Coordenador da ADRA-Norte há 18 anos, José Carlos Cidra esteve à conversa com o AUDIÊNCIA para explicar os objetivos e princípios que guiam esta instituição que continua a fazer a diferença localmente e nacionalmente.
Apresente-nos a ADRA-Norte.
A ADRA Portugal está dividida em 7 Coordenações Regionais (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira) e em 109 Delegações locais (espalhadas de Norte a Sul e de forma descentralizada pelo território português). Assim a ADRA Norte, à semelhança das demais coordenações e das delegações locais, trabalha juntamente com os seus parceiros sociais, na satisfação das necessidades básicas de muitas mulheres, homens, crianças, jovens, imigrantes e idosos que recorrem ao seu apoio. Procuramos encontrar soluções que contribuam para a alteração da situação social e económica de quem nos procura, com o objetivo de recuperar a dignidade de cada indivíduo e potenciar o desenvolvimento das suas capacidades. De acordo com o Plano Estratégico nacional a ADRA Portugal opera em cinco dimensões específicas: Responsabilidade Social e Ação social; Cooperação e Ajuda Humanitária; Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global; Comunicação e Advocacy; e Organização e Gestão de Recursos.
Há quantos anos está na ADRA – Norte?
Na ADRA coordenação Norte estou há 18 anos. Primeiro como elemento da equipa, depois como relações públicas e nestes dois últimos anos como coordenador regional, mas antes de tudo voluntário. Atualmente conto com a colaboração direta do ex-coordenador Paulo Gomes. Depois há pessoas imprescindíveis em diferentes áreas com as quais trabalhamos diretamente, quer seja na área da música quer na área do desporto ou da ação social.
Considera-se um Semeador da Esperança?
“Semeador da Esperança”, essa é uma boa expressão. Na verdade, eu nunca fui um homem de gabinete. Sempre me conheci, pelos valores que os meus pais me transmitiram e pelos valores e princípios que adquiri como cristão Adventista, um homem de ação, de rua, não de palco, mas de bastidores na organização dos muitos e muitos eventos, concertos, caminhadas, etc. Onde me sinto bem é na rua no apoio às pessoas na condição de sem-abrigo, no apoio às famílias em situação vulnerável. Por isso, sim, digo, de forma sentida, que sou um semeador de esperança tal como os demais 1300 voluntários ADRA que temos no nosso país e que apoiam 11.408 pessoas por mês, que entregam 335 toneladas de alimentos por ano, que entregaram em 2024 mais de 68 mil euros em bens não alimentares.
Quais são as delegações da ADRA – Norte e o que fazem?
A ADRA Norte coordena 19 das 109 Delegações locais ativas a nível nacional. As Delegações vão de Santa Maria da Feira a sul até Valença e Mirandela a norte. A ADRA Portugal atua em todo o território nacional, sobretudo nas áreas da Responsabilidade Social, Ação Social, Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global, Advocacy, isto é, dar voz a quem não tem voz, e, quando necessário, Ajuda Humanitária. O nosso trabalho está mais vocacionado para o apoio às famílias carenciadas, apoio às pessoas na condição de Sem-abrigo, apoio psicossocial, apoio a Associações de cariz humanitário e Instituições como Bombeiros Voluntários, Banco Alimentar contra a Fome, entre outros. Desde distribuição de jantares quentes; distribuição de Kits de pequeno-almoço; distribuição de roupas, calçado e agasalhos; disponibilização de produtos de higiene; rastreios de saúde; cuidados de higiene e aparência (como corte de cabelo); realização de Ceias de Natal para famílias vulneráveis e pessoas na condição de Sem-abrigo até encaminhamento para diferentes Serviços.
A ADRA – Norte tem realizado um trabalho notável no apoio aos Sem Abrigo, em especial a festa de Natal que realizam anualmente nas instalações do colégio Adventista de Oliveira do Douro. Como tem vivido essa iniciativa?
Eu diria que este é um momento sempre muito especial para as Delegações do Grande Porto que têm participado na organização deste evento. Há vários anos que, com o apoio da Câmara Municipal de Gaia, conseguimos recolher nas ruas do Porto cerca de 50/60 pessoas na condição de Sem-abrigo e levá-las em autocarro até Oliveira do Douro onde o Colégio Adventista acolhe estes homens e mulheres no seu refeitório e lhes é proporcionado um jantar de Natal com direito a tudo que é típico desta quadra. Sempre há animação musical, distribuição de roupa quentinha para a época e lembranças. Este ano como o Colégio Adventista está a completar 50 anos de ensino e de presença em Vila Nova de Gaia ofereceu o jantar, sendo confecionado por professores, funcionários e encarregados de educação, servido por alunos e ex-alunos, por professores e ex-professores e assistentes operacionais e fizeram ainda a animação musical com os alunos. Enfim, momentos inesquecíveis como foi dito por muitos dos beneficiários presentes, alguns com lágrimas nos olhos. O regresso ao Porto foi assegurado, mais uma vez, pelo autocarro da Câmara Municipal de Gaia.
