Foi Jean Cocteau quem escreveu em 1962 a 1ª mensagem para celebrar o primeiro Dia Mundial do Teatro. Se iniciava assim nessa mensagem do Instituto Internacional do Teatro (IIT), da Organização Mundial das Artes Performativas, consagrada pela organização das Nações Unidas, para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), uma tradição que anualmente entrega a uma figura do mundo teatral que reflete sobre as suas origens, criatividade, longevidade histórica e atualidade na sociedade humana.
O Instituto Internacional do Teatro/ITT foi criado em 1948, três anos após o termo da II Guerra Mundial, por iniciativa do secretário-geral da UNESCO Julian Huxley, com a colaboração do escritor britânico JB Priestly, com o objetivo de haver uma entidade, de promoção direta das artes performativas, alinhada com os objetivos da UNESCO. – Por que em 27 de março? Porque nesse dia começava a temporada de um lendário teatro parisiense, com um nome particularmente simbólico: o Teatro das Nações (Théâtre des Nations).
Este ano a atriz britânica Helen Mirren elogia a “resiliência dos profissionais das artes e a capacidade de sobreviverem à pandemia com sagacidade e coragem”, na sua mensagem.”Este tem sido um momento muito difícil para o espetáculo ao vivo, e muitos artistas, técnicos e artesãos e artesãs têm lutado, numa profissão já de si plena de insegurança. Talvez essa omnipresente insegurança os tenha tornado mais aptos a sobreviver a esta pandemia, com sagacidade e coragem”.”Nestas novas circunstâncias a imaginação dos profissionais das artes “já se traduziu em inventivas, divertidas e comoventes formas de comunicar, graças, claro, em larga medida, à internet”.”Os seres humanos contam histórias uns aos outros desde que estão no planeta.
A bela cultura do teatro viverá enquanto nós ficarmos aqui. O impulso criativo de escritores, desenhadores, bailarinos, cantores, atores, músicos, encenadores, nunca será sufocado e, no futuro muito próximo, ele florescerá com uma nova energia e um novo entendimento sobre o mundo que todos partilhamos”, conclui Helen Mirren, garantindo que mal pode esperar por esse momento. (A versão portuguesa da mensagem foi feita pelo Teatro do Noroeste — Centro Dramático de Viana, em Viana do Castelo) Helen Mirren, um dos mais celebrados nomes dos palcos britânicos, vencedora do Óscar de Melhor Atriz pelo desempenho em “The Queen”, de Stephen Frears, é a 12.ª mulher a assinar a mensagem, nos 59 anos de celebração do Dia Mundial do Teatro, desde a sua instituição pela UNESCO, em 1962.
Em 1967, Helene Weigel, a primeira mulher a escrever a mensagem, usava as palavras de seu marido o dramaturgo Bertolt Brecht como um aviso: “A arte deve tomar uma decisão nesta era de decisões. Ela pode ser instrumento dos que decidem destinos (…) ou estar ao lado do povo e colocar o destino nas suas mãos (…). Pode aumentar a ignorância ou o conhecimento (…), afirmar a sua força, ou atrair as forças que a conduzem à destruição”. “O Dia Mundial do Teatro assinala o momento da impressionante união entre o singular e o plural, o objetivo e o subjetivo, o consciente e o inconsciente, e mostrará ao mundo as criaturas extraordinárias que essa união produziu. Grande parte das divergências que existem no mundo se deve ao estranhamento de espíritos pela barreira do idioma: o enorme e complexo mecanismo do teatro foi estabelecido justamente para superar essas divergências e essa barreira ao mesmo tempo”. (Jean Cocteau-1962)
Aproveito de lembrar neste fragmento um homem exemplar, poeta, artista plástico dramaturgo e cineasta. Um dos meus autores prediletos pela diversidade e grandiosidade da sua obra. Entre os muitos temas que trabalhou na poesia e no cinema se encontra um dos seus temas centrais e mais amados; o mito de Orfeu, ao qual dedica uma trilogia composta pelo média-metragem O sangue de um poeta (1929) e pelos longas Orfeu (1950) e o Testamento de Orfeu (1959), “a trilogia de Cocteau é protagonizada por artistas que transitam por diferentes dimensões, onde se aproximam da morte e percorrem os rumos das suas produções artísticas.(IMAGENS DE ORFEU NO CINEMA DE JEAN COCTEAU- UFU- Ava Silva-2018) – Poeta cineasta, cineasta poeta, explorando constantemente uma linguagem ambígua de cinema poesia na aceção de um outro cineasta poeta Pier Paolo Pasolini, ele nos deixou, com o seu testamento cinematográfico uma das mais belas versões adaptadas ao cinema de A Bela e O Monstro (1964) , famoso conto de Leprince de Beaumont, segundo histórias tradicionais de França. Cocteau recria um ambiente fantasmagórico do palácio num sentido antagónico ao ambiente bucólico da aldeia, numa encenação de fantasia.