ALCINO LOPES, O PRESIDENTE DE JUNTA MAIS ANTIGO DE GAIA

Há 38 anos no mundo autárquico é o presidente de Junta de Freguesia mais antigo em Vila Nova de Gaia. No fim de mais um mandato e a pensar já no próximo, o AUDIÊNCIA esteve à conversa com o autarca sobre o primeiro como presidente desta União de Freguesias. Os desafios que realidades diferentes, Valadares e Gulpilhares, colocam, os projetos, a relação com a Câmara, o passado e o futuro.

 

 

Há tanto tempo na política, como é que este mundo surgiu na sua vida?

Eu acho que a vida autárquica não é bem uma vida política… Alguns que dizem que a política é tudo o que nós fazemos. Colocar a palavra política assim tão secamente não é muito meritório, porque nós quando envergamos esta responsabilidade temos de fazer tudo menos política. Temos que fazer é ação que vai de encontro às necessidades que as pessoas têm. Também se faz política é evidente… Há muita gente que faz deste cargo um palco, mas acho que não devia ser. Devíamos ser fundamentalmente autarcas, ou seja, desempenhar as funções de proximidade. Eu entrei de uma maneira muito especial porque, uma vez, passaram à minha porta, onde eu moro, e viram que tinha um autocolante do PS no meu carro, mas, eu não era identificado com nada nem com ninguém, portanto, a partir desse símbolo procuraram-me e acabaram por me meter nisto. Foram-me buscar a casa não fui eu que me meti nisto, portanto não tive iniciativa própria… Eu demorei muitos anos a ser militante, andei muitos anos a ser nada, como agora, não sou nada.

 

Mas, o que o levou a inscrever-se como militante?

Depois de estar num grupo em que se convive com pessoas que quase todas são militantes é natural haver alguém que nos sensibilize, e, depois, a continuidade fez com que assumisse a parte de enquadramento político, é quase como uma imposição sem ser imposta porque a pessoa estando no meio tem que também partilhar, aquilo que é a política autárquica, debaixo da tutela de alguém. Desde que estou aqui, em circunstância alguma, nunca ninguém teve o atrevimento de me dizer como é que eu tinha que fazer ou por onde é que eu tinha que caminhar… Penso que a vantagem das pessoas irem para as autarquias é que a lei permite, dentro dos parâmetros da própria lei, que as pessoas tenham criatividade, que façam as coisas mais de acordo com a sua maneira de ser. Pode ser bom como pode ser mau, desde que, não fuja da legislação. Nós podemos inovar porque a lei é ambígua sempre.

 

Quando, em 2013, se tornou presidente não só de Gulpilhares, mas também, de Valadares, quais as dificuldades encontradas em Valadares?

O que eu encontrei em Valadares foi algo que não esperava…Muitos problemas ao nível dos recursos humanos, a nível da gestão financeira e ao nível do espaço público, portanto, são três grandes parâmetros que por si só é para pôr um indivíduo de cabeça perdida. Valadares, comparativamente a Gulpilhares, tem problemas estruturais por resolver, nós, aqui, temos, por exemplo, neste momento, 2 ou 3 ruas a precisar de boa intervenção mas Valadares tem dezenas, não é brincadeira. A realidade da malha viária de Valadares era bem diferente da nossa. Encontrei uma freguesia muito carente a nível de pavimentos e não se consegue resolver essas coisas de um dia para o outro. Depois também encontrei um conjunto de pessoas, que são os servidores da autarquia, que não estavam muito habituados ao trabalho de rigor, enquanto, que estes aqui trabalham sozinhos, tem pessoas que não preciso de dizer o que é preciso fazer, eles fazem por eles. A parte dos recursos humanos deixou-me algum desgaste.

 

E a nível financeiro?