Há abraços que não são para o corpo, são para a nossa alma. A vossa ação é muitas vezes pintada com cores de Esperança?
É verdade, e não só pela cor verde da esperança, mas pelas belíssimas cores do espetro solar, pelas cores do arco-íris. Isto é, pelo azul da tranquilidade e harmonia, pelo amarelo da luz e da alegria, pelo laranja do otimismo e prosperidade, pelo vermelho da paixão e da energia, pelo rosa da ternura, pelo violeta da magia e da espiritualidade, pelo branco da paz e pureza. E repare cada um destes significados aplica-se, na prática, aos nossos gestos para com estas centenas de homens e de mulheres, jovens e menos jovens que se cruzam connosco cada semana. Pessoalmente, mesmo correndo riscos, reconheço, em anos de pandemia, não deixei de tocar no ombro e de abraçar pessoas na condição de sem-abrigo. Para várias pessoas o olhar, o toque o abraço, o ser ouvido, torna-se mais importante do que duas ou três peças de roupa ou até de uma refeição quente!
Por vezes sentimos que aquilo que fazemos é apenas uma gota de água no imenso oceano, mas o mar seria menor sem essa gota, como disse Madre Teresa de Calcutá…
É verdade, mas quem age como nós agimos, que lidamos com tantas e tantas situações dramáticas sabemos que a gota traz cura, alivia a dor, limpa a ferida. E por isso, mesmo que ao fim de dezenas de saídas, haja uma só pessoa que recupere a sua dignidade, como um jovem romeno a quem eu uma vez ofereci o casaco de couro que eu levava vestido (numa noite gélida de inverno nas ruas do Porto) e que esse gesto levou a um relacionamento que permitiu encontrar um alojamento e levá-lo a concluir, mais tarde, o curso universitário é uma abençoada gota que transformou! E podia contar muitas mais histórias de outras pequenas gotas que transformaram vidas.
Sente que pode alcançar felicidade contribuindo para a felicidade dos outros?
Respondo-lhe apenas com um pensamento bíblico: “Mais bem-aventurado é dar do que receber”. São as palavras sábias do apóstolo Paulo e o ensinamento de Jesus que apresentou no Sermão da Montanha. E isto é um facto, por experiência própria. Quantas vezes, sozinho no carro, de regresso a casa eu penso como foi enriquecedora a experiência, como venho de coração cheio! É terapêutico!
Acredita que a fé em Deus move montanhas?
É verdade. Não quer dizer que pessoas que não têm fé não atinjam objetivos, que se superem e que superem alvos propostos para bem dos outros ou da instituição que representam. Mas, quem é cristão, sempre vê com outros olhos. A fé dá-nos força para enfrentar desafios que, de outra forma, pareceriam impossíveis. Deus atua quando acreditamos de verdade. Talvez não mova montanhas literalmente, mas a fé pode mover os maiores obstáculos interiores que temos e ajuda-nos para ajudar os outros.
Marcou presença como um dos 600 convidados na XX Gala do Jornal AUDIÊNCIA, sendo que, pessoalmente, ao longo dos anos, realizou grandes iniciativas em Portugal, algumas das quais na Casa da Música. Como viu esta iniciativa do Jornal AUDIÊNCIA?
Ao longo da vida, na verdade, já me foi dada a oportunidade de organizar diversos eventos. Foram 3 grandes concertos na Casa da Música com a sala Suggia completamente esgotada, as I Olimpíadas dos escuteiros Adventistas no Castelo de Stª. Maria da Feira com centenas de jovens e adolescentes, o I Congresso JA na Exponor, o ano passado, exatamente à 1 ano, um Camporee Nacional com 3500 Desbravadores onde fui responsável pelo guarda-roupa de um Musical com mais de 30 personagens e por isso aprecio eventos como a XX Gala do Jornal Audiência. Foi muito agradável com apresentações musicais diversificadas tocando áreas tão diferentes como fado e música ligeira, dança, coreografias e os inevitáveis momentos para os galardoados. A Gala do Jornal Audiência é algo que há duas décadas marca o jornalismo, o reconhecimento empresarial, individual, entidades e outros o que é de apreciar e louvar. Parabéns.
Como coordenador da ADRA – Norte qual é a mensagem que deixa aos leitores do AUDIÊNCIA Grande Porto?
Agradecemos profundamente a todos os que estiveram connosco neste percurso de 25 anos em Portugal e nesta região do país, aos colaboradores, doadores, voluntários, parceiros institucionais, Autarquias e órgãos de comunicação social. O empenho e solidariedade são a força que impulsiona a ADRA Portugal a continuar a sua missão de transformar vidas. Com esperança, compromisso e profissionalismo, seguimos juntos para novos desafios e oportunidades em 2025. Justiça, Compaixão e Amor é o mote da ADRA. Se eu, tu, nós todos pusermos estes valores em prática, no dia a dia, com toda a certeza que o Mundo, o teu mundo, fará uma mudança de 180 graus e conseguiremos um mundo mais justo e sustentável onde as pessoas possam alcançar o bem-estar e viver a vida de forma digna e plena.