Para comemorar o 51º aniversário do Dia da Liberdade, a Junta de Freguesia de Rio Tinto promoveu inúmeras iniciativas culturais, que decorreram entre os passados dias 22 e 30 de abril. A tradicional sessão solene, que se realizou no Auditório do Centro Cultural desta localidade, a 24 de abril, foi um dos pontos altos das celebrações e culminou com a intervenção de todas as forças políticas com assento na Assembleia, que ressaltaram a importância desta data nunca ser esquecida.
A Junta de Freguesia de Rio Tinto promoveu várias iniciativas inseridas nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. No dia 22 de abril, a edilidade inaugurou a Exposição de Cartazes do 25 de Abril, que esteve patente no edifício sede até ao passado dia 30 desse mesmo mês.
Por outro lado, no dia 24, pelas 21h30, o Auditório do Centro Cultural de Rio Tinto recebeu a tradicional sessão solene, que contou com a presença de inúmeros representantes de entidades civis e militares, assim como com a intervenção das mais diversas forças políticas, com assento na Assembleia desta localidade.
Na ocasião, a cerimónia foi inaugurada com um momento de poesia protagonizado pelas alunas da Universidade Sénior de Rio Tinto, Maria Rosa Cunha e Maria Aurora Cruz, que antecedeu os discursos iniciados por Eugénio Saraiva, presidente da Assembleia de Freguesia de Rio Tinto, que usufruiu do momento para recordar que “faz precisamente amanhã 50 anos que se realizaram as primeiras eleições, livres e democráticas em Portugal, que foram um momento histórico que merece ser enaltecido”.
Afiançando que o 25 de Abril de 1974 “marcou, claramente, um ponto de viragem na história de Portugal”, o presidente da Assembleia de Freguesia de Rio Tinto reforçou que “nada está igual. Aqui devemos relevar, relevar bem, sem qualquer dúvida, o poder local e o seu papel que, através das Câmaras, das Juntas, tem sabido pôr ao serviço das pessoas e desempenhar este papel através do desenvolvimento integrado de todo o território”.
Seguiu-se o representante do Chega, Edison Pinheiro, que fez questão de mencionar que “a Revolução dos Cravos foi um feito extraordinário, sobretudo por ter sido feita com pouco sangue e muito simbolismo. Mas, hoje, depois de mais de 50 anos, é o nosso dever olhar para essa liberdade com os olhos bem abertos, porque a liberdade é um bem precioso, mas não está isenta de ser mal utilizada. É preciso ter coragem para dizer: houve quem não soubesse usar a liberdade conquistada. Com o tempo, o que era para ser um sistema de justiça, igualdade e transparência, transformou-se, em muitos casos, num palco de corrupção, compadrio e interesses privados disfarçados de interesse público. A democracia abriu um espaço para a liberdade, mas também para a impunidade. A classe política foi, demasiadas vezes, substituindo o ideal por oportunismo e a corrupção infiltrou-se nas instituições, minando a confiança do povo e o próprio sistema que tanto custou a conquistar”.
Já João Pedro Silva, do Bloco de Esquerda, realçou que “há 50 anos foram as primeiras eleições democráticas, após quase meio século de regime fascista. O ato eleitoral de 25 de Abril de 1975, no qual concorreram 14 forças políticas, teve uma extraordinária participação da população. Em 1973, os inscritos nos cadernos eleitorais do Governo de Caetano não chegavam a 1,8 milhões pessoas. Mas, em 1975, os eleitores inscritos eram quase 6 milhões, e mais de 91% expressaram o seu voto, elegendo livremente os primeiros deputados para a Assembleia Constituinte”.
Por sua vez, Eduarda Ferreira, representante do CDS-PP, usufruiu do momento para salientar que “a Revolução dos Cravos trouxe-nos a liberdade e a democracia, ideais pelos quais tantos lutaram, sofreram e, em muitos casos, deram as suas vidas. (…) Para nós, direita democrática, o 25 de Abril não é apenas uma dada de libertação, mas também uma oportunidade de refletir sobre os pilares que sustentam uma sociedade verdadeiramente próspera. A liberdade não é um fim em si mesma. Ela exige responsabilidade, respeito pelo Estado, o direito e a garantia de que o poder emana do povo, mas é exercido para o bem comum. Devemos destacar a importância de combater extremismos e preservar os valores democráticos conquistados com a Revolução dos Cravos”.