Valadares tinha muitos encargos financeiros da sua gestão do quotidiano e as receitas que tinha disponível não eram suficientes para sustentar a máquina. Valadares em ter sido associado a Gulpilhares acabou por beneficiar porque se juntou a outra área que financeiramente sempre foi muito estável e muito saudável. Valadares tinha sempre défice, mas passados três/quatro meses desde que entrei, deixou de ter défice. Nós superamos todos esses problemas.

 

Apesar de todos os problemas, estes foram superados. Como?

Foi muito fácil superarmos as dificuldades da gestão financeira porque juntando as duas áreas numa só, o dinheiro é das duas, já não há dinheiro de Gulpilhares e dinheiro de Valadares. Nós tentamos resolver todos os problemas rapidamente e fizemos. Agora não temos uma única dívida. No início foi muito difícil para mim, se eu não tivesse experiência tinha perdido a cabeça, mas se fosse um indivíduo que tivesse entrado novo seria muito difícil.

 

Em Gulpilhares, quais os problemas que ainda estavam pendentes?

Gulpilhares tem ainda desafios, por exemplo, um que foi concretizado foi o pórtico que estava suspenso, havia um propósito de concluirmos o nosso estádio para torná-lo disponível para a prática de futebol na era mais modernista, portanto, era preciso fazer investimento e estamos a fazer já, acho que até ao final deste mandato fica resolvido. Umas certas ruas que tinham necessidade de ser intervencionados no caso da Avenida Pedro Nunes, a Travessa Pedro Nunes, à beira do Senhor. da Pedra, a Rua Manuel Pereira da Cruz que está num estado muito mau mas que brevemente será arranjada e há outras coisas para fazer, mas no caso concreto de Valadares há muito mais para fazer… Muito mais.

 

4 anos nunca chegam. O que ainda falta fazer nas duas freguesias?

Muito. Eu acho que a gestão da Junta de Freguesia é um trabalho que nunca se esgota porque todos os dias aparece uma coisa. A degradação do espaço público é permanente quando se faz uma intervenção num espaço público não é uma coisa que fique eterna, portanto, hoje resolve-se um problema e amanhã está a aparecer outro. Isto é uma dinâmica pela negativa porque está sempre a aparecer qualquer coisa que obriga a ter investimento, portanto, nunca se esgota a nossa ação. Há aquela máxima que o povo diz “ganha fama deita-te na cama” mas isso é a coisa pior que podemos fazer, é mostrar serviço e depois pomo-nos adormecidos a ver se corre tudo bem, embora há pessoas que fazem isso, só que depois da fama se resvala para a degradação e nunca mais se recupera. Quando se ganha fama é preciso se manter sempre lá no topo.

 

Como é que uma Junta desta dimensão consegue não ter défice?

A Junta de Gulpilhares há muitos anos que não tinha dívidas, nós pagamos em pronto pagamento. É uma gestão muito apertada, muito centrada na poupança. Tudo visto à lupa. Não há nenhuma distração. Tudo é feito a esmagar ao ponto de, às vezes, aproveitarmos materiais obsoletos para voltar a reciclar, há muita gente que não faz isso, se formos ao estádio tem lá montes de entulho que vai ser aproveitado para qualquer coisa. Quando a maioria deita para o lixo, aqui não se deita, tudo o que for reutilizável não se deita fora. Portanto, há de facto uma gestão muito apertada, muito exigente que tem que se fazer. Uma das coisas que eu tive que fazer foi centralizar uma das áreas, neste caso, aqui, todas a compras. Não admito que se faça compras aqui e noutro sitio que não sejam autorizadas…Não há hipótese porque isso depois gera abusos.

 

Ao minimizar custos, houve projetos deixados de lado devido ao custo elevado que tinham?

Não. Nós temos concretizado quase tudo que temos planeado fazer, pode demorar algum tempo. Por exemplo, agora, vamos lançar uma empreitada que nos vai custar cerca de 150 mil euros. Nós não temos esse dinheiro, assim de um dia para o outro, mas quando estiver a obra pronta vamos ter de ter condições para garantir que durante o espaço que a lei pode permitir para aumentarmos um bocadinho no tempo, mas claro que vamos ser cumpridores. Às vezes é como na nossa casa se quisermos comprar um computador vamos amealhando e quando se tiver um plafond já razoável, então compra-se. Aqui funciona mais ou menos assim se não temos vamos acumulando para podermos na hora certa fazer porque não há outra forma.

