Em entrevista exclusiva ao Jornal AUDIÊNCIA, o presidente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo, Filipe Silva Lopes, mencionou as melhorias conquistadas para o território, ao longo dos nove anos da sua liderança. Garantindo que o seu lema sempre foi pouco asfalto, pouco betão e muitas pessoas, o edil ressaltou inúmeros projetos materiais e imateriais, desenvolvidos em prol da população, desde a criação da Academia Sénior, que classifica como menina dos seus olhos, à requalificação da sede da Associação Musical de Pedroso. A pouco mais de três anos do fim do seu mandato, o autarca anseia ver alguns projetos edificados, como o masterplan do Monte Murado, a requalificação do Quartel da GNR e da Escola EB2/3 e a construção do Centro de Saúde dos Carvalhos. Num momento em que o país está a regressar ao ativo, Filipe Silva Lopes destacou as duas festas âncora da freguesia que já aconteceram, evidenciando que, também, a Colónia Balnear e o Passeio Anual Sénior vão concretizar-se este ano. Quanto ao assunto polémico, relacionado com a desagregação das freguesias, o presidente de Pedroso e Seixezelo não escondeu a sua opinião, afirmando que, no caso dos territórios que lidera, é um erro, assumindo, mesmo, que se fosse presidente, apenas, de Seixezelo não teria conseguido concretizar os projetos que implementou.
Tendo em conta que se encontra no seu último mandato à frente dos destinos da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo, como descreve o caminho percorrido até ao presente?
O caminho é como o de todos os caminhos da nossa vida, com altos e baixos. Acho que tem sido feito um percurso interessante. O propósito desta candidatura, quando surgiu em 2013, era de pouco betão, pouco asfalto e muitas pessoas e, felizmente, com o apoio da Câmara, evidentemente, tem-se conseguido muitíssimo pessoas, mas, também, muito asfalto e muito betão. Mas, como em todos os caminhos, com altos e baixos, tivemos momentos menos bons, essencialmente, fruto de heranças da gestão anterior, principalmente da Freguesia de Pedroso. Essa herança levou-nos a momentos dramáticos nas freguesias, que fizeram colegas meus do executivo colocarem em causa abandonarem o projeto, tal era a deceção, e estamos a falar em 2018, quando houve a decisão da Civopal. Porém, eu sou daquelas pessoas que acha que nos momentos difíceis não devemos fugir e que é nesses que temos de dar a cara, porque nos fáceis toda a gente aparece. Portanto, ficamos aqui e foi possível contornarmos este momento difícil e acho que a União de Freguesias tem tido uma dinâmica interessante e muitos projetos para as pessoas. Eu acredito que, hoje em dia, toda a gente da freguesia acaba por ter envolvência com a Junta, ou pela Academia Sénior, pelo Campo de Férias, pela Colónia Balnear, pelo Posto de Enfermagem, ou pelo Kit do Bebé. Por isso, nós fomos criando um conjunto de projetos, que foram integrando a Junta na comunidade, mesmo com o tecido empresarial, como o Roteiro das Empresas e Feira de Emprego. Depois, fruto de toda esta envolvência e de todo este trabalho, ao longo dos anos, porque não é um trabalho de um mês, nem de um ano, nem se consegue credibilizar pessoas e credibilizar projetos com um ano, por isso fruto destes quase nove anos, hoje, é possível nós realizarmos eventos na União de Freguesias e termos as empresas como parceiros, patrocinadores, o que não é normal numa Junta de Freguesia e penso que será caso único em Vila Nova de Gaia, o que faz com que eles se tornem, também, sustentáveis. Por isso, penso que este é um caminho muito positivo, na minha ótica, se bem que é sempre difícil falarmos de nós próprios. Há coisas que correram menos bem, que não dependeram de nós, que não foram fruto da nossa ação, mas, no geral, muito positivo e se voltasse atrás, penso que o caminho igual nunca seria, porque nunca fazemos tudo igual, mas seria muito aproximado com o que tem sido trilhado.
O que mudou em Pedroso e Seixezelo, desde a sua chegada?
Olhou-se para a Junta de Freguesia como uma entidade de bem, fiável, que está, aqui, efetivamente, para tentar resolver os problemas das pessoas, da comunidade e das instituições. A autarquia tornou-se mais dinâmica, envolvente e participativa, com projetos inovadores que fomos criando, e, depois, também mudou muito ao nível de equipamentos e infraestruturas. Eu lembro-me perfeitamente de que, quando chegamos, aqui, em 2013, a rede viária da freguesia estava muito desgastada, e ainda há ruas que estão e vão continuar a estar, nem que eu fique aqui mais 50 anos, porque numa freguesia com esta dimensão, num concelho com esta dimensão, é impensável termos, num momento, todas as ruas impecáveis, porque os recursos também são limitados e isso é impensável. Agora, já foram reabilitadas mais de 80 ruas, já foram edificados equipamentos que há muitos anos eram ansiados, como a sede da Associação Musical de Pedroso, a Casa Mortuária de Seixezelo, o Complexo Desportivo de Seixezelo, a Feira dos Carvalhos e temos outros investimentos futuros para concretizar, mas mudou muita coisa. Acima de tudo, o que eu sinto é que as pessoas confiam na Junta. Mais do que tudo, e tudo é importante, as pessoas olham para a Junta de Freguesia e sentem que é confiável, acreditam no que nós dizemos, aparecem nos eventos que lançamos e isto, para além da sorte, foi um trabalho que foi feito e as pessoas gostaram. Eu penso que têm sido uns passos bem dados e, quando assim é, torna-se mais fácil pensarmos num projeto novo, porque, facilmente, conseguiremos ter uma empresa como parceira e o público-alvo, como confia na Junta, também adere, mas no início não era assim. Hoje, isto anda numa velocidade cruzeiro e é bom, é excelente, mas é fruto de muito trabalho, que foi feito.
Enquanto presidente de Junta, qual foi o momento mais importante para si?
