Filipe Silva Lopes, presidente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo, falou, em exclusivo ao AUDIÊNCIA, sobre o regresso do ritmo normal de atividades, em 2022. Além de se voltarem a realizar eventos como o Festival da Cereja e a Festa do Caneco, a Academia Sénior também voltou a funcionar em pleno, mas, o executivo foi mais longe e adicionou dois novos projetos ao role: o Duatlo Cross e a União dos Sonhos. O tema da desagregação de freguesias também esteve em alta, durante o ano transato, tendo mesmo chegado, no caso de Pedroso e Seixezelo, à consulta pública, mas o autarca continua a defender que a desagregação é um erro, no caso destes territórios. A Noite Branca de Pedroso e Seixezelo e o Centro de Saúde dos Carvalhos são os grandes projetos de Filipe Silva Lopes até ao final do mandato e o edil diz que sai sem arrependimentos.
Depois de dois anos em que tivemos de conviver com a pandemia da Covid-19 e as suas restrições, 2022 foi um ano de retorno à normalidade. Como foi vivido em Pedroso e Seixezelo? O que foi mais difícil?
Felizmente as coisas voltaram à normalidade, e ainda bem. Depois de dois anos a 30 e 50%, é sempre bom regressar, ainda por cima numa freguesia onde tínhamos um conjunto de dinâmicas, quer a Junta de Freguesia, quer as instituições. Naturalmente, quando estamos parados, a máquina arrefece e quando se retoma, a todo o gás, é mais difícil do que num período normal de funcionamento. Felizmente as coisas regressaram tranquilamente, quer a Petrus Run, quer os festivais, quer as atividades das coletividades. Não senti, assim, nenhuma grande dificuldade, numa visão muito pessoal da Junta, a não ser algumas rotinas que foram quebradas e que tivemos de retomar. Na parte das coletividades, felizmente também, os três ranchos iniciaram os ensaios, iniciaram as atividades, por isso, não assistimos a nenhuma coletividade que tenha parado ou que tenha tido muita dificuldade no arranque e acho que, dentro da normalidade que foram estes dois anos da nossa vida, o ano de 2022 decorreu de forma natural, com uma ou outra dificuldade, mas nada de relevante, e acho que as coisas se desenvolveram naturalmente.
O presidente falou a nível de organização, mas, e no que diz respeito à participação das pessoas?
Eu dou o exemplo da Academia Sénior. Nós, na época pré-Covid, tínhamos entre os 410 e os 420 alunos e, no final de 2022, tínhamos cerca de 400. Nos festivais a mesma coisa, aliás, até sentimos o efeito contrário, o que também era expectável, depois de dois anos parados em casa, as pessoas quiseram sair e retomar, rapidamente, a sua liberdade. Por exemplo, nos festivais, tivemos uma adesão brutal, quer a nível de barraquinhas, quer a nível de visitantes. Na Petrus Run, a mesma coisa. Havia sede de atividades, as pessoas queriam participar, sair de casa.
Falou da Academia Sénior, que é uma das atividades que mobiliza pessoas mais idosas, uma das franjas da população mais afetada pela pandemia, e referiu que não notou diferenças, mas em situações como o Passeio Sénior, sentiu-se alguma redução da participação, talvez por medo?
