CÂMARA MUNICIPAL DA RIBEIRA GRANDE ABRIU PORTAS ÀS CONFRARIAS

O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, recebeu, no passado dia 12 de junho, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, representantes de mais de dez confrarias do país, que participaram no III Capítulo da Confraria da Carne Guisada da Maia.

Na ocasião, o edil fez evocou a história do concelho, o significado do brasão, a cultura e as tradições locais, ressaltando as valências do território, assim como questão da indústria, que é muito valorizada, e do turismo, não escondendo a sua vontade de fazer com que “o terceiro setor de atividade possa ter mais projeção na Ribeira Grande”.

Posteriormente, o autarca ribeiragrandense falou sobre a importância da Freguesia da Maia, frisando as aplicações que têm sido feitas neste território, nomeadamente no Solar de Lalém, “que foi alvo de um recente investimento de um grupo norte-americano, que viu, na Maia, um enorme potencial turístico”.

Evidenciando o desenvolvimento do município, Alexandre Gaudêncio revelou, ainda, que “aqui, no centro, estamos a requalificar a orla marítima, com uma projeção que, do nosso ponto de vista, está a ser muito bem recebida pela população local e também ao nível dos investimentos, não só dos Açores, mas também de fora. Neste momento, a Ribeira Grande é o concelho com mais investimentos em carteira, ao nível privado. Nós queremos trazer investimento, mas com algum cuidado e às vezes preferimos pequenos investimentos, mas de alto valor, pois não queremos destruir aquilo que de melhor temos”.

No final do encontro, o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, convidou os presentes para um almoço, oferecido pela autarquia, que decorreu no Restaurante Alabote.

 

Carlos Henriques, Confraria da Foda, da Freguesia de Pias, em Monção

“Esta é uma confraria representativa de uma certa camada populacional, o povo, e visa a promoção de um produto que é muito usado no país, que é a carne de ovino. Porquê este nome? As pessoas antigamente iam à feira comprar a carne e deparavam-se sempre com os vigaristas que davam ao rebanho sal, para eles beberem muita água e, assim, levavam para a feira o animal mais pesado, sem gastarem dinheiro em ração. Quem comprava o cordeiro, chegava a casa, matava e percebia que tinha sido enganado e dizia: «já levamos mais uma foda». A Confraria da Foda é composta por mais de uma centena de confrades, que se reúnem ocasionalmente em Pias. Gostei muito de participar neste Capítulo da Confraria da Carne Guisada da Maia, porque, para mim, onde há mar, há tudo”.

 

Paulo Carvalho, Confraria da Pastinaca (Cherovia) e do Pastel de Molho da Covilhã

“Nós defendemos dois produtos gastronómicos, o Pastel de Molho da Covilhã, que só existe nesta região e distingue-se pelo molho que é utilizado, que é o chá de açafrão, que antigamente era levado pelos operários para as fábricas. Depois, temos outro produto completamente distinto, que é a Cherovia ou a Pastinaca, que é uma raiz, um tubérculo, que é idêntico à cenoura, ao nabo e vem substituir a batata, cujo cultivo foi trazido pelos engenheiros ingleses, que vieram montar as fábricas, porque é muito utilizada em Inglaterra e nos países nórdicos. Portanto, são dois produtos muito autóctones da nossa região. Em Portugal, a Covilhã está associada gastronomicamente a estes dois produtos e a confraria tenta dinamizá-los, valorizá-los e promovê-los, pois estão associados a uma história e a uma tradição, que está intrínseca. A Confraria da Pastinaca e do Pastel de Molho da Covilhã tem, neste momento, 80 confrades. É a primeira vez que eu estou nos Açores e o que eu levo daqui é, sem dúvida, o bem-receber, a simpatia, a forma como nos acolheram. É obvio que a parte paisagística e natural da Ilha de São Miguel também é indiscutível”.

 

Manuela Bulcão, Confraria da Carne Guisada da Maia

“Eu estou aqui em representação da Confraria da Carne Guisada da Maia, sendo eu açoriana, da Ilha do Faial, porque a insularidade que nos liga faz de nós seres diferentes e unidos, porque na minha ilha ainda não há nenhuma confraria, mas creio que poderá, eventualmente, haver em breve. Eu faço todo o gosto e será uma honra representar além-mar a Confraria da Carne Guisada da Maia, das minhas amadas ilhas. Regressar ao arquipélago é, tal e qual a fénix, um renascer de novo. Paralelamente, eu fui gentilmente convidada pela Junta de Freguesia da Maia para apresentar o meu livro «A Felicidade sou Eu», que está a ter um sucesso enorme ao nível do continente. Como açoriana que sou, é um conto dos 8 aos 88, que fala um pouco sobre as peripécias dos açorianos nas viagens que eles fazem e da vontade de alguns, da minha idade, quererem conhecer a neve. A minha ligação à Maia é profunda, através da minha querida amiga Graça Borges Castanho, que me deu a conhecer este território, que é a sua amada terra e eu fiquei a amar a Maia e com esta ligação profunda a esta freguesia e às suas gentes que são maravilhosas, que sabem receber como ninguém”.

 

Hermínio Miranda, Confraria do Ananás dos Açores

“Apesar de ser a Confraria do Ananás dos Açores, símbolo da região, o ananás só existe em São Miguel e a Fajã de Baixo é sua a capital, tal como as freguesias limítrofes. Esta confraria surgiu em 2009, para a promoção, preservação e divulgação do ananás. A vontade de continuar mantém-se desde o início e quando aparecem outras confrarias com um ambiente favorável motiva ainda mais, por isso é provável que, brevemente, tenhamos mais um Capítulo e mais confrades novos. Também, já fomos convidados pela organização do Património Cultural, para nos fazermos representar nos dias 26 a 28 de abril de 2024, no Encontro Enogastronómico, em Montalegre”.

