Quase a terminar o primeiro mandato à frente dos destinos da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues concedeu uma entrevista ao AUDIÊNCIA onde, além de abordar os projetos mais importantes destes quatro anos anunciou que, por sua vontade, será novamente candidato à autarquia gaiense.
Apesar de preferir não tecer qualquer comentário sobre os seus adversários políticos, nem sobre as críticas de que tem sido alvo, Eduardo Vítor Rodrigues não teve receio de abordar todas as questões que marcaram o mandato, mesmo as menos agradáveis.
Contudo, o autarca prefere focar-se nos aspetos positivos, como a estabilidade financeira, o Hospital de Gaia, a expansão da rede do Metro, os Centros de Saúde de Vilar de Andorinho e da Madalena, as escolas EB 2/3 de Valadares, Sophia de Mello Breyner e Dr. Costa Matos.
Estamos a poucos meses de novas eleições autárquicas. Em setembro do ano passado manifestou a sua intenção de se recandidatar. Mantém essa decisão?
Uma recandidatura deve ser sempre uma decisão ponderada em função da minha vontade pessoal, das dinâmicas que sinto na sociedade civil e no partido, bem como do cumprimento dos compromissos assumidos com os gaienses. É verdade que, por princípio, tenho disponibilidade e consciência do trabalho realizado, em condições muito adversas, mas ainda tenho que conciliar as diversas variáveis. Estas funções são muito exigentes em termos pessoais e eu não tenho medo do trabalho. Mas importa garantir o cumprimento dos compromissos eleitorais assumidos, coisa que já vai sendo possível avaliar. Tomei posse com uma situação financeira muito difícil. O município de Gaia era conhecido por ser incumpridor, por pagar em prazos enormes, o que, por sua vez, gerava um peso brutal dos juros de mora. Para além disso, iniciou-se um novo quadro legal, bem mais burocrático, resultante das leis 73/2013 e 75/2013. Finalmente, o anterior governo criou o FAM (Fundo de Apoio Municipal), destinado a Câmaras com forte violação dos limites legais de endividamento e uma das minhas prioridades era evitar que Gaia fosse abrangida. Estava em causa um programa de apoio financeiro a autarquias em asfixia financeira que inibia a autonomia de gestão da Câmara, potenciais despedimentos e enormes constrangimentos no acesso ao novo quadro comunitário. Imagine o que seria para Gaia ficar fora do mais importante instrumento financeiro de apoio ao investimento municipal… Temos projetos importantes e sustentáveis, mas precisamos do quadro comunitário. Não esqueço ainda que tivemos que internalizar a Gaianima, com custos acentuados, e reorganizar as Águas de Gaia e a Gaiurb. Hoje o grupo municipal começa finalmente a respirar de alívio, podemos avançar com as nossas candidaturas comunitárias, com a garantia de termos comparticipação nacional para acompanhar e podemos até cofinanciar projetos centrais para o município, como a reabilitação do Hospital de Gaia, os Centros de Saúde de Vilar de Andorinho e da Madalena e as escolas EB 2/3 de Valadares, Sophia de Mello Breyner e Dr. Costa Matos. E se é verdade que estes investimentos já estão assegurados e contratualizados, também é verdade que isso só aconteceu porque tivemos as condições orçamentais e financeiras para o assumir. E só temos estas condições orçamentais e financeiras graças à gestão estratégica dos últimos 3 anos. E fizemos esta gestão económico-financeira do município, reconhecida por todos como histórica, sem a tradicional e errada metodologia de “ir ao bolso dos cidadãos”. Em vez disso, reduzimos neste mandato o IMI e a fatura da água, através da redução da taxa de resíduos sólidos. E o que tenho dito é muito simples: se fomos capazes, em equipa e com os Gaienses, de fazer tudo isto em 3 anos, o que não poderemos fazer juntos pelo futuro de Gaia e dos Gaienses, agora que respiramos e que nos apresentamos como um Município de boas contas. É verdade que ainda não estamos ao nível do Porto ou de Matosinhos em termos financeiros, mas lá chegaremos. É em todo este quadro e mais algum que a minha decisão final há de ser tomada, ouvindo um conjunto de pessoas para mim relevante e o partido.