No Passeio Sénior houve uma redução de pessoas, sim. Tivemos cerca de menos 150, 200 pessoas do que o normal, mas não consigo atribuir essa diminuição a uma causa específica. Não sei se foi por medo, porque temos de associar o Passeio Sénior a outros fenómenos que vão existindo nas freguesias. Quando eu era criança, por exemplo, as festas populares tinham uma adesão brutal e, hoje, não têm, por isso, eu acho que há uns anos atrás, o Passeio Sénior era o único passeio que muita gente fazia, atualmente, e felizmente, não é, e acredito que as pessoas que vão chegando aos 60 anos, que hoje têm 55, 58, 59, são pessoas que ainda trabalham, que ainda têm uma atividade, que conseguem ir de férias e viajar, e se calhar olham para o Passeio Sénior como mais um, e não como prioritário, enquanto há 10 anos atrás, era diferente. Agora, não acredito que tenha sido a Covid, acredito mais que seja esse fenómeno que possa existir. Foi um pouco transversal em todas as freguesias, pelo que fui falando com os meus colegas, houve, efetivamente, uma redução de participantes no passeio. Se eu visse uma redução na Academia, nos festivais, se visse uma redução em tudo, aí sim, dizia que podia ser medo, mas não me parece que seja, porque foi só no caso específico do Passeio Sénior.
Pandemia, aparentemente, ultrapassada, o mundo enfrenta agora, e já há alguns meses, uma guerra. Que impacto real teve na gestão da Junta de Freguesia?
Quando deflagrou a guerra sentimos uma pressão muito grande de alguns ucranianos que vivem na freguesia e que vinham cá, no desespero, e entende-se, como é evidente, muito na ótica de terem familiares na Ucrânia e de quererem que eles viessem para cá, dizendo que tínhamos de arranjar casas e eu tentava fazer ver que as coisas não eram assim, não há essa facilidade, infelizmente, de arranjar habitação de um dia para o outro. Mas isto acontece, ali, numa primeira e segunda semana, depois de ter deflagrado a guerra, depois as coisas estabilizaram. Na área da ação social, claro que a inflação é decorrente da guerra. Sentimos um bocadinho, mas ainda não é o boom que tivemos quando surgiu a Covid. Aí, sim, foi o maior boom que alguma vez tivemos na ação social, nos atendimentos, de apoio, pessoas a pedir, a fazer processos. Estamos longe desse registo, mas nota-se o fervelhar. Uma pessoa liga a televisão, ouve as notícias, espera-se um ano de 2023 muito difícil e as pessoas, muito na ótica de que quem chega primeiro tem vantagem sobre os outros, vão fazendo uma aproximação, mas naturalmente a ação social não se rege por quem chega primeiro, mas não temos, neste momento, um impacto muito grande, porém estamos atentos.
Além do regresso de inúmeras atividades, a autarquia adicionou algumas novas ao enorme role que já tinha, nomeadamente o Duatlo Cross e a União dos Sonhos. Fale-nos dessas novas iniciativas, de como surgiram e qual a importância de cada uma.
Eu acho que, e sempre disse isso, a Junta de Freguesia tem de ter um papel muito mobilizador de uma comunidade e tudo o que nós temos feito, de 2013 para cá, tem sido muito na ótica de parcerias, independentemente se é a Junta que tem a ideia, se é o vizinho, isso para nós é o menos importante, o mais importante é que as ideias que vão surgindo tenham sucesso e esse sucesso obtém-se quando se consegue aglutinar um conjunto de instituições e de pessoas à volta dos projetos. O Duatlo Cross surgiu porque tínhamos no nosso programa a ideia de fazer uma espécie de prova de BTT na freguesia, para complementar um pouco a Petrus Run. Entretanto, temos a sorte de ter um natural de Pedroso, o Domingos Ladislau, uma pessoa dessas brincadeiras, que já foi campeão do mundo de 24h, um atleta do BTT, do duatlo, triatlo, e falei com ele, porque é um amigo de há muitos anos, e ele sugeriu um duatlo. Tinha, e tenho, consciência de que é uma prova que nunca terá a dimensão da Petrus, nunca teremos 1000 participantes. Para termos uma ideia, das provas de duatlo no Norte do país, a que tem mais participantes, penso que é uma que se realiza em Famalicão, com 200/230 atletas, o normal é entre 50 e 100. A nossa ideia era entre isso. Tivemos 130 atletas e aí, claramente, o Domingos teve um peso muito grande, porque ele conhece muita gente e é uma pessoa muito querida nesse meio, conseguiu