Presidente da Junta de Freguesia de Campanhã desde as últimas eleições autárquicas, mas presente na política autárquica há mais de 20 anos, Ernesto Santos vai recandidatar-se ao cargo por mais quatro anos.
“Acho que esta freguesia ainda precisa de mim e eu ainda tenho muito que dar a esta freguesia, portanto, estou convicto, neste momento, que ganharei as eleições”, afirma o presidente ao AUDIÊNCIA, numa entrevista onde defendeu a descentralização do poder das autarquias para as Juntas de Freguesia e prometeu também lutar pelos interesses dos campanhenses caso vença as eleições de 1 de outubro.
Já relativamente à Câmara do Porto, Ernesto Santos admite ter a sua preferência mas garante que irá “morder os calcanhares” ao presidente, seja ele quem for.
Que balanço faz destes quatro anos?
Eu diria que, se tivesse tudo feito, naturalmente que não me candidataria novamente, mas faço um balanço positivo. Parte das promessas que fiz, e que são da competência direta da Junta, foram cumpridas, agora, há outro tipo de promessas e de competências que, infelizmente, as Juntas no Porto ainda não têm, dado que algumas em Gondomar, Gaia e noutros concelhos limítrofes, já têm Juntas com muito mais competências do que as do Porto. Por exemplo, no arranjo de jardins, na deservagem etc, as Juntas do Porto não podem sequer intervir. É tudo a Câmara do Porto. O que dificulta em grande parte o poder chegar mais perto e a tempo e horas às populações. Tenho pedidos de deservagem, por exemplo, que me demoram a ser satisfeitos dois ou três meses, quando as ervas já estão muito maiores do que quando foi feito o pedido. Também entendo que se a Câmara tivesse vindo nessa altura, teria de voltar passado dois meses e eles também fazem a gestão do tempo consoante o interesse deles. Mas se este tipo de competências, e é por isso também que tenho de lutar mais quatro anos, passarem para as Juntas de Freguesia do Porto, naturalmente que a cidade do Porto tornar-se-á uma cidade muito mais atrativa para quem nos visita, que cada vez são mais. Parece-me que a autarquia, no capítulo do ambiente e da mobilidade, não tem estado muito atenta aos fenómenos dessa temática, então no ambiente a cidade do Porto é uma das cidades mais sujas que se vê. Noutras áreas está muitíssimo bem, já no ambiente necessitava de um incremento muito maior.
Mas, apesar disso, faz um balanço positivo, cumprindo as promessas eleitorais.
Sim. A nível da ação social a Junta, neste mandato, investiu cerca de 200 mil euros para apoios diretos, depois há outras despesas inerentes, como três técnicos sociais afetos ao gabinete e mais um POC que também custa dinheiro. Esta Junta traçou como objetivo 50 mil euros por ano e todos os anos ultrapassou essa verba.
Quantas famílias são apoiadas em Campanhã?
Nestes quatro anos apoiamos à volta de 600 famílias.
E esse é um número que aumentou desde a sua chegada à presidência?
Aumentou significativamente e por várias razoes. Primeiro, porque os apoios anteriormente eram dados, não digo sem nenhum critério, porque há sempre pode é ser discutível, mas hoje são dados através de um regulamento próprio que criamos para isso e está impedido a qualquer político de diretamente ser o autor de qualquer subsídio. Ou seja, só se pode dar subsídios desde que haja um relatório do técnico social e logo que haja um atendimento pelo mesmo técnico. Esse foi um dos objetivos e dos critérios que impus para ver se, de certa forma, se chega ao maior número de famílias possível. Essa verba para o orçamento da Junta é uma verba muito forte mas para as necessidades da população é uma verba muito fraca. Mas tenta-se conjugar os interesses de uns e de outros.
Quais considera terem sido os principais projetos deste seu primeiro mandato?