Também Adérito Machado, da CDU, começou por “endereçar saudações de liberdade cuja conquista estamos a evocar neste 51º aniversário do 25 de Abril. Foi um dia e uma data que nos devolveu a liberdade após 48 anos que durou o regime de má memória para o povo português. (…) Foi o início da liberdade e das eleições livres. Faz precisamente amanhã, 50 anos, que votámos pela primeira vez para eleger os nossos representantes na Assembleia Constituinte. (…) Com o 25 de Abril e a Revolução, as autarquias começaram a ser geridas por pessoas livres e colocadas nos seus cargos através do bloco popular. Comemorar Abril é celebrar e afirmar o poder local democrático, uma das suas conquistas. Comemorar Abril é lutar pela defesa dos nossos direitos”.
Posteriormente, o representante do PSD, José Pedro Assunção, reiterou que “há datas que não pertencem apenas à história. São marcos gravados na memória coletiva de um povo. O 25 de Abril é uma dessas datas. É o som da liberdade. É o perfume dos cravos erguidos nas ruas. É o grito de um povo que durante décadas foi silenciado e finalmente se fez ouvir. Hoje celebramos um dos dias mais significativos da nossa história, o 25 de Abril de 1974. Uma revolução sem tiros, mas com coragem. Um momento que pôs fim a quase meio século de ditadura e abriu caminho à democracia, à justiça, à igualdade e à liberdade. Celebramos hoje não apenas a queda de um regime, mas o nascimento de um novo Portugal. Um Portugal que passou a pertencer verdadeiramente aos seus cidadãos. Mas, o 25 de Abril não é apenas uma memória, é o presente, é a responsabilidade, é a ação e é por isso que o 25 de Abril deve ser apenas recordado com solidariedade, deve ser vivido com responsabilidade, porque a liberdade que conquistamos é um bem precioso e nunca garantido e cabe-nos a nós, portanto, não só preservá-la, mas honrá-la todos os dias”.
Por outro lado, Isa Pereira, do PS, garantiu que “a liberdade conquistada pelos capitães de Abril é agora defendida por cada um de nós e é sobretudo às novas gerações que cabe a responsabilidade de manter viva esta luta, porque mesmo sem termos vivido no regime da ditadura, sabemos o valor de viver em liberdade. Temos a responsabilidade de continuar a revolução, não com armas, mas com ideias, com solidariedade, com justiça e com políticas que promovam a coesão, a dignidade e o progresso. Por tudo isto, reafirmamos hoje o nosso compromisso com os valores de Abril e afirmarmos que a democracia vale a pena e que a liberdade vale a pena”.
A Associação 25 de Abril também fez questão de transmitir uma mensagem aos presentes, que foi lida pela vogal da Junta de Freguesia de Rio Tinto, Frederica Armada, asseverando que “celebramos com orgulho os 51 anos da Revolução dos Cravos, marco fundamental da história de Portugal, que nos trouxe a liberdade, a paz, a democracia e o fim de décadas de regime ditatorial. Este dia lembra e homenageia a vitória dos que lutaram pela dignidade humana e pela justiça social, contra os usurpadores do poder que, em Portugal, oprimiram e obscureceram o povo. (…) Não podemos fechar os olhos e ignorar os perigos que voltam a assolar o mundo onde nos integramos, com novas regras e com o regresso de forças detentoras de soluções que, até em sucesso, nos lançarão de novo em situações de ditadura, opressoras e reguladoras dos mais elementares direitos humanos”.
Seguidamente, Aníbal Lira, presidente da Assembleia Municipal de Gondomar, tomou a palavra, frisando que “hoje, 51 anos depois da Revolução dos Cravos, estamos perante por um país diferente, para melhor, e é mesmo muito melhor, onde a miséria deu lugar ao bem-estar, onde o silêncio deu lugar à alegria, onde a tristeza deu lugar à liberdade, mas a consolidação destas ideias não é fácil, porque continuamos a assistir a alguma miséria, a algum mal-estar social, ao avanço da extrema-direita, da xenofobia, do separatismo, do racismo, de tudo o que mexe com os direitos humanos”.