mobilizar. A Junta de Freguesia apenas foi dando resposta às ideias e sugestões que ele ia dando e conseguimos ter uma prova diferente. Correu muito bem, o feedback que chegou é muito positivo, foi um evento que não deu prejuízo, porque com os patrocínios e as inscrições, pagou-se a ela própria, e, seguramente, será uma prova que, em 2023, se repetirá. A União dos Sonhos, surgiu de uma forma um pouco diferente. As pessoas sempre foram a nossa prioridade e não é por estarmos no último mandato e por eu não poder ser mais candidato que vou mudar a minha forma de ser e de estar. O executivo pensou nesse projeto um bocadinho como existe o Make a Wish, a nível mundial. A ideia é abrir um período de inscrições para as crianças e jovens concorrerem. Têm de ser recenseados na freguesia, é esse o critério, e depois há um júri que seleciona o sonho ou os sonhos, mediante a expectativa que temos a nível orçamental e, depois, a ideia é envolver o tecido empresarial local na realização do mesmo. Nesta primeira edição, nós queríamos muito começar com a gala, não com as inscrições, para que ficasse claro de como é que o projeto iria funcionar e selecionamos uma pessoa, que conhecemos bem, que a freguesia conhece bem, que a ação social conhece bem, que é uma jovem que ficou, recentemente, numa cadeira de rodas e a ideia era dar-lhe uma cadeira de rodas elétrica. Conseguimos duas empresas que financiaram a 100% o sonho, por isso, não houve custo para a Junta de Freguesia. Apresentamos o projeto à Câmara Municipal e ao senhor presidente, que adorou a ideia e disponibilizou a Câmara como parceiro, tanto que ele até é o padrinho do projeto. Será um projeto para continuar, mas numa ótica diferente, na medida em que haverá inscrições de janeiro a junho, depois de julho a agosto, o júri, que é composto pelo executivo, pelo diretor do Agrupamento de Escolas de Carvalhos e pela técnica da ação social da Junta, irá selecionar as pessoas, que deverão cumprir alguns requisitos, e depois, a partir de setembro, fala-se com as empresas, e tenta-se juntar o máximo de dinheiro. Se a Junta tiver de comparticipar, também o fará, e a Câmara também. Teremos uma edição por ano, que poderá ser um sonho ou mais, dependendo de quanto custa cada sonho. Continuamos, e iremos continuar, até ao último dia que cá estiver, com a mesma dinâmica, como se fosse o primeiro dia.
Em 2022, também é inevitável falar de desagregação de freguesias. O presidente sempre demonstrou a sua opinião relativamente ao assunto e a temática, em Pedroso e Seixezelo, chegou mesmo até à consulta pública. A sua perspetiva acabou por perder na votação. Como viveu este momento e qual é o caminho agora?
Eu acho que um político tem de ser inteligente, porque vive de votos e eu tenho uma vantagem, é que não vivo da política. Naturalmente, vou a votos e acho que os resultados mostram que sei gerir bem essa expectativa. Era muito confortável estar calado, fazer de conta que, para mim, era indiferente este assunto e, depois, chegava à Assembleia e os deputados do PS, que representam uma enorme maioria, votavam e o assunto morreria ali. Acho que nunca fui assim e não era agora que ia ser, pois sempre dei a minha opinião sobre tudo e ela baseia-se, simplesmente, naquilo para o que fui eleito, defender aquilo que acho que é melhor para as populações. Não encontrei ouro nem petróleo em Pedroso e Seixezelo, por isso, não tenho nenhum interesse em manter a agregação, tinha e tenho o interesse em mantê-la pelas pessoas. Podem dizer-me que, em consulta pública, as pessoas disseram o que queriam. Sim, mas eu sempre disse, em fóruns partidários, e até acho que disse numa Assembleia de Freguesia, que, no momento em que houvesse um referendo ou uma consulta pública, quer fosse em Pedroso, quer fosse em Seixezelo, onde 100% das pessoas que estiveram nas sessões manifestaram-se a favor da manutenção, 90% ia querer a desagregação. Alguém que vai a um espaço fechado, com um papel na mão, pensa que a terra onde nasceu pode voltar a ser independente e isso tem um peso enorme. Eu, se não estivesse ligado à política, se não tivesse a visão que tenho do que é a política e se não tivesse a visão do que as freguesias ganham ou perdem em estar agregadas, votaria pela desagregação, se fosse um simples cidadão.