O principal projeto do meu mandato foi, sem dúvida, o projeto de acessibilidade à Junta de Freguesia. E era o que mais me doía. Eu fui, no mandato anterior, vogal da Ação Social e por mais do que uma vez tive de atender pessoas em cadeiras de rodas, de guarda-chuva, lá fora. Esta Junta é um edifício com cerca de 70 anos e nunca teve condições de acessibilidade. Portanto, hoje sinto-me feliz porque já consigo atender uma pessoa em cadeira de rodas dentro do gabinete.
É a sua marca?
É. É a minha marca porque tem muito a ver com a pessoa que sou, e com o sentido que tenho da inclusão. Porque me custa muito falar de inclusão quando tinha de atender uma pessoa lá fora. Portanto, tudo fiz para isso. Primeiro, foi acertar as finanças da Junta, andei cerca de dois anos a conseguir equilibrar a Junta financeiramente e depois andei outros dois anos para conseguir juntar dinheiro para fazer estas obras. Estas e não só. Outra marca importante foi ter evitado que um edifício que nos foi cedido pela Câmara do Porto em 1996, mas que ameaçava ruína iminente, e consegui evitar essa ruína porque conseguir colocar um telhado novo e solidificar toda a pedra. Essa também foi uma obra deste mandato e uma obra com muita importância.
Que edifício é esse?
É a Quinta de Vila Meã/Mitra, que foi onde nasceu o Conde Ferreira. É uma marca para nós, aliás, este ano, ainda no meu mandato, festejei os 150 anos do nascimento do Conde Ferreira, um cidadão de Campanhã que, independentemente de toda a polémica histórica em volta do homem, teve um passado marcante e que de entre as muitas coisas que fez, ele construiu, há cerca de 130 anos 96 escolas. As primeiras escolas do país foram construídas por ele. Todas elas com o mesmo projeto, distribuídas pelo país todo. Nós temos uma aqui ainda, que é onde está o nosso auditório, alterado, embora no essencial se mantenha, a única coisa que alterou foi a parte da frente vidrada, que se fosse comigo não teria sido assim mas também não altera a fisionomia do edifício. E essa Quinta onde ele nasceu passou por vários donos, incluindo a família Mitra, daí depois se começar a chamar Quinta do Mitra, mas na sua origem é Quinta de Vila Meã. E a maior parte dos historiadores atribuem o nascimento do Conde Joaquim Ferreira dos Santos a essa Quinta. Portanto, competia-nos fazer algo por ela e houve um ano em que disse ou é este ano que fazemos alguma coisa pela Quinta ou então entregamo-la à Câmara. Felizmente, conseguimos fazer, há projeto para, em 2021, para o final do meu próximo mandato, estar a Quinta completamente pronta e os campanhenses puderem desfrutar dela, que isso é que é importante.
Que projeto tem para esse espaço?
O projeto para mim será, além do espaço rural que agora é muito pequeno porque os caminhos de ferro e a própria VCI apoderou-se de grande parte dos terrenos, mas a ideia é no espaço, cerca de 3 mil metros quadrados, fazer uma espécie de horta biológica, criar um espaço onde os mais novos possam aprender que os ovos não nascem na panela nem os frangos nascem na churrasqueira. Ou seja, ensiná-los sobre a natureza e fazer daquilo um espaço cultural virado às associações.
Até porque em Campanhã não há nenhum espaço para as associações, que são muitas.
Não há. Campanhã é parca desse tipo de espaços, aliás, tenho em mente comprar outro espaço, com cerca de mil metros quadrados, e tenho já mais ou menos apalavrado com o proprietário, que o venderá à Junta por um preço muito bom, em Azevedo. E uma coisa que pedi à Câmara que tomou posse foi que não se esquecesse que para lá da circunvalação ainda existia Campanhã. E isso foi, de facto, esquecido.
Acha que a autarquia esqueceu Campanhã?
