Durante dois dias, o turismo médico foi debatido na 1ª Summit Internacional HIA – New Healthcare Challenges in Azores, um evento que contou com diversas personalidades do setor da saúde. Na altura, foi também homenageado Craig Mello, Nobel da Medicina em 2006 e bisneto de açorianos.
O Hospital Internacional dos Açores (HIA) promoveu, nos passados dias 21 e 22 de outubro, a 1ª Summit Internacional – New Healthcare Challenges in Azores, um debate sobre temas e técnicas relevantes para o setor da saúde e turismo médico. A iniciativa contou com a presença de especialistas nacionais e internacionais, entre os quais, o galardoado prémio Nobel, Craig de Mello, o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, a presidente da Câmara Municipal da Lagoa, Cristina Calisto, e o presidente Europeu da Associação de Hospitalização Privada, Paul Garassus, via online, entre outros.
Nas diversas palestras que decorram durante os dois do evento, ficou claro que a qualidade do serviço será o que vai distinguir os Açores enquanto turismo médico, algo em que a região está ainda a começar, mas que já começa a dar provas da sua eficácia. Na ocasião, Irving Stackpole, da Stackpole Associates, avançou que existem três desafios ao turismo médico na região, sendo que o primeiro é chegar à diáspora açoriana e a quem visita os Açores, bem como apostar no estabelecimento de relações com profissionais de outros locais do mundo para dar a conhecer os Açores e o HIA. Por fim, o último desafio destacado por Irving Stackpole foi o de o HIA e outras instituições de saúde dos Açores terem uma boa relação com as seguradoras, para que possam servir os clientes.
Também Miguel Sousa Lima, coordenador do HIA-DENTAL, referiu que foi a aposta na diferenciação do serviço que permitiu o crescimento da sua empresa, que apostou no mercado norte-americano sem plano de saúde, aproveitando a cultura que já existe de fazer tratamentos de saúde fora do país, e desenvolveu o conceito de “one day clinic”.
Noutro painel, dedicado à diáspora, José Andrade, diretor regional das Comunidades, apresentou os resultados de um inquérito feito junto dos conselheiros da diáspora açoriana, que revelou que a perceção da diáspora é que o Serviço Regional da Saúde apresenta uma resposta muito boa ou boa, e que a maioria dos conselheiros tem conhecimento da existência do HIA. No mesmo inquérito, verificou-se ainda que a existência de uma determinada especialidade e a qualidade dos cuidados de saúde são as principais razões para recorrer aos serviços do HIA.
Outro tema em análise neste evento foi trazido por Luís Costa, diretor do Departamento de Oncologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, que defendeu a importância de uma segunda opinião clínica de fácil acesso e em convergência com o sistema médico em que o utente está inserido.
Em forma de balanço do evento, Luís Miguel Farinha, presidente do HIA, afirmou que este tipo de iniciativas “contribui sempre para a melhoria da saúde na região” e destacou a importância da complementaridade para a garantia de sucesso. “A complementaridade, principalmente numa ilha, é super importante para que os utentes tenham os melhores cuidados possíveis. Neste momento, temos uma série de valências que, felizmente, conseguimos trazer neste ano e meio, até mais depressa do que eu próprio pensava, todas essas técnicas são feitas connosco mas naturalmente é uma complementaridade que pode haver entre o público e o privado. Todos os utentes vão conseguir tirar partido disso. Ao contrário do continente, aqui as redes têm de ser mais completas, e pensarmos no utente cada vez mais e pensar na forma como podermos organizar as nossas próprias organizações e a relação entre elas de forma a termos a melhor prestação de cuidados para os açorianos”, afirmou.
Acreditando que esta complementaridade vai ser conseguida, embora seja necessário um período de adaptação, Luís Miguel Farinha assegura que o HIA está disponível para ajudar. “Temos a capacidade instalada, temos médicos e estamos disponíveis, a rapidez depende da rapidez que as autoridades quiserem”, reiterou.
Também José Manuel Bolieiro, presidente do Governo Regional dos Açores, marcou presença no evento e sublinhou a importância de se apostar cada vez mais na saúde na região. “Subscrevemos esta otimização dos recursos e da capacidade instalada nos Açores e em cada uma das nossas ilhas, creio que esta é uma vantagem no quadro do sistema que este governo pensa oferecer. Nós acreditamos muito na capacidade do nosso Serviço Regional de Saúde, que é a principal responsabilidade da governação, aliás, temos para o orçamento do próximo ano, 375 milhões para investir no Serviço Regional de Saúde, que corresponde praticamente a um quarto do orçamento, ainda assim é sempre escasso”.