Por uma questão identitária?
Sim, não tenho dúvidas. E a pergunta, não estou a dizer que foi bem ou mal feita, mas ainda induzia mais a isso, porque perguntava se a pessoa concordava com a autonomia administrativa. Isso é a mesma coisa que me perguntarem se eu concordo que o meu vizinho venha gerir a minha casa. Eu dizia que era 90%, acho que foi 85%, por isso até errei, mas seria esse o resultado em qualquer freguesia. Todo este processo desenrolou-se de uma forma muito estranha e é isso que faz com que as pessoas não acreditem na política, é isso que faz com que os melhores da política comecem a não acreditar e se questionem sobre o que estão aqui a fazer e acho que todos iremos pagar a fatura disto. Eu não tenho dúvida nenhuma de que Pedroso perde, mas Seixezelo perde muito mais.
Ou seja, o resultado da consulta pública não o fez mudar de ideias?
Nada. A posição do executivo, mediante a proposta de desagregação, foi um parecer desfavorável, mas aquilo vale zero. A minha posição não mudou, nós temos de acreditar naquilo que defendemos e eu não sou uma pessoa que defende uma coisa hoje e outra amanhã, por isso, eu quando tomei uma posição pública sobre um assunto, que eu sabia que era polémico, foi ponderado. Alguém tem dúvidas de que Seixezelo vai perder os projetos que tem? Ou a Câmara Municipal ou o Governo vão começar a transferir o triplo do que transferem, ou então não há hipótese, é impossível, não é uma questão de capacidade do presidente ou não, não se consegue fazer omeletes sem ovos.
Aqui estamos a falar de projetos como a Academia Sénior?
Como a Academia Sénior, como o Campo de Férias, o Regresso às Aulas, em que oferecemos material escolar, o Posto de Enfermagem, até mesmo a técnica de Ação Social e a técnica do GIP. É olharmos para os 35 projetos que temos e se conseguirmos ficar ali com cinco ou seis é muito. Não fiz uma análise pormenorizada, mas, seguramente, muitos vão terminar, o tempo vai mostrar e eu cá estarei. Já tomei nota na minha agenda e, em abril de 2027, irei a uma Assembleia de Freguesia em Seixezelo, ouvir, para perceber se a minha visão estava certa ou errada, e se estiver errada, eu dou o braço a torcer, mas infelizmente eu vou estar certo. O que é que motivou as pessoas a fazerem campanha para isto? Iremos ver daqui a uns anos. Por isso, isto não tem nada a ver com um sentimento de identidade de Seixezelo, não tem. O senhor Sérgio Batista, foi presidente de Junta e, em junho de 2012, disse numa Assembleia de Freguesia, em Seixezelo, e está escrito na ata, que a localidade ganhava muito em agregar-se a uma freguesia maior, quer fosse Grijó, Pedroso ou Olival, ou seja, aí não havia a questão da identidade. Eu acho que ele dizia a verdade, Seixezelo ganha em estar agregado a uma freguesia maior, não há dúvidas disso. Numa Assembleia, já com a União, em que ele era deputado, reforçou que Seixezelo tinha ganhado com a agregação. Este ano, a líder da bancada do PSD disse o mesmo, que não havia dúvidas de que Seixezelo tinha ganhado muito com a agregação e não tinha perdido identidade nenhuma, mas passados dois meses mudou de opinião. É legítimo, mas eu não sou assim. Eu nem perdi, nem ganhei, eu dei a minha opinião e continuarei a dar sempre. É um erro, quer para Pedroso, mas sobretudo para Seixezelo. Agora, o povo assim quis, na consulta popular, apesar que ela não vincular, porque senão a lei dizia que era por voto. A lei diz que tem de ser um erro manifesto, eu não consigo ver nenhum erro. Nas sessões que eu fiz, não ouvi nenhuma pessoa, nem daquelas que são fervorosas adeptas da desagregação, a dizer o erro, mas pronto, está feita a votação, agora compete à Assembleia Municipal pronunciar-se, numa primeira estância, e compete à Assembleia da República fechar o processo. Agora, o que eu digo é que nem ganhei, nem perdi. Fico triste, porque acho que não é o melhor para as populações. Fico mais aliviado, porque eu moro em Pedroso, se morasse em Seixezelo perderia.