Eu não consigo salientar um momento importante, porque tenho vários. Houve momentos, a nível de obras, como a sede da Associação Musical de Pedroso, que foi importante para mim, porque eu fui aluno desta instituição há 30 anos e sei bem as condições que eles tinham, depois também fui diretor, o meu falecido pai também foi diretor e era uma ambição e uma promessa que havia há muitos anos. Foi reconfortante, para mim, inaugurar a sede deles, que criou condições para se desenvolverem mais e melhor. Houve outros momentos, como a inauguração da Casa Mortuária de Seixezelo, que era uma ambição de décadas na freguesia e que foi possível concretizar. A nível de projetos imateriais, a Academia Sénior, que é a menina dos meus olhos, que foi e vai continuar a ser, entre inúmeros outros projetos que temos. Foi com muita satisfação que os vi a atuar no Festival da Cereja, porque é um projeto que não constava no meu pensamento, não estava no programa, mas, quando aqui cheguei, fui-me apercebendo que tínhamos muita gente, já com alguma idade, ativa, que queria ter alguma atividade e não tinha, então criamos este projeto, que tem uma adesão assustadora. Neste momento, tem mais de 400 alunos, uma brutalidade, parece quase uma universidade, com todas disciplinas e meio logístico, uma vez que nós garantimos o transporte e temos disciplinas que se desenvolvem em parceria com instituições locais, por isso, envolve toda a comunidade. No dia 5 de outubro do ano em que foi fundada a Academia, não era feriado, era um daqueles feriados abolidos pela Troika, hoje é feriado outra vez, e nesse dia fazemos a gala na freguesia, que é um momento alto e dá-me uma satisfação tremenda, porque é daqueles projetos que ficam. Além disso, há uma envolvência entre os avós, que estão a praticar as atividades, os filhos e os netos, que vão à gala ver os pais e os avós com orgulho. Depois, há momentos que não esquecemos, principalmente o momento em que o coro da Academia Sénior atuou pela primeira vez, em dezembro de 2015, no Concerto de Natal, que se realizou no Mosteiro. No final, elementos do coro vieram ter comigo, emocionados, alguns mesmo a chorar, fazendo-me chorar também, para me dizerem que nunca tinham pensado, alguma vez, que iam atuar ou cantar no Mosteiro de Pedroso e que tinha sido um dos momentos mais felizes das suas vidas. São estes momentos que ficam, mais do que tudo o que se possa fazer.
Depois de dois anos de pandemia, nos quais estes territórios continuaram em constante transformação, como está a decorrer este regresso à normalidade, tanto na autarquia, como nas instituições e ao nível da população?
Foram dois anos muito difíceis, mas é nos momentos de dificuldade que nós conseguimos abrandar um bocado o ritmo e recalibrar aquilo que, para nós, é importante, quer enquanto pessoas, quer enquanto comunidade, e isso eu acho que se fez de uma forma geral, em Pedroso e Seixezelo. Nas atividades da Junta, é excelente regressar. Felizmente, durante a pandemia, em Vila Nova de Gaia, as Juntas de Freguesia arregaçaram as mangas e ajudaram numa atividade não preventiva, nem planeada, mas, sim, dependendo do que era necessário fazer naquele momento e é muito bom regressar à nossa normalidade, se é que já estamos na nossa normalidade. Este frenesim, os eventos, o stresse de organizar o Passeio Sénior, visto que já sentíamos todos falta disto, quer eu, quer a minha equipa, quer os funcionários da Junta. Da parte da população, nós estávamos a ser bombardeados com telefonemas das pessoas que queriam saber se ia haver passeio, elas precisam e querem muito sair de casa e isso verificou-se no Festival da Cereja e na Festa do Caneco. Na minha opinião, considerando estes nove anos, foram as edições com mais gente, em que os recintos estiveram sempre cheios todos os dias. Nas coletividades ou instituições, eu penso que tem corrido bem, na freguesia. Eu tenho falado com vários presidentes de Junta e da parte dos meus colegas há uma preocupação com as instituições das freguesias deles, porém, aqui, eu não tenho nenhum caso gritante. Os ranchos iniciaram a sua atividade, os clubes também, aliás já tinham começado mais cedo, portanto, não temos nenhum caso grave, porque aqueles que já tinham algumas dificuldades continuam a tê-las e aqueles que estavam bem, podem não estar no mesmo nível, mas, certamente, vão lá chegar. Por isso, é excelente regressar à normalidade, estarmos sem máscara e podermos participar nos eventos e nas iniciativas, pois eu já tenho saudades dos festivais de folclore, já tenho saudades disto tudo e acho que está a ser muito bom este regresso.
Considerando que durante um período que foi tão difícil algumas bandeiras tiveram de ficar suspensas, quais são as prioridades atuais? Há alguma área que necessite de uma atenção especial, neste momento?
Os principais projetos da Junta ficaram todos suspensos. Na candidatura às eleições para este último mandato, eu tinha dois grandes objetivos, o primeiro era aqueles investimentos que são vitais para a freguesia e que têm vindo a ser anunciados pela Câmara e pela Junta, e o segundo objetivo era retomar todos os projetos. Pode parecer pouco ambicioso, mas há todo um trabalho em que a máquina está envolvida. Nós temos projetos que são pesados, como a Academia Sénior que tem uma técnica superior, não digo 100% dedicada ao projeto, mas muito dedicada ao projeto, os festivais e a Petrus Run. Nós temos vários projetos que são pesados e o receio era se a máquina estaria oleada, para retomar e esse era o desafio. As coisas têm corrido bem, eu tenho a sorte de ter uma excelente equipa, quer no executivo, quer de profissionais. Eu não sinto que nenhuma área em específico tenha dificuldades. Acho que todo o apoio que nós dávamos, enquanto Junta, antes da pandemia, retomamos. Não sinto que nenhuma área esteja mais frágil do que outras, na minha freguesia, muito sinceramente não sinto.
Numa altura em que o país está a voltar ao ativo, as tão ansiadas atividades promovidas pela Junta de Freguesia realizar-se-ão. De que forma é que o regresso da Colónia Balnear e do Passeio Anual da Terceira Idade serão assinalados?