Acho. Projetos anunciados para Campanhã são muitos. O projeto do matadouro, a ser concretizado tem muita relevância para Campanhã. Este projeto é, curiosamente, o único que é de autoria da própria autarquia, desde que não haja as tais parcerias público-privadas. E que, aliás, é da maior importância para a freguesia. Mas o certo é que ainda só está no papel. É preciso passar à ação. Depois, o projeto do interface de Campanhã, do famoso acordo do Porto que só foi cumprido pelo António Costa, foi preciso vir de novo um governo socialista para o cumprir. Não sendo um projeto propriamente dito da Câmara, é uma parceria governo central e Câmara do Porto, mas o facto é que ainda não começou. O projeto de despoluição do rio tinto, também muitíssimo importante para os cerca de 3 km de rio que temos na freguesia, mas muito importante porque a estação do Meiral, de Gondomar, poluía muito em condições deploráveis o rio tinto e, neste momento, esta é uma das obras que está em marcha, e é um projeto intermunicipal e governamental, ou seja, do governo central com o município do Porto, de Valongo, de Gondomar e da Maia, que são banhados pelo rio. É uma obra que vai permitir, se a futura Câmara estiver interessada, através desse projeto de despoluição do rio, complementar o que falta do parque oriental do Porto, porque ainda falta dois terços do parque estar concluído. E é pena porque, de facto, seria um dos polos de incrementação da zona oriental do Porto. Como toda a gente hoje vai ao parque da cidade também viriam ao parque oriental se fossem criadas condições para tal. E eu convenço-me que a próxima Câmara, no próximo mandato, e ainda não me debrucei sobre os programas de qualquer candidato, mas sei que todos têm na ideia o parque e a zona oriental do Porto. Aliás, a zona oriental é, em tempos de eleições, uma zona muito cobiçada por toda a gente, depois das eleições continua a ser o “desgraçado” do presidente da Junta o único a preocupar-se com a zona.
Tem pena que Campanhã seja esquecida dessa forma?
Dizia, há quatro anos, que Campanhã foi durante décadas ostracizada, porque então nem sequer projetos eram anunciados. É claro que com esta coligação da Câmara do Porto e porque os dois programas se complementavam em relação a Campanhã, as coisas funcionavam, os projetos nasceram. Mas gostaria de os ter visto, não em fase de conclusão, mas em fase adiantada de obra, porque quatro anos dá para fazer obra e não se fez. E em Campanhã a única coisa que, de facto, teve um incremento muito grande foi a reestruturação do parque urbano municipal. Hoje são poucos os bairros de Campanhã que não sofreram obras. De facto, no aspeto da habitação social, a freguesia tem no bairro Engenheiro Machado Vaz um exemplo de como esta Câmara, nomeadamente o pelouro da Ação Social, pretendeu fazer habitação social. Por exemplo, o bairro já é aquecido, pelo menos para a água dos banhos, através de painéis solares, o que dá uma poupança, segundo os estudos, de cerca de 25 por cento aos moradores. Isso é significativo do que se quer para a habitação social. Porque só pelo simples facto de uma pessoa nascer pobre não quer dizer que não tenha direito a uma habitação, aliás é um direito consagrado na Constituição. Assim como ao ensino, à saúde e ao trabalho e que, infelizmente, têm sido esquecidos. Mas neste aspeto a Câmara interessou-se e criou um programa de apoio social a inquilinos de fora dos bairros sociais que tenham dificuldades em pagar a renda. A Câmara do Porto investiu um milhão e meio de euros nesse programa que ajudou centenas de famílias.
Diria então que Campanhã está melhor neste momento?
Sim, dizer que Campanhã está igual ao que estava há quatro anos seria um observador pouco atento e não estaria aqui a fazer nada. Campanhã está melhor, no entanto, continua a faltar muita coisa devido à ostracização que viveu durante décadas. E não foi só nos 13 anos do Rui Rio, já vinha de antes. Campanhã foi esquecida durante muitos anos. Neste momento, pelo menos, tem projetos, sei que Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas também sei que, às vezes, falta um bocadinho de vontade política para que esses projetos sejam mais céleres na sua execução.
