BEM-ESTAR ANIMAL É UMA DAS PREOCUPAÇÕES ATUAIS DA ORGANIZAÇÃO DAS CAVALHADAS

Bem-estar animal e excesso de participantes são duas das preocupações atuais para quem organiza as já conhecidas Cavalhadas de São Pedro, inseridas nas Festas de São Pedro da Ribeira Seca. Em entrevista ao AUDIÊNCIA, João Dâmaso Moniz, presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, fala sobre a importância deste evento para a freguesia e para o município, bem como sobre as potencialidades da Ribeira Seca.

Qual é que é a relevância das Cavalhadas no contexto social do município ribeiragrandense?
Este ano é um ano realmente importante porque as festividades de São Pedro, que são no dia 29 de junho, vão ser celebradas no domingo. Sendo celebradas no domingo, a procissão sai à rua.
Em conversações com a Câmara Municipal da Ribeira Grande, conseguimos congregar estas duas festividades, ou seja, as festas da cidade e as festas de São Pedro. Este ano vamos concentrar ambas as festas na Ribeira Seca, o que normalmente não acontece.
Efetivamente, isto dá-nos outra responsabilidade. À semelhança de anos anteriores teremos as tradicionais cavalhadas de São Pedro no dia 29 e também a noite de marchas que contará, à partida, com 11 grupos no dia 28 de junho. Como nos anos anteriores, farão um percurso pelas principais artérias da Ribeira Seca. A par disso, teremos a distribuição das tradicionais alampadas de São Pedro junto das pessoas que colaboram com as festas. Recentemente, houve também a Ceia de Criadores e a arrematação, para angariar fundos para a realização das festas.
De forma muito geral, penso que a Ribeira Seca está a postos para receber mais uma vez as festividades de São Pedro e também as da cidade da Ribeira Grande.

Qual a relevância da participação da Cooperativa Ponte Norte nestas festividades?

A Cooperativa Ponte Norte é a entidade responsável pela organização das Cavalhadas de São Pedro. Esta cooperação é essencial porque é através da Ponte Norte, e com a participação de uma pessoa que parece-me de todo o interesse salientar, o senhor Fernando Maré, um impulsionador das Cavalhadas de São Pedro, que se consegue organizar o evento. Devo também salientar que há uns anos, tudo isto ficava a cargo dos mordomos da festa de São Pedro. Ao longo do tempo decidiu-se separar: as Cavalhadas são organizadas pela Cooperativa Ponte Norte e as marchas de São Pedro também são organizadas praticamente pela Câmara Municipal da Ribeira Grande. Isto para dizer que a Cooperativa Ponte Norte é essencial nesta organização. Estamos a falar de uma festividade de muitos anos. Normalmente participam 100 cavaleiros, e isso requer uma logística e organização muito grande, para que tudo corra da melhor forma.

Qual é que é o futuro das Cavalhadas de São Pedro?

Estou em crer que no decorrer dos próximos anos as Cavalhadas de São Pedro não irão sofrer grandes transformações. Devo salientar que inicialmente havia um regulamento muito rígido, nomeadamente em termos de participação, já que apenas participavam homens. Atualmente as mulheres já podem participar, desde que vão devidamente ornamentadas, ou seja, disfarçadas de homem usando uma barba. Há aqui uma tendência de cumprir aquilo que é a tradição, mas já é permitida a participação de senhoras. Ultimamente a preocupação também tem sido o bem-estar animal, de forma a que façam o percurso (e saliento que o percurso é severo porque os animais não estão habituados a andar muitos quilómetros por dia, por estarem todo o ano em pastagem) da melhor forma possível. Além disto, estou em crer que o número de participantes nos próximos anos será limitado. Isto porque se as festividades continuam a ter cada vez mais participação de cavaleiros, vai haver um ano em que não será possível cumprir a tradição por o número de participantes ser demasiado grande. Obviamente que quem organiza não quer fazer isto, mas poderá haver uma limitação em termos de participantes.

Até porque a dicotomia entre cavaleiro e cavalo, nalguns casos não é muito pacífica, o que leva a que alguns não estejam devidamente preparados para participar.

Exatamente. Até porque, como referi, a maior parte dos animais estão em pastagem todo o ano e só saem à rua naquela altura. A Ribeira Seca limita-se a ser as Cavalhadas do concelho? Não. Isso é uma visão bastante redutora daquelas que são as festividades e também as potencialidades da freguesia.

Em primeiro lugar devido à sua localização geográfica. É a entrada da cidade da Ribeira Grande a quem vem do lado poente e, devo salientar, de Ponta Delgada. Em segundo lugar, também temos outras festividades que começam a ter alguma importância, como as marchas de São Pedro. Temos também as Romarias, em que a Ribeira Seca participa com um rancho bastante interessante, e também temos as Festas do Sagrado Coração de Jesus no mês de agosto.
Para além do mais, aqui temos uma praia que acaba por ser o ‘ex-libris’ para a prática de desportos náuticos [praia de Santa Bárbara], não só na Ribeira Grande, mas também na ilha. Além disso, na zona poente da freguesia, irão surgir imensos investimentos turísticos que farão da Ribeira Seca, no meu entender, uma das freguesias mais desenvolvidas do concelho da Ribeira Grande.

É uma das freguesias com maior potencial de crescimento?
Acredito que é uma das freguesias com mais potencialidade, não só em termos económicos mas também de dimensão, porque existem muitos terrenos agrícolas. Com estes investimentos, a Ribeira Seca irá aproximar-se da vila de Rabo de Peixe e esta é uma tendência natural de uma freguesia que é limítrofe da cidade da Ribeira Grande.
[Enquanto que] as freguesias da Conceição ou da Matriz não têm muito mais potencial para crescer porque já estão limitadas pelas outras freguesias, nós, devido à existência desses terrenos agrícolas, temos essa facilidade.