 

Relativamente às associações, a Junta tem contribuído?

Muitos. Nem vou falar. Acho que temos sido muito generosos com as associações é o reconhecimento que as pessoas trabalham. Nós percebemos que temos gente que quer fazer algo nos vários sítios e essa gente precisa de ajuda. O crescimento patrimonial de uma associação, normalmente, assenta sempre nos financiamentos ou da Câmara ou da Junta porque não é com as receitas próprias que eles lá vão.

 

Tem que haver sempre essa parceria para que a população desenvolva…

Se as nossa instituições tiverem fortes a comunidade torna-se mais feliz agora se tiverem a definhar alguma coisa está mal. Nós, neste momento, temos o Rancho de Gulpilhares a fazer obras, está a adaptar o edifício para coisas que necessitam, a Junta é uma parceira. O Orfeão de Valadares está a levar um restauro enorme… vai ficar fantástico! A Câmara vai financiar mas a Junta também está já com o compromisso para ajudar. O caso, por exemplo, da Sede do Valares, nós ajudamos, como também o caso aqui dos escuteiros e já ajudamos financeiramente a Igreja de Gulpilhares. Nós recebemos pouco do estado, 180 mil euros por ano para as duas,e eu preciso de 500/600 mil euros só para despesas correntes.

 

Durante estes 4 anos, quais foram os projetos mais marcantes?

A nível de Gulpilhares aquilo que marcou mais foi a reabilitação da Avenida Pedro Nunes em frente ao Senhor da Pedra, a Travessa Pedro Nunes, estavam ambas miseráveis… Foram duas obrar para mim muito importantes até porque o meio é muito frequentado, é uma zona nobre do nosso concelho e da nossa terra, portanto, não era uma boa apresentação da nossa comunidade. Também a alteração ao pórtico, apesar de não ter sido uma obra vultuosa em termos de dinheiro, mas é uma obra funcional em que minimiza os impactos que tem a circulação pela A29. Portanto essas são as mais emblemáticas feitas pela Câmara. No caso de Valadares o que se pode destacar mais da Câmara é o financiamento para as obras do Orfeão, a avenida junto ao centro de reabilitação Fontes Pereira de Melo, e fez outras coisa mais pequenas que foram importantes também. Às vezes uma obra pequenina tem uma importância maluca que não se faz ideia. A Câmara, quando aqui chegamos, fez uma recuperação de pavimentos numa zona que aquilo era terceiro mundo no centro de Valadares. Acho que o mandato em termos de obras foi razoável. Eu pelo menos penso que sim, tendo em conta a conjuntura, eu acho que a Câmara fez alguma obra aqui.

 

Outro projeto importante que tem vindo a ser posto em prática, há muito tempo, é a cerimónia do Quadro de Excelência. Sendo a única freguesia que entrega aos alunos um presente monetário, e, cada vez mais, o número de alunos aumenta, nunca desistiu. Qual a importância desse contributo?

Há dias dizia o Professor Álvaro Santos, numa visita que fiz à escola, que eu não tinha ideia da repercussão que tem haver os quadros de excelência na comunidade educativa. Ele disse mesmo que na Escola Secundária existe uma grande vontade dos alunos estarem integrados no Quadro de Excelência. Este ano, ainda não fiz a avaliação, mas são muitos mais. É como eu digo, o dinheiro não é muito mas fico muito contente por haver cada vez mais.

 

Sente-se um exemplo para outras freguesias?