Mas em comparação com outras freguesias sente alguma diferença?
Continuo a sentir a diferença que as outras freguesias têm tudo e que nós ainda só temos projetos, ainda nos falta muita coisa. Essa diferença nota-se. Mas isso vem de trás. É preciso que façamos um esforço, como eu fiz, por exemplo, no caso da acessibilidade, onde gastei 10 por cento do orçamento deste ano nas obras de acessibilidade. Se a Câmara, por exemplo, gastasse 10 por cento do seu orçamento para fazer uma via que ligasse esta zona de Campanhã à zona oriental, se calhar, beneficiaria muita gente. Se esta cidade tem por onde crescer é para Campanhã. Quem conhece o Porto sabe que não há nenhuma freguesia que tenha mil metros de terrenos disponíveis e Campanhã tem vários milhares. E a Câmara tem esse dever de arranjar investidores para esta zona com projetos viáveis. Por exemplo, como é que alguns municípios são hoje atualmente industrializados? Porque os presidentes de então tiveram a visão que os atuais não têm, de oferecer terrenos para industrializar o município. E aqui poder-se-ia fazer parcerias. Por exemplo, Campanhã é uma freguesia que perdeu muita população, nestes últimos anos. Neste momento, temos cerca de 32 mil eleitores, 40 mil habitantes. Mas já tivemos 50 mil habitantes. Ou seja, a freguesia perdeu quase um quarto da população porque os jovens não se fixaram em Campanhã, foram para Rio Tinto, para Valongo, para a Maia, Gaia ou Matosinhos onde as casas eram mais baratas que no Porto. Havia ainda uma possibilidade, se não fazer retornar os jovens que saíram daqui, fixar os que ainda cá querem ficar. Isto através, se calhar, de um sistema cooperativo de habitação jovem. E tenho a certeza que os jovens de hoje prefeririam ficar em Campanhã, na terra deles, do que ir para outro sítio. E perdemos eleitores porque a partir do momento em que foi obrigatório o cartão de cidadão, o número de eleitor passa para o local de residência e aí perdemos muitos eleitores, o que também influenciou o nosso próprio orçamento. Nós temos hoje, em 2017, um orçamento muito inferior a 1997.
Já referiu a sua relação com a atual autarquia. Acha que esta se vai manter?
Tenho um excelente relacionamento com o presidente da Câmara, claro que tinha um melhor relacionamento, de amizade, com o Dr. Manuel Pizarro, que é meu amigo há muitos anos. Com o presidente da Câmara tenho um excelente relacionamento, tanto institucional como até pessoal, mas gostaria muito que ganhasse o Dr. Manuel Pizarro, por uma razão. Acho que o Dr. Manuel Pizarro é uma pessoa mais afetiva, mais do povo, é um médico em exercício das funções, que tem uma sensibilidade própria, e penso que ganhará mas, caso que não ganhe, continuarei como presidente de Junta e, institucionalmente, a ser o mesmo homem e sempre que tenha de dar algum apoio ao presidente da Câmara dá-lo-ei, sempre que tenha de pedir ou exigir alguma coisa, também o farei. Portanto, não vai mudar em nada até porque se costuma dizer que, às vezes, é nos amigos que encontramos as maiores barreiras, porque lhes custa. Mas estarei sempre a ‘morder os calcanhares’ a quem quer que seja o presidente da Câmara. E como sei que a competência das Juntas esbarra sempre no poder camarário, será junto deles que farei a minha luta, independentemente de quem seja o presidente da Câmara. Não me leva a ser mais ou menos brando consoante a cor que o presidente seja eleito. E por Campanhã lutarei até ao limite das minhas forças.