Considera que poderá voltar a vencer com maioria absoluta, como aconteceu em 2013, ou os tempos e circunstâncias são diferentes?
Tenho muita confiança, mas não faço essas contas. Limito-me a confrontar os meus compromissos eleitorais com os resultados atingidos. Os factos são claros e os resultados deste mandato são claramente melhores do que as expectativas iniciais, mesmo tendo passado quase 3 anos sem quadro comunitário. Julgo que cumpri com a palavra dada, com os compromissos assumidos e, por isso, devo estar confiante no julgamento eleitoral. Mas essa questão ainda não se põe, ainda há muito trabalho para fazer.
Tem receio da “concorrência” já anunciada, nomeadamente, José Cancela Moura pelo PSD/CDS e Renato Soeiro pelo BE? O que pensa dos candidatos apresentados por estes partidos?
Respeito todos os candidatos apresentados, com uma saudação democrática e o desejo de que seja um debate limpo e cheio de ideias. E tenho a confiança de ser, neste momento, o melhor presidente de Câmara para Vila Nova de Gaia, conhecedor profundo das realidades e com projetos claros e sustentáveis para o concelho e para as pessoas. E, já agora, depois de ter resolvido os problemas económico-financeiros da Câmara, depois de todos os problemas bem difíceis enfrentados e resolvidos, depois de ter levantado a Câmara, acho que mereço continuar, se for essa a minha decisão final.
Chegou a falar-se no nome de Marco António Costa ou mesmo de um possível regresso de Luís Filipe Menezes como candidatos pelo PSD às próximas autárquicas. Considera que estes seriam candidatos de maior peso para lhe “fazer frente”?
Isso são questões internas do PSD. Um presidente de Câmara pode e deve ter um quadro de referências, de ideias e de conceitos, mas não se envolve nas decisões partidárias, nem comenta a vida interna dos outros partidos.
Mas como vê os “ataques” de que tem sido alvo por parte de Luís Filipe Menezes, na sua página de Facebook, que o acusam de “denegrir” a imagem do seu antecessor?
Não leio o Facebook do Dr. Menezes. Desejo que ele esteja bem consigo próprio, é o mais importante. E desejo para mim mesmo ter sempre a categoria de saber sair dos locais por onde passe, sem traumas nem psicoses. Recebo frequentemente palavras de solidariedade de vários quadrantes, mas digo sempre o mesmo: respeito o passado, mas trato do presente e do futuro, nunca de nível baixo e presto contas aos Gaienses.
Luís Filipe Menezes tem publicado, também na sua página nas redes sociais, algo que intitula como “As 500 obras que mudaram Gaia”. Vê isso como uma afronta ao seu trabalho nestes últimos quatro anos?
Como disse, não acompanho essas questões. Ao que me dizem, terá abrandado nas primeiras 15… Mas seria um disparate da minha parte querer comparar os meus 3 anos de mandato e um ciclo de 16 anos. No final do meu eventual ciclo de 12 anos podemos falar, agora é muito precoce. E, pela minha parte, o modelo de gestão assenta no equilíbrio entre a ambição e a sustentabilidade. Não me canso de dar o exemplo do meu colega e referência, Guilherme Pinto, que deixou uma cidade renovada e de grande coesão, sem pôr em causa a sustentabilidade de Matosinhos. Por exemplo, o Hospital de Gaia e a expansão do Metro eram grandes desígnios de duas décadas e fui eu quem os resolveu. Para mim, a ambição mede-se pela qualidade dos projetos, não pelo seu orçamento. Mas até pelo orçamento podemos começar a fazer comparações…
Já o seu partido apresentará Alcino Lopes, atual presidente da Junta de Gulpilhares/Valadares, e Francisco Leite, atual presidente da Junta da Madalena, como candidatos pelo PS. Sabe-se que teve desavenças políticas, pelo menos com o primeiro. Sente-se confortável com esta decisão do PS?