Inicialmente toda a gente olhava para nós de soslaio. Achavam que não era uma boa medida, mas já estou a ver alguns a fazer, não da mesma maneira como nós fazemos, se calhar circunscrevendo a meia dúzia de alunos, escolhem o melhor aluno do agrupamento ou dois, não faço ideia. Eu não sou nada a favor que as juntas entreguem diplomas ao aluno. O diploma é a escola que certifica. A nossa lembrança é mais na perspetiva de se calhar ajudar algumas famílias que também precisam cada vez mais. Nós temos uma avaliação que é a seguinte: havia anos em que as pessoas recebiam muito tarde, houve uma altura em que nós fizemos um novo ato e havia gente que ainda não tinha recebido, até lhe telefonamos para saber se ele tinha perdido o cheque, mas, com esta crise que aconteceu, nós percebemos da importância que tem para algumas famílias. O pequeno contributo vai ajudar a resolver alguns problemas. Os de Valadares não estavam habituados e acho que isso marcou a comunidade educativa de Valadares. Nós no primeiro ano atribuímos o prémio a alunos relativamente ao ano 2012/2013, já não eram nossos mas não tínhamos outra hipótese naquele ano tínhamos que meter tudo no mesmo saco. Até o Presidente da Câmara olhava de soslaio para nós, mas acho que já se rendeu e penso que ele vai ser e tem sido porta-voz desta medida. Se bem me lembro a antiga ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, instituiu, não num âmbito muito alargado, prémios monetários para alunos de excelência do país. Houve uma vez que o pai de uma aluna chegou à minha beira e disse-me” O Sr. Alcino é culpado” “Eu sei que sou culpado de muita coisa mas hoje não venha falar em culpas” “Você é culpado pela minha filha ser aluna de medicina” “Como assim?” a filha dele veio acompanhar uma amiguita à entrega do quadro de excelência e ela pelos visto era muito boa aluna mas só que não estudava e ela disse à mãe e ao pai, quando chegou a casa furiosa, e disse que a partir daquele momento ia ser sempre aluna de excelência e foi todos os anos ao ponto de ter notas para entrar em medicina. Enquanto pudermos vamos manter porque o que é bom não se deve cortar.

 

Passados 4 anos, as pessoas já sentem a diferença em Valadares, do passado para as medidas tomadas por si?

Isso é sempre difícil de avaliar. Eu sou um indivíduo do terreno, não tenho vergonha de andar na rua. Não devo nada ninguém. Eu não fujo às pessoas. Eu até faço questão de explicar às pessoas que uma coisa é aquilo que pensam mas a realidade é bem outra. Muitas vezes quero e muitas vezes não consigo. Nós temos limitações e aqui às vezes mais do que o que se imagina. Mas aquilo que eu sinto é que há narrativas que às vezes até me chocam. Eu fui ao 10º capítulo da Confraria dos Velhotes e uma confreira diz-me “O Senhor foi uma dádiva de Deus que apareceu nesta terra, esta gente aqui era só comer”. Há outra pessoa que não gostava nada da junção das freguesias e, eu também não gostei, eu fui o único presidente de junta que não aceitei dos 24, e o indivíduo há uns dias disse-me que não tinha gostado desta agregação mas tinha que reconhecer que eu tinha sido o melhor que podia ter acontecido. Portanto, estas coisa estão relacionadas com a nossa entrega. Nós damos o melhor que temos. Nem sempre não somos suficientes. Por aquilo que eles tinham do passado, se calhar, há uma diferença grande. Eu acho que a comunidade de Valadares aceitou-me bem e acho que tenho feito um esforço sobrehumano para conseguir dinamizar, embora não consiga tudo porque Valadares, volto a dizer, tem mais do dobro dos problemas que tem Gulpilhares. Se calhar muito mais do que o dobro. São problemas estruturais que não se resolvem numa década como a falta de saneamento básico. Um problema estrutural que para mim acho estragou Valadares. Os colegas no passado não foram capazes de criar dinâmicas quando se discutia o Plano Municipal. Valadares está limitadíssima ao desenvolvimento habitacional na zona próxima do mar, está tudo bloqueado tanto que a Madalena era uma freguesia chamada das mais atrasadas e alguém desbloqueou aquela área toda para construção e está-se a ver o desenvolvimento urbanístico da Madalena mas, em Valadares, está tudo bloqueado. Quando foi o Plano Municipal, em Gulpilhares, levei-o à lupa. Tem ali todas as coisinhas que mandei para eles, não larguei a presa e está tudo de acordo com aquilo que eu fiz, excetuando uma coisinha ou outra, em 100% se calhar perdi 1% mas ganhei 99%. Mas, em Valadares, não fizeram nada. Até que haja um novo plano as pessoas estão ali limitadas. Até nisso Valadares parou.