O Porto está na moda. Sente isso em Campanhã ou os turistas não chegam cá?
Não chegam a Campanhã. Enquanto não se criarem infraestruturas do ponto de vista logístico e cultural os turistas têm dificuldade. Os turistas gostam de ver cultura, gostam de ver alguma coisa que chame a atenção, como um bom espetáculo. E Campanhã não tem isso. Se um dia vier o interface de Campanhã que traga muitos mais turistas a pé até através do metro e que os centralize por ali, mas logo à volta se comecem a criar polos de atração, porque faltam em Campanhã polos de atração. Esta cidade não é una nesse sentido, está tudo muito centralizado e é curioso que quando se fala, e ouço muito o presidente da Câmara a falar de descentralização do Governo para a Câmara, mas não o vejo a ter uma única atitude de descentralização da Câmara para com as freguesias. Isso é incoerente.
“É na ótica da solidariedade que existe no associativismo que vejo o meu mandato de presidente de Junta”
Mas apesar das dificuldades, vai-se recandidatar.
Naturalmente que sim. Sou autarca desde 93, mas só me candidatei depois de reformado porque entendo que um presidente Junta tem de estar a tempo inteiro. Não tem horas. E como tenho todo o tempo do mundo disponível para dar, estou perfeitamente à vontade. Não é pelos lucros porque embora o salário de presidente de Junta seja um pouco mais alto que a minha reforma, a minha reforma fica no Estado, não posso acumular e ainda bem.
E sente-se com força para mais quatro anos?
Sim, naturalmente que sim, aliás, há uma promessa que faço. Na altura em que me sentir com menos capacidade para exercer o meu cargo deixo, porque não estou agarrado a poder nenhum, estou agarrado apenas a um ato de solidariedade. Vim do associativismo para a política e é na ótica da solidariedade que existe no associativismo que vejo o meu mandato de presidente de Junta.
Acha que o facto de estar ligado ao associativismo há tantos anos também lhe dá outro tipo de sensibilidade e conhecimento para exercer o cargo de presidente de Junta?
Sim. Sem dúvida. O movimento associativo, à época em que era jovem, há 50 anos atrás, era aquele local onde nos reuníamos até para debater as questões do país, ou quanto mais não fosse para ver televisão que não tínhamos em casa. Hoje as pessoas esqueceram-se um pouco do associativismo porque fala-se muito no voluntariado não há mais voluntário do que aquele homem que sai de casa às 20h para ir para a sua associação e está lá até à meia noite. Aquele homem que ao sábado e domingo agarra nos meninos que não são filhos dele para os levar a praticar desporto e, se calhar, nem o filho leva. Não há maior carácter voluntário que este. E o voluntário já tem um estatuto, o associativista ainda não. Mas eu tenho esse espírito. A minha grande consciência pelo outro nasceu pelo associativismo, portanto, continuo a ver a autarquia com outros poderes e competências, porque enquanto dirigente de uma associação sou responsável de um setor qualquer, enquanto presidente da Junta sou responsável por 40 mil pessoas e tenho de responder para e por elas. É totalmente diferente. Por isso também deixei uma coisa que gostava muito na Associação de Futebol do Porto que era ser o responsável pelo futebol de formação, mas quando há dois anos tive de ir a Luanda disputar o último torneio e representar a Federação Portuguesa de Futebol com a seleção sub14, onde ganhamos esse torneio e medalha de ouro dos Jogos Lusófonos, durante os 15 dias que estive em Luanda deu para entender que não poderia fazer as duas coisas em simultâneo. Por muita vontade que tivesse não podia. Portanto, tive de abdicar de ser vice-presidente da Associação de Futebol do Porto e hoje sou apenas vogal do conselho técnico para não quebrar os laços que tenho há mais de 20 anos. Mas pouco ou nada faço, com muita pena minha. Gosto da política enquanto presidente da Junta, por exemplo, a primeira vez que em Campanhã o presidente da Junta não é o secretário coordenador da secção de militantes de Campanhã é comigo porque não aceitei o cargo político mas sim o autárquico. Isto para não misturar as situações porque entendo que sou muito mais livre não estando afeto a um núcleo de militantes do que estando afeto ao mesmo. Serve também para separar as águas, um presidente de Junta tem de ser presidente de todos.
