“A MINHA MISSÃO É SERVIR A TERRA QUE ME VIU NASCER E AS PESSOAS QUE CÁ HABITAM”

O Auditório do TAS acolheu o ato de instalação dos novos órgãos autárquicos de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, no dia 16 de outubro. Manuel Azevedo fez um discurso de agradecimento e entrega à terra que o viu nascer e crescer, mas foi o tema da possível desagregação das freguesias que tomou conta da noite. Eduardo Vítor Rodrigues não poupou críticas a quem, supostamente, agora é favor da desagregação, mas em 2012 foi a favor da união. Ainda assim, o edil gaiense garantiu estar pronto para ajudar a todo este processo, desde que o povo seja ouvido, comprometendo-se até a fazer um referendo, caso seja necessário.

 

 

Manuel Azevedo foi reeleito, no passado dia 16 de setembro, presidente da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma (SOLC) para aquele que será o seu último mandato. O Auditório do Teatro Amador de Sandim (TAS), recebeu, no dia 16 de outubro, a cerimónia de tomada de posse dos órgãos autárquicos da Assembleia e Junta de Freguesia.

Depois da instalação da Assembleia, Manuel Azevedo nomeou a lista para o executivo composta por Joaquim Neves, Manuela Patrício, Faustino Sousa e Maria Teresa Moreira, que acabou por ser aprovada com sete votos a favor, três contra e três votos em branco. De seguida, e depois de repostos os 13 membros da Assembleia, foi nomeada a lista para a Mesa da Assembleia da União de Freguesias, que foi aprovada, também, com sete votos a favor, três votos contra e três em branco. Mário Marques voltou a ser reeleito presidente da Mesa da Assembleia. A ele juntou-se Maria Eduarda Ferreira, como 1ª secretária, e Diana Gomes, como 2ª secretária.

Foi Mário Marques o primeiro a dirigir-se ao auditório e apelou à presença dos cidadãos nas Assembleias de Freguesias: “faço um forte apelo a uma participação cívica, porque é a participação da população que nos incentiva a trabalhar mais e melhor”. O reeleito ainda assumiu que este será “o mandato mais difícil deste projeto de mandatos de 12 anos nos quais nos propusemos a trabalhar”.

Já Maurício Silva, eleito pela Aliança Democrática, começou por parabenizar os vencedores, manifestando a vontade da sua força política em participar ativamente, esperando que “no fim do mandato todas as pessoas possam usufruir de melhores condições de vida e que tudo corra pelo melhor”.

Jorge Pereira, em representação do Partido Socialista, focou o seu discurso na mudança que ocorreu, salientando o estado em que a equipa encontrou as freguesias há oito anos. “Em traços gerais, apontava para problemas como a não preservação da infraestruturas que existiam no nosso território, o envelhecimento da população residente e do apoio que esta necessitava, a diminuição da população por ação dos jovens em idade ativa estarem  deslocar-se para outras zonas do nosso concelho, e para fora dele, à procura de melhores condições de vida, a uma mobilidade deficiente e deficitária, à degradação e falta de apoio a instituições sociais, culturais, desportivas e educacionais das nossas quatro vilas, e que obrigavam uma grande parte dos nossos fregueses, jovens e menos jovens, a terem de se deslocar para as freguesias e concelhos vizinhos para terem acesso às valências que pretendiam”, expôs o deputado da Assembleia.

Já Manuel Azevedo, agradeceu a confiança que a população depositou nele, mais uma vez. “Dizem muitos que fizemos pouco, que ainda há muitas ruas para pavimentar, que muitas vezes a manutenção dos jardins não está cuidada como devia, que temos de construir mais isto ou aquilo. Na vida critica é sempre mais fácil do que fazer”, constatou o autarca que ainda salientou a apoio imprescindível da Câmara: “chateio o senhor presidente para conseguir mais obras e medidas sociais para o nosso território, mas temos de ser justos, e agradecer, porque todos nós sabemos que a Juntas sem o apoio da Câmara, pouco ou nada conseguem fazer”.

O presidente da SOLC agradeceu o apoio da família que o acompanha nestas andanças há muitos anos, chegando mesmo a brincar, dizendo “comecei esta aventura política sem netos e, por este andar, vou acabar com bisnetos”.

Manuel Azevedo acabou também por referir vários projetos que estão já em andamento, “já não são propostas, são mesmo compromissos, contratos e concursos já realizados (…) mas que representam mais de dez milhões de investimento”, e deu alguns exemplos como: Rota do Uíma, Zona Industrial de Sandim, Pavilhão de Olival, reabilitação total do Centro Social e Cultural de Olival, Fórum da Cidadania de Lever, Rua Central de Lever, Complexo Desportivo de Crestuma, entre outros.

