação, porque a projeção do evento, em termos municipais, terá outra envergadura. Relativamente aos espaços, tanto o WOW nos cedeu a Praça para instalarmos um palco, como o Cais de Gaia, a empresa que gere aquele empreendimento, que nos cedeu amavelmente dois espaços, para colocarmos os palcos, quer a Sogrape, que gere através da empresa que tem concessionada o Largo da Sandeman, foram inexcedíveis, extremamente amáveis e apoiaram de imediato, sem qualquer tipo de contrapartida, ou seja, tudo isto é ajuda, desde, inclusive, até a Castros, na colocação da iluminação da Noite Branca e todo aquele espaço de montra, para as pessoas tirarem selfies. Por tudo isto, nós temos de ficar gratos por esta cooperação, que correu maravilhosamente bem, porque as pessoas aderiram. Posso dizer-lhe que, no fim, nós ficámos surpreendidos com o resultado, não vamos estar, aqui, a ser demagogos, como também os próprios agentes ficaram maravilhados com a envolvência e a organização. Eu acho que foi um evento que, de facto, recolocou Gaia e divulgou mais o nome do município. Confesso que ambiciono e gostava imenso que quando todas as pessoas chegassem ao aeroporto e entrassem naquele corredor, em direção às chegadas, encontrassem imagens a dizer Gaia. Eu não tenho nada contra o Porto, gosto imenso da cidade, mas as caves de vinho do Porto são em Gaia, o Marés Vivas é em Gaia, o teleférico é em Gaia. Há uns anos atrás, Gaia não tinha capacidade de resposta, mas hoje em dia, já começa a ter uma resposta enormíssima em hotelaria, ou seja, os hotéis, atualmente, já dão uma capacidade de resposta considerável, que não davam no passado, só que os motores de busca e todo este ambiente esta relação do turismo, têm de se envolver, para que haja uma separação entre Porto e Gaia.
Referiu que o evento superou as suas expectativas. No total, quantas pessoas participaram na iniciativa?
Como deve imaginar, eu não consigo contabilizar, mas há várias entidades que falam em 40 mil pessoas por dia. Eu não consigo precisar, mas posso dizer mesmo que, independentemente do número, superou as nossas expectativas, porque nós nunca pensámos que teria tanta adesão, uma vez que não utilizamos qualquer outdoor. Amavelmente, a DREAMMEDIA cedeu-nos dois painéis publicitários e eu estou-lhes grato, porque tendo em conta ao facto de termos decidido apressadamente, entre maio e junho, organizar a primeira Noite Branca de Gaia para o segundo fim de semana de setembro, e eu assumo e reconheço isso perante todas as entidades, foi muito em cima da hora, pelo que eu agradeço a todas as empresas que disseram que sim e às que disseram que não podiam, tendo em conta o timing, nada contra, mas tenho de enaltecer aqueles que, mesmo num curto espaço de tempo, conseguiram ajudar-nos, como é o caso da DREAMMEDIA. Nós preparamos uma decoração humilde, tendo em conta os nossos recursos e o nosso pessoal, porque tivemos de fazer uma gestão apertada, mas naquelas duas noites, aquela marginal esteve repleta de gente, o que quer dizer que as pessoas aderiram, porque, felizmente, acho que uma das poucas vantagens que as redes sociais têm, para além de nos permitirem falar com aquelas pessoas que estão longe, quando não nos conseguimos deslocar, permitem, também, promover um evento ou um produto. Portanto, independentemente do número, estiveram milhares de pessoas. A palavra é incrível, foi mesmo maravilhoso, alias eu digo que se o ano zero foi assim, como será o ano dois, três, quatro e por aí fora? Isto deixou-me com o meu coração preenchido, porque todos aqueles voluntários da AMARGAIA, todas aquelas pessoas que estiveram à frente deste evento, quase sem recursos, só com o seu tempo, conseguiram pôr de pé esta estrutura, bem como, também, o senhor Carlos Cruz, porque foi ele o dinamizador e quem contactou todos os artistas, palcos e sons, que nós contratualizamos, mas tenho de fazer este agradecimento, como é óbvio, mesmo a todas as pessoas que fizeram parte, todos os artistas que lá estiveram, estou-lhes efetivamente grato, porque, de facto, foi um evento inesquecível. Nestas coisas, o mais difícil é fazer o primeiro, porque se existiam dúvidas, estas dissiparam-se, pois no início havia algum ceticismo. Isto é que é a AMARGAIA, nós com este evento promovemos a dinamização económica do tecido empresarial e isto vai traduzir-se num desenvolvimento local, não tenho dúvidas nenhumas, porque se os empresários estiverem estáveis e estiverem economicamente, digamos, tranquilos, muitos funcionários serão contratados e se houver mais postos de trabalho, as pessoas passam a ter dignidade. Por isso, esta dinâmica e esta promoção desenvolvimento é essencial. Nós tivemos lá imensos turistas, os hotéis estiveram esgotados, inclusive, e isto, para nós, é uma sensação de dever cumprido, ou seja, fizemos esta iniciativa e acho que foi útil para o tecido empresarial e para Gaia, que também é este o propósito, porque o município teve, ali, uma oportunidade, mais uma vez, de potencializar o seu nome, o seu ADN, que é ímpar, pois estamos a falar do terceiro maior concelho do país, com 15 quilómetros de frente-mar ligados à frente-rio, ou seja, temos aqui uma relação única, que poucas cidades do mundo têm, com mar, rio, parte urbana, parte rural e, depois, uma parte histórica única no mundo, com direito a um licor, que se chama caves de vinho do Porto, assim como toda a envolvente como o WOW, o Museu do Chocolate, o Museu o Vinho e uma série de empreendimentos, que alimentam toda esta moldura, que é única. Por isso, eu acho que este é um evento que nasceu para crescer.