Quantos idosos de Seixezelo frequentam, por exemplo, a Academia Sénior?
20 em três mil se calhar é a mesma coisa do que 400 em 18 mil, a nível de percentagem. Andam poucos, perdem poucos, mas eu tive a dona Hortência e a dona Emília, nas aulas a que eu fui, a dizerem-me para eu não deixar as freguesias separarem-se, porque não queriam perder aquilo. Fizeram passar a ideia de que a Academia Sénior está numa cooperativa e que as pessoas se podem inscrever-se na mesma. Nem precisava de estar na cooperativa porque nós, quando a Academia ainda estava na Junta, já tínhamos alunos de Grijó, agora, o que está claro é que a prioridade é para as pessoas da freguesia. Há outra questão, é que a Junta de Freguesia é um parceiro, porque foi a fundadora, e o transporte que vai buscar as pessoas para as aulas é da Junta. Os de Grijó, por exemplo, a Junta não os vai lá buscar, eles vêm de carro, enquanto os de Pedroso e Seixezelo vêm de transporte. Você acha que o próximo presidente que aqui estiver vai a Seixezelo buscar pessoas? Por isso, se as pessoas acreditarem nesse mundo perfeito, eu não acredito e sou um otimista. O que é que acontecia até 2013 em Seixezelo? Havia o Passeio Sénior, a Colónia Balnear e o Festival da Cereja, não havia mais nada. Existiam três projetos, agora há 35. Se em 2027, eu vir que há 35 ou 40, admito que estava errado, se eu vir que há 10, afinal estava certo. Mas, lamento desiludir-vos, eu não vou errar, eu posso não ser bom em muita coisa, mas fazer contas ainda sei, e é impossível.
Eles não terão capacidade financeira, digamos assim, para criar uma Academia própria?
A Academia é um projeto autossustentável. Nós criamos uma metodologia de que cada turma só pode arrancar com o mínimo de 12 alunos. Com o que pagamos ao professor e o que recebemos dos alunos, mais as despesas administrativas, 12 alunos é suficiente para a turma ser autossustentável. No caso de Seixezelo, se houver 20 alunos, dois vão para inglês, quatro para instrumentos musicais, cinco para outra, nenhuma disciplina é sustentável. Uma Junta que tem um orçamento de 100 mil euros, vai ter de pagar a um presidente, a um administrativo, um coveiro, pagar combustível, arranjar um camião, luz e água, não consegue, e não tem nada a ver com a capacidade do presidente que vai para lá, não consegue, pois é impossível, por isso, vai desistir o projeto da Academia Sénior. Agora, as pessoas quiseram assim, mas eu lamento, e apenas por isso, porque não tem a ver com a identidade de Seixezelo, tem a ver com interesses que daqui a uns anos vamos ver. Recordem os nomes de quem fez mais barulho pela desagregação. Eu não perdi nem ganhei, acho que a população perde, acho que os de Pedroso perdem muito pouco, eu moro em Pedroso e continuarei a viver depois de 2025. E fique entendido que isto foi feito em acordo e diálogo com Eduardo Vítor Rodrigues e com Patrocínio Azevedo. É importante referir, também, que esta situação só muda nas próximas eleições, porque há pessoas que pensam que é amanhã, mas eu serei presidente de Junta de Pedroso e Seixezelo até 2025. Aliás, ainda agora vamos renovar o Parque Infantil do Parque dos