As inscrições para a Colónia Balnear já encerraram e já abrimos para o Passeio da Terceira Idade, ao qual temos bastante adesão. Ao nível da Colónia Balnear, nós temos a infantil, até aos 11 anos, que é gratuita, que já vinha de trás, foi herdado, e criamos duas novas vertentes, a Colónia Balnear Juvenil, porque sentimos que havia uma franja de miúdos acima dos 11, cujos pais não tinham resposta, pediram e nós criamos, até aos 15. Depois, temos a Colónia Balnear Sénior, a partir dos 60 anos e, neste momento, o que assistimos é que nessa vão mais pessoas do que na Infantil. As Colónias Balneares vão decorrer ao longo de todo o mês de julho. Nós fazemos, por pessoa, por quinzena, na Infantil, porque é gratuita, enquanto a Juvenil é comparticipada pelos pais e eles escolhem as semanas em que querem que os filhos participem. Tem corrido bem, estamos com muita adesão e no mês de julho a União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo vai invadir a Praia da Aguda. No Passeio Sénior tive mais um pouco de dificuldade. Eu não sou nada receoso, nada mesmo, até acho que sou um otimista moderado, mas os festivais e o passeio sénior eram eventos que me criavam alguma preocupação, porque apesar das coisas estarem mais controladas, ao nível da pandemia, nós estamos a falar de eventos onde vão muitas pessoas. Foi uma decisão comum, de todos os presidentes de Junta, e decidimos avançar. Os festivais correram muito bem. Sobre o Passeio Sénior, a minha ideia era que o percurso fosse mais curto, mas como Pedroso e Seixezelo é a freguesia que leva mais gente, depois também não é fácil encontrar espaços e quintas, então iremos a Vila Praia de Âncora duas vezes, a 2 e 9 de outubro, para levarmos metade de cada vez e temos a certeza de que também iremos ter muita adesão. Já realizamos a Colónia de Férias de verão no ano transato. A de Natal não realizamos, porque os números dispararam e nós cancelamos. Apesar de não ser atividade do âmbito da Junta, mas de uma cooperativa que foi criada na freguesia, a autarquia é um parceiro e, sim, iremos fazer e temos já muitíssimas inscrições. Mais do que a Colónia Balnear, o Campo de Férias é muito requisitado. Este foi outro projeto que nunca esteve em nenhum programa meu, mas que foi fruto do que fomos vendo, porque nós temos de estar atentos às necessidades da população. Este foi um projeto que surgiu naturalmente e sem fazer grande publicidade, já temos as semanas cheias. Há um máximo de 25 crianças por semana, porque o nosso programa nunca passou por ser um depósito de miúdos, tem atividades diversificadas e é interessante. Grande parte dos miúdos que se inscrevem são os que estão desde o primeiro ano, porque eles vão, gostam e não querem outra coisa, estão sempre ansiosos pelo regresso do campo de férias. Vai cobrir todo o período de férias letivas e arranca no mínimo com 8 miúdos por semana, até ao máximo de 25. Neste momento, já temos semanas com 20.
Como já referiu, o Festival da Cereja e da Festa do Caneco, eventos âncora da localidade, voltaram a concretizar-se. Que impacto teve este regresso junto da população? Qual a sua importância?
Nós vivemos numa comunidade, numa sociedade em que as redes sociais começam a ter muito impacto. Hoje, é muito fácil nós estarmos a escovar os dentes de manhã e mandarmos um bitaite numa rede social e criarmos um burburinho enorme. As festas são sempre um momento de crítica e eu entendo isso, como contribuinte que sou, também, aliás, na minha cabeça, não passa, e espero não vir a passar até 2025, pôr em causa a sustentabilidade do orçamento da Junta para fazer uma festa, como também não passa organizar um passeio sénior, o impacto é o mesmo. Nós temos de ver as festas, numa vertente diferente desta. As festividades, não são para promover o presidente da Junta, pelo menos no meu caso nunca foram. O Festival da Cereja já vinha de trás, nós apenas demos continuidade, mudamos e eu acho que está mais interessante, num espaço e com barraquinhas mais apelativas, mas já vinha de trás e o conceito é mais ou menos o mesmo, porque, em Seixezelo, não existiam instituições quando nós chegamos, entretanto criaram-se duas ou três, um bocadinho potenciadas e apoiadas por nós, o que faz com que, hoje, já existam algumas instituições nas barraquinhas. Mas, essencialmente, estamos a falar de particulares, de pessoas que alugam uma barraquinha, fazem algum dinheiro e o conceito é o mesmo, foi muito bem desenhado pelo meu antecessor e nós mantemos. Na Festa do Caneco, foi diferente, porque Pedroso tem inúmeras coletividades, inclusive três ranchos federados, e não havia uma semana gastronómica ou cultural, pelo que a ideia foi criarmos um evento, essencialmente, para as instituições e coletividades. No primeiro ano, quando fizemos, em 2014, eu não sabia como é que as coletividades iam aderir, então abrimos a toda a gente e tivemos muitas coletividades e alguns particulares. A partir do momento em que eu comecei a ver que as coletividades estavam, ali, em força, e foi em ano de eleições, por isso em 2017, eu tomei a decisão difícil, antipedagógica para ganhar eleições, de dizer que os particulares não iam, apenas as instituições. Neste caso, se os particulares venderem produtos diferentes dos que são apresentados pelas coletividades, nós podemos aceitar, porque não podem fazer concorrência às coletividades e é essa a regra que está implementada, desde 2017. O que nós vemos é que das 30 barraquinhas que temos lá, se calhar 25 são instituições e 5 são particulares, que fazem crepes, licores, coisas