Findo este evento e considerando a unanimidade demonstrada relativamente à continuidade da iniciativa, já está a pensar na próxima edição?
Certo, sem dúvida, aliás, nós fizemos um vídeo promocional e publicamo-lo recentemente nas nossas redes sociais e, a partir daí, encetamos já uma preparação para a segunda edição, que já é um ponto assente, vamos só definir as datas, vamos consultar todos os agentes, digamos, económicos, desde municipais, sociais e até empresariais, para que possamos ajustar, aqui, qual é a melhor data, qual o apoio que pode ser dado, para nós definirmos a dimensão que podemos ter. Posso dizer-lhe que há expectativas que foram ultrapassadas. Nós temos recebido e-mails de propostas de empresas, que querem apresentar algo, que neste momento não posso descrever, apenas adiantar que será único, até no país, na Noite Branca de Gaia e isto quer dizer que, de facto, nós mostramos ao mundo o potencial que Gaia tem, agora é uma questão de o município explorá-lo, porque Gaia somos todos nós. Portanto, a segunda edição vai realizar-se no próximo ano, agora só espero que tenhamos a mesma felicidade que tivemos este ano, pois foi fantástico.
A AMARGAIA desenvolve vários projetos com o intuito de dar, não só, respostas sociais, como também apoiar o tecido empresarial. Neste âmbito, quais são os recursos disponibilizados por esta instituição, tendo em vista a promoção do desenvolvimento local, nas mais variadas áreas?
Em termos sociais, nós damos apoio a crianças desfavorecidas e minorias, em dois empreendimentos, Ruy de Carvalho e Cabo Mor, através do projeto “Escolhe Amar Mais”, que é financiado pelo Alto Comissariado das Migrações, vai na oitava geração e pretende dar àquelas crianças a possibilidade de serem incluídas, mais facilmente, na sociedade e também chegar às famílias, tendo em vista alterar alguns comportamentos, algumas culturas que, nos dias de hoje, são fundamentais, como a questão da alimentação, dos 6 aos 30 anos, e da educação. Através desta relação entre as crianças e as famílias, temos conseguido aumentar a literacia, entre outros, e até, inclusive, ensinar a criar um currículo, para uma candidatura de emprego. Há esta cooperação. Depois, temos um projeto intitulado “Bairros Saudáveis”, que ajuda especificamente na área da alimentação das crianças dos 2 aos 6 anos, porque se elas começarem desde pequeninas com pequenos hábitos alimentares saudáveis é mais fácil darem continuidade. Depois, temos um projeto, que nos dá imensa honra de ter aqui, que é pioneiro a nível nacional, é o único, neste momento, que existe no país, que é o “Gabinete de Apoio à Vítima Sénior”, que tem como propósito o apoio a vítimas idosas de violência, ou seja, é um público-alvo específico, é um, permita-me expressão, flagelo da nossa sociedade. Para que possa ter uma ideia da dimensão que o projeto atingiu, apesar do projeto ter nascido com o foco de dar resposta em Gaia, neste momento, nós recebemos contactos de Faro a Caminha, porque com a especialidade do idoso, só existe este gabinete, que tem uma resposta imediata, específica, uma vez que nós temos técnicas, assistentes sociais, psicólogos e, depois, temos uma cooperação muito próxima com a autoridade policial, nomeadamente com a PSP e a GNR, dependendo da área. O telefone está ligado 24 horas por dia e nós damos uma resposta imediata e o deflagrante é logo acionado judicialmente. Este projeto foi financiado por três anos e termina agora no final de dezembro. Neste contexto, nós vamos fazer um simpósio sobre esta experiência, as dificuldades e quais as necessidades que são urgentes serem tratadas, que está incorporado no âmbito do projeto e vamos convidar todas as entidades desde a Secretaria de Estado, que tutela a igualdade de género, a própria CIG – Comissão de Igualdade de Género e todas as entidades que se relacionam diretamente com o idoso, como os lares, centros de dia, e vamos convidar toda a comunidade. Este