Corgas, que é em Seixezelo. Da minha parte, nada vai mudar nestes três anos. Eu ganhei com larguíssima maioria em Seixezelo, há um ano atrás, por isso, eu gosto muito da minha consciência e trato-a bem e continuarei a ser o mesmo presidente e a fazer tudo, como se fosse o primeiro dia que cá cheguei. Eu, numa visão egoísta, até podia ser o primeiro a defender a desagregação, porque, como não posso ser candidato, é-me igual e eu moro em Pedroso. Numa visão mais egoísta ainda, eu poderia dizer que fui o único presidente da história da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo, mas como eu apenas quero o melhor para as populações, não o defendi. Só vou dar mais um exemplo, nós temos um protocolo com farmácias, óticas e clínicas dentárias. As clínicas dentárias são diferentes, porque a Junta de Freguesia conseguiu um preço mais baixo do que o preço de tabela delas, mas as farmácias e as óticas atribuem um plafond à Junta. Quando se separar, diga-me quantas farmácias há em Seixezelo para assinar esse protocolo com a Junta? Zero. Quantas óticas é que há em Seixezelo? Zero. Ou seja, nós neste momento estamos a dar medicação e óculos gratuitamente, e a não ser que as empresas de Pedroso façam protocolos com a Junta de Seixezelo, eles não terão essa oferta e as pessoas que vão deixar de usufruir desse serviço. O meu dever foi dar a minha opinião, informar e esclarecer e saio de consciência tranquila de todo este processo, porque não me escondi, fiz várias sessões e não ouvi ninguém a dizer que queria desagregar, porque antes tinham certas coisas e agora não têm. Como ninguém me deu um facto novo, que me fizesse mudar de opinião, ela continua a ser a mesma que eu tinha há um ano atrás.
Ainda há projetos na manga para os próximos três anos? Será em 2023 que teremos, por exemplo, a Noite Branca da freguesia?
Sim, claramente sim. Eu acho que a nível de projetos, nós estamos já num esforço muito grande, não financeiro, mas um esforço de recursos. A Junta de Freguesia também tem outros trabalhos e nós temos muitos projetos e grandes, envolventes, que exigem muitos contactos. A nível de ação social temos imensos projetos e o pessoal está sempre espremido. A União dos Sonhos e o Duatlo surgiram, são mais dois, são projetos muito focalizados. A Noite Branca é um sonho que temos. Nós, na Covid, criamos dois ou três projetos para fazer face àqueles que tivemos de suspender. Mantivemos dois e vamos manter até ao final do mandato, que é a Vila Natal e o Revelando Pedroso e Seixezelo, que é um concurso fotográfico. As Noites de Comédia cancelamos e incluímos, em cada um dos nossos festivais, uma noite de comédia. Falta a Noite Branca e acho que, com ela, fica completo, porque é difícil, a nível de recursos e de foco, porque, apesar de serem projetos, muitos deles, de âmbito cultural e educativo, requerem muito trabalho e muita atenção. Iremos ter Noite Branca e, a menos que apareça algo assim de última hora, acho que será o último projeto que irei deixar na freguesia.
E quais as obras que ainda sonha ver concretizadas até à sua saída, em 2025? Qual o ponto de situação do tão aguardado centro de saúde?