Muito confortável. A vida política pode e deve ser feita de discussões, de posições divergentes. Nunca pedi unanimismos ou ‘yes men’. Pedi sempre lealdade nas posições e qualidade e honestidade na gestão da coisa pública. Estamos a falar de dois excelentes autarcas, com provas dadas. Não me compete impedir essas candidaturas por rancores pessoais, que não tenho. Trabalhei de forma excelente durante estes 4 anos com ambos, integraram-se na minha forma de ser e de pensar, respeitaram os princípios basilares da minha ação política. Estas candidaturas são o corolário do respeito mútuo e a demonstração que a política pode ser um local digno para lutar pelo bem-estar das pessoas. Não tenho traumas nem passados mal resolvidos. Tenho a pretensão de ser um exemplo de decência e de tolerância, abrindo o projeto político a todos os que se identificam com o rigor, a qualidade da ação política e a dignidade. Fá-lo-ei com o mesmo vigor com que recuso o radicalismo e os extremismos, que só pensam em egos e não nos cidadãos. Felizmente, assisto em muitas freguesias à emergência de pessoas que não acreditaram inicialmente neste projeto, seja para a Câmara, seja para a Junta, e foram sendo cativados pela nossa forma de ser e de trabalhar pelo bem comum. É um modelo de abertura que os autarcas de freguesia também têm promovido junto das pessoas e suas instituições e que o Presidente de Câmara só pode e deve incentivar e inspirar.
Ainda relativamente às eleições que se aproximam, acha que o desempenho do atual Governo de esquerda pode influenciar, positiva ou negativamente, os resultados das autárquicas?
Julgo que não. As pessoas sabem distinguir as coisas. E, de toda a forma, o desempenho do Governo está a ser tão positivo e relevante para o país que a questão nem se põe. Nas autarquias, os cidadãos votam no partido, mas escolhem fundamentalmente pessoas, o perfil de um candidato, a sua competência, integridade, o seu projeto e a capacidade de resposta aos desafios atuais e futuros. Por isso, tenho noção de que as eleições não se misturam, bem como tenho a perceção de ter apoios e confiança oriunda dos mais variados setores, porque nas autarquias valem muito as pessoas.
“Estou feliz com os resultados, mas acredito que podemos ir mais longe, agora que o Município começa a ganhar equilíbrio financeiro”
Está prestes a completar um mandato à frente dos destinos de uma das maiores autarquias do país. Que balanço faz destes quatro anos?
Faço um balanço claramente positivo. A maior conquista passou sempre por voltar a dar bom nome à cidade, por relacionar a cidade com a região, por voltar o investimento para as pessoas, numa lógica de inteligência e de sustentabilidade. Assistimos hoje a um novo ciclo de autarcas, de estratégias políticas e de modelos de desenvolvimento. As grandes obras só têm sentido de tiverem um rumo e um objetivo claro. Foi isso que encontrei no Hospital de Gaia, nos Centros de Saúde, nas escolas EB 2/3 ou no Centro de Formação Profissional, entre muitos outros. Estou feliz com os resultados, mas acredito que podemos ir mais longe, agora que o Município começa a ganhar equilíbrio financeiro.
Quais considera terem sido as maiores dificuldades com que se deparou?
Não me queixo dos problemas, por maiores que sejam (e foram!). Limito-me a enunciá-los de uma forma pedagógica. As pessoas têm que saber quais as dificuldades superadas e as razões para não termos ido ainda mais longe nas nossas ambições. Claro que as contas foram um verdadeiro problema, a integração da Gaianima e os seus inúmeros problemas foram um pesadelo, as sentenças judiciais tiveram um impacto atroz. Não escondo alguma dificuldade em conviver com os processos de investigação da Procuradoria, do Tribunal de Contas ou da Polícia Judiciária. Mas, mesmo não sendo assuntos do meu mandato, são sempre processos complexos e demorados para compilar informação. Mas, como disse, não me queixo. Quando muito, informo. Estou cá para resolver os problemas e tenho feito o trabalho com discrição, mas também com eficácia.
Do seu programa eleitoral, quanto conseguiu, realmente, implementar? O que ficou a faltar?