simpósio vai decorrer no dia 18 de novembro e vai ser um centro de pensamento com todas as instituições e autarcas, com o intuito criarmos, todos juntos, um “Manual de Bons Procedimentos”, que será lançado a partir de dezembro. Eu não tenho dúvidas nenhumas de que outros projetos vão ser lançados a partir deste, porque têm de nascer mais Gabinetes de Apoio à Vítima Sénior, para dar resposta a este flagelo, porque, infelizmente, macabramente e inexplicavelmente, há quem trate os idosos, uma forma reprovável, pelas razões mais fúteis que se possam imaginar e a dignidade dos idosos tem de ser pensada agora, não é quando nós lá chegarmos. Eu acho que Portugal deu um grande passo, comparativamente a outros países, em termos de creches, falta agora o berçário para darmos mais um avanço, mas também há a obrigatoriedade de se virar para um setor que é fundamental, que é a terceira idade, que tem de ter apoio, porque não são os lares que têm de ficar com esta responsabilidade. O Estado tem, de facto, de criar, aqui, mecanismos, para proteger e trabalhar, não apenas aquela terceira idade que está acamada e precisa de cuidados continuados, mas também aquela que se reformou aos 67 anos, é ativa e tem um know-how de pensamento e experiência, que adquiriu ao longo de uma vida e que é desperdiçado. Neste seguimento, a AMARGAIA vai criar uma app denominada “O Voluntário”, em que qualquer pessoa pode descarregar aquela aplicação e, por exemplo, pode disponibilizar-se para ajudar alguém que precise, porque há tanta gente que adquire a sua formação ao longo dos anos, quer académica, quer profissional, e depois chega ao final do exercício da sua função e das suas responsabilidades e muitas pessoas estão em casa e sofrem de solidão, sofrem de depressão, sentem-se inúteis e isto incentiva-as, estimula-as a continuarem ativas. Depois, temos o apoio à comunidade, através de um gabinete, que dá respostas de uma forma transversal, às várias dificuldades que as pessoas têm, desde, por exemplo, um puxador partido e nós falamos com as nossas empresas associadas, que muitas vezes têm material desse, que já está obsoleto, mas está a funcionar e nós comunicamos e articulamos com quem necessita e com quem tem, para poder facultar. Também, arranjamos alguém que monte e a custos reduzidos, ou até às vezes sem custos e conseguimos fazer face a um puxador, uma torneira, uma lâmpada, muitas vezes até são idosos que não têm recursos nem físicos, nem financeiros e damos respostas até a pessoas que precisam, de facto, de bens alimentares ou outros bens, como vestuário. Nós distribuímos os donativos que recebemos e, neste momento, apoiamos quase 80 famílias. Depois, temos o “Gabinete de Apoio às Empresas”, que auxilia nas mais variadas áreas, desde a contabilidade, apoio jurídico, fazemos candidaturas a fundos europeus, porque fala-se muito na bazuca, no PRR, nos milhões que existem aí, mas as micro, pequenas e médias empresas não têm capacidade para fazerem candidaturas, que são tecnicamente muito elaboradas. Então, as nossas empresas associadas beneficiam dessas candidaturas e outros esclarecimentos que são pedidos na nossa network de apoio a quem mais precisa. Também, usamos a mesma rede social, junto das nossas empresas, porque se houver uma empresa que precise, por exemplo, de uma serralharia, nós divulgamos essa necessidade e, depois, as empresas respondem. Portanto, há, aqui, um conjunto de valências, às quais a instituição pode dar resposta, também para valorizar o tecido empresarial, porque, de facto, Gaia precisa de criar mecanismos e iniciativas, que promovam o nosso tecido empresarial e nós estamos a pensar, aqui, num evento, que pretendemos apresentar aos vários agentes do concelho e que brevemente iremos divulgar, com o intuito de apoiarmos o tecido empresarial em Gaia, que bem precisa.
Quantos associados tem a AMARGAIA neste momento?
Cerca de dois mil.
Relativamente à AMARGAIA, qual é o seu maior sonho?
