NARCISO IBAÑEZ SERRADOR – O CRIADOR DE UM, DOIS TRÊS…

No passado dia 7 de junho morreu em Madrid Narciso Ibañez Serrador (apelidado carinhosamente Chico) aos 83 anos, desaparece;” um narrador totémico, um mágico ilusionista da imagem, um criador que apostou por uma caligrafia cinematográfica num tempo de televisão a preto e branco física e moralmente”, desta forma se referia ao criador a imprensa espanhola. Foi um iniciador do cinema de terror em Espanha, quando aquele género cinematográfico parecia ser exclusivamente uma prática do cinema norte-americano, a ele se devem os êxitos de A residência (1969) e Quem pode matar uma criança (1976). Lembro-me de ver este último que nalguns países passou com o título de Os Revoltados do ano 2000, no desaparecido cinema FOCO, quando a cidade do Porto era uma cidade cinematográfica!

Na televisão espanhola/TVE, quando Espanha tinha 37 milhões de habitantes o seu concurso Um, dois, três (o famoso da bota Botilde) alcançou um rating de 24 milhões de espectadores. Sua primeira serie, na televisão argentina, foi Obras maestras del terror, que o levaram a abandonar o teatro. Ainda no Chile assisti a alguns episódios da serie que criou para a TVE em 1963 adaptando contos clássicos para Estúdio 3, sob o título de Historias para não dormir, foram três temporadas de relatos de terror, apresentadas no estilo de Alfred Hitchcock. Foi no ano de 1972, partiu  Un, dos, tres… responda otra vez.

A versão original espanhola; “os programas aconteciam pensando naquilo que não havia, que não existia. Assim o programa tinha de tudo um pouco, porque naquele tempo em Espanha no havia muita coisa. Era fácil, e o melhor que tinha o programa era que tudo era imprevisível”. Em Portugal foi considerado o concurso de todos os concursos, e aquele que nunca poderá ser substituído

Adaptado de um formato espanhol, estreou na RTP em 1984 e teve mais de 220 emissões até 1998. Carlos Cruz foi o apresentador principal mas António Sala também esteve à frente do projeto em 1994 e 1995. Em 2004 houve um remake, desta vez com Teresa Guilherme. Em Portugal era necessário, preencher e enviar os cupões para participar no concurso. Cada programa começava com três pares, com jogos de palavras que tinham tempo limite e permitiam que apenas um casal passasse à fase final. 

O prémio podia ser um carro, um cheque e até um apartamento. Mas havia também quem fosse para casa com camiões de areia ou então com a Bota Botilde, a mascote mais mítica de sempre. Cada emissão tinha um tema diferente e os cenários envolviam uma grande produção, assim como coordenação com os bailarinos, convidados e humoristas que faziam aparições esporádicas. Cada um entregava ao par concorrente um objeto e um cartão com uma lengalenga que escondia uma pista. Em cima da mesa ficavam três objetos, que os participantes tinham de ir trocando. No final restava apenas um, correspondente a um prémio.

Até essa fase era sempre possível recusar o prémio e aceitar o dinheiro que o apresentador ia oferecendo. “Um, dois, três, diga lá outra vez!” (in NIT.pt 2016). Pelo programa passaram humoristas como Herman José e as suas famosas rábulas destrutivas, também na versão portuguesa participou um dos actores mais queridos do nosso país, Carlos Miguel, que ficou extremamente popular interpretando diversas personagens no programa 1,2,3 entre 1984 e 1985. Conhecido como o Fininho, aparecia a interromper a moderação de Carlos Cruz, criando momentos bem-humorados e deixando todos bem-dispostos.

A emissão era aos serões das segundas-feiras, durante duas horas e 15 minutos, com cenários de António Casimiro (na primeira edição). O programa foi gravado em locais emblemáticos de Lisboa, como o Teatro Luiz e o Coliseu dos Recreios. Uma nova edição em 2004 produzida e apresentada por Teresa Guilherme manteve uma estrutura semelhante às edições anteriores.