Os resultados obtidos, os compromissos concretizados e os projetos consumados ficam bem além do prometido. Fui contido nas promessas, porque conhecia as dificuldades e sabia que os assuntos eram extremamente complexos. Felizmente, fomos além do enunciado. Negociamos arduamente com a AMP, com o Governo, com a CCDR-N, enfim, com todas as entidades, mesmo sabendo que o novo quadro comunitário só agora começa a ter vida. Lastimo não ter conseguido implementar o Provedor do Cidadão, mas é assunto encerrado neste mandato. Fui mal sucedido na primeira abordagem… Para o próximo mandato será um assunto a tratar, para além do reforço do Orçamento Participativo, atualmente cingido às escolas.
Qual o projeto, ou projetos, que conseguiu implementar ou iniciar que destacaria dos demais?
Quando assumi a presidência da Câmara, assumi os pelouros da Educação e da Ação Social, para além das Finanças e do Contencioso Jurídico, entre outros. Fi-lo por acreditar nos projetos direcionados para as pessoas, acima de tudo o resto. Não me canso de lembrar grandes investimentos, há muito ansiados e prometidos, mas que só agora foram possíveis, graças a uma forte e intensa negociação política: o Hospital de Gaia, a expansão da rede do Metro, os Centros de Saúde de Vilar de Andorinho e da Madalena, as escolas EB 2/3 de Valadares, Sophia de Mello Breyner e Dr. Costa Matos. Também não esqueço o maior programa de reabilitação de rede viária e de espaços públicos dos últimos anos. Mas dediquei muito tempo e empenho, com uma equipa de grande qualidade, à criação do programa Gai@prende+, um trabalho em rede com as IPSS, as escolas e as associações de pais, que dotou as escolas de apoios sociais únicos no país. Também tenho orgulho no programa Gai@prende+(i), destinado às crianças com Necessidades Educativas Especiais, que permite uma oferta de apoio social e de terapias única no país. Assim como a criação do programa de apoio e teleassistência para idosos ou do programa de apoio ao arrendamento para jovens. Além de muitas outras iniciativas. Enfim, um trabalho intenso, empenhado e sobretudo vocacionado para as pessoas.
Há algum momento que o tenha especialmente marcado nestes quatro anos, pela positiva, ou negativa?
Estes anos têm sido muito intensos. O balanço que faço, para mim próprio, é o produto de muitos momentos importantes, pelas dificuldades que implicou. Foi o caso da obra do Hospital de Gaia, há duas décadas prometida e, afinal, conseguida neste mandato. Foi o caso da expansão da linha de Metro, contratualizada neste mandato. Foi o caso dos centros de saúde de Vilar de Andorinho e da Madalena, ou as escolas EB 2/3 de Valadares, Sophia de Mello Breyner e Dr. Costa Matos. Mas não tenho o hábito de ficar prostrado perante as conquistas, penso sempre nos projetos seguintes e tenho uma forte ambição de ver Gaia crescer, com inteligência e de forma sustentável. Temos que pensar em crescer, na coesão social, na qualidade urbana, mas fazê-lo de forma inteligente, sustentável e rigorosa, com a participação de todos.
A nova linha de metro para Gaia é, de facto, uma conquista importante para o concelho e para o seu executivo?
Sem dúvida. Mas, para ser mais preciso, o que conseguimos não foi apenas a expansão da linha de Metro até ao Hospital de Gaia e Vila d’Este. Por si só, esse já era um grande desígnio e um investimento fundamental. Mas, além disso, conseguimos colocar na lista das prioridades a ligação das Devesas ao Campo Alegre, com uma ligação pela VL8 e a construção de uma nova ponte. A expansão da rede de Metro é absolutamente prioritária. O ministro Matos Fernandes colocou este tema na agenda do desenvolvimento do país, e bem. Não se trata apenas da rede de Metro, é também um modelo de transportes amigo do ambiente, confortável e moderno. Mas não ficamos por aqui. Queremos participar na gestão da STCP, criando condições de serviço público cada vez mais fortalecido, ao mesmo tempo que defendemos novas competências para as Câmaras Municipais nos domínios do transporte público e da bilhética. Julgo que se percebe que os operadores privados precisam de um novo impulso, precisam de se modernizar e responder com outra qualidade aos anseios dos cidadãos. E isso não tem acontecido como eu gostaria. Estou disposto a continuar a lutar por instrumentos de apoio e financiamento às empresas privadas de transporte público, como aconteceu com o financiamento para autocarros eco-eficientes, mas devemos ser mais exigentes com o serviço que está a ser prestado pelos privados e que não nos satisfaz, seja o serviço em si, sejam as resistências à alteração da bilhética no sentido da generalização do Andante.
