PONTA DELGADA SERÁ CAPITAL PORTUGUESA DA CULTURA EM 2026

Ponta Delgada esteve na corrida para ser Capital Europeia da Cultura em 2027, mas acabou, no passado dia 7 de dezembro, por perder para Évora, contudo, vai ser Capital Portuguesa da Cultura em 2026, o que vai permitir ao município dar sequência aos projetos traçados, para mobilizar o setor cultural e criativo da cidade.

 

Ponta Delgada – Azores 2027 foi o nome da candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura, em articulação com outros municípios e ilhas, com o apoio do Governo dos Açores, num projeto inclusivo e colaborativo.

Sob o mote “Natureza Humana”, esta candidatura pretendia posicionar Ponta Delgada como uma cidade europeia aberta ao mundo, assim como os Açores, como uma região na linha da frente das principais discussões do mundo contemporâneo e na implementação de políticas públicas culturais, que contribuíssem para a coesão social e económica.

Assente num pensamento arquipelágico, foi criada uma rede composta por 18 pessoas, nomeadamente dois embaixadores de cada uma das nove ilhas que compõem os Açores, com o intuito de apresentar um projeto com todos, respeitando e celebrando as diferenças e as semelhanças, tendo em vista construir um mundo melhor e fazer da cultura o motor do desenvolvimento da cidade açoriana, criando uma rede de ligações à escala regional, nacional e internacional, para fazer com que a ilha se abrisse mais ao mundo.

Neste seguimento, Gabriela Silva, embaixadora da Ilha das Flores, revelou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, que “a candidatura, inicialmente, foi vista com alguma desconfiança pelas outras ilhas. Era uma candidatura de Ponta Delgada e da Ilha de São Miguel, onde entravam, então, as outras oito. A verdade é que foi Ponta Delgada que assumiu as despesas inerentes a uma candidatura deste tipo e iniciou o processo sozinha. Acontece que, todas a cidades que já foram agraciadas com este título, passaram por este processo com a ajuda da sua região envolvente. No caso dos Açores, somos envolvidos pelo mar e as nove ilhas fazem parte da nossa «entourage». Nesse sentido, foram nomeados, em cada uma delas, dois embaixadores, que tiveram a missão de explicar essa particularidade e contribuir para uma compreensão da abrangência cultural dos Açores, no meio de uma candidatura, que nos envaideceu e orgulhou”.

Depois de se ter constituído finalista, a par de Braga, Aveiro e Évora, entre um total de 12 municípios que apresentaram uma candidatura e passaram para a fase final, no passado dia 7 de dezembro, Pedro Nascimento Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, anunciou, durante uma conferência de imprensa, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, que este município não seria Capital Europeia da Cultura em 2027, mas, sim, Évora.

Por conseguinte, a cidade açoriana acabou por ser distinguida Capital Portuguesa da Cultura, a par de Aveiro e Braga, o que vai permitir à Câmara Municipal de Ponta Delgada dar continuidade aos projetos traçados para o setor cultural. “Seremos a Capital Portuguesa da Cultura em 2026 e daremos a melhor sequência aos nossos ambiciosos e já traçados planos para mobilizar o setor cultural e criativo da cidade, projetando o nome e a cultura de Ponta Delgada e, também, dos Açores à escala nacional”, afirmou o edil, sublinhando que esta distinção valoriza “o empenho e carinho” colocados no projeto, dando um “renovado ímpeto à já assumida missão de democratizar a cultura” e conferindo à maior cidade dos Açores “dinâmicas culturais emergentes e inovadoras”.

Assumindo que a autarquia vai continuar a apostar na cultura, Pedro Nascimento Cabral evidenciou que este setor “é um pilar estratégico de Ponta Delgada”, lembrando que o município vai receber dois milhões de euros do Governo da República, uma verba que vai permitir “apoiar a estratégia em curso, para afirmar Ponta Delgada como um destino turístico de excelência, fazendo da oferta cultural, um dos seus principais atrativos”.

