DIA DO TRABALHADOR

Celebrado em todo o mundo, o 1º de Maio em Portugal realizou-se este ano sob o lema «Mais salários, mais direitos, melhores pensões», preocupações que se encontram no dia a dia  da vida de quem trabalha, mas também de quem já se encontra na reforma, ou seja, os trabalhadores têm a consciência de que para garantir uma vida digna, é forçoso, é urgente, valorizar o seu trabalho.

Nos tempos difíceis que vivemos com aumento brutal do custo de vida, verifica-se que o poder de compra retirado a quem trabalha contrasta com o aumento dos lucros atingidos pelo grande capital, cujos representantes tentaram  e tentam justificar a impossibilidade de pagar melhores salários com a pandemia ontem e agora com a guerra, prosseguindo o ataque aos direitos e ao aumento da exploração.

No entanto, esta situação pode ser invertida por parte do governo e da maioria que o suporta se existir vontade política para fixar preços máximos dos bens e serviços de primeira necessidade, para efectiva cobrança de taxas aos lucros, para defesa intransigente dos Serviços Públicos e para garantir o direito à habitação.

Não nos surpreende, pois, que os valores do 25 de Abril se projectem em Maio na grandiosa jornada de luta realizada com o apoio do Movimento Sindical Unitário identificado na CGTP, abrangendo empresas, outros locais de trabalho e sectores que reclamam outra política, patriótica e de esquerda, que possua como objectivo central a valorização do trabalho e dos trabalhadores, condição essencial para a construção de um Portugal com futuro, economicamente mais desenvolvido e com mais justiça social.

Historicamente, o dia do trabalhador e a sua comemoração não nasceram por mero acaso, mas sim após dura luta que teve os primórdios nos célebres acontecimentos de Chicago em que os sindicatos se empenharam em 1 de Maio na campanha da limitação da jornada de trabalho, que chegava às dezaseis horas,  para oito horas, campanha iniciada com uma greve geral que teve enorme adesão, envolvendo mais de 350 mil trabalhadores em 1886.

Ainda em Chicago e numa manifestação realizada em 3 de Maio, grevistas da fábrica McCormick sairam à rua em perseguição de indivíduos contratados pela empresa para furar a greve, mas são recebidos por detetives da Agência Pinkerton e policias armados de espingardas, resultando daqui um confronto com três trabalhadores mortos.

No dia seguinte, realizou-se uma marcha de protesto e à noite, após a multidão se ter dispersado na Haymarket Square, restaram cerca de duzentos manifestantes e mais ou menos o mesmo número de policias e foi então que explodiu uma bomba perto dos policias, matando um deles e sete outros foram mortos no confronto que se seguiu.

Em consequência desses acontecimentos, os sindicalistas Albert Parsons, Adolph Fischer, George Engel, August Spies e Louis Lingg, foram condenados à forca, apesar da inexistência de provas; Louis Lingg cometeu suicídio na prisão, ingerindo uma cápsula explosiva e os outros quatro foram enforcados em 11 de novembro de 1887, dia que ficou conhecido como Black Friday.

Em 1893 eles foram inocentados e reabilitados pelo governador de Illinois, que confirmou ter sido o chefe da polícia quem organizara tudo, inclusive encomendando o atentado para justificar a repressão que surgiu a seguir.

Em 23 de Abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de 8 horas, proclamando feriado o dia 1 de Maio daquele ano e em 1920 a então União Soviética adoptou o 1 de Maio como feriado nacional, sendo seguida por muitos outros países.

As lutas e manifestações russas inspiraram artistas de todo o mundo que tinham o socialismo como ideologia e entre eles destaca-se o artista mexicano Diego Rivera, o qual conseguiu expressar sua admiração ao passado da luta dos trabalhadores em uma de suas obras que retrata a Manifestação de Primeiro de Maio em Moscou.

Até aos dias de hoje, os governos dos Estados Unidos negam-se a reconhecer a data de 1 de Maio como o Dia do Trabalhador, comemorando-a sempre na primeira segunda-feira de Setembro, no Japão, o Dia de Ação de Graças ao Trabalhador é celebrado em 23 de Novembro, na Austrália, o dia é comemorado sempre na primeira ou segunda-feira de Março e, em algumas regiões, na primeira segunda-feira de Outubro, alterações que também acontecem no Canadá e na Nova Zelândia.

Em Portugal e como sabemos, só a partir de Maio de 1974, após a Revolução do 25 de Abril,   é que se voltou a comemorar livremente o Primeiro de Maio, data que passou a ser considerada como feriado nacional, contrariamente ao que acontecia no fascismo, em que a comemoração era reprimida pelas polícias.

Outros tempos, outras virtudes.