Um dos momentos marcantes do seu mandato é a melhoria das relações entre Gaia e Porto. A que se deveu isso?
Mais do que uma melhoria de relações, foi a articulação estratégica entre ambos. Incluo aqui o Município de Matosinhos que, no contexto da Frente Atlântica, participou no trabalho estratégico pelos assuntos comuns deste núcleo central da Área Metropolitana do Porto. Precisávamos de sair daquele provincianismo parolo de guerras pessoais, de fogos-de-artifício em disputa na noite de São João ou de projetos de pontes e de túneis de um só lado. O futuro da região e o desenvolvimento do território e das políticas para as pessoas exige uma nova geração de políticas e de políticos, gente que se entenda, que defenda a região, que se articule em políticas comuns, nas áreas estratégicas e comuns, como os transportes, o turismo, o emprego, a cultura e os eventos, a reabilitação urbana, entre muitas outras. O divisionismo é bacoco e não ajuda ao crescimento do todo regional. Podemos e devemos manter a nossa identidade, ao mesmo tempo que participamos articuladamente em projetos e iniciativas conjuntas.
Acha que, saindo da presidência da autarquia de Gaia, essa relação se irá manter?
Acho que os últimos tempos significaram uma enorme alteração dos modelos de desenvolvimento e dos perfis dos eleitos. Há hoje uma nova geração de gente, com novas formas de pensar e de agir. Não acredito no retorno ao modelo das disputas pessoais e dos ódios por resolver, que nos ridicularizaram no país e que nos prejudicaram o trabalho conjunto. Esse foi o nosso provincianismo histórico, que agora dá lugar a uma visão aberta, cooperante e europeia das nossas cidades.
O que propõe para os próximos quatro anos, caso a sua recandidatura se confirme e vença as eleições?
Um trabalho num município, particularmente num contexto tão específico como o contexto de Gaia, deve ser sempre pensado de forma estrutural e duradoura. Se é verdade que a curto-prazo traz notoriedade pessoal, não deixa de ser mais verdade ainda que a visão de médio e longo prazo é a única que nos pode fazer rumar ao desenvolvimento sustentável que garanta melhor futuro para os nossos filhos. Muito do trabalho iniciado neste mandato tem que ser continuado. A obra do Hospital de Gaia, tão ansiado há anos e só agora viabilizado, os centros de saúde ou as escolas EB 2/3, a expansão da rede de Metro ou a reabilitação de arruamentos devem continuar a ser prioridades e exigências constantes. Mas importa assumir novos projetos e desafios, seja na área dos transportes públicos, da reabilitação urbana ou do emprego. Importa reforçar o papel de Gaia como dinamizador cultural e económico da área metropolitana e da região. E nunca esquecer a desoneração fiscal dos Gaienses, a redução de taxas, tarifas e impostos municipais. Mas, apesar das dificuldades, neste mandato diminuímos por duas vezes o IMI e por uma vez a taxa de resíduos sólidos. Foi ainda insuficiente, mas no passado nunca tinha acontecido. Até para diminuir as taxas, tarifas e impostos municipais é preciso ter estabilidade financeira. O que só agora começa a acontecer.
“Aprendi que os piores malfeitores da democracia são os populistas plenos de hipocrisia”
O seu mandato também fica marcado por algumas polémicas, nomeadamente, em relação ao cargo na SAD do FC Porto, o qual aceitou e depois acabou por recusar. A seu ver, continua a achar que não havia conflito de interesses?