que as coletividades não fazem. Eu fui muito criticado, principalmente na campanha de 2017, e acho que, quem está no meu lugar, está sujeito a críticas e eu durmo muito bem com isso, mas as pessoas deviam, antes de criticarem, verificar o impacto e o retorno financeiro, não digo para a Junta, porque a Junta não vende sandes de porco, mas para as instituições. Há coletividades, dou o exemplo do Rancho de Alheira, que já me disse várias vezes que todas as melhorias que tem feito na sede é com o dinheiro que ganha na Festa do Caneco, desde uma sala de jogos com bilhar, às casas de banho e juntar a isso, temos outros ranchos e coletividades que é dali que tiram muita da sua receita. Havia uma coletividade que ia à Festa do Caneco para ter dinheiro para fazer as inscrições dos atletas no início da época desportiva. Por isso, as pessoas, em vez de criticarem, deviam perceber que só por ajudar as coletividades, já é mais do que justificável a realização da festa. Depois, é o impacto financeiro. Eu não posso gastar 10 ou 20 mil euros numa festa e depois não ter dinheiro para tapar um buraco, para pagar uma renda a uma pessoa ou para dar medicação, isso não está nem nunca poderá estar em causa. Agora, financeiramente, os principais custos de uma festa são o cartaz, as barraquinhas que alugamos e de custos pesados, é isso. Depois, temos as receitas. Nós recebemos de quem vai para as barraquinhas, recebemos, felizmente, há uns anos a esta parte, um apoio da Câmara Municipal e temos a sorte de termos uma boa relação com o tecido empresarial local. Se eu fizer contas, cegamente, eu quase que me arrisco a dizer que os festivais dão lucro à Junta, como dá a Petrus e muitas pessoas não têm essa ideia, mas podem vir cá, que eu mostro. Na Petrus, a Junta gasta quatro ou cinco mil euros, mas recebe sete, nesta última edição foi assim. Agora, tem de se trabalhar. Dá mais trabalho ter receitas? Dá mais trabalho. No primeiro ano que fizemos a Festa do Caneco tivemos prejuízo, hoje temos lucro. A Academia Sénior é uma atividade rentável, dá lucro. Agora, dá trabalho. Ter as empresas do nosso lado, dá trabalho. Agora, qual é a adesão das pessoas? Brutal. O Festival da Cereja e a Festa do Caneco foram impecáveis. Se eu algum dia puser o Pedro Abrunhosa, e espero que o senhor presidente da Câmara o ponha antes de eu ir embora da Junta, é o único pedido que eu faço, porque gostava de o ver na Festa do Caneco, temos muita gente no recinto, se pusermos o Tony Carreira, temos muita gente no recinto, mas, muitas vezes, temos muita gente que vem ver o concerto e que sai, que não consome. Mas, este ano, a ideia era diferente. Estamos a sair da Covid-19 e há uma guerra aqui ao lado. Acho que não era de bom senso estar a gastar muito dinheiro num cartaz, porque, depois de dois anos de interregno, as pessoas estão mortinhas por sair de casa e aderem independentemente do cartaz. São estas as pessoas que consomem e para as coletividades é o que interessa. Por isso, a única coisa que faz a diferença no sucesso de um festival, na minha opinião que não percebo nada disto, é o São Pedro, porque se estiver chuva as pessoas ficam em casa, mas se estiver sol, as pessoas vão, porque estavam com saudades. Agora, têm um impacto grande na freguesia. Nós tivemos pessoas de Matosinhos na Cereja, quando havia o Senhor de Matosinhos lá, por isso, tem esse impacto. Se me perguntar se é importante divulgar a freguesia em Matosinhos, financeiramente não é importante, porque nós não somos uma empresa, mas é relevante afirmar a terra, as festas também servem para isso e é o que temos feito. Gosto muito do Caneco, é uma marca que também iremos deixar, mas defendo que deve ser feito com os pés bem assentes na terra, porque é muito fácil derrapar e acho que tem de se ter cuidado e trabalho muito, para angariar receita. O Festival da Cereja é autossustentável. Na minha cabeça até cabe a ideia de, daqui a uns anos, as pessoas pagarem um euro para entrarem. Nós temos de perceber que o papel de uma Junta não é estar a contratar cantores, é promover a cultura e as coletividades. Agora, é muito reconfortante, depois do trabalho todo que está associado a este evento, chegarmos ao fim do dia e dizermos que correu tudo bem e isso é uma satisfação muito grande. Mas, sim, as festas têm tido um impacto enorme. A Festa do Caneco é uma brutalidade, ganhou uma dimensão gigante mesmo, em meia dúzia de anos.
Para além das coletividades, estes eventos também apoiam os músicos locais.
Este ano a minha preocupação foi um bocadinho essa. As pessoas estiveram dois anos sem trabalhar e, então, o nosso objetivo era ter um ou dois nomes conhecidos, a preços nada exorbitantes, mas, claramente, sim, apoiar os cantores locais e nós convidamos todos, só não tivemos uma, porque, neste momento, não tinha condições para atuar, mas de resto todos os locais atuaram, porque essa, sim, é uma obrigação da Junta. Nós, muitas vezes, damos apoio para isto e para aquilo e esquecemo-nos dos nossos. Nos três primeiros dias do Caneco atuaram locais e nos últimos três foram as vedetas, digamos assim. Mas, para mim, a vedeta foi a Academia Sénior que atuou no festival, essa, para mim, é que foi a cabeça de cartaz.
A ação social é uma das maiores bandeiras deste executivo, que, ao longo dos seus mandatos, criou inúmeros iniciativas em prol da população, como “Um bebé…Um futuro”, Academia Sénior, Cartão do Bebé e, mais recentemente, Cartão Sénior. Pode falar-nos um pouco sobre estes projetos e outros que ache relevantes nesta área?