José Manuel Bolieiro partilha também da ideia de que “a complementaridade da oferta de cuidados de saúde é fundamental para corresponder aos tempos máximos de resposta garantida aos doentes” e que a formação é essencial neste processo. Neste sentido, abordou o alargamento do curso de medicina da Universidade dos Açores, aumentando o período de preparação dos anos preparatórios dos futuros médicos, e também apostando na formação contínua dos profissionais já inseridos no Serviço Regional de Saúde.
“É um esforço que temos de fazer porque a modernização, as novas tecnologias, a transição digital, a investigação científica é tão emergente e tão rápida que, naturalmente, os profissionais de saúde que estão muito envolvidos na sua missão de cuidar bem dos doentes, também precisam de ter um espaço para a sua formação continua e este é um desafio que não pode ficar fora das políticas públicas no quadro do Serviço Regional de Saúde”, sublinhou o presidente.
Homenagem a um ilustre descendente de açorianos
A 1ª Summit Internacional HIA – New Healthcare Challenges in Azores, terminou com uma homenagem a Craig Mello, Nobel da Medicina em 2006 e bisneto de açorianos, que marcou presença nesta iniciativa inédita com uma palestra onde abordou a sua investigação e os frutos que a mesma está a dar para a evolução da medicina. Para eternizar o momento, foi batizado o auditório do HIA com o nome do professor laureado com o Nobel da Medicina, de forma a enfatizar a importância que esta instituição dá à formação e inovação.
Admitindo que esta homenagem tem “um especial significado” por acontecer na terra dos seus bisavós, Craig Mello apenas lamentou que os mesmos não tiveram oportunidade de voltar a visitar a ilha “das colinas verdes”.
Craig Mello venceu o Nobel da Medicina com uma investigação sobre a forma como as células que formam todos os organismos vivos usam pequenas peças de informação genética para encontrar dados e desta forma fazer a sua regulação. Durante a palestra, o professor recordou as mudanças que a sua investigação veio trazer.
“A genética e a medicina entraram numa nova era em que se pode fazer medicamentos baseados na informação e o nosso motor de pesquisa pode-nos ajudar a regular os genes. Usando o mecanismo natural das células, fazemos um medicamento que tem uma peça de informação genética artificial, feita em laboratório, a qual vai encontrar o gene e regulá-lo”, explicou.
No mesmo dia, também a presidente da Câmara Municipal da Lagoa, Cristina Calisto, entregou a medalha comemorativa dos 500 anos de elevação da Lagoa a Vila e Município a Craig Mello, aproveitando o momento para elogiar a iniciativa do HIA. “Estou convicta que este Summit foi mobilizador de vontades e felicito a equipa do HIA pelo seu sentido de compromisso, de servir e de ajudar os açorianos e todos aqueles que por aqui param e nos procuram. O município não tendo competências diretas na área da saúde é, sem dúvida, um parceiro estratégico na área da saúde e creio que o governo vê esta parceria da mesma forma. Todos nos Açores, e em São Miguel, temos em ganhar com o estreitar relações com estas componentes, a público e a privada”, referiu Cristina Calisto.
CUF e acionistas do HIA chegam a acordo de princípio para a aquisição do Hospital Internacional dos Açores
A CUF e os acionistas do HIA – Hospital Internacional dos Açores, estabeleceram um acordo de princípio para aquisição daquela unidade hospitalar, localizada na Lagoa, São Miguel. Para a CUF, a chegada aos Açores da sua rede de Hospitais e Clínicas será um motivo de grande satisfação, permitindo colocar ao serviço do arquipélago a sua experiência de mais de 77 anos. Simultaneamente, a CUF destaca a qualidade do trabalho desenvolvido pela atual equipa do HIA.
Já para os acionistas do HIA, a entrada da CUF na totalidade do capital é igualmente motivo de grande satisfação, considerando uma mais-valia para o projeto, contribuindo para o aumento da capacidade instalada e da diferenciação clínica na Região Autónoma dos Açores.