Neste contexto, Gabriela Silva, ressaltou que “há um caminho longo a percorrer. Percebemos, nestes meses, que temos um potencial inesgotável por usar. Para isso, vai ser preciso que a região faça da cultura uma das suas bandeiras. Temos de proteger e apoiar os nossos artistas. Não faz sentido «importar» vedetas que cobram cachets imorais e deixar atrás gente da nossa, que faz e sabe fazer. Penso que a Região Autónoma dos Açores devia organizar residências artísticas em todas as ilhas, juntando os melhores todos e atravessando a região com novas ideias, a partir da imensa criatividade que temos em cada uma das nossas nove ilhas. Também me parece que devem ser incentivadas e apoiadas as filarmónicas da região, pois elas são a nossa herança ancestral, como organizações coletivas e escola de valores”.

Enaltecendo que “sem investimento, a cultura não vai poder viajar e não sei quais são os objetivos políticos desta caminhada”, a professora, escritora e empresária na área do turismo frisou que “a autarquia do meu concelho tem investido muitíssimo na cultura, mas é claro que o orçamento regional é «uma pescadinha de rabo na boca» e a sensação que dá é que, para 2023, a cultura não foi a área mais favorecida”.

 

 

Vânia Chagas, embaixadora da Ilha do Corvo

“É um maravilhamento. É um projeto com o qual eu já tive a oportunidade de lançar muitas sementes e eu acho que este é um dos grandes valores desta candidatura, porque já foram deixadas sementes em todas as ilhas e em todas as pessoas que participaram no projeto, desde a primeira fase, e isso vai construir pontes, o que, para mim, é das coisas mais importantes que o projeto tem a dar aos Açores. Eu acredito que todos nós temos diferenças, mas, depois, também encontramos coisas comuns entre todos e é mesmo muito bom estarmos todos juntos, conhecermo-nos e partilharmos experiências das nossas ilhas e das nossas vidas”.

 

Neuza Muzemba, embaixadora da Ilha Graciosa

“Tem sido um momento único, maravilhoso e cheio de amor, entre as nove ilhas. Eu acho que estamos unidos, pela energia dos Açores. Finalmente conhecemo-nos uns aos outros, pois estamos todos ligados, seja ao nível das artes, da cultura, do mar, como do trabalho, também, e da Europa”.

 

Vanessa Canto, embaixadora da Ilha Terceira

“Eu acho que nós estamos todos a vivenciar algo que é histórico, porque, eventualmente, isto só se poderá repetir daqui a muitos anos e, se calhar, nessa altura, já não estaremos, aqui, a contribuir da mesma forma, por isso, a nossa colaboração é um marco no pensamento e para a cultura nos Açores. Eu fiz parte do Conselho Consultivo do Plano Estratégico e, depois, fui convidada a ser embaixadora e a apresentar o projeto em Lisboa, na fase final”.

 

Maria João Gouveia, embaixadora da Ilha de São Miguel

“São Miguel é a casa mãe e acolhe as ilhas todas, aqui, connosco. O projeto é Ponta Delgada, mas é Azores 2027 e estamos todos juntos, todos unidos, para mostrarmos a nossa riqueza e as nossas grandezas dos Açores, através da cultura. Este é um projeto muito maior do que aquilo que as pessoas pensam, pois é o desenvolvimento de toda uma sociedade e nós que trabalhamos nesta área vemos, muitas vezes, a cultura a ser posta em segundo, terceiro e quarto plano, pelo que sermos, pela primeira vez, o mote de desenvolvimento de uma sociedade e sermos reconhecidos a nível europeu é uma enorme satisfação, é quase um projeto de vida”.