A ação social sempre foi uma das nossas prioridades e objetivos, quando decidimos vir para a Junta. Pedroso e Seixezelo é uma freguesia, como muitas outras, que tem as suas necessidades e penso que não havia muitas respostas na Junta de Freguesia, nem assistente social tinha. Neste momento, temos uma assistente social e fomos conseguindo alargar o leque de respostas, e isto começou, em 2014. Até 2013, a Câmara tinha um projeto que se chamava “Gaia com Farmácias Solidárias” e, na mudança de ciclo, onde acredito que haveria outras preocupações na cabeça do presidente Eduardo Vítor Rodrigues, nós tivemos uma farmácia que era aderente, até 2013, desse projeto do município e que veio ter comigo, dizendo-me que queria ajudar e que, uma vez que tinha acabado o projeto com a autarquia, queriam fazer algo com a Junta. Foi o primeiro protocolo que fizemos com uma entidade, a partir daí temos feito um conjunto de protocolos com todas as farmácias da freguesia, uma ótica, clínicas dentárias, e temos um grande projeto que é o “Pedroso e Seixezelo – Apoio Solidário”, que engloba todas estas respostas sociais. Ao mesmo tempo, fomos diversificando um conjunto de respostas que percebemos que era possível darmos, sempre em parceria com alguém. Os projetos só têm sucesso e só marcam pela diferença se forem feitos em equipa. Foi assim que criamos o projeto da Academia Sénior, que já falei, criamos o projeto do bebé, que tem uma adesão brutal. Aliás, tivemos no dia 4 de junho, o 1º Encontro de Bebés de Pedroso e Seixezelo. “Um Bebé… Um Futuro” é um projeto com três anos e este encontro foi uma forma de nos reunirmos, vermos, de termos, ali, um pequeno lanche. Este projeto do bebé arrancou em parceira com as farmácias, mas, neste momento, por arrasto do Cartão Sénior, que nos levou a bater à porta de muitas entidades, conseguimos, também, alargar o leque de parceiros do Cartão do Bebé. Por isso, neste momento, temos muitíssimos parceiros, de todas as áreas, a todos os níveis, na freguesia, e não só. Houve empresas fora da freguesia que vieram ter connosco a perguntar se podiam ser parceiros e nós aceitamos, naturalmente, para beneficiar as pessoas. Agora, independentemente destes projetos enumerados, que são os mais visíveis na área da ação social, temos muitos outros que, não tendo uma marca, não tendo um logotipo, não sendo tão divulgados, têm um impacto muito grande. Nós temos um projeto que é o SOS Casa, em que fazemos pequenas intervenções nas casas das pessoas com necessidades, como arranjar uma cozinha, substituir um frigorifico, substituir a iluminação ou pintar uma parede, fazemo-lo com recursos humanos da Junta. Tentamos, muitas vezes, junto das empresas, a doação dos materiais, se não for possível, assumimos esse encargo. Nós não temos, aqui, uma máquina de fotocopiar dinheiro, era bom, mas não, e temos de gerir isso com alguma tranquilidade, mas temos muitas respostas sociais. As pessoas, há uns anos, iam à Segurança Social, eu penso que, hoje em dia, vêm à Junta. É uma questão de não dizermos que não, mas há pedidos aos quais não temos resposta, por exemplo, a habitação social. Gostava muito, antes de ir embora, de fazer um parque com suites, ter meia dúzia de quartos com casas de banho independentes, para aqueles casos mais dramáticos de pessoas que são despejadas e não têm onde passar uma noite, ou até uma semana ou um mês, até encontrar uma solução. Logicamente que isto abre outras questões. Eu já fui diretor de uma IPSS, que tinha habitação social e era uma dificuldade, porque quando colocamos uma pessoa lá para duas ou três semanas, isso, rapidamente, se transforma em dois, três anos, e, com jeitinho, torna-se 20 ou 30 anos. Depois, as instituições não vão mandar as pessoas para a rua, e a Junta também não vai fazer isso, mas nós queríamos este espaço, não para uma residência permanente, seria uma solução de recurso, para que a pessoa não ficasse na rua, pudesse tomar um banho e dormir num colchão e com cobertor, porém, teria de haver uma solução seguinte. Nós até temos recursos que nos permitiriam, talvez, fazer isso com alguma facilidade, mas o que vem a seguir a isto? Mas sim, a ação social sempre foi uma das bandeiras, essencialmente no primeiro mandato, porque nós entramos em 2013, o país estava a sair de uma crise, e houve essa necessidade, não havia nada. Hoje em dia, a ação social continua com a mesma dinâmica, todavia conseguimos puxar outras áreas para o mesmo nível, por isso, se no primeiro mandato a ação social tinha um grande impacto na nossa atividade, hoje partilha esse com muitas outras áreas, acho que quase todas, de todos os projetos que vamos tendo, na área da educação, desporto e cultura.
Falou inicialmente que, quando entrou para a Junta de Freguesia, o betão não era uma prioridade, ainda assim, que obras materiais e imateriais pretende, ainda, ver erguidas até ao final do seu mandato? Quando é que o Centro de Saúde dos Carvalhos será uma realidade?
O betão nunca foi uma prioridade no sentido que, se eu tivesse de optar entre fazer uma rua ou dar de comer a alguém, na minha cabeça, esteve sempre clara essa escolha, e continua clara, no entanto, acho que o currículo que podemos mostrar fala por si, fizemos muita obra, e quando digo fizemos, a Câmara está aqui com um enorme peso, como é óbvio. Qual é a principal obra que falta até eu ir embora? É o Centro de Saúde, já o disse e continuo a dizer. Neste contexto, claramente, o que aconteceu no mundo teve um impacto grande, os preços dispararam, aliás, é público, o senhor presidente da Câmara já o disse, abriu-se o concurso para o Centro de Saúde dos Carvalhos por 3,8 milhões de euros, e o concurso ficou deserto, nenhuma empresa conseguia executar a obra até àquele limite, acho que o preço mais baixo era mais um milhão, do que o preço base. Teve de se anular o concurso e já foi aprovada, em reunião de Câmara, a abertura de um novo, por 5,5 milhões, penso eu. Estamos a falar de quase o dobro do preço. Agora, o Centro de Saúde será uma realidade. Eu gostava muito de o inaugurar, gostava, mas mais do que inaugurar, quero ver a obra a acontecer, e se tiver de sair durante o decorrer da mesma, também não irei ficar deprimido. Mas, essa é uma realidade, um compromisso, é uma prioridade da Câmara Municipal de Gaia, o senhor presidente da Câmara já disse, várias vezes, que terá de reprogramar o Plano de Investimento, porque com 100 milhões, estou a dizer um valor aleatório, conseguia fazer dez obras e, hoje, com os mesmos 100 milhões, só