Mas tem o seu partido e a sua candidatura é pelo PS?
Naturalmente. Muito provavelmente não seria candidato se não fosse pelo PS. Isto porque esta freguesia é PS desde 1987. E quando se falava na coligação também se falava na hipótese de poder ser ou o movimento ou o partido a nomearem o candidato. Embora toda a gente dissesse que estava comigo isso, às vezes, vale o que vale. Eu ainda não me tinha decidido, mas quando houve a quebra do acordo assumi que estava à disposição do partido. Porque acho que, neste momento, se alguém tem de dar a cara pelo PS em Campanhã teria de ser mesmo eu. Mas como já disse, se amanhã me sentir intelectualmente ou fisicamente mais débil, para não prosseguir com o mandato, também haverá um número 2 e uma Assembleia de Freguesia que porá cá outro presidente. Agora, acho que esta freguesia ainda precisa de mim e eu ainda tenho muito que dar a esta freguesia, portanto estou convicto, neste momento, que ganharei as eleições.
Acha que a vitória é garantida?
Não. Nunca achei, nem há quatro anos em que as condições, se calhar, eram melhores que hoje. Isto porque sou um homem de futebol, e no futebol só no final dos 90 minutos é que se ganham os jogos, e já vi muitas surpresas tanto no futebol como na política. Portanto, não está nada garantido, continuarei a trabalhar enquanto presidente de Junta que serei a tempo inteiro, no entanto, nesta altura, vou dedicar algum do pouco tempo que tenho a preparar a minha campanha no exterior. Tenho ideias até de, em setembro, tirar umas férias que ainda não fiz, para aí sim, estar um pouco desligado da Junta e dedicar-me exclusivamente à minha campanha.
Mas qual o feedback que sente da população?
Ainda recentemente almocei num Centro de Dia da nossa freguesia e foi uma felicidade para mim, no meio de mais de 60 pessoas idosas, sentir o carinho que elas têm por mim. E é o que me faz, se calhar, recandidatar, é o sentir o carinho que as pessoas têm por mim. E em todos os locais da freguesia sinto isso mas a aposta dos outros em Campanhã cada vez é mais forte e o movimento do Rui Moreira ganhou 5 das 7 freguesias do Porto, só não ganhou Paranhos e Campanhã. Também temos de ter em conta que ele irá apostar nestas freguesias mais do que nas outras. Eu, pelo menos, estou a contar com isso. Mas a campanha vai-se fazendo, vai-se fazendo na ação social, no apoio ao associativismo, na cultura que se faz, apoio ao teatro, aliás, fazemos dois dias, na praça em frente da Junta, a Gala dos Artistas de Campanhã, uma noite dedicada ao fado e outra à música popular só com artistas da freguesia. Fazemos a volta a Campanhã em atletismo, em ciclo-turismo, em motards, fazemos o festival de teatro com seis espetáculos e nenhum deles no nosso auditório, fazemos nas coletividades para incrementar outra vez a cultura do teatro. Fazemos um campeonato de bilhar com 20 equipas em duas mãos, que dura um ano, todas da freguesia também.
