ACTORES CENTENÁRIOS

Dois actores da minha memória que , se fossem vivos, fariam este ano 100 anos. Eles são Jack Lemmon e Paul Newman. A ambos, o cinema deve belos filmes, potentes interpretações cinematográficas e momentos de emoção dos seus espectadores.

Newman foi um actor de uma beleza destacada por todos aqueles que foram os seus espectadores e por todos aqueles que contracenaram com ele. Possuía uns belos olhos azuis apenas rivalizados pelos, de cor violeta, de Liz Taylor. Também no nosso continente sul-americano, havia uma actriz a qual chamavam os olhos mais belos do cinema, era a argentina Amelia Bence (1914-2016), a quem tive a oportunidade de ver nos palcos na minha juventude.

Jack Lemmon era, numa acepção total, um comediante (*) , passava de registos de grande comicidade aos momentos trágicos que teve que encarnar no cinema. Seria longo e aborrecido citar os filmes deste actor, mas alguns ficaram e ficarão para sempre na minha memória, pelo facto de serem momentos de grandes interpretações e ao mesmo tempo de grandes momentos do cinema.

Começo por citar, Quanto mais Quente Melhor (no original em inglês Some Like It Hot) uma comédia musical de 1959, realizada e produzida por Billy Wilder. Filme interpretado por Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon, com argumento assinado por Wilder e I. A. L. Diamond, baseado no filme francês de 1935 Fanfare of Love.

A trama acompanha dois músicos (Curtis e Lemmon) que se disfarçam de mulheres para escapar de mafiosos em Chicago, após testemunharem um assassinato durante o período da Lei Seca nos anos 1920/33. Se a interpretação de Curtis é boa, a de Lemmon é notável, poucas vezes vi, no cinema, uma transformação em travesti tão perfeita, hilariante e emocionante. 

De seguida, uma outra grande comédia, Irma la Douce  filme de 1963, comédia romântica, realizada por Billy Wilder e baseado em peça teatral de Alexandre Breffort. Excelentemente acompanhado pela actriz Shirley MacLane.

Neste filme Lemmon interpreta dois papéis, a Nestor um polícia honesto da cidade de Paris,  que se apaixona por Irma, uma prostituta que ele conhece no serviço. Pelo facto de não aceitar acordos de proteção com as prostitutas, promovidos pelos proxenetas e policias corruptos,será demitido da polícia. Motivado pela sua paixão, acabará por se tornar protector de Irma, mas não quer que ela se encontre com nenhum cliente que não seja ele. Com a ajuda do dono de um bar, frequentado por ambos, Nestor “inventa” uma nova personagem, assim, se passa por um rico lorde inglês, que será um cliente exclusivo de Irma. Para arranjar dinheiro, secretamente, trabalha no mercado transportando comida e isso o deixa muito cansado, fazendo Irma supor que Nestor perdeu o interesse por ela, e decide ir para a Inglaterra com o lorde, ou seja, com ele mesmo. Então Nestor acha que é hora de acabar com a farsa e “mata” o seu outro eu, o lorde. Porém, ele passa a ser acusado de assassinato pelo sumiço do lorde.

Como é uma comédia realizada por um dos mais competentes realizadores da história do cinema, tudo acabará em bem. A composição das duas personagens de Lemmon são notáveis e memoráveis.

Outros dois filmes nos quais Jack Lemmon demonstrou as suas grandes capacidades de representação, são os melodramas, O Apartamento, também realizado por Billy Wilder de 1960 e Dias de Vinho e Rosas, realizados por Blake Edwards, de 1962. Neste último, Lemmon interpreta a um publicista alcoólico que acaba bebendo cada vez mais levando a sua esposa ao alcoolismo também. Lemmon era na realidade um alcoólico, confessado por ele numa entrevista com a imprensa. Finalmente um filme/denuncia que me toca particularmente, Missing- Desaparecido de Costa Gavras, de 1982, baseado no livro The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice, de Thomas Hauser, inspirado na história verídica de Charles Horman que vivia no Chile na época do golpe de estado de 1973 que depôs o presidente Salvador Allende.

Dado que esta crónica poderá ser publicada na proximidade do dia 27 de Março- Dia Mundial do Teatro , lembro que:

O Dia Mundial do Teatro foi criado pelo ITI/Instituto Internacional do Teatro e celebrado pela primeira vez em 27 de março de 1962, data de abertura da temporada do “Théâtre des Nations” em Paris. Desde então, todos os anos, nesta data, o Dia Mundial do Teatro é celebrado à escala global. Uma das ações mais importantes é a circulação da Mensagem para o Dia Mundial do Teatro, através da qual, a convite do ITI, uma personalidade teatral de reconhecida obra mundial partilha as suas reflexões sobre o tema do Teatro e da Cultura de Paz. A primeira Mensagem Internacional do Dia Mundial do Teatro foi escrita pelo poeta, dramaturgo e cineasta francês Jean Cocteau (1889-1963)

Em 2025, o pedagogo e encenador grego Theodoros Terzopoulos é o autor da mensagem que tradicionalmente é lida nos teatros de todo o mundo a 27 de março.Pode ser lida e ouvida em:

Notas:

(*) Utilizei o termo comediante, palavra muito grata dos actores britânicos, lembrando uma entrevista de Laurence Olivier no qual ele se definia como tal. 

Cito ainda: Num momento sombrio, Laurence Olivier chegou muitas vezes a rir. Sua reputação elevada e um tanto pesada como o maior ator dramático de seu século desmente a essência mercurial de seu ofício, que era aproveitar a humanidade em cada um de seus papéis, muitas vezes significando o humor. O crítico de drama britânico James Agate disse que Olivier “era um comediante por instinto, um trágico por arte”.

(**) John Uhler “Jack” Lemmon III (1925 – 2001) mais conhecido como Jack Lemmon, actor e músico norte-americano, considerado uma das maiores lendas do cinema estadunidense, Lemmon ganhou 2 Oscars e é um dos três recordistas ao Prémio Cannes.

(***) Paul Leonard Newman ( 1925 – 2008)  actor e realizador cinematográfico dos Estados Unidos. Recomendo a leitura de Os mais belos olhos azuis da história do cinema

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