Isso não foi uma polémica, foi um assunto pessoal aproveitado de forma demagógica por alguns. Fui convidado, a título pessoal, para uma função não-executiva e não-remunerada na SAD. Manifestei a minha disponibilidade, dependente de não haver nenhuma incompatibilidade, como continuo a achar que não há. Mas, face ao oportunismo e à demagogia de alguns, acabei por decidir não aceitar, sublinhando a minha prioridade à Câmara e os valores da clarificação que alguns quiseram instrumentalmente pôr em causa. Nunca me deixei contaminar pelas minhas convicções pessoais; já foi comigo e neste mandato que o FCP passou a pagar a utilização do Estádio Jorge Sampaio, coisa que não acontecia antes. Se reparar, o FCP beneficiou dos maiores investimentos e cedências da Câmara nos mandatos anteriores e não tinha ninguém na SAD. Aprendi neste episódio que os piores malfeitores da democracia são os populistas plenos de hipocrisia. Quem age de forma honesta e de consciência tranquila estranha sempre esta demagogia.
Também a sua família, especialmente a sua mulher, acabou por ser arrastada para os jornais, sendo mesmo acusado, após uma notícia do PÚBLICO, de favorecimento e influência de poder relativamente ao aumento do salário da sua mulher. O que tem a dizer e que medidas está a tomar em relação ao assunto?
Isso também não foi uma polémica, foi um ataque vil do lado negro da política e da forma asquerosa de fazer oposição. Estamos num tempo em que se lança uma mentira, sabendo que é mentira, mas sabendo também que, depois de lançada, a mentira ganha vida. Mesmo depois de se provar a verdade, já foi feita mossa. É o tempo da pós-verdade, como lhe chamam alguns. Primeiro enxovalha-se uma pessoa honesta e, mesmo quando se vem posteriormente a provar a falsidade, já várias pessoas formularam um juízo negativo. São as novas formas de fazer política negra. Espero nunca chegar a esse ponto. Não vale tudo na política. A minha mulher trabalha no mesmo sítio desde 2006. E trabalhará. Não tenciono enriquecer na política, vivo do meu salário de professor universitário e, agora, de presidente de Câmara, aprendi a viver com pouco e não me deixo seduzir pelas lantejoulas do poder. A maldade que fizeram teve como consequência uma enorme vaga de solidariedade que me comoveu e que mostra que as pessoas estão atentas. Se queriam prejudicar-me, enganaram-se, escolheram o alvo errado e usaram uma pessoa que não merecia o achincalhe. Mas estamos neste tempo de oposição vale-tudo.
A atribuição da Medalha de Mérito Profissional, grau ouro, a Marco António Costa também foi alvo de grande controvérsia e críticas de várias partes. O que tem, ainda, a dizer sobre o assunto?
A mesquinhez não se comenta, constata-se. Ainda no final do anterior mandato, nas funções de vereador da oposição, votei uma proposta de homenagem ao Dr. Menezes. Agora fiz o mesmo. O respeito democrático sobrepõe-se às diferenças de ideias. Infelizmente, há muita gente a criticar o extremismo, mas que nunca poderá ter um canivete nas mãos! E enquanto se tratar de críticas mesquinhas e rancorosas, eu posso bem com o assunto.
Esta atribuição acabou também por criar outros “confrontos” nas redes sociais, nomeadamente, por parte de alguém que fez parte da sua equipa durante três anos e que foi, segundo o mesmo, despedido por críticas à escolha da personalidade a quem foi entregue a medalha. Nunca referiu nomes mas acabou por comentar o assunto na sua página de Facebook. Quer explicar melhor a sua versão ou esse assunto já está entregue aos tribunais também?
Julgo que me compete falar da gestão política e dos assuntos que importam para a gestão pública. Esse assunto será tratado nos tribunais, na componente criminal. Na componente ética, já não é uma questão que eu possa resolver, porque são coisas mais profundas. Infelizmente, às vezes temos azar nas companhias que nos calham. Acontece.
É bastante ativo nas redes sociais, seja a publicitar novos projetos como a comentar os mais variados assuntos. Considera que as redes sociais são, atualmente, a forma mais rápida de chegar aos eleitores?
As redes sociais são o espelho da sociedade: têm coisas boas e coisas más. Têm um potencial relevante de divulgação e de partilha e discussão, fazendo-nos aproximar das pessoas. Infelizmente, há quem as utilize como uma arma perigosa, ora da difusão da mentira (agora está na moda chamar-lhe “pós-verdade”…), ora na total banalização das ideias e das palavras. O papel que devemos assumir tem que ser muito informativo e pedagógico, usando as redes sociais de forma participada e correta, a única forma de evitarmos os maus exemplos, mesmo para os mais jovens.