 

Os gulpilharenses sentiram que passaram para 2º plano?

Isso pode ser interpretado de duas formas: ciumeira ou pessoas de mau caráter, porque se forem pessoas de bom caráter percebem que eu tenho de me dividir. Eu costumo dizer o seguinte: os gulpilharenses, os verdadeiros gupilharenses que gostam de Gulpilhares, deviam de estar orgulhosos de ter ido um gulpilharense governar uma outra área para lhe conferir competências e dinâmica que não havia no passado, portanto, isso deve ser um orgulho para as pessoas de bom senso perceberem que foi preciso ir alguém daqui para para marcar a diferença. Esta casa, eu conheço-a de olhos fechados e aquela eu não conhecia, ainda hoje, não conheço tudo. Eu tive de aprender… Se as pessoas forem ter ao atendimento comigo e disserem que moram na Rua do Alide e eu não souber onde é…Mas é que eu sei tudo. Eu tive que calcorrear tudo, tive que memorizar tudo, tive que fazer uma aprendizagem. Eu sabia onde estavam as covas. Sabia onde estava tudo. Eu antecipava-me às pessoas… Obviamente, se eu vou tomar conta de uma freguesia que tem problemas mais graves, eu tenho que perder mais tempo lá. Sou eu que coordeno as pessoas todas. A máquina Junta trabalha todos os dias e tem 20 e tal pessoas e tem de ser o Presidente a distribuir tarefas para toda a gente, tem de ser o Presidente a coordenar toda a gente e tem de ser o Presidente a exigir às pessoas que façam bem e rápido. Depois há outro problema que se chama, bairros sociais, que aqui não temos porque sempre fui contra isso, mas Valadares tem e dão-me muito trabalho. É onde nós temos mais problemas de atendimento. São pessoas que não trabalham que vivem do social que estão desenraizadas da sociedade. São dependentes de tudo e de todos e que nos dão uma trabalheira maluca. Outro problema é o cemitério de Valadares que era uma coisa em abandono. O nosso está impecável bem planeado para o futuro. Eu cheguei lá e tive que tomar medidas em quase tudo. As pessoas costumavam-me a ver aqui sempre fechado, agora não posso estar, tenho gente a trabalhar lá, tenho gente a trabalhar aqui eu tenho de ir ver tudo. Eu tive de aprender Valadares.

 

Primeiro PS, depois como movimento independente, e, agora, candidata-se outra vez como PS. O que o fez voltar a casa?

Primeiro há factores que tem haver com o seguinte, as listas independentes têm muita dificuldade em articular com o município porque eu não pertenço a nenhuma família política. Só eu é que era independente em Gaia, à partida, estava fragilizado. Há muitos inconvenientes. Por exemplo, uma lista independente não tem comparticipação do Estado para a campanha. Houve um conjunto de coisas que eu poderei eu achei que de facto não estava disponível para fazer esse trabalho, para além de tudo, a Câmara em termos de obras acho que foi generosa com a comunidade. No início, a relação entre mim e algumas pessoas da Câmara não era tão fácil mas, mesmo assim, foram capazes de querer que houvesse desenvolvimento. Eu estou aqui para o desenvolvimento, não estou por vaidade própria, nem à espera de cargos de outra natureza. Eu estou aqui porque gosto disto, embora, muitas vezes me apeteça dar um pontapé e desaparecer. Também estou convencido que esta Câmara pelo trabalho que fez, merece ser reeleita porque com dificuldades fez alguma coisa. Eu sempre achei que quando há pouco dinheiro devemos fazer pequenas coisas que às vezes são muito importantes para a comunidade. Isso agradou-me na hora de decidir. Eu sou um indivíduo que não gosta de ser pressionado, quem me pressionar não leva nada com isso…Eles não o fizeram. Também serei mais reivindicativo, eu como independente tinha pouco poder reivindicativo. Eu faço isso por um projeto local do que por um projeto pessoal. Eu estou em fim de carreira autárquica.

