“UMA VIAGEM PELA VIDA, PELOS PROJETOS REALIZADOS E PELO QUE AINDA PODE ACONTECER”

O professor jubilado Roberto Merino ministrou, no passado dia 20 de janeiro, uma aula magistral, no Auditório da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), sobre o tema “Somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos”. Com uma longa carreira dedicada ao teatro, este dramaturgo e encenador profissional falou sobre a província chilena Concepción, onde nasceu, em 1952, o golpe militar, que levou ao seu exílio na Alemanha e a sua chegada à cidade do Porto, em 1975, onde reside, atualmente.

 

Roberto Merino nasceu no ano de 1952, em Concepción, província do Chile. Estudou Matemática na universidade local, mas dedicou-se ao teatro, desde a infância. Pisou um palco, pela primeira vez, com cerca de seis anos e, desde então, sempre participou em grupo estudantis ligados às artes cénicas. Depois do golpe militar, no Chile, exilou-se no estrangeiro, inicialmente, na então República Federal Alemã (RFA) e, a partir de 1975, na cidade Invicta, em Portugal, onde dirigiu, artisticamente, o Teatro Experimental do Porto (TEP), até 1978, voltando, em mais duas ocasiões, a esta companhia profissional. Posteriormente, trabalhou nos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal e com o Grupo de Teatro Experimental desta mesma cidade. Dirige, desde 1982, o Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto (ESAP) e colabora, também, como docente, na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1991. Foi professor do Balleteatro Escola Profissional, durante três décadas. Como dramaturgo e encenador profissional, trabalhou no TEP, no Seiva Trupe, no Teatro Art´Imagem, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e na Faculdade de Direito da UP, entre outros palcos.

No contexto desta longa carreira dedicada ao teatro, o professor protagonizou, no passado dia 20 de janeiro, uma aula magistral, que decorreu no Auditório da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), com o tema “Somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos”.

A sessão foi inaugurada por Eduarda Neves, diretora da ESAP, que fez questão de apresentar o encenador e dramaturgo chileno, agradecendo-lhe “pelos cerca de 40 anos dedicados a esta instituição e queria ressaltar a lealdade, assim como a relação e o empenho que o Merino acabou por desenvolver em cada um dos estabelecimentos por onde passou”.

Seguidamente, o professor jubilado tomou a palavra e deu início à aula magistral. Foi perante um auditório repleto de amigos, alunos, ex-alunos e representantes de inúmeras instituições ligadas ao teatro, que Roberto Merino começou a contar a sua história de vida, entre fotografias de infância, de infraestruturas, escritos, momentos em família e da cidade onde nasceu, assim como dos locais por onde passou, todos ficaram a conhecer melhor este homem do teatro. “A minha infância foi verdadeiramente perfeita, pois a minha cidade tinha tudo aquilo de que necessitava para ser feliz, como é o caso da educação, os teatros e o cinema, era muito perto do rio e do mar e, portanto, foi uma grande experiência democrática e a universidade era o nosso centro de discussão, pois tinha autonomia política e civil e nem os militares, nem o exército podiam entrar, portanto era o nosso refúgio, era onde se fazia teatro e jogos académicos”, enfatizou o encenador e dramaturgo chileno.

Depois de falar sobre os indígenas, as valências, os desastres e os factos históricos mais relevantes do país que o viu nascer, Merino relembrou o momento em que pisou o palco de um teatro, pela primeira vez, com cerca de seis anos, numa festa de Natal. “Quando ocorreu o golpe, os militares incendiaram o teatro e justificaram que havia armas escondidas, por forças extremistas, no seu interior”, evidenciou, adiantando que “em Concepción havia um movimento efervescente na cidade de artistas, dramaturgos, poetas, escritores, atores, encenadores”.

O pedagogo teatral escolheu o exílio quando Pinochet chegou ao poder, em 1973. “Aquando do golpe militar, o meu grande refúgio foi a rádio, ouvir as peças de teatro teve uma importância muito grande”, sublinhou o dramaturgo e encenador, salientando que “quando se sai do país e se abandona tudo, família, cidade, estudos, teatro, coisas tão simples como a flor da minha infância, copihue, também ficaram para trás”.

Depois de algum tempo na Alemanha, acabou por se fixar em Portugal, onde assinou, até hoje, mais de uma centena de encenações.

Apaixonado pelas obras de William Shakespeare, apresentou o primeiro capítulo do seu livro, que contempla uma análise e interpretação profunda acerca de “Hamlet”. “Um sonho que comecei a concretizar e transmite todas as coisas que eu senti quando interpretei e assisti às peças de Shakespeare. O livro será sobre este autor e pode ter muitos capítulos, relacionados com as suas obras mais emblemáticas, mas, para já, há um que já está escrito e tem cerca de 30 páginas e é dedicado ao «Hamlet»”, atestou.

Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Roberto Merino, descreveu esta aula como “um momento de lembranças e de pensar o futuro. Fundamentalmente, o meu objetivo era proporcionar uma viagem pela vida, pelos projetos realizados e pelas coisas que ainda podem acontecer”.

Relativamente ao futuro, o dramaturgo e encenador garantiu que “a ideia é não parar, é continuar a dar aulas, a contribuir para o teatro e continuar a escrever, porque a escrita, para mim, também é muito importante”.