Neste momento o centro de saúde é uma certeza. Já fechou o concurso, com várias propostas abaixo do preço estipulado, ainda assim, muito superior ao concurso anterior. O Centro de Saúde dos Carvalhos vai ser mais do que um centro de saúde, como disse o senhor presidente da Câmara já em vários momentos, vai ser a primeira Unidade Pré-Hospitalar do país. Se virmos as fotos, impressiona, aquilo parece um hospital. Agora, independentemente de toda a dimensão do centro de saúde, sempre disse, desde o início, que se eu tivesse de optar, desde que aqui cheguei, por uma obra de betão, era o Centro de Saúde dos Carvalhos. Se só pudesse pedir uma, era essa que pediria. Felizmente fez-me muita coisa, agora falta o centro de saúde que, em 2023, irá arrancar e o compromisso que há, e que foi assumido publicamente pelo presidente da Câmara, é que será uma obra para iniciar e concluir dentro deste mandato, apesar de eu não ter a ambição de ter lá o meu nome na placa e ir lá inaugurar. Irei lá, à inauguração, nem que seja em 2026, porque acho que é uma obra que a comunidade merece e tenho trabalhado nesse sentido. Por isso, o centro de saúde será uma realidade, a requalificação da EB2/3 Padre António Luís Moreira também será uma realidade, e a nível de obras pesadas serão apenas essas. Depois teremos outras que também estamos a trabalhar, que já não serão concluídas neste mandato, como o Quartel da GNR e o masterplan da Senhora da Saúde. As burocracias arrastam um pouco as coisas, infelizmente, e apesar da Câmara de Gaia estar com uma boa robustez financeira, a inflação também a atingiu e enquanto, antigamente, com 100 milhões de euros fazia 10 obras, hoje os mesmos 100 milhões só dá para seis obras, porque a inflação aumentou os preços, por isso, a Câmara tem de selecionar. O centro de saúde continua a ser uma prioridade máxima, será para se fazer e fico muito contente com isso. Claro que também haverá a requalificação da rede viária e pequenas obras, mas isso é o trabalho diário e constante, que será sempre necessário. Na freguesia, tirando duas ou três ruas que estão a precisar, não vejo assim nenhum caso crítico. Esse é um trabalho que está a ser feito, como o trabalho de saneamento que também está a ser alargado e a manutenção dos lavadouros e fontanários. Este tem sido um trabalho que tem sido feito, e bem feito, mas há sempre pessoas insatisfeitas e uma rua por fazer, mas isso vai sempre existir.
Nove anos passados em frente dos destinos de Pedroso e Seixezelo, qual o balanço? Quais os maiores arrependimentos e as conquistas de que mais se orgulha?
O balanço é extramente positivo, sem dúvida nenhuma. Eu acho que isto é uma experiência que, quando eu sair, em 2025, vou levar para a vida, a de servir a terra onde nasci e a terra que eu amo, acho que é uma coisa que não tem valor. Eu vim para este projeto por uma questão muito sentimental, de ligação muito forte a Pedroso. A minha família é daqui, o meu bisavô tem uma rua com o nome dele e o meu pai também era uma pessoa do associativismo, de andar pelas coletividades e eu fui andando com ele, foi tudo um trajeto muito natural. Acho que me dediquei, dedico e dedicar-me-ei até ao último dia, de corpo e alma, a esta freguesia, onde as pessoas confiaram em mim e acho que isso é um dever e uma obrigação que eu tenho. Eu não sou pessoa de me arrepender. Não acho que posso olhar para trás e dizer que fiz isto e aquilo e que hoje não faria. Não me arrependo, nem nesta questão da desagregação me arrependo. Acho que deu para aprender, porque tive a sorte de ter boas equipas comigo no executivo, tive as coletividades e as empresas comigo e isso foi um trabalho que se foi fazendo, dia a dia. Hoje parece fácil criar a União dos Sonhos e ter empresas a querer colaborar connosco, isso era impensável há seis anos atrás. Hoje a