Entre a resistência e a re-existência, foi com esta expressão que Gonçalo Amorim diretor artístico do FITEI- Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica lançou o novo desafio deste ano na 42º edição do festival de teatro mais antigo do país.
O FITEI continua a busca de rejuvenescimento em que tem vindo a apostar nos últimos anos. Investe, também, na consolidação de uma maturidade que advém não só dos 42 anos de atividade ininterrupta, mas igualmente do estabelecimento de parcerias com autarquias (Porto, Matosinhos, V. N. de Gaia e Viana do Castelo) e do redimensionamento com a aliança ao festival DDD.A 42ª edição do festival debruça-se sobre o tema Brasil Descolonizado.
A Seleção apresentará obras brasileiras ou encenadas por brasileiros, como Democracia, encenado por Felipe Hirsch a partir da obra Facsímil, do chileno Alejandro Zambra, e Odisseia, da Cia. Hiato., pelo inspirado encenador e dramaturgo paulistano Leonardo Moreira. Para além do regresso do dramaturgo e encenador argentino Federico León – já presente em 2016 com Las Ideas, e que apresenta agora Yo Escribo. Vos Dibujás, uma coprodução FITEI que incluiu duas residências no Porto (em outubro de 2018 e março de 2019), integrando atores da cidade –, a parceria com o TNSJ leva a cena a companhia Lusco-Fusco com Tchekhov é um Cogumelo, e o espetáculo Preto, da companhia brasileira de teatro.
A estas, juntam-se as vozes de resistência de Marianella Morena, Renato Livera, Grace Passô, Luciana Lara e Daniele Avila Small. Na criação nacional se incluí o encenador brasileiro Marco António Rodrigues, com a peça Ala do Criados, do Teatrão; regressamos a André Amálio, que olha o colonialismo português em Amores Pós-Coloniais; e também História Ilustrada do Teatro Português, dirigida por Martim Pedroso, Armadilha, dos DEMO, Seattle, dos LAMA, Pela Água, de Tiago Correia/A Turma e D. Juan Esfaqueado na Avenida da Liberdade, encenado por Pedro Gil. A programação não se resume só a espetáculos.
O festival promove oficinas e iniciativas de formação informal paralelas, na secção Isto Não É uma Escola FITEI; haverá exposições, lançamentos de livros, concertos e festas (em colaboração com a Matéria Prima) no âmbito do FITEI Aberto; abriremos novamente as portas às escolas de teatro na iniciativa FITEI e as Escolas do Porto. Esta edição inclui ainda um novo programa de Residências FITEI, iniciativa que procura o diálogo entre a comunidade artística, bem como o estimular da criação em âmbito de festival. Nesta edição, o FITEI procura constituir-se como um lugar de resistência, de encontro de artistas e públicos, de intergeracionalidade e de diversidade artística, bem como de inovação e de reflexão.
Procuramos também com esta programação estender a mão ao nosso país irmão, num diálogo que cremos enriquecer o tecido artístico português e ibero- americano.BRASIL DESCOLONIZADO; “o Brasil tem vivido tempos de forte atividade política: das manifestações por mais justiça social e contra as olimpíadas ao tomar da rua pela direita-pró-golpe-militar; da consumação do impeachment de Dilma Roussef e a consequente presidência de Michel “fora” Temer, à eleição de Jair Bolsonaro: a tensão política parece não conseguir evitar o retorno a uma colonialidade que nega sistémica e estruturalmente a diversidade.
Por outro lado, os artistas e núcleos de criação efervescem com grande pujança criativa e afirmam-se com grande contestação, fazendo face ainda à retração de financiamento por parte do Estado. A programação do FITEI procura ir ao encontro destes artistas que lutam pela descolonização do pensamento. Nos últimos anos, tivemos a oportunidade de ver obras de grande acutilância: mesmo em tempos sombrios, artistas e estruturas encontram formas de romper, procurando levar a cena um corpo não-normativo, o afropolitismo, a cultura queer e o empoderamento da mulher e do negro.
Tudo parece concorrer para uma postura revolucionária e descolonizada, fundadora de um Brasil mais diverso e inclusivo, dando resposta à sua dimensão continental, mas que encontra forte atrito por parte dos donos das terras, das armas e da Bíblia!” (G. Amorim na comunicação para a imprensa)