Até porque Campanhã tem um movimento associativo bastante grande…
Tem. Enfraqueceu um bocado mas está outra vez a tomar balanço por este tipo de iniciativas. Retomei os passeios dos idosos, não pude nos dois primeiros anos infelizmente, por falta de verbas, mas tudo fiz para o retomar. Levar 650 idosos a Fátima, como levamos agora, são 13 camionetas, meter todos numa Quinta, não fica barato, é preciso orçamento para isso. E primeiro tive de criar condições capazes de me proporcionar essa ação e retomei o ano passado. O ano passado foram só 400 porque as pessoas já não estavam habituadas ao passeio mas este ano já foram 650 e para o ano, provavelmente, aumentará mais. E apalpar o sentimento das pessoas que estiveram envolvidas nisto é fantástico. Não é fácil, montar toda a logística mas faz-se de uma forma voluntária.
Que projetos tem para o próximo mandato?
No próximo mandato gostaria de ver concluída a Quinta de Vila Meã, gostaria de ver o Centro de Saúde de Campanhã concluído, e gostaria de ter um novo projeto para a praça em frente à Junta, sem alterar demasiado as suas características, porque tem excesso do mesmo tipo de árvores. Ver também o parque de São Roque que está abandonado pela Câmara, e lutei muito para que a Câmara me transferisse as competências do parque, mas foi-me dito que já tinham contratos com empresas externas. É um parque lindíssimo, é certo que montaram um parque infantil, mas os arruamentos continuam péssimos. Tenho outros projetos em vista do ponto de vista cultural que espero lutar por eles e depois virar-me por uma luta de acessibilidade à zona mais oriental da freguesia. Gostaria de ver a frota de autocarros nesta freguesia e especialmente na zona oriental, porque é uma zona esquecida até pelos STCP, embora já me tenham prometido que em setembro, após eu ter apresentado um projeto, que resolveriam o problema. Porque temos a escola do Lagarteiro que pertence ao agrupamento de escolas do Cerco do Porto. No entanto, a maior parte dos miúdos optam por ir para o Alexandre Herculano porque têm transporte, porque não há um único transporte que traga as pessoas daquela zona ou à igreja, ou ao cemitério ou à escola ou até ao futuro Centro de Saúde que será na zona do Cerco. Portanto, ver a rede de transportes alargada a todos os campanhenses, nomeadamente aos da zona mais oriental, da zona de São Pedro de Azevedo, ver também a acessibilidade nas nossas ruas que ainda pecam muito, ainda há muitas passadeiras por rampear, e a Câmara, neste caso, não seguiu o exemplo da Junta na acessibilidade. Aliás, são os pelouros da Mobilidade e do Ambiente, com os outros pelouros lidei sempre bem, mas estes dois em Campanhã trabalharam muito mal. E gostava de ver alguma vontade por parte da Câmara. E lutarei por isso neste que será o meu último mandato.
O último?
Sim, de certeza. Não faço o terceiro, de certeza absoluta. E oxalá que a minha mulher tenha disponibilidade daqui a quatro anos para podermos ainda gozar um bocadinho da nossa reforma. Que é uma coisa que lhe devo, porque custa-me bastante, às vezes, não a acompanhar como ela merecia. Por isso, este será, sem dúvida, o meu último mandato mas queria criar condições aos restantes autarcas, até como dirigente que sou também da ANAFRE, para lutar pelas competências para que ninguém possa dizer que tem a rua cheia de erva e nós, mesmo com vontade de a cortar, não o podermos fazer. Criar condições para que sejam as freguesias a ter esse tipo de competências mais próximas do cidadão. Acho que beneficiaria a cidade e a Câmara pouparia dinheiro. Quando o próximo presidente da Câmara do Porto, seja quem for, resolver trabalhar com os presidentes de Junta, passar competências às Juntas e o respetivo pacote financeiro, porque, por exemplo, uma das maiores frustrações que tive como presidente de Junta foi quando fui ao programa Sociedade Civil da RTP2 com o meu colega da Junta de São Domingos de Benfica e vi as competências que ele tinha e o orçamento de mais de 3 milhões de euros, e eu tinha um orçamento de 900 mil euros. Ele tinha uma série de competências mas disse-me que com o dinheiro que tinha da Câmara não gastava metade e que isso que sobrava servia para melhoramentos na freguesia. E fá-los enquanto a Câmara esquecia-se disso. Isto leva-nos a pensar que é preciso rever as competências. Quando houve um ministro Relvas que resolveu fazer a reforma das freguesias, não o fez nas Câmaras. Curiosamente, permite-se neste país que haja Câmaras muito mais pequenas do que freguesias que foram reagrupadas, o que é um descalabro, não tem senso nenhum. Havia que rever uma reforma.