credibilidade que eu e a Junta fomos conquistando, faz com que estes projetos pareçam fáceis. Eu cheguei aqui e tínhamos funcionários que estavam a recibos verdes, abrimos 11 vagas no quadro, por isso, mesmo a estabilidade dos funcionários é boa. Não me arrependo mesmo de nada, eu sempre disse o que acreditava em cada momento, sempre dei o melhor de mim, sou dos primeiros a chegar à Junta e dos últimos a sair e faço-o com todo o amor que tenho, e farei até ao último dia. A maior conquista talvez seja, essa mesma, a credibilidade que conquistamos. Eu acho que hoje vive-se bem na freguesia. As coletividades acreditam na Junta, sabem que a têm como uma parceira. As empresas acreditam na Junta e as pessoas também, isso vê-se quando fazemos eventos, as coisas correm bem, as pessoas aparecem. Respira-se um bom ar. Tudo o que fazemos para melhorar a vida das pessoas da freguesia é uma conquista, quer seja dar uma caixa de medicamentos, arranjar uma rua, fazer uma obra muito ansiada, projetos como a Academia Sénior ou dar o material escolar aos miúdos. Se me pedirem para dizer só uma coisa, é a Academia Sénior, sempre disse isso. O Centro de Saúde dos Carvalhos também marcará, não chegará à Academia Sénior, mas andará perto. Felizmente, já fizemos tantas coisas, mas, só um dia, quando passarmos para um papel tudo aquilo que era e o que é, hoje, é que vamos perceber o que mudou. É brutal tudo o que se fez aqui em Pedroso e Seixezelo.
Depois de 2025 e terminado o trabalho para com a União de Freguesias, já há projetos futuros?
Eu quando vim para a política, vim por Pedroso. Na altura nem se falava de agregação, depois ela chegou e basta olhar para ver que não existiu discriminação negativa ou positiva, houve, sim, uma preocupação com o território. Sempre tive muito presente, na minha cabeça, que isto era um projeto de 12 anos e já foi inclusive dito pelo presidente do PS Gaia que os presidentes de Junta terão obrigação de preparar a sucessão nas suas freguesias, e eu sinto muito essa responsabilidade, porque Pedroso e Seixezelo merece que nós tenhamos a preocupação de escolher uma pessoa que não ponha em causa tudo o que se construiu. Há aqui um conjunto de projetos, como, por exemplo, a Academia Sénior ou a Festa do Caneco, que são muito difíceis de terminar. Eu sempre tive claro que sou uma pessoa do privado, sempre trabalhei no privado e eu vejo a política como uma paixão e a minha paixão é Pedroso, e neste caso Seixezelo também, porque houve a agregação. Não me peçam para ter a mesma paixão por outra freguesia de Gaia, porque não tenho. Na vertente cidade, não vou ser hipócrita, não tenho o mesmo amor por Gaia que tenho por Pedroso. Estarei disponível para o que o partido entender, fazendo parte de uma solução que eu também reconheça, me identifique e goste, se não, quando eu entrei em 2013 estava consciente de que em 2025 iria voltar à minha vida normal. Se tiver de regressar ao privado, regressarei com todo gosto, até porque nunca deixei de lá estar, continuo com as minhas atividades.
Mas este amor pelo concelho, que não é do tamanho do amor por Pedroso, pode vir a crescer com um cargo dentro da gestão concelhia?
Ainda estamos muito distantes. O melhor contributo que posso dar ao meu partido é continuar com a mesma dedicação ao projeto de Pedroso e Seixezelo, como até hoje e, fazendo isso, faço, também, outras duas coisas: deixo o PS bem colocado para continuar a gestão da Junta de Freguesia e, numa visão pessoalista, fiz um bom trabalho e quem faz um bom trabalho acaba por ter outras possibilidades, mas, como eu disse, eu tenho bem presente que 2025 é o final da minha atividade política. Se vier um projeto interessante, com uma equipa interessante, não direi que não, como também não direi que sim, porque ainda está distante, ainda falta muito para 2025.