A tradicional cerimónia do lava-pés da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande foi especial este ano, com a junção de crianças e idosos numa eucaristia única. Após o momento solene, seguiu-se um almoço convívio no Centro de Dia da instituição onde o provedor Nélson Correia adiantou alguns investimentos de peso, nomeadamente, a “dignificação da Santa Casa” em Rabo de Peixe e um lar para jovens com deficiências.
A Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande promoveu, no final do passado mês de março, a tradicional cerimónia do lava-pés, que encheu a Igreja Paroquial de S. Pedro, da Ribeira Seca.
Esta celebração foi presidida pelo Capelão Manuel Galvão, e concelebrada pelo pároco da Ribeira Seca – Conceição, Roberto Borges Cabral, contou com a presença de crianças e idosos de várias valências da instituição, numa verdadeira iniciativa intergeracional que animou todos os presentes e tornou o dia único.
“Há muitos anos que digo que esta é a cerimónia mais importante que temos, em termos eucarísticos e este ano com a junção das duas gerações. E esta animação deve-se à envolvência dos nossos ATL’s, que são seis, mais o nosso Centro de Dia das Calhetas e o da Ribeira Grande da Sé, e a juntar tudo isso o nosso grupo coral de excelência, com músicas vivas em que até o padre costuma dançar no altar. As músicas caem bem no ouvido e dá outra amplitude a própria eucaristia”, referiu ao AUDIÊNCIA Nélson Correia, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, num almoço convívio após a cerimónia.
Este Centro de Dia, frequentado por cerca de 25 utentes, e com capacidade para acolher mais 20, é algo que o provedor não esconde o orgulho. “O nosso Centro de Dia é ‘para a frente’, temos condições excelentes, colaboradoras também excelentes, temos um sistema de interação que podem fazer com os familiares na América, no Canadá, em qualquer lugar do mundo sem pagarem nada. Temos também muitos passeios que realizamos com os que ainda conseguem, mas andamos a notar que há muita dependência e não estamos a conseguir deixar o ingresso desses idosos com dependências porque são muitos e os funcionários não chegam”.
Além do Centro de Dia, a Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande dispõe ainda de valências para as crianças, como os ATL’s, as creches e os jardins de infância, ou o Centro Ambiental na Feira de Santana e o CACI, uma valência para jovens com deficiência e duas valências em Rabo de Peixe para jovens com problemáticas na escola, o CDIJ e o Porto Seguro.
Nesta zona, precisamente em Rabo de Peixe, é onde Nélson Correia garante que será feita uma “reestruturação da Santa Casa, dignificando a mesma”. “Fazia-me confusão ter tanta atividade em Rabo de Peixe e não ter um edifício de referência. Já temos um que é o Estrela do Mar que é uma creche e Jardim de infância e vamos começar com um projeto e dar outra visibilidade e qualidade”, adiantou o provedor.
Este projeto, nada mais nada menos é do que a aquisição de uma casa moradia para a concentração de todos os ATL’s em Rabo de Peixe, que estão dispersos em casas que não pertencem à instituição, juntando esforços e maximizando os recursos. “Queremos concentrar tudo nesse edifício, estamos à espera do licenciamento da Câmara, com algumas obras de adaptação que vai haver e a partir daí vamos dar outra imagem da Santa Casa em Rabo de Peixe. A nossa aquisição foi na rua da Cruz e na rua principal logo em frente ao cine teatro estão lá cerca de 50 metros de muro com um edifício onde temos a creche e jardim, e ainda temos uma entrada por trás no bairro, que permite a entrada dos funcionários e dos pais”, explicou o provedor.
Além disso, a Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande também adquiriu um edifício contíguo às suas instalações, um armazém com 680 metros quadrados que ainda se desconhece qual o destino que lhe vão dar. Segundo Nélson Correia, a principal ideia será que o mesmo funcione para apoio do Banco Alimentar da FEAC, caso o mesmo seja reativado. Só nos últimos 8 meses em que esteve em funcionamento, segundo o provedor, este armazém recebeu e distribuiu cerca de 183 toneladas de produtos, apenas com a prata da casa, ajudando cerca de 600 famílias, a maioria das quais em Rabo de Peixe.
Contudo, Nélson Correia mostra-se preocupado que o FEAC não seja reativado e quais as consequências disso. “Não são sempre as mesmas famílias, vão mudando conforme as situações, mas somos responsáveis desde as Calhetas à Ribeirinha. De Porto Formoso até à Lomba de São Pedro passa a ser a Santa Casa da Misericórdia da Maia, sendo que nós fazemos a distribuição para a Maia e eles distribuem a essas famílias. Esperemos que esta ajuda não seja suspensa porque durante cerca de dois anos em que isso aconteceu, o governo, através da HISA veio substituir e acudiu as situações, mas houve necessidade de esticar os produtos ao máximo. Neste momento não há apoio, o HISA vem colmatando mas há que ter cuidado, e nós também temos um fundo de maneio para acudir em situações de emergência de cerca de 15 mil euros, mas, felizmente não tem sido necessário utilizar. O HISA tem feito bem o seu trabalho”, referiu.
Outra das prioridades para Nélson Correia é aumentar o ATL para mais 40 crianças e criar um polidesportivo, sendo que já existe um projeto na Câmara para esse alargamento, assim como a ideia de criar um lar para jovens com deficiência. “Há um terreno junto ao CACI, onde a Câmara Municipal ia fazer um parque de estacionamento, acabou por não o fazer porque havia algum impedimento e cedeu-nos o terreno que já está em nome da Santa Casa. Temos já uma verba inscrita no Plano e Orçamento do Governo para a feitura do projeto de arquitetura e contamos candidatar-nos ao PRR no próximo ano. E é para fazer um lar de jovens com deficiência porque notamos as famílias cada vez mais destruturadas e esses jovens passam a não ter qualidade de vida. Há uma grande procura na ilha por essas casas”, afirma o provedor que não esconde que esta seria a sua prioridade, embora admita ser difícil de concretizar em pouco tempo.
“Tinha mais necessidade que fosse o lar para jovens com deficiência porque temos jovens da Ribeira Grande que estão noutros da ilha e pertencem aqui ao concelho. Esse tinha toda a prioridade mas não vai ser muito fácil porque é um investimento que pode rondar cerca de 3 milhões de euros e tem de ser candidatado ao PRR e tem demoras. Da parte da Câmara há vontade, que cedeu o terreno, do Governo também esperamos que não esmoreça. Espero que a nova secretária regional da Saúde e Segurança Social, Mónica Seidi, que é alguém com algum coração e com algum afeto à solidariedade social, que veja esse projeto como uma necessidade para a Ribeira Grande”.