consegue fazer seis e tem de as escolher. Dessas seis, e eu estou a falar a título de exemplo, não sei se são seis ou 60, ele foi claro ao afirmar que o Centro de Saúde dos Carvalhos é uma das obras a manter, por isso, será uma realidade. Acho que é a obra, se houvesse uma sondagem na freguesia, que as pessoas iriam indicar. Depois, temos a requalificação da EB2/3, cujos projetos estão feitos, o concurso irá ser lançado brevemente. Também foi notícia, recentemente, que a segunda fase da reabilitação do Quartel da GNR já foi aprovada em reunião de Câmara, por isso, também será uma realidade. Estas são aquelas três obras que têm sido faladas, quer pela Junta, quer pela Câmara Municipal, e mais do que serem faladas e estarem no papel, estão a acontecer, agora, vivemos num país onde a burocracia é muito pesada e temos de a cumprir. No asfalto, naturalmente, temos o Plano de Intervenção da Rede Viária, que faz com que, todos os anos, independentemente de quem estiver na Junta de Freguesia, seja sempre uma prioridade no investimento, porque é sempre necessária a sua manutenção. Temos também um projeto, que está numa fase inicial, que é o masterplan do Monte Murado, na Senhora da Saúde, que foi encarado pela Câmara Municipal como um local de referência no concelho, é preciso olhar para todo aquele espaço, que é privado, pertence à Confraria, mas que tem utilidade pública, como um espaço único no concelho e desenhar uma intervenção genérica no recinto, sabendo que não é possível fazer tudo no mesmo ano, porque estamos a falar de um investimento enormíssimo, mas saber que, quando intervimos ali, ao lado vai acontecer outra coisa. Ou seja, ter as intervenções integradas, para não acontecer de hoje fazermos isto e amanhã não ficar bem com o outro projeto e deitar abaixo. Fazer parcelarmente a intervenção, mas o projeto estar fechado. É nisto que se está a trabalhar. Constituiu-se uma equipa de trabalho na freguesia, da Junta e da Confraria, já fizemos um programa do que é que, na nossa ótica, é importante lá estar, já entregamos à Câmara Municipal, sei que a autarquia tem uma equipa a trabalhar nisso e penso que, até ao final do verão, irá ser apresentada à freguesia e à Confraria a solução que a Câmara idealiza, para depois conseguirmos desenvolver. Agora, perceber que o Monte Murado é um lugar único no concelho, que a prioridade é a Capela e o turismo religioso, mas, depois, tem ali um conjunto de fatores que se podem explorar, desde logo, o turismo arqueológico, um espaço de lazer, onde os pais podem ir lanchar ou descansar, mas que tem um parque infantil digno para os miúdos, algo para os avós, e conseguir um local para as pessoas desfrutarem. Estamos, também, a concluir, com tranquilidade, porque aí estamos a fazer com recursos próprios, quer da Junta, quer da Associação Musical de Pedroso, o Jardim da Freguesia, que é perto da Praça da Saudade, nas traseiras da sede da Associação Musical. Um jardim que é super bonito, tem um lago, tem patos, completamente diferente de um jardim tradicional. Estamos a finalizar, não sei se abriremos este ano ou para o ano. Será um jardim num terreno que pertence à Câmara Municipal, que está sob a gestão da Junta e da Associação Musical de Pedroso, que irá ser público, mas que terá um horário de abertura e de fecho, será um jardim controlado, porque não é uma praça, aquilo tem de ser cuidado e ter algum acompanhamento. Vamos abri-lo na realidade que está a ser construído, sabendo que os terrenos ao lado pertencem ao município e que há possibilidade de o expandir. Eu não sou daquelas pessoas que fazem tudo à grande, de uma vez, não, vamos abrir e ver a adesão, se se justificar, temos espaço para crescer, se não se justificar e aquele espaço for o suficiente, pronto, não vale a pena estar aqui a exagerar. Mas, temos ainda muita coisa por fazer. A nível de projetos imateriais, é assim, há sempre espaço para mais coisas. Eu tenho amigos meus que dizem que, quando eu sair da Junta, o problema para quem vier será manter tudo o que temos. É difícil porque, neste momento, já realizamos muitas coisas. Há algo que eu gostava de fazer, que era a Noite Branca, isso sim, gostava. Íamos realizá-la em 2020, mas, depois, veio a Covid-19 e não pudemos concretizá-la. Porém, este ano, estamos a contar fazê-la no último sábado de agosto. Tirando isto, estou aqui a olhar para todos os projetos que temos, se imprimisse o mapa de eventos, e quando digo eventos não é festas, é tudo, homenagens aos combatentes, concertos solidários, tudo o resto, nós temos quase 30, durante o ano, já estamos no limite. Eu acho que, neste momento, criar mais projetos imateriais, não é que eu não tenha ideias, porque eu sou um idiota, mas eu penso que temos de deixar respirar o que temos, porque se começarmos a criar, criar, criar, de caminho nem se valoriza ou promove o que temos. Há sempre espaço para mais, como eu digo, mas, por exemplo, nós fizemos, o ano passado, as Noites de Comédia, e este ano não fizemos, porque já podemos fazer os festivais. Não vale a pena criarmos projetos, que se podem matar uns aos outros, e não há necessidade disso. O que é que nós fizemos? Pegamos nas Noites de Comédia e em vez de as fazermos, enquanto evento, colocamos no Festival da Cereja e na Festa da Caneco uma noite de comédia.
Este ano vai regressar, também, o Cinema ao Ar Livre?
Sim, claramente, sim. Está previsto para setembro. Este é um projeto que se criou, assim, na brincadeira e, da última vez que o fizemos, tivemos mais de mil pessoas. Quando digo mil pessoas, não é um por ser um número redondo, é porque nós pedimos 800 cadeiras ao Colégio dos Carvalhos e estavam as cadeiras todas cheias, foi na Senhora da Saúde, estavam os muros à beira da Capela todos repletos de pessoas. Eu fiquei, de pé, atrás, por isso, seriam, seguramente, mais de mil pessoas. Tem um impacto enormíssimo, as pessoas levam cobertores, desfrutam mesmo daquele momento. O que me pedem é para o fazer mais vezes, durante o ano, mas lá está, se fizer mais, depois torna-se banal e quando é banal as pessoas deixam de valorizar. Acho que devemos valorizar e abrir a garrafa de champanhe em certos momentos, não é todos os dias, se não o champanhe deixa de ter piada, e é um bocadinho isso.
Uma vez que está em cima da mesa o processo de desagregação das freguesias, qual será o caminho a percorrer em Pedroso e Seixezelo? Acredita que os fregueses querem ou não a separação dos territórios? Qual é a sua opinião sobre este tema tão debatido atualmente?