Por conseguinte, Nuno Fonseca, presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, dirigiu-se aos presentes, reforçando que “o 25 de Abril não é apenas uma data no calendário, é a base de tudo aquilo em que acreditamos”.
Abril é, por isso, um estado de espírito. Abril é sonho, é combate, é caminho. É um momento que nos deu a liberdade, que nos deu a palavra, a escolha, a igualdade, a esperança. Mas, a liberdade não se conquista uma vez e fica feita. A liberdade conquista-se todos os dias e defende-se todos os dias. (…) Hoje não vivemos na ditadura de então. Mas, isso não quer dizer que o espírito da ditadura tenha desaparecido. Está à espreita. Esconde-se em discursos que parecem inofensivos, em ideias que dizem que não é bem assim. Em promessas de ordem, de estabilidade, de segurança, que na verdade escondem a vontade de controlar, de dividir e de excluir. Dizem-nos que precisamos de menos direitos, menos liberdade, menos igualdade. Como se o menos fizesse de nós um país melhor. Mas, nós sabemos que o melhor é sempre mais. Mais liberdade, mais igualdade, mais fraternidade, mais solidariedade e por isso é que temos de continuar a lutar”.
Assegurando que “nós sabemos quem somos. Sabemos o que nos move. Sabemos a nossa história”, o edil enalteceu que “a nossa identidade é feita de participação, de coragem, de comunidade. É assim em Rio Tinto. Aqui, não vivemos com medo, não incutimos medo e não nos deixamos enganar com cânticos de sereia. Aqui a democracia é uma coisa séria. Aqui participar importa, votar importa, pensar importa. Rio Tinto somos todos nós. É o meu último 25 de Abril, enquanto presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto. Depois de 12 anos, despeço-me com a consciência tranquila, com o sentido de ver cumprido, com a certeza de que dei tudo o que tinha. Nunca fiz de conta, nunca me calei quando era preciso falar, nunca deixei de lutar por Abril. Abril esteve sempre presente em todas as decisões que tomámos. A democracia que vivemos em Rio Tinto e que vivemos na Junta de Freguesia é real, não é de fachada e é feita de um trabalho sério, de escolhas difíceis, e por isso é que ela é verdadeira. É feita para as pessoas. Espero de coração que quem vier depois de mim saiba continuar este caminho, que tenha a coragem para dizer não aos populismos fáceis. Que saiba ouvir, decidir e agir sempre em conformidade. Desejo que Rio Tinto e os riotintenses continuem de pé, com voz, com coragem e de punho fechado, se for preciso, porque só assim é que vale a pena. Só assim se honra Abril. A liberdade não se esgota, a liberdade não se arquiva, nem se esquece. Abril é todos os dias. Abril é feito por todos. Abril e Rio Tinto somos todos nós”.
Por fim, foi a vez de Luís Filipe Araújo, presidente da Câmara Municipal de Gondomar, proferir o seu discurso, sublinhando que nesta sessão solene, onde se celebra o 25 de Abril “é importante sublinhar sempre o legado que nos foi entregue naquela madrugada que todos aguardavam”.
Segundo o autarca, “o 25 de Abril foi realmente extraordinário, para o poder local. Foi assim com certeza em muitas outras matérias, como já aqui foi referido, foi assim na educação, na justiça, na saúde, mas no poder local foi realmente extraordinário o 25 de Abril. (…) Volvido mais de meio século tem de haver lugar para recordarmos esse legado que o 25 de Abril nos deixou e, sobretudo, para não deixar esquecido à memória e para proclamarmo-nos sempre resistentes da liberdade e da democracia. Especialmente aqui, no poder local, próximo do cidadão. (…) Nestes que são também tempos de incerteza e de alguma descrença e dúvida, é preciso resistir pela liberdade e pela democracia, valores que não são apenas figuras ornamentais do nosso regime, não são ornamentos, são efetivamente o seu principal alicerce. Sejamos sempre resistentes da liberdade e da democracia”.
A sessão solene comemorativa do 51º aniversário do 25 de Abril, em Rio Tinto, terminou com um momento musical protagonizado pelo Grupo Fado Nostrum. Contudo, as celebrações da Revolução dos Cravos continuaram no dia seguinte, com a tradicional cerimónia do hastear das bandeiras, seguindo-se a inauguração do Monumento ao 25 de Abril e o Concerto da Liberdade.