 

Andreia Melo, embaixadora da Ilha de São Jorge

“Nós temos de fazer pelas nossas ilhas, aquilo que acreditamos que é o melhor para elas e se lançam um projeto destes, através do qual nós podemos fazer algo tão importante para o desenvolvimento da ilha, não se pode recusar. São Jorge, culturalmente, acho que podia estar mais vivo, ainda há muito a aprender e muito a crescer, mas acredito que isto é um bocadinho transversal às ilhas mais pequenas. A cultura existe, mas podia ser mais pensada, por quem tem esse poder e é por isso que estar aqui é tão importante, para mudar a forma de pensar e a mentalidade sobre como a cultura pode, de facto, na prática, influenciar o desenvolvimento da sociedade”.

 

Diana Silva, embaixadora da Ilha do Pico

“Viver no Pico é uma coisa fantástica. Eu nasci lá, vivo lá, tenho 24 anos e nunca saí da ilha. Para mim, integrar esta missão é poder partilhar, com o resto dos Açores e com a Europa, aquilo que de melhor se faz no Pico e no nosso arquipélago, assim como a nossa cultura, que é o mais importante”.

 

Pedro Rosa, embaixador da Ilha do Faial

“Integrei este projeto por convicção, como é óbvio. O facto de termos uma Capital Europeia da Cultura nos Açores e com o projeto que foi proposto, de um arquipélago unido, em torno da cultura, isso, para mim, que venho da área da cultura e que acredito que a cultura é algo que faz parte da essência dos Açores e dos açorianos, é achar que nós podemos, aqui, unir e tornar ainda mais fortes estas pontes entre as ilhas, ou seja, nós vivemos em ilhas muito separadas geograficamente, muito diferentes umas das outras, mas todos temos o sentido do que é ser açoriano e, portanto, isto pode tornar-nos mais fortes e mais unidos, ou seja, dar-nos a oportunidade de fazermos, dentro da cultura, coisas que são diferentes. Assim, temos a oportunidade de pôr as comunidades todas a colaborar para um só projeto, que não é só para nós, é de nós para o mundo”.

 

Laurinda Sousa, embaixadora da Ilha de Santa Maria

“Eu acho que isto é um sonho maravilhoso, coletivo, passível de ser alcançado, que tem este ideal de unir, ainda mais, as nove ilhas. Eu acredito que este projeto tem todo este potencial. Nós estamos todos unidos, com este foco, depois a cultura é algo com um potencial transformador enorme, em termos sociais, económicos e a todos os níveis. Santa Maria, devo dizer, em termos culturais, tem alguma pujança. Nós somos a ilha dos festivais e de muitas outras atividades que vão acontecendo, pelo que temos, por exemplo, o nosso cinema, que reabriu recentemente, com a exibição de filmes, temos outros espetáculos, ao longo do ano, e eu diria que Santa Maria, dentro das ilhas mais pequenas, tem uma atividade cultural bastante interessante”.

 

Gabriela Silva, embaixadora da Ilha das Flores

“Eu adorei fazer este trabalho. Ser promotora dos Açores é, claramente, a coisa que mais gosto de fazer. Fui muito feliz durante este tempo de preparação e materialização do nosso projeto. Todo o trabalho foi excelentemente conduzido pelo doutor António Pedro Lopes, que é um estratega incrível, um homem de emoções, que se rodeou de uma equipa linda, que deu tudo para que a nossa candidatura fosse um sucesso. Eu acho que todas as ilhas fizeram parte da equação e cada uma delas, à sua maneira, foi notável no trabalho desenvolvido. Foi um momento de cumplicidade, nunca antes visto. Foi o momento mais alto da minha vida, como açoriana. Amei cada minuto do dia do nosso encontro com o júri e estou consciente da qualidade de cada segundo. Foi mágico. A Ilha das Flores é muito bonita e tem muito para dar, porque somos diferentes, em muitas áreas. A diversidade é a nossa mais-valia. É a última da Europa e assinala o começo da América. Tem condições absolutamente excecionais para a prática de desportos e uma paisagem esmagadora. Tem, ainda, um lado selvagem, que lhe confere um charme único, assim como uma história que atravessa gerações de baleeiros e emigrantes. Também temos uma imensa diversidade de artistas, em muitas áreas, para além de termos a maior comunidade estrangeira residente”.