Aí, com toda a tranquilidade, e quem já me conhece sabe, eu dou a minha opinião, que é clara. Eu sou uma pessoa muito casmurra em dois sentidos, porque penso muito para tomar uma decisão e, depois, quando a tomo, é muito difícil sair dela, a não ser que me mostrem que estou a pensar mal, não sou burro. Falando no caso de Pedroso e Seixezelo, nós vamos escutar as pessoas, é esse o compromisso que temos perante a população, quer aqui, quer em todas as Uniões de Freguesia de Gaia. Iremos fazer sessões de auscultação, sendo certo que, quem decide, são os deputados da Assembleia de Freguesia. A lei é clara, mas eu acho que nenhum político tem habilidade para fazer sessões e depois ir no caminho oposto ao que as pessoas mostraram querer. Acho que ninguém vai fazer uma coisas dessas, por isso, acredito piamente que os deputados da Assembleia de Freguesia, que serão convidados para estas sessões, estarão lá e optarão pelo que irão ouvir. Agora, isto coloca outras questões. Quantas pessoas vão aparecer às sessões? Cinco pessoas? Isso tem peso? Tem validade? Tem, como tem as 21 mil que não foram. Se as pessoas não vão é porquê? Não lhes interessa a freguesia? Porque isto é um não assunto? Porque estão bem assim ou querem mudar? Se disserem que é para fazer um referendo, com uma urna, para as pessoas irem lá votar se querem a desagregação ou não, eu quase arrisco que a grande maioria vai dizer que quer, porque é aquela ideia de independência, a ideia da pessoa ficar como quando nasceu. Por isso, acho que as pessoas, se tiverem apenas um papel e uma caneta, em todas as freguesias do país, vão dizer que querem desagregar. Se houver a possibilidade de dialogar, de explicar o que é que se ganha e o que se perde, de refletir um bocadinho, eu acho que há casos em que, se calhar, ganha-se em desagregar, e há casos em que se perde. No caso de Pedroso e Seixezelo, para os habitantes de Pedroso, na minha ideia, é completamente indiferente se está agregado ou não. E é indiferente porquê? Não é que as pessoas de Pedroso não queiram saber de Seixezelo, nada disso, aliás, no Festival da Cereja estava muita gente de Pedroso. Em 2013, se me tivesse candidatado à Freguesia de Pedroso, se não houvesse a agregação, eu conseguia desenvolver todos os projetos que desenvolvi. Se eu me candidatasse, em 2013, só à Junta de Freguesia de Seixezelo, eu, a mesma pessoa, com a mesma vontade e a mesma equipa, não conseguia, e quem me disser o contrário está a mentir, a não ser que me expliquem como é que se consegue fazer uma Academia Sénior lá. As pessoas deviam ver como se fazia o Festival da Cereja antes da agregação, deviam ter essa memória. E se me disserem que a obrigação é da Câmara ajudar. Acham mesmo que a Câmara, independentemente de quem for o presidente, vai ajudar 24 freguesias a fazerem 24 festas? Alguém acredita nisso? A casa mortuária teve o apoio da Câmara Municipal, mas ela custou 130 mil euros, a Câmara deu 100 mil, nós tivemos de pôr 30 mil. Sozinho, Seixezelo não conseguia. E mais, no caso da casa mortuária, nós arrancamos com a obra, adjudicamos o contrato, sem a Junta ter a garantia de que ia ter o apoio da Câmara. E fazíamos na mesma. Era impossível se as freguesias estivessem separadas. Por isso, quando me falam em independência e identidade, eu não discuto sentimentos, nunca discuti. Eu gosto de um clube, vocês podem gostar doutro, não vamos estar aqui a discutir, porque vamos chegar ao fim e estar sempre em desacordo. Eu discuto factos, e o facto qual é? Se eu fosse presidente de Junta só de Seixezelo, não tinha feito praticamente nenhum dos projetos que fiz. Não que passasse a ser incompetente, se é que sou competente, mas não tinha como fazer, nós sem ovos, não fazemos omeletes. Quanto à identidade, qual é a minha opinião? Minha, Filipe. Eu entendia isto como um fator para desagregar, se tivesse acontecido em Pedroso e Seixezelo o que aconteceu em algumas freguesias. Ou seja, a freguesia A, B e C agregaram-se e passaram a chamar-se D. Aqui não. Aqui continua a ser União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo. Pedroso existe, Seixezelo existe. O meu código postal não é Pedroso/Seixezelo, no meu caso é Pedroso, e quem mora em Seixezelo, é Seixezelo. Para quem mora em Pedroso é igual, e se calhar as pessoas até podem pensar que estamos a fazer obras em Seixezelo com o dinheiro de Pedroso, podem pensar isso, eu acho que não, porque tivemos sempre esse cuidado, e não há essa separação, nunca houve, nunca senti, e hoje ainda menos. No início, as pessoas de Seixezelo achavam que eu era o Presidente de Pedroso, hoje não sinto nada disto. Seixezelo pode pensar que, agora, o impacto, a visibilidade é Pedroso, porque eles são mais pequenos, é uma realidade, mas eles têm lá o Posto de Enfermagem a funcionar, gratuitamente. Conseguem ter se estiverem sozinhos? Se alguém me conseguir explicar como é que conseguem, pode ser que eu acredite, e aí também sou a favor da desagregação. Agora, os edifícios continuam ambos a funcionar, Seixezelo ganhou, Pedroso ganhou. O que o presidente da Câmara já me disse foi para eu me focar no facto de que Seixezelo ganhou, porque o presidente é o A, se for o B, talvez não. Imaginemos que o presidente da Junta era um individuo péssimo, Seixezelo perdia, mas como eu acredito que o povo escolhe o melhor, esse é um problema que se resolve com as eleições. Por isso, a minha ideia é que isto é um não assunto, que as pessoas não querem saber disto para nada. Quando se começar a falar, vão querer saber, e depois há dinâmicas que se percebe que vão acontecer. Por isso, eu vou às sessões, com toda a tranquilidade, explicar o que expliquei aqui. Se as pessoas, mesmo assim, não quiserem saber do Posto de Enfermagem, da casa mortuária, das obras, quiserem é estar sozinhas, eu não