 

Como vê a candidatura de Nuno Mota Soares?

Uma candidatura normal como a minha. Ele vai na vez dele, eu vou na minha. A política para mim é igual para todos. Não altera nada entre nós, ele é o secretário da Junta, portanto, a nossa relação é a mesma. Tem de ser assim. São momentos em que temos que mostrar que somos civilizados.

 

É o autarca com mais tempo em funções em Vila Nova de Gaia não pensa na reforma?

Isto é como tudo, para perder o vício é tramado. Embora, eu já tenha tentado sair há 8 anos e fiz tudo para sair porque achei que era uma altura boa para sair quando foi a questão do primeiro movimento independente. Eu tentei influenciar o Eduardo, mas ele não quis. Também ponderei não ser agora, e, talvez, projetá-lo a ele porque ele é um rapaz que tem potencial, já o conheço há 20 anos. Claro que isto não é uma monarquia, mas se eu puder dar contributo para que haja uma pessoa que se candidate. O povo é que escolhe, não sou eu. O Eduardo tem particularidades, não as terá todas, mas isso também é uma coisa que se aprende. É um indivíduo cordato, sociável, muito sério, amigo do seu amigo. Naquela altura fiz muita pressão para ele ser o candidato e teria ganho, mas não aceitou. Isto é uma decisão complexa, por incrível que pareça, eu tenho consciência que este mandato foi muito difícil para mim. Estou muito desgastado porque enfrentei muitas coisas. Eu presumo que o próximo seja mais tranquilo porque já resolvi algumas coisas.

 

Há presidentes que lhe pedem conselhos pelos anos de experiência que tem?

Não. Já fizeram alguns mas muito esporadicamente até porque eles acabam por sentir que era uma fragilidade.

 

Durante estes anos todos, a sua visão sobre a política foi alterada?

A política autárquica é a política que eu ainda acredito porque senão estava a negar aquilo que eu faço. Penso que na vida autárquica está muita gente genuína. Claro que há sempre pessoas com segundas intenções, mas a maioria das pessoas que vem para isto, vem com a vontade de servir. Não vem para aqui para arranjar grandes lugares. O país, em si, não é nada abonatório a nível das culpas. As pessoas, ao nível local, que acham que não há corrupção pode, às vezes, haver. Se for um indivíduo inculto, e, há muitas pessoas à frente disso que não percebem de cadernos de encargos, não têm capacidade técnica, podem ser “comidos” por qualquer pessoa. Há sempre um artista. Este país tem esta história. É ancestral.

 

As pessoas e os políticos colocam fé na geração jovem dizendo que são o futuro. Como anda a relação jovens e política?

Eu acho que há cada vez menos jovens a aproximarem-se destas coisas, até, porque, hoje, há tantos momentos de distração que os jovens não querem saber disto. Eu já tive no passado mais gente jovem com interesse de proximidade do que agora. Eu sempre tive esse cuidado de ter jovens, mas têm de andar próximos, não podemos andar atrás das pessoas. Acho que já houve melhores momentos. Se nós virmos nas assembleias um ou outro jovem a querer participar e interessar-se, isso é um bom sinal ,mas não aparece.

 

Sente-se orgulhoso com tudo aquilo que fez durante estes anos todos?