É contra a reforma administrativa local?
O que está feito, feito está. O mal está feito. Mas dar competências a estas Uniões de Freguesia, porque deixar de ser três ou quatro freguesias pequenas para ser uma freguesia maior, mas com o mesmo tipo de competências que tinha anteriormente não vale a pena. Reviu-se a situação territorial mas não se reviu as competências e o dinheiro que devia ser para cada freguesia. O que nos leva a um impasse de obras. É por isso que sou um adepto fervoroso da descentralização para as Juntas de Freguesia para que se dê a dignidade que um presidente de Junta, que é um homem eleito pelo povo, deve ter. Senão, então acabe-se com as freguesias e centralize-se tudo. Acho que seria a altura ideal para descentralizar e acreditando como acredito no Primeiro-Ministro, porque foi ele, em Lisboa, como presidente de Câmara, que transferiu dinheiros e competências para as Juntas, e é ele com ele como Primeiro-Ministro que me parece que em 2019 as freguesias podem ter os mesmos direitos e, nessa altura, Campanhã vai crescer.
Mas esse tipo de projetos que quer implementar no próximo mandato, são tudo projetos que lhe vão dar muita luta.
Claro! É evidente que vou ter de, como se diz na gíria, ‘roer a perna ao outro’, e o outro, neste caso, é a Câmara e o Governo. Por exemplo, esta é uma freguesia muito envelhecida e essas pessoas durante o dia estão no Centro de Dia mas à noite não têm com quem ficar, estão completamente ao abandono. Era necessário criar um lar que aqui em Campanhã não existe. Dos cerca de 40 mil habitantes da freguesia, 30 a 40 por cento são pessoas com mais de 65 anos e essa vai ser uma das minhas lutas, lutar por um lar de terceira idade na freguesia, com dignidade. E mesmo que não seja eleito, nem que tenha de ser sócio de uma IPSS, vou lutar pelo lar.
Vai ser então um mandato de luta?
De luta. Também se visse que não dava luta não estava aqui. Por isso, anteriormente já tinha dito que se fosse pela coligação talvez não tivesse interesse, porque a minha vida sempre foi de luta, desde os 11 anos a trabalhar para ajudar a sustentar a família. Sempre tive uma vida de luta e é isso que estou habituado, e sem luta não me peçam nada.
Como gostaria de ser lembrado?
Gostaria de ser lembrado como o presidente de todas as classes de Campanhã. E tenho tentado sê-lo. Porque tanto cumprimento o senhor mais chique da freguesia como o mais carente, para mim é exatamente igual. E gostaria de ser lembrado como um campanhense que sou, puro, de gema, com todos os defeitos e virtudes que qualquer homem tem, mas que sempre esteve ao serviço dos outros.
Que mensagem gostaria de deixar aos eleitores?
Aos eleitores diria apenas que continuem a ver em mim o amigo que tenho sido e que serei sempre, independentemente de qualquer situação. Estou convencido que ganharei as eleições mas, se não as ganhar, acho que a culpa foi mais minha do que dos outros, e continuarei a andar por aí como presidente, ou não, a conviver com as pessoas, como o sempre fiz ao longo dos meus 70 anos de idade. Sempre fui um associativista convicto e sou um autarca convicto, portanto, não anseio mais nada que não seja continuar mais quatro anos como presidente de Junta e tentar deixar esta freguesia e muito melhor condição do que a encontrei.