CHILE- 11 DE SETEMBRO DE 1973

Na RTP (sempre na RTP, uma vez mais!) passou e esta ainda possível de ver e ser revista na RTP-Play, uma das últimas obras do cineasta italiano Nanni Moretti , Santiago-Itália filme de 2018 .

Oportunamente a emissão lembra assim os 48 anos passados do Golpe Militar no Chile, que derrubou o governo legitimo de Salvador Allende para suplantar-lho por uma das mais odiosas dictaduras militares dos últimos anos em América latina.  Com inúmeras entrevistas a cineastas, intelectuais, empresários, homens e mulheres da rua, Moretti consegue desenhar uma paisagem humana, social e política do Chile dos três (1970/73) anos do governo de Allende desde a sua vitória nas urnas até o momento derradeiro do bombardeamento do palácio de La Moneda pela aviação militar chilena.

A seguir virão os depoimentos de cidadãos chilenos perseguidos e torturados pelo regime que instaurou um sistema policial legitimado através da perseguição detenção e desaparecimento das vítimas conseguido no meio do silêncio e da noite com voos nocturnos sobre o Pacífico no qual as vítimas eram lançadas ao mar para desaparecerem e o rebentamento/explosão dos corpos no deserto de Atacama com o mesmo objectivo. Entre as muitas entrevistas também a um militar retirado, Guillermo Marin, que declara, ainda hoje, no presente, desconhecer que em Chile se torturava e se faziam prisões cujo destino era simplesmente o desaparecimento final.

A memória dos militares chilenos parece ter apagado os anos da ditadura e o comportamento dos seus responsáveis nas fileiras do exército, aviação, marinha e policia /carabineiros de Chile! Entre as muitas declarações, todas elas, embargadas e interrompidas pela emoção; a recordação do Cardeal Raúl Silva Henriquez (el Cardenal del Pueblo) e da Vicaria da Solidariedad, organismo criado pela igreja chilena para defesa dos Direitos Humanos no tempo da dictadura.  Figura de renome internacional, e considerado por todos como uma das figuras mais proeminentes da igreja em Chile, o Cardeal Silva Henriques, atravessou com bravura e dignidade exemplar todo o período de repressão demostrando com coragem como a igreja podia fazer frente aos militares num período tao amargo da nossa história.

Curiosamente Silva Henriques foi afastado pelo Papa João Paulo II quando este fez 75 anos! Quarenta e cinco anos atrás, foi criado no Chile o Vicariato da Solidariedade (“Vicaría de la Solidaridad”), e seu primeiro Secretário executivo, o advogado Javier Luis Egaña, recorda o difícil trabalho de defesa dos direitos humanos realizado pela Igreja de Santiago e o Card. Raúl Silva Henríquez, durante o governo militar. O advogado Egaña tinha apenas 32 anos quando o Card. Silva Henríquez e Padre Cristián Precht lhe pediram, em fins de 1975, que assumisse o cargo de Secretário do Vicariato da Solidariedade, que teve como objetivo principal defender o direito à vida em um cenário de tremenda repressão e violência. Egaña desempenhou o cargo até 1981. Seu testemunho, enviado à Fides (Órgão de Informação das Pontifícias Obras Missionárias desde 1927) pela arquidiocese de Santiago, assinala, além do aniversário, também a importância atual deste organismo.“Tudo nasce sob a inspiração da parábola do Bom Samaritano. Nosso objetivo era fornecer assistência a quem precisava, independentemente de sua pertença política, sexo ou religião. “Atualmente, desde 1992, o arquivo está sendo digitalizado, está se aperfeiçoando a classificação e há um intenso trabalho com os tribunais, que nos consultam para os processos que continuam a ser abertos. Existe muita atividade de pesquisa e de ensinamento, estudantes universitárias que elaboram suas teses sobre este tema. Algumas escolas vêm aqui para entender o que aconteceu no Chile com a violação dos direitos humanos durante a ditadura. Existe uma atividade permanente para manter em vida um patrimônio que foi construído graças ao esforço de muitas pessoas”, conclui o advogado.A “Vicaría de la Solidaridad” conta hoje mais de 85.000 documentos sobre violações de direitos humanos no país, de 1973 a 1990: processos em tribunais, documentos judiciários, apelos e descrições de torturas. (CE) (Agência Fides, 21/01/2016)