O meu maior orgulho tem haver com a minha entrega, o meu sentido de responsabilidade, a minha exigência, a minha seriedade. Na verdade dou muito mais do que o que devo ou devia dar. Eu nunca fui presidente de junta a tempo inteiro. Nunca. Eu passo a minha vida nisto. A minha vida é isto desde há 12 anos que estou aqui em exclusividade.

 

Mudava alguma coisa na sua vida?

Se me perguntarem se estou desgastado? Estou e às vezes arrependo-me porque perdi muita coisa. Eu, às vezes, sinto que não tenho vida. Depois há outra coisa que se chama a família porque essa sofre sempre nisto…Não há como fugir. A minha mulher é sacrificada e eu também porque ela sente-se, se calhar, sozinha mas está a descansar e eu ando a bombar. Ainda neste fim-de-semana foi uma coisa louca, ainda não parei. Isto tem consequências e eu vou pagá-las. O fim da minha vida não vai ser fácil.

 

Passados estes anos todos, sente que deixou a sua marca?

As pessoas dão valor porque votam em mim. A grande prova de que as pessoas são atentas é quando deixei o PS e passei para um movimento independente, o PS tinha na 9 assembleia e quando passei para independente, eu tinha 10 e eles passaram para 3, quase desaparecia. Há pessoas que são inteligentes e sabem valorizar aquilo que se faz, são mais atentas do que nós imaginamos. Eu penso que vou ter uma boa votação em Valadares, e também vou ter aqui. Eu, em Valadares, faço atendimento à sexta-feira e assino atestados, eu nunca estou no meu gabinete porque lá não tenho nada para fazer a não ser assinar atestados e até para ser mais rápido assino-os em frente à secretaria do administrativo. A nossa autarquia, e, também por força do meu passado, é a única que tem opinião naquilo que se faz, que é uma coisa muito importante. Se eu chegar a algum sítio e disser não gosto disso, isso está mal feito, ninguém me chama de burro. É olhar para uma coisa feita por gente que tem mais capacidades e dizer isso estar mal feito mude e mudam. Se forem à Câmara percebem que quando o Alcino fala de questões técnicas ou de outras coisas é porque as coisa não estão bem, não é bazófia.

 

É importante esse reconhecimento?
É importante porque somos muito respeitados. Isso é bom. Eu acho que não há nenhum técnico da Câmara capaz de me dizer “ Os Senhor não sabe o que está a dizer”… Foi sempre assim.

 

Lema de vida….

Isso é uma pergunta difícil…. Normalmente, nós só fazemos avaliações depois das pessoas deixarem de estar. Eu na PT era muito exigente no meu gabinete, e olhavam para mim como se fosse um dos trabalhadores, depois comecei a fazer-lhes a vida negra ao ponto de quando eu saí, disse-lhes que iam lançar foguetes. Um dia estava ali fora e um homem, que tinha sido meu colaborador, disse-me que quando saí eles fizeram festa, mas, passado uns tempos, toda a gente queria-me lá outra vez porque eles ficaram a perceber o que era ter um líder que assume a responsabilidade da liderança e se atravessa pelas pessoas que lá estão. As pessoas que estão comigo são intocáveis. Nós só avaliamos as coisas quando estiver outro. No dia que eu sair e vier para aqui um indivíduo dedicado e responsável não se vai sentir, mas, se vier para aqui um indivíduo a pensar que sendo presidente de junta já chega está feito num oito porque as pessoas vão cobrar. Por isso, eu digo que devia vir um indivíduo que estivesse rotinado, por esse motivo, é que falo muitas vezes no Eduardo porque já está há 20 anos comigo, conhece os meandros da casa, não conhece tudo mas conhece o essencial, portanto, a única coisa que eu acho que tinha de melhorar era a liderança, mas também não é fácil. Quando eu digo faça é para fazer, mas também se me pedirem qualquer coisa cedo…Sou exigente na responsabilização e muito condescendente em, às vezes, pequenas mordomias. É uma vida complexa. É uma casa com muitas carência. É preciso muitas vezes imaginação para pôr isto a funcionar. O futuro logo se vê.