discuto. Gostos eu não discuto. Agora, o meu papel é dizer aquilo que, na minha ótica, é melhor e é pior. Eu acho que não perdeu nada, aliás, nós tivemos uma Assembleia de Freguesia onde foi unânime, quando se arrancou com o processo, e onde os deputados da oposição, do PSD que, neste caso, é o único partido da oposição que temos na Assembleia, disse que ambas as freguesias ganharam e nenhuma perdeu a identidade, isto foi dito pela líder da bancada do PSD. Agora, se as pessoas querem, da minha parte, tudo bem. Eu ficaria mais preocupado se fosse habitante de Seixezelo, com toda a honestidade, se desagregasse, porque perderia, é impensável, não há hipótese. A não ser que a Câmara Municipal, em 2025, independentemente de quem for o presidente, diga que as freguesias pequenas vão receber mais dinheiro do que as grandes. Mas alguém acredita que isso vai acontecer? Eu acho que um presidente de Câmara tem de olhar para o território e corrigir as assimetrias, mas um presidente de Câmara é eleito por votos, por isso, também tem de ajudar as grandes, porque quem tem mais peso eleitoral são estas, por isso, é difícil. Agora, haver uma ou outra correção em Vila Nova de Gaia, na minha opinião, até faz sentido, mas, se nós criticamos, em 2013, agregar sem consultar, agora, eu critico desagregar por decreto. Vamos escutar. Eu defendo que é um erro, mas estou disposto a ouvir se as pessoas querem. Se quiserem, eu fico de consciência tranquila, alertando que é um erro. O que eu não quero é que, depois, digam que o presidente podia ter dito ou avisado, que íamos perder isto ou aquilo. Eu vou dizer, se quiserem na mesma, depois não podem vir dizer «podias ter dito». Pessoalmente, acho que é um erro, no caso de Pedroso e Seixezelo, mas é apenas a minha opinião.
No final do seu mandato, sairia feliz se…
Sairia feliz se, todos os dias, ao deitar-me na cama sentisse que dei o melhor, em prol da comunidade. Acho que já fizemos muito mais, do que eu alguma vez pensaria que seria possível fazer. Com isto não quero dizer que não vou fazer nada nestes últimos três anos. Não, a minha motivação é exatamente a mesma, hoje, como era ontem e vai ser amanhã. Mas, sairia feliz se conseguíssemos desenvolver estes projetos que temos, solidificá-los, o Centro de Saúde, a escola, ver essas obras a arrancar ou a inaugurar, e, acima de tudo, pudéssemos mostrar à comunidade, e acho que é isso que temos vindo a mostrar, daí as votações que temos tido, que é possível fazer política de forma diferente. Não somos todos iguais, nós podemos ser úteis, e uma Junta de Freguesia é muito útil, numa comunidade, se tiver projetos que tenham utilidade. Por isso, fico feliz, se todos os dias chegar a casa com o sentimento de missão cumprida, e conseguir adormecer rápido, que, por acaso, tenho conseguido. É o sentimento de consciência tranquila, porque dei o meu melhor.
Quais são os seus maiores sonhos para Pedroso e Seixezelo? Onde quer ver estas freguesias chegar?
Com o Centro de Saúde, a escola, o posto da GNR e o Monte Murado, acho que a nível de equipamentos começamos a ter, não digo tudo, porque nunca há tudo, falta o aeroporto, mas penso que conseguimos ter os equipamentos necessários, para a freguesia se poder desenvolver. Era interessante o metro chegar à freguesia, está muito perto já, por isso acredito que, não comigo, mas quem vier a seguir vai ter essa sorte. Ter um pavilhão multiusos, não na dimensão do que será feito nos Arcos do Sardão, ou como Gondomar tem, que poderá ser incluído, inclusive, numa escola, onde se possa desenvolver prática desportiva e cultural. Penso que isto esteja, mais ao menos, previsto na reabilitação da EB2/3, com a colocação de condições acústicas e térmicas no pavilhão. Por isso, eu penso que começamos a ter, aqui, uma freguesia com espaços verdes e de lazer. Nós, quando nos candidatamos, em 2013, o lema era: “É bom viver aqui” e a nossa ideia, quando começamos a desenhar o programa, nesse ano, passava por perceber o que é que a freguesia precisava de ter, para as pessoas não terem de ir para o Senhor da Pedra ao domingo. É lógico que não temos mar, nem rio, mas, se não temos isso, temos de dar outras respostas, e eu acho que, hoje, temos caminho para fazer ainda, mas temos respostas. As pessoas já têm atividades, cultura, eventos e equipamentos na freguesia. Hoje, consegue-se chegar ao fim de semana e não sair da freguesia, isso é muito bom. Olhando para 2013 e para o que temos, conseguimos ver que chegamos lá. Não chegamos lá em tudo, mas em quase tudo, e isso, não sendo normal, porque muitas vezes faz-se um plano para ganhar eleições e não para o dia a dia, porque pomos tudo e mais alguma coisa para ganhar votos, quando sabemos que não vamos realizar, eu tive sempre o compromisso de «o que eu digo que faço, faço». Quero continuar a viver em Pedroso, tenho família, com tradição nesta freguesia, e eu tenho uma cara, não vinha para aqui dizer que fazia isto e aquilo e depois não fazia nada. Prefiro perder eleições do que prometer coisas que não cumpro, isso foi sempre a minha maneira de estar na vida, em tudo, e não irei fugir disso.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir à população?
Que continuem a acreditar no projeto, participem nos momentos que nós vamos proporcionando, critiquem, porque as críticas construtivas também nos ajudam a crescer, mas, acima de tudo, tenham confiança, saibam que está, aqui, uma equipa de profissionais, que dão o seu melhor, todos os dias. Diariamente, vimos com a mesma vontade, para fazer mais e melhor para a freguesia, para ajudar e criar melhores condições. Acho que tenho vindo a conseguir passar esta mensagem e a população tem, efetivamente, aderido, tem vestido a camisola da Junta e da freguesia, pelo que temos conseguido fazer coisas muito interessantes, em conjunto.