“O concelho está hoje, sobretudo, noutro ciclo, num rumo diferente e com uma estrutura diferente”
Foi, recentemente, distinguido pelo AUDIÊNCIA com o Troféu Prestígio 2016. Que significado tem para si esta distinção?
Um enorme significado. Eu sei que não é bonito assumir o orgulho por homenagens ou condecorações. Não vivo disso. Mas não escondo que este troféu, juntamente com a valorização do Programa Gai@prende+, que venceu o prémio “Ideias e Projetos-2016”, me encheu de orgulho, ainda mais num momento muito difícil da minha vida. O Jornal AUDIÊNCIA mostrou coragem e atenção à realidade social. Hoje pode discutir-se muita coisa. Mas o trabalho com as escolas, com as crianças, os apoios sociais que temos em Gaia (e que não conheço em mais sítio nenhum) merece ser valorizado, não porque valoriza a Câmara, mas porque valoriza as escolas, os professores, as famílias, os auxiliares que aí trabalham e a rede de instituições sociais que partilham este projeto connosco.
Acha que Gaia está melhor neste momento que há quatro anos?
Por muito que lhe pareça pouco humilde, a verdade é que entendo que o concelho está hoje, sobretudo, noutro ciclo, num rumo diferente e com uma estrutura diferente. O ciclo passado foi muito assente nas infraestruturas e na obra. Isso é respeitável, foi, em alguns casos, essencial para a nossa qualidade de vida, mas gerou também muito desperdício e desorientação. O país tem assistido à emergência de um novo ciclo de autarcas, uma nova geração de políticas e de modelos de gestão, com clara relevância imaterial, pensado nas pessoas e apostando num modelo de investimento inteligente e sustentável. Esse foi o caminho que tentamos fazer e que continuará a ser feito, por um concelho com futuro e um país melhor.
Como vê o seu futuro político?
O meu futuro político é Vila Nova de Gaia, a minha terra e o meu concelho. De resto, não sou político de carreira, sou professor universitário. Estava muito feliz na Universidade e vim para a política, onde também estou muito feliz, com o sentido de serviço à minha terra, nunca com o sentido de carreira. Essa só acontece na Universidade.
Gostava de voltar à base, ou seja, à Junta de Freguesia?
A vida é feita de ciclos. Tenho muito orgulho em ter sido presidente de Junta, foi uma experiência pessoal e política incrível, mas cumpri os meus compromissos, saí de cabeça erguida, como sairei um dia da Câmara, e não vivo do passado. A minha convicção é que devemos viver os nossos ciclos com intensidade, fazer o bem, dar sempre o máximo de nós. E depois saber sair.
É muito “ajuizado” um professor universitário, com carreira consolidada, optar por desempenhar funções políticas autárquicas?
Talvez não pareça! Mas acho que sim. A política é uma atividade muito nobre, que tem sido desvirtuada por lógicas perversas, ligavas aos interesses, à corrupção, até mesmo à afirmação de vaidades e de carreiras políticas. Mas a minha convicção é que isso não é geral. Felizmente, temos milhares de autarcas de freguesia e de município que trabalham arduamente, que se empenham e dão parte da sua vida, sem nada em troca. É nisso que eu acredito: a política como meio para a mudança social, para a melhoria da vida das pessoas. Costumo dizer que vim para a política para tentar pôr em prática o que andei a investigar e a ensinar durante 17 anos na Universidade. E acho que é isso que os cidadãos querem: menos espalhafato, menos vaidade, mais dedicação e mais rigor, em nome do presente e do futuro sustentável do nosso país.
Que palavra utilizaria para descrever estes quatro anos na presidência da Câmara Municipal de Gaia?
A palavra “Dedicação”. Julgo que esta palavra, que foi o meu mote de campanha, sintetiza a forma empenhada e rigorosa como assumi estas funções e o envolvimento de todas as minhas energias para o trabalho autárquico.