Um dos meus sonhos era que a instituição tivesse uma viatura. Custa-me, confesso, é um dos pesos que eu tenho, ver os voluntários a irem buscar e entregar os donativos nos seus próprios veículos. Eu sei que são voluntários e que fazem aquilo por amabilidade, assim como eu e qualquer um dos dirigentes. Mas, de facto, a viatura faz falta. Por exemplo, nós levamos as crianças que apoiamos, pela primeira vez, à praia, com 10, 11 e 12 anos, levamo-las a verem, pela primeira vez, um animal selvagem, na Quinta de Santo Inácio, que são coisas banais para nós, mas para elas são importantes e, nestas situações, tivemos de recorrer sempre a alguém. Nós temos, por exemplo, um protocolo com a Gaiurb e estamos a dar apoio psicológico a empreendimentos sociais e as nossas técnicas vão no carro delas, ou seja, é um protocolo, que não tem nenhuma compensação financeira, é uma parceria, mas custa-me e é um desconforto para mim. Se tivéssemos uma viatura, as técnicas utilizavam-na para realizarem as deslocações e a instituição beneficiaria. Neste momento, necessitávamos de uma viatura e de uma sede. A AMARGAIA tem uma sede, que é cedida por uma empresa associada, mas nós gostávamos de ter uma sede própria. A nossa expectativa, como é óbvio, é que a Câmara possa ter algumas instalações que nos possa ceder, porque a instituição não tem receitas, faz candidaturas a projetos e toda a estrutura profissional é financiada pelos mesmos, pelo que não tem capacidade para comprar um imóvel. Nós somos a única, ou das poucas instituições em Gaia, que tem protocolos com todas as Juntas de Freguesia, por exemplo, no âmbito do “Gabinete de Apoio à Vítima Sénior”, porque nós gostamos de trabalhar em rede e só assim faz sentido, para conseguimos dar resposta, porque os presidentes de Junta e as assistentes sociais das autarquias conhecem os lugares e todas as pessoas e são elas que, muitas vezes, umas por denúncia, outras porque têm conhecimento e, associando-se aos lares e aos centros de dia que existem pelo concelho, permitem-nos ter, digamos, esta resposta de uma forma célere, imediata e, com isto, evitando, digamos, males que existem e tentando pôr fim a um crime que é arrepiante e isto acontece devido à relação de proximidade e cooperação, que existe e é extremamente relevante. Nós, também, colaboramos com a Câmara no gabinete “Gaia Protege +”, que dá apoio a vítimas de violência e discriminação de género. Estes são, efetivamente, os meus dois grandes sonhos. Eu gostava que, quando terminasse o meu exercício, daqui a três anos, pudesse sair e ter alcançado estes dois objetivos, tanto a sede como a viatura, para conseguirmos dar resposta aos projetos e sermos capazes de distribuir os ativos que nos dão e, assim, apoiar as famílias que nos pedem ajuda.
Que mensagem gostaria de deixar à população?
Primeiro, dizer que AMAR não quer dizer Associação Manuel António Ribeiro, é importante desmistificar esta ideia, porque AMARGAIA está relacionada com a palavra amor, afeto, carinho, partilha, interajuda, solidariedade, união, cumplicidade e neutralidade, sem vínculos partidários, religiosos ou clubísticos, ou seja, todos nós somos úteis, todos nós podemos acrescentar e transformar Gaia, elevando-a para um patamar cada vez maior. Há muita coisa que nós não podemos fazer, mas também existem muitas coisas que podemos efetuar e cada um pode contribuir. A AMARGAIA tem um propósito, e eu acho que esta é a mensagem que deve ser transmitida, e todos nós podemos ter, aqui, um papel fundamental, pelo que lanço, aqui, um apelo, um repto, a todos os que terminaram a sua vida profissional e queiram ser úteis, basta enviarem um e-mail para a AMARGAIA, demonstrando a sua disponibilidade e interesse para serem voluntários, porque há sempre coisas para fazer e para inovar e essa inovação é feita a partir da junção dos conhecimentos que cada um tem. O pluralismo, a integração, a possibilidade de cada um dar a sua opinião e o desafio que é juntar isso tudo, é o pensamento, que tem coisas notáveis. A minha mensagem é, de facto, esta, juntarmo-nos todos, para que consigamos elevar Gaia, cada vez mais. Muito tem sido feito, mas mais tem de ser realizado, para que Gaia seja, cada vez mais, uma cidade de referência, porque só assim é que nós conseguimos, digamos, competir, passo a expressão, devido ao mundo global em que nós vivemos, com outras cidades, porque já não chega só dizermos que somos um país, uma cidade segura, com gastronomia, não chega, nós temos de dizer que estamos aqui, porque se ninguém souber onde estamos, as pessoas passam e não param, nem visitam. O turismo é fundamental, mas o tecido empresarial é crucial. Nós precisamos de assentar e temos um potencial enorme, porque contemplamos um interior onde podemos alocar grandes empresas, porque, hoje, os acessos são rápidos. Portanto, o desafio é este, cativar o mundo empresarial e o setor externo, para que possa investir em Gaia e, aí sim, se houver empresas, a empregabilidade aumenta e as condições de vida tornam-se mais dignas e isto é o que fomenta a identidade de uma cidade.