Retomamos hoje o décimo primeiro conto do nosso concurso, com a publicação da sua segunda parte, não sei antes recordar o trecho final da primeira parte, que se transcreve de imediato:
“(…)
— Estão aqui uns cabelos colados. — Disse, enquanto os metia no saco.
A vítima parecia ter sido apanhada de surpresa, uma vez que não havia sinais de luta no cenário. Um combate entre duas pessoas, naquele local, levaria a que os embrulhos com os presentes tivessem alguma desarrumação.
O rumo dos pensamentos desviou-se.
— E tu, Natália? Que me contas? — Perguntei para a pessoa que me abrira a porta. Deparar com alguém com aquele nome, naquele dia e naquele local, só contribuía para eu ficar mais incomodado. Bastava-me ter que falar com ela, para sentir uma pequena irritação.
— Há mais três pessoas cá em casa. Fernanda, a mulher de Casimiro, a vítima, e os seus dois filhos com sete e oito anos: dois rapazes.
— Mais três, não. Se calhar são mais quatro. O assassino?
A Natália franziu as sobrancelhas.
— É por ser Natal? Estás mal disposto?”
“Um Caso Policial no Natal” – DÉCIMO PRIMEIRO CONTO
UM CRIME NA NOITE DE NATAL, de Paulo
II – PARTE (conclusão)
Achei melhor não ligar àquela provocação e pedi-lhe mais informações.
— Ainda não falei com os filhos, mas devem ter passado a noite a dormir. A esposa diz que ela e o marido se deitaram pouco depois da meia-noite, e ele ficou de, passado algum tempo, vir colocar os presentes para os filhos os encontrarem de manhã. Deve ter vindo, mas ela estava a dormir e não deu por nada. Hoje, de manhã, quando acordou e não o viu, pensou que ele já se teria levantado, antes dela, pelo que quando chegou à sala teve uma grande surpresa ao ver o marido morto.
— Veremos se foi assim uma surpresa tão grande.
Fiz uma pausa para olhar em redor. Continuava a azáfama da recolha de vestígios.
— E lá fora? É melhor vermos bem o exterior antes de chegar a ambulância que transportará o corpo, e que vai estragar todos os vestígios que lá possam estar.
Dirigi-me para a porta. Era uma sorte estar neve. Se tivesse existido um assassino a fugir da casa, a neve, que parara de cair por volta das nove da noite, teria deixado a memória da sua passagem.
Entre a porta da casa e a rua viam-se várias séries de pegadas que deveriam pertencer aos elementos da polícia. Perto da porta, numa zona sem arbustos, à direita, havia marcas no chão. Dois riscos paralelos, como se duas tábuas ali tivessem estado pousadas, e umas estranhas pegadas: oito. Pareciam meias luas, lado a lado, simetricamente, como imagem e objeto num espelho.
— Vacas? Cavalos? — Perguntou-me a Natália.
Não me apeteceu responder, embora estivesse a perceber o que se passara. Fiquei a observar umas pegadas de bota que se dirigiam para parede, como se alguém fosse por lá subir, e depois a virem no sentido oposto.
— Natália, vai saber junto da viúva a que horas é que a lareira ficou apagada, e se ela já verificou se alguém mexeu nos presentes.
Começava a formar-se uma ideia na minha mente. Um filme do que se passara. Apenas precisava das confirmações. Casimiro, a testemunha imprevista, estivera no local errado, na hora incorreta, e isso custara-lhe a vida.
Voltei para dentro, onde a Natália já me aguardava.
— Diz que a lareira se apagou um pouco antes da meia-noite, e, — parou um instante, como se esperasse que eu dissesse algo — parece que adivinhas: há dois embrulhos que ela não conhecia; mas admite que tenham sido comprados pelo falecido.
Não mostrei a Natália o que eu estava a cogitar. Então a viúva achava que houvera presentes ocultos. Que pensasse o que lhe aprouvesse, porque eu já não tinha dúvidas.
— Vou-me embora! Já resolvi este caso, mas agora vou tratar de arranjar quem pegue na minha resolução.
— E não vais ouvir a viúva?
Deixei-a sem resposta e nem me despedi de mais ninguém. Tinha tempo de ouvir quem quisesse. Depois! Agora tinha que, na sede, fazer um telefonema urgente. Queria continuar a ter o meu dia de Natal. Tinha que resolver aquele assunto.
— Estou, sim… Obrigado! É do Ministério dos Negócios Estrangeiros?… Daqui, é da Polícia Judiciária! Inspetor Felisberto Salmoura…. Sim, é verdade. Podem devolver a chamada para a Polícia Judiciária e verificarem que sou eu mesmo.… Estou com um problema, que julgo que também é vosso…. Sim, não estou enganado, também é vosso. Sim… nós descobrimos crimes, e é por isso que vos estou a ligar…. Mataram um homem! O que é que têm a ver com isso? … Têm muito!… Deixem-me falar, que eu já explico. Eu sei que é Natal, mas é Natal para todos. Para mim, para si, para o criminoso, e só não é para a vítima, porque já morreu. Por isso, se está aí de serviço, faça como eu: trabalhe, ou seja, ouça-me.
O problema não é o crime, é o criminoso!… Sim,… é convosco. Não, não foi ninguém do ministério que foi o criminoso, nem o senhor ministro foi assassinado, nem o senhor secretário de estado, nem ninguém daí. Por que é que eu vos estou a ligar?… Deixe-me terminar. Eu sei quem é o criminoso, mas ele não é português. Foi apanhado a colocar dois presentes e não gostou. Devo contactar a embaixada do país do assassino? Claro que eu poderia fazê-lo, se pudesse, …mas eu faria isso, se fosse fácil. O caso é complicado. Ultrapassa o que eu posso fazer!… Finlândia, Noruega, Suécia e Rússia. Escolham! Para onde se deve enviar o pedido de extradição? O assassino é o Pai Natal. Vem da Lapónia”
AVALIAÇÃO-PONTUAÇÃO
Os nossos leitores têm a partir de agora 30 (trinta) dias para proceder à avaliação deste décimo primeiro conto a concurso e ao envio da pontuação atribuída, entre 5 a 10 pontos (em função da qualidade e originalidade), através do email salvadorsantos949@gmail.com. Recorda-se que o conto vencedor do concurso será o que conseguir alcançar a média de pontuação mais elevada após a publicação de todos os trabalhos, sendo possível (e muito desejada!) a participação dos autores no “lote de jurados”, estando, porém, impedidos de pontuar os seus originais (escritos em nome próprio ou sob a forma de pseudónimo), de maneira a não “fazerem juízo em causa própria”.