“AS CAUSAS DO ATRASO PORTUGUÊS” O NOVO LIVRO DE NUNO PALMA

Lançado recentemente esta é uma obra que destrói os principais “equivocos” da História da economia portuguesa onde o economista afirma que o atraso era evitável fazendo “uma verdadeira máquina de triturar mitos, um fact-checking à História oficial de Portugal que há muito precisávamos”.

“Este não é um livro convencional sobre a História de Portugal, mas também não é um livro com objetivos políticos. Não existe qualquer agenda ou objetivos políticos. Sei que isso é incomum em Portugal, e para alguns será até difícil de entender ou de acreditar. É, sim, um livro de divulgação com implicações para o presente, que pode ajudar a refletir sobre a situação em que Portugal hoje se encontra. Certas narrativas da História de Portugal repetem-se ao longo dos séculos, como um disco riscado. São séculos de mitos sobre diferentes épocas, distorções que têm mais em comum do que se possa pensar”, escreve Nuno Palma, que considera, que há mais de dois séculos que os sucessivos regimes fogem às suas responsabilidades, atirando-as sobre qualquer bode expiatório – normalmente o regime anterior.

“O Estado Novo apoiava-se na narrativa de que a culpa do atraso era da Primeira República, justificando o 28 de Maio com o caos e o despesismo. Antes disso, os republicanos tinham culpado a Monarquia e o Clero, tal como anteriormente os monárquicos constitucionais fizeram, acusando a Monarquia Absoluta (e também o Clero). E ainda antes, o Marquês de Pombal culpou os jesuítas. Cada regime culpa sempre alguém, ou alguma coisa fora do seu controle. Esta sempre foi uma estratégia para os políticos se legitimarem com o objetivo de consolidarem e conservarem o poder, não hesitando, quando viam benefício nisso, em espalhar mentiras e construir mitos históricos. Infelizmente, muitas destas mentiras e mitos chegaram aos dias de hoje. Se nos detivermos no momento presente, a mentira mais comum do regime atual é a de que a culpa do atraso deve ser impugnada ao Estado Novo. Ora, isto é falso: na verdade, durante esse regime verificou-se uma rápida convergência económica com os países mais ricos da Europa. É irrelevante que esta realidade histórica não encaixe nos preconceitos ideológicos de muita gente, que por isso não a quer aceitar, mas isso não a torna menos verdadeira. O erro fundamental dos que tentam atribuir ao Estado Novo as culpas do atraso português é desconhecerem a profundidade histórica desse atraso. O essencial pode ser repetido: as raízes do atraso de Portugal são muito anteriores ao Estado Novo (regime pelo qual, sublinho, não tenho qualquer simpatia política), tanto a nível económico como a nível político ou institucional.”

Nuno Palma salienta que, em termos económicos, o declínio de Portugal começa décadas antes das Guerras Napoleónicas. Em meados do século XIX, Portugal já era o país mais pobre da Europa Ocidental. Em 1900, era o que tinha a maior percentagem de analfabetos (75 por cento). As estatísticas mostram, por exemplo, que nem o Terramoto de 1755, nem as Invasões Francesas, cerca de 60 anos mais tarde, explicam o atraso do país: o primeiro desses eventos sucedeu cedo demais relativamente ao declínio, enquanto o segundo veio décadas depois desse declínio estar já a acontecer.

O economista explica que a expansão dos Descobrimentos nunca enriqueceram Portugal de forma significativa. Explica os motivos pelos quais as decisões políticas do Marquês de Pombal foram as mais desastrosas que algumas vez foram tomadas no país, considera que o período da chamada Monarquia Liberal do século XIX foi um período de fraco desenvolvimento. Descreve os motivos pelos quais a Primeira República também falhou em desenvolver o país. Mostra quais foram os fatores que levaram ao forte desenvolvimento e convergência do país durante as décadas finais do Estado Novo. No capítulo final, avalia a situação atual do país e os impedimentos à convergência que existem nos dias de hoje.

“Termino este livro de forma pessimista. Não há uma saída simples para a situação grave em que Portugal se encontra. O século XXI marcou o regresso da divergência para Portugal. E não vejo qualquer saída para a encruzilhada em que o país se encontra. O problema não está em desconhecermos quais as políticas públicas que poderiam levar à convergência. As soluções são conhecidas. Mas o doente não quer o remédio e continua a votar nos mesmos partidos e receitas.O país não vai querer mudar enquanto conseguir ir vivendo com tantas transferências de dinheiro dos países mais ricos da Europa. As falsas narrativas podem durar muito tempo até desaparecerem, como vimos neste livro. Décadas, e mesmo séculos. Tudo leva bastante tempo. E há sempre políticos e as suas cortes disponíveis para vender a banha da cobra”

Nuno Palma é professor catedrático no Departamento de Economia da Universidade de Manchester, e Diretor do Arthur Lewis Lab for Comparative Development, da mesma universidade. Investigador do Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, e do Centre for Economic Policy Research, Londres. Galardoado com vários prémios internacionais, incluindo o Prémio Stiglitz, atribuído pela International Economic Association. Licenciado pela Universidade de Lisboa e doutorado pela London School of Economics.

 

Um livro de leitura obrigatória!