O destaque desta edição vai naturalmente para a publicação da “solução de autor” do problema que constituiu a prova nº. 5 do Torneio Policiário’ 2017 e a respetiva tabela geral classificativa, que atenua ligeiramente o fosso existente entre o trio que lidera a competição e alguns dos restantes concorrentes, situação que se vinha acentuando etapa-a-etapa desde o problema inaugural.
A fechar, damos ainda conta da realização de um encontro de policiaristas de âmbito nacional ocorrido no passado dia 1 de julho, em Sintra, por ocasião da celebração do 25º. aniversário da secção “Policiário” do jornal Público, realizado sob a égide da Tertúlia Policiária da Liberdade, onde marcámos presença.
TORNEIO POLICIÁRIO’ 2017
Solução da Prova nº. 5
“Não há Nada para Ninguém”, de Detetive Jeremias
A desconfiança da tia Judite tem sido alimentada pela sua paixão por livros policiais, mas este interesse literário também a põe a par dos métodos e técnicas para assassinar sem deixar vestígios. A consciência do interesse dos sobrinhos – únicos legítimos herdeiros − e a sequência de alguns acidentes insólitos deixaram-na mais vigilante.
Embora pressentisse que apenas um dos sobrinhos seria responsável pelos atentados contra a sua vida, nunca conseguira reunir qualquer prova digna desse nome. Por isso, quando eles volteavam por perto nunca baixava a guarda, porque “Cautelas e caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém”.
A reação da tia Judite às prendas, com o telefonema para um seu conhecido na Policia Judiciária e a referência a análises toxicológicas, sugere que ela tinha fortes suspeitas de que um dos sobrinhos lhe ofereceu literalmente um “presente envenenado”.
Vejamos então sobre quem recaíram as suspeitas da velha senhora, analisando o presente de cada um dos sobrinhos, por ordem alfabética para não ferir suscetibilidades.
O ramo de Clara tinha um odor pouco habitual, sugerindo mesmo um veneno potente usado em diversas circunstâncias. No entanto, a forma como este atua inviabiliza qualquer possibilidade de um arranjo de flores perecíveis funcionar como arma do crime. Clara limitara-se a perfumar os caniços da prenda com uma fragância de amêndoa.
José Alberto levou como oferta um gelado que acabara de comprar. Apesar de o dia 15 de Agosto ser feriado nacional, no Porto há gelatarias abertas. O gelado poderia estar envenenado, mas a proposta de partilha feita por José Alberto coloca este sobrinho no rol dos inocentes, por motivos óbvios.
Rodrigo entregou à tia a caixa de bombons. A descrição da caixa e do seu conteúdo – o “requintado sortido” − e ainda a referência a “Ambrósio, apetecia-me tomar algo”, não deixam lugar a dúvidas quanto à marca dos bombons.
A afirmação de Rodrigo sobre a compra efetuada na véspera põe a pulga atrás da orelha da tia Judite, porque ela sabe bem que todos os produtos desta marca são retirados do mercado durante o Verão. Foi por isso que decidiu tirar tudo a limpo e meteu a polícia ao barulho. Judite pensou que o sobrinho poderia estar simplesmente a mentir sobre o dia de compra, ou então a situação seria mais grave e a caixa de bombons faria parte de mais um plano astucioso para a assassinar.
A minha convicção é que Rodrigo, que saiu de casa da tia com o rabinho a dar-a-dar, está neste momento com o dito entre as pernas, porque a análise toxicóloga foi positiva para um veneno letal e as perícias identificaram o autor da adulteração dos bombons.
CLASSIFICAÇÃO GERAL APÓS A QUINTA PROVA
1º. Detetive Jeremias: (57+11): 68 pontos;
2º. Menino Lucas (54+13): 67 pontos;
3º. Vimaranes: (54+12): 66 pontos;
4º. Rigor Mortis (42+15): 57 pontos;
5º. Detetive Bossiak (41+14): 55 pontos;
6ºs. Alex (42+10), Madame Eclética (42+10): 52 pontos;
8º. Inspetor Mucaba (41+10): 51 pontos;
9ºs. Bernie Leceiro (40+10), Ma(r)ta Hari (40+10) e Zé de Mafamude (40+10): 50 pontos;
12º. Haka Crimes (38+10): 48 pontos;
13º. Arc. Anjo (37+8): 45 pontos;
14º. Arnes (35+9): 44 pontos;
15ºs. Pena Cova (36+7) Inspetor Guimarães (35+8) e Solidário (34+9): 43 pontos;
18ºs. Charadista (35+7), Santinho da Ladeira (34+8) e Talismã (34+8): 42 pontos;
21º. Holmes (34+7), 41 pontos;
22º. Beira Rio (34+6): 40 pontos;
23º. Gomes (33+5): 38 pontos;
24º. Onaírda (8+0): 8 pontos.
25º. ANIVERSÁRIO DO PÚBLICO-POLICIÁRIO
A nossa secção esteve presente na reunião da Tertúlia Policiária da Liberdade realizada no passado dia 1 de julho, na Taverna dos Trovadores, em São Pedro de Sintra, para balanço do seu XIV Convívio Nacional. Nesta reunião, aberta a todo o universo policiário nacional, foi também aprovada uma Saudação pelo 25º. aniversário da secção PÚBLICO-Policiário, que transcrevemos:
“Foi há precisamente 25 anos que, no jornal Público, surgiu uma secção semanal denominada Policiário, dedicada aos amantes de enigmas policiais. Era dirigida por Luís Pessoa que, sem desfalecimentos, a tem continuado a orientar.
Não esquecendo que a nossa Tertúlia se formou de modo espontâneo sob a égide do Público-Policiário, bem podemos dizer que, de algum modo, somos seus filhos.
Com efeito, os desafios publicados e os respetivos torneios têm constituído o principal combustível da nossa ação, pois somos solucionistas, produtores e críticos assim como gozadores confessos dos prazeres que nos dá esta atividade lúdica, que compartilhamos em fraterna tertúlia e à qual gostamos sempre de acrescentar alguma coisa. E temos ainda o consolo adicional de tudo isto nos fazer bem à mente e ao corpo sem prejudicar quem quer que seja.
Por isso, julgamos ser suficiente esta prazenteira confissão para mostrar quão gratos nos sentimos em relação ao Luís Pessoa, tanto mais quanto sabemos não ter estado isento de sacrifícios e sobressaltos o empreendimento que iniciou a 1 de julho de 1992.
Estamos também certos de que há centenas e centenas de policiaristas que não se sentem menos agradecidos do que nós e que, por consequência, hoje celebram com igual júbilo a presente data.
Bem-Haja, Luís Pessoa.”