AS GRANDES MUDANÇAS NA IMPRENSA APÓS O 25 DE ABRIL

A madrugada de 25 de Abril de 1974 não trouxe apenas liberdade às ruas, mas também às páginas dos jornais. Com a queda da ditadura do Estado Novo, a imprensa portuguesa passou por uma transformação profunda e sem precedentes, deixando para trás décadas de censura e propaganda.

Se durante mais de 40 anos, os jornais portugueses viveram sob o olhar atento da censura, criada pela Ditadura Militar, que cortava, alterava ou proibia tudo aquilo que fosse considerado perigoso para o regime e os jornalistas viam-se, muitas vezes, impedidos de relatar a realidade, com o 25 de Abril, essa prática chegou ao fim. Um dos primeiros decretos do novo regime democrático foi precisamente a abolição da Censura Prévia. A partir desse momento, a imprensa pôde noticiar livremente, questionar o poder, e ser, finalmente, um verdadeiro “quarto poder”.

Tudo começou a 26 de abril de 1974, quando as instalações dos serviços de censura, em Lisboa, foram objeto de um assalto popular e os revolucionários de Abril trataram de abolir de imediato a censura. Até à criação de um novo enquadramento legal para as publicações periódicas e à consagração da liberdade de imprensa na Constituição de 1976, viveram-se momentos conturbados nos meios de comunicação social.

Títulos conotados com o anterior regime, como a Época (diário oficioso da Ação Nacional Popular) ou o Novidades (órgão do Episcopado Português), foram extintos e certas direções, acusadas de colaboracionismo com regime anterior, foram substituídas, acarretando mudanças editoriais que visavam apoiar os novos poderes instituídos.

Foram tempos em que as recém-criadas comissões de trabalhadores passaram a ter voz ativa na gestão das empresas jornalísticas e dos jornais. Conflitos entre os proprietários e as comissões de trabalhadores levaram à suspensão de alguns periódicos, com foi o caso d’O Século, cujos trabalhadores, logo em meados do mês de maio de 1974, reclamavam a participação na gestão do jornal.

Apesar da agitação verificada no setor, o crescimento do número de leitores de jornais foi exponencial, assistindo-se ao aumento abrupto das tiragens, sendo o Expresso aquele que publicava maior número de exemplares (130.000 mil), embora o matutino de maior tiragem fosse o Diário de Notícias. Segundo o Conselho de Imprensa, sobretudo durante o «Verão Quente», “foi espetacular a subida de tiragens e de vendas dos principais jornais”.

 

A proliferação de novos jornais e revistas

O ambiente de liberdade pós-revolução estimulou o surgimento de novas publicações. Nas bancas, apareceram títulos como o Jornal Novo, A Luta e República, com diferentes orientações políticas, refletindo a efervescência ideológica do período. A imprensa tornou-se um palco de debate político e social, acompanhando as transformações do país.

O jornalismo passou, assim, a desempenhar um papel fundamental na formação da opinião pública. Os jornalistas deixaram de ser apenas cronistas controlados para se tornarem agentes ativos na defesa da democracia. Investigavam, opinavam e davam voz a setores antes silenciados da sociedade.

Apesar dos momentos turbulentos, a conquista da liberdade de imprensa permanece como uma das maiores vitórias da Revolução dos Cravos. Hoje, embora a imprensa enfrente novos desafios – como a desinformação, a sustentabilidade económica, a digitalização e a pressão económica – a liberdade conquistada em 1974 continua a ser um dos pilares da democracia portuguesa.

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