“Da minha parte podem contar com a mesma humildade, a mesma dedicação e o mesmo empenho. A minha missão é servir a terra que me viu nascer e as pessoas que cá habitam”, foi o compromisso final de Manuel Azevedo.

 

Desagregação e Portagens

No entanto, houve um ponto importante e que acabou por se central em grande parte dos discursos: a possível desagregação das freguesias.

Mário Maques, presidente da Mesa da Assembleia, referiu que a proposta da desagregação na SOLC será um dos assuntos “de maior responsabilidade” neste mandato, afirmando que “deveremos ponderar bem, de forma a não revoltar a população nas suas espectativas (…) no entanto, devemos também ponderar e analisar igualmente as mais valias resultantes desta agregação para ajudar na decisão a tomar”. Também Jorge Pereira, no seu discurso, referiu que este pode ser um mandato “mais curto do que o normal, face à possível desagregação das freguesias”, afirmando que “independentemente das nossas diferenças ou divergências, este será um assunto em que teremos de ser capazes de ter um diálogo de salutar e que interprete de forma correta a vontade da nossa população”.

Mas foi Ricardo Lopes, do Movimento União Sandim, Olival, Lever e Crestuma que acabou por aprofundar mais o tema, afirmando que “desde a primeira hora de existência do Movimento União que defendemos o regresso da independência das quatro vilas”, completando que essa ia ser uma das suas principais reivindicações, a par das melhores condições de vida, onde referiu a necessidade de instalações na zona, e que para isso acontecer deveriam haver atrativos económicos, como “um aposta eficaz na mobilidade, nomeadamente, na isenção ou redução de Portagens na A32 e na A41, assim como a isenção das taxas urbanísticas para todos aqueles que qui se queiram instalar e contruir família”. “Lutar pela existência de um lar da terceira idade, por um aumento de vagas nas creches e infantários ou a instalação de parques infantis”, foram outras das reivindicações do partido independente que conquistou dois mandatos da Assembleia.

Eduardo Vítor Rodrigues teve um discurso inflamado sobre o tema da desagregação e as portagens começando por apontar o dedo àqueles que “defenderam com unhas e dentes as leis do Governo do mesmo partido que impunham portagens por este país fora, dizendo que a Troika é que mandava e que era justo que se pagassem portagens. Agora as portagens são um problema. Mas nós também não podemos viver num país onde as portagens não são um problema desde que não sejam à nossa porta (…) é bom que nos lembremos disto, porque não é porque mudarmos de camisola, mesmo que seja sobre o manto da independência, que deixamos de ter de reconhecer que, em alguns momentos, tivemos responsabilidades naquilo que foi feito”. Quanto ao assunto da desagregação, as acusações seguiram o mesmo rumo: ”eu gosto pouco que façam das pessoas burras, porque as pessoas são tudo menos burras, têm memória, e sabem muito bem que muitos dos que advogam a desagregação das freguesias, foram aqueles que bateram palmas à lei Relvas, ou quando não bateram palmas, se calaram”, explicou Eduardo Vítor Rodrigues.

O autarca gaiense afirmou não concordar com a agregação agora, como não concordou em 2012, e destaca que durante os seus mandatos tudo fez para que cada freguesia não perdesse um pouco de si, optando por manter todos os edifícios abertos, em vez de fechar alguns e poupar algum dinheiro. “Podemos ter 15 freguesias, mas temos 24 edifícios abertos, com os Espaços do Cidadão, trabalho administrativo e tudo mais que é preciso”, explicou o edil. No entanto, apesar da total abertura para a desagregação, o presidente de Gaia garante que “não podemos, ao fim deste tempo todo, cometer o mesmo erro que cometemos em 2012”, decidir sem ouvir o povo, então, disponibilizou-se para ouvir toda a gente, votar até, se necessário, pois “não farei o que 12 ou 13 pessoas de uma Assembleia de Freguesia disserem que é o que o povo quer (…) vamos todos discutir, se necessário, vamos votar, se necessário a Câmara paga um referendo. Vamos chamar todas as pessoas a dizerem o que querem”.

O que Eduardo Vítor Rodrigues também deixou bem marcado no seu discurso foi que o debate da desagregação não servirá de desculpa para “paralisar o município”.  “Tenho ritmo de trabalho para acompanhar todas as noites, e ao fim de semana, se necessário, as auscultações às pessoas, e durante o dia trabalhar com toda a gana para concretizar os objetivos”, concluiu o autarca.