A minha alma liberal ainda está em choque com as palavras proferidas pelo líder do conselho de ilha no passado dia 15 de setembro de 2023. Na ocasião, o Sr. Jorge Rita alertou para aquilo que considera como consequências nefastas resultantes da imigração. As perguntas que se colocam são, o que é conselho de ilha e como é que este senhor chegou à sua liderança?
De acordo com a definição disponível no sítio da internet, o Conselho de Ilha de S. Miguel (CISM) é um órgão consultivo que deve pronunciar-se sobre as grandes problemáticas de São Miguel, entre as quais a saúde, a educação, a exclusão social, a pobreza, o ambiente ou a economia, assumem importância decisiva. O CISM deve ser um órgão competente na procura de consensos e capaz de corresponder às expectativas dos cidadãos, porque só desta forma, é que os seus objetivos e princípios, podem ser devidamente concretizados. É constituído por 50 membros onde se contam os 6 Presidentes das Câmaras Municipais, os 6 presidentes das assembleias municipais, 24 deputados das 6 assembleias municipais, 3 presidentes de junta de freguesia, e 10 representantes dos diversos setores de atividade na ilha (sindicais, representantes empresariais, agrícola, pescas, solidariedade social, Universidade dos Açores, ONG do ambiente e defesa da igualdade de género) e ainda por um representante do Governo Regional, este último sem direito a voto.
O presidente do CISM é, portanto, uma espécie de “o escolhido” para ser o porta-voz de todos os 133 390 micaelenses! Entre os 49 membros elegíveis para dirigir este importante órgão estratégico da ilha, foi escolhido em junho de 2023 o Sr. Jorge Rita, Presidente da Associação Agrícola de S. Miguel e da Federação Agrícola dos Açores.
Na comunicação que fez no dia 15/09, o presidente do CISM identificou temer que pessoas de outras culturas e religiões prejudiquem a imagem dos Açores. Falou em importação de mão de obra, como se os imigrantes fossem escravos ou alguma carga para importar e foi ainda mais longe ao dizer que os imigrantes são pessoas desenraizadas dos seus meios, com culturas totalmente diferentes, com religiões diferentes e que depois se refugiam em guetos.
Sr. Jorge Rita, não se preocupe com eventuais “guetos” que possam vir a ser criados por estes migrantes! Preocupe-se antes com aqueles que existem na ilha, onde o tráfico de droga, a violência doméstica e o abuso de menores são uma constante! Estes sim são os problemas que se devia preocupar.
Numa altura em que é tão difícil aos empresários arranjarem trabalhadores para a construção civil, para o turismo, ou para a agricultura, o presidente do CISM ao invés de acarinhar aqueles que vêm em busca de uma vida melhor pretende antes afugentá-los.
Recordo que raro é o açoriano que não tem amigos ou familiares que emigraram na esperança de encontrar uma vida melhor! É desta forma que gostava que eles tivessem sido tratados? Não vi preconceito similar quando os açorianos levaram tradições religiosas como o Divino Espírito Santo Açoriano para as ruas dos Estados Unidos da América! Os guetos, como o presidente do CISM lhe chamou, são na verdade locais que promovem a integração dessas culturas dentro das comunidades, como é exemplo em Toronto a Little Italy, a Little Portugal ou a Chinatown!
A todos os autarcas com lugar no conselho de ilha só tenho uma pergunta, é este o melhor agregador de consensos que tinham para escolher?
Carlos Caetano Martins – Vice-Coordenador da Iniciativa Liberal – S. Miguel