 

Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande

“Julgo que este evento foi muito importante para não só divulgar aquilo que de melhor temos para oferecer, mas acima de tudo pela troca de conhecimentos. Saímos daqui com objetivos, nomeadamente a participação do concelho no próximo evento que vai acontecer em Montalegre, no próximo ano. Ficamos com o compromisso, também, de apoiar quer a Confraria da Carne Guisada da Maia, quer as outras do concelho, no sentido de reforçar o nosso posicionamento como destino turístico e gastronómico. Eu acho que, essencialmente, o aumento do número de confrarias tem a ver com o aumento da procura que tem havido e as confrarias têm esse condão, que é de preservar as tradições locais, no caso concreto da gastronomia e eu acho que isto é um grande impacto que nós levamos para o futuro e ficamos muito reconhecidos por termos sido convidados para sermos confrades desta confraria e vamos fazer de tudo para que esta dinâmica não se perca e possa, também, ser passada a quem nos visita, que é o mais importante”.

 

Luís Lindo, confrade-mor da Confraria da Carne Guisada da Maia

“O balanço que eu faço é muito positivo. Nós, provavelmente, tivemos o maior Capítulo feito em terras açorianas. Recebemos pessoas excelentes e contamos com a presença de 13 confrarias. Também já perspetivamos o IV Capítulo, que será no dia 18 de maio de 2024, que vai decorrer em conjunto com as Festas do Divino Espírito Santo, em que a Confraria da Carne Guisada da Maia será o mordomo e já estamos a prever que será marcante nos Açores, com inúmeras confrarias. Também importa realçar que temos tido uma adesão muito grande por parte das confrarias locais, mas, este ano, do Norte de Portugal, recebemos seis confrarias e ficamos extremamente satisfeitos, tanto que gostaram tanto de cá estar que já fazem intenções de voltar. O Capítulo foi excecional para nós e marcante para a Maia e para o concelho da Ribeira Grande. Nós eramos para ter estado em Montalegre este ano, infelizmente, por razões pessoais, não me pude deslocar, mas iremos estar representados no final de abril do próximo ano, para tentarmos levar o nome não só da Confraria, mas da nossa Maia, do nosso concelho da Ribeira Grande e dos nossos Açores mais longe, porque é para isso que nós aqui estamos, para elevar a nossa cultura, as nossas tradições e transmitir a todos que nós, aqui, nos Açores, também temos coisas boas. Efetivamente, também vamos receber um apoio da Câmara Municipal já prometido pelo senhor presidente, porque nós, para o ano, seremos os mordomos das Festas do Divino Espírito Santo da Maia, onde são servidas, normalmente, na segunda-feira do Espírito Santo 5 a 6 mil refeições. Naturalmente que todos os apoios para isto serão bem-vindos e nós cá estaremos para proporcionar e conquistar também o nosso lugar e estatuto de fazer bem, porque nós estamos empenhados em trazer o máximo possível de confrarias do continente”.

 

Elsa Machado, Cunfraria de I Canhono Mirandés -DOP- Sabores de la Tierra de Miranda e organizadora do Património Enogastronómico – Cultura e T

“O balanço é extremamente positivo, pela afabilidade com que nós fomos recebidos, como amigos, como família íntima, com muita simpatia, muito amor e muito calor. Depois, estou muito feliz, porque é o tipo de evento que nós preconizamos há muito tempo. Os eventos das confrarias passaram a ser autênticos casamentos e não é isto o que o movimento confrádico precisa, mas de movimentos simples que, de facto, mostrem, informem e distribuam a informação daquilo que defendem, que são os pratos confecionados de uma forma tradicional. Em 2016, ingressei a Confraria do Galo de Barcelos, com a condição desta estar ligada à produção da sua matriz, daquilo que defende, porque se conseguíssemos colocar no mercado aquilo que seria um verdadeiro galo de Barcelos, com a sua certificação em termos de produção e em termos de carne, eu estaria dentro do movimento confrádico. Conseguimos, efetivamente, levar essa produção e certificação até ao início oficial. Saí, há dois anos, da direção da confraria e, ao que eu sei, hoje, esse galo não está certificado. Assim, há dois anos atrás abracei o projeto da Cunfraria de I Canhono Mirandés, o que quer dizer que é um cordeiro produzido em Miranda do Douro e que já tem um dote. Portanto, nós defendemos uma raça autóctone e realmente já registada, é um produto DOP e é isto o que me traz ao movimento confrádico, garantir a segurança alimentar, a tradição e a cultura com aquilo que a tecnologia nos trouxe, em termos de mais-valia no produto. Eu sou uma mulher de missão e o movimento confrádico é exatamente isto, de solidariedade, onde devemos ter ajuda entre todos, para que todos os produtos do nosso país cheguem mais longe e sejam defendidos na sua essência. Seria um orgulho conseguir levar as confrarias de mais longe, em termos de epicentro, a Montalegre e poderem estar representadas e divulgar aquilo que vimos aqui e degustamos, no II Encontro Enogastronómico, promovido pelo Património Enogastrónimo. Nós temos de defender, com alma aquilo, que é a nossa tradição e a nossa cultura e mostrar, a quem de direito, que com muito pouco se pode fazer muito, porque o nosso movimento confrádico precisa de ser elevado de forma muito simples, trazendo tradição e cultura, economia circular, sustentabilidade e segurança alimentar”.