Miguel de Braga Pimentel nasceu em 1940, na Maia. Dedicou grande parte da sua vida à viola da terra e a ensinar este instrumento típico açoriano aos outros. Para enaltecer o seu contributo para a história e o seu papel de transmissão de conhecimentos seculares, a Junta de Freguesia e a Casa do Povo da Maia prestaram-lhe uma sentida homenagem.
A Junta de Freguesia da Maia e a Casa do Povo da mesma localidade prestaram, no passado dia 26 de novembro, numa simbólica cerimónia que ocorreu no Centro Social e Paroquial da Maia, uma homenagem a Miguel de Braga Pimentel, mestre e tocador de viola da terra, natural desta freguesia. Diversas entidades e representantes civis e militares, marcaram presença no momento, como, por exemplo, Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, e José António Garcia, vereador da mesma autarquia.
Nasceu em 1940, na Maia, e desde os sete anos de idade que demonstrou interesse pela música, começando a aprender a arte da viola da terra, com o seu pai, Manuel Moniz Pimentel. A partir de 1982, ministrou cursos deste instrumento, no Conservatório Regional de Ponta Delgada. Além dos diversos discos gravados, o homenageado, que faleceu em maio de 2022, aos 82 anos de idade, também se dedicava à arte da violaria, produzindo este instrumento, que tanto amou ao longo da sua vida.
A cerimónia procurou enaltecer o contributo de Miguel de Braga Pimentel para com a perpetuação da história e cultura do único instrumento musical típico dos Açores, assim como destacar o seu importante papel na transmissão de conhecimentos seculares às atuais e futuras gerações. Assim, a primeira a proferir algumas palavras aos presentes, foi Suzana Ferreira, presidente da Junta de Freguesia da Maia. “Criamos este momento para lembrar que ele nos deixou a sua marca. Miguel de Braga Pimentel era uma pessoa que nos era muito próxima, um homem simples, modesto e de uma mestria colossal na viola da terra (…). Por tudo o que foi, e continuará a ser, vai ser, aqui, justamente homenageado e lembrado”, referiu a autarca assinalando que há mais pessoas da Maia que merecem ser homenageadas e demonstrando a sua vontade em realizar mais eventos desta índole.
César Pimentel, filho do homenageado, foi o segundo a dirigir-se à plateia e falou de memórias. Contou o início do percurso de vida do seu pai, de quando começou a aprender a tocar viola da terra, na mesma época em que ajudava os pais nos trabalhos do campo. Seguiu falando do percurso de Miguel de Braga Pimentel, da sua vida militar, de como, depois, seguiu a carreira de polícia, mas de como, também, se dedicou ao instrumento. “Se não fosse o meu pai, a viola da terra podia ter-se extinguido, porque os maiores tocadores emigraram, e os que ficaram cá, os mais velhos, foram desaparecendo. O meu pai, felizmente, aliou-se ao conservatório, o que lhe abriu as portas para divulgar a viola da terra. Ele conseguiu desenvolver muito, chegou a ter entre 20 a 30 alunos”, destacou, lembrando que foram estes que continuaram e continuam a propagar a viola da terra, mas confessou, também, que ainda gostava de a ver a alcançar mais destaque. Por fim, e respondendo a algumas perguntas da audiência, admitiu que ele próprio chegou a aprender a tocar, bem como um dos seus filhos, apesar de não terem dado continuidade à arte e referiu, com tristeza e saudade, que, no final da sua vida, devido a problemas nas articulações, o pai já não era capaz de tocar.
Patrícia Bettencourt, professora e coautora do livro de homenagem a Miguel de Braga Pimentel, apresentou uma pequena videobiografia do distinguido, referindo que “será sempre curto o tempo que lhe dedicamos e são parcas as palavras que possam transmitir o seu contributo, tanto para a viola da terra, como para a música em geral”.
Maria Antónia Fraga Esteves, não esteve presente no evento, mas mandou um texto que foi lido ao público, no qual referia como conheceu Miguel de Braga Pimentel, aquando do início do seu curso no conservatório e com o qual começou a colaborar, depois disso, nas gravações das suas músicas. “Esta homenagem é mais do que merecida, para o valioso espólio desse grande filho da Maia, terra de muitas tradições culturais, ser salvaguardado, eventualmente pela criação de um museu, ou casa-museu com o seu nome”, deixou como sugestão.
O general José Ferreira de Almeida, que privou com Miguel de Braga Pimentel, também dirigiu algumas palavras. Emocionado, recordou os momentos que viveu com aquele “cuja arte de tocar, sabedoria e conhecimento dos sons de outrora dispensam comentários” e que apelidou de “mestre da arte da viola da terra”. “Na última visita que fiz ao senhor Pimentel, ele já não tocava por ter perdido a ação na mão esquerda”, disse, por fim, envolvido em grande tristeza, deixando a sua sentida homenagem “à figura incontornável e inesquecível, na arte de tocar a viola que, há seculos, encarna o sentimento e alma do povo açoriano”.
Ricardo Silva, ex-presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, que era autarca em funções aquando da distinção de Miguel de Braga Pimentel com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro, contou o que levou a autarquia a conceder tal título ao homenageado. “Reconhecemos, no som, no seu tocar intenso e alegre, a música da festa, seja ela do Espírito Santo, do Natal, das estrelas, dos bons anos, dos reis, como forma de identidade de um povo que possui tradições e, através delas, carácter patrimonial (…) gostaria de salientar, também, como ato cultural fundamental, a sua vontade de partilha da sua sabedoria como tocador de um instrumento importante para os Açores e os seus esforços na criação de uma escola informal de tocadores de viola da terra na Ilha de São Miguel”.
Carlos Sousa, fundador do Grupo de Cantares Belaurora, quis deixar, apenas, cinco salvas de palmas. “A primeira vai direitinha para o homenageado, Miguel de Braga Pimentel, admirável homem e músico (…). A segunda salva de palmas vai para esta Freguesia da Maia, que é berço de grandes figuras (…) A terceira vai para todos os tocadores de viola da terra, que respeitaram e respeitam a nossa tradição musical e a trouxeram às novas gerações (…). A quarta salva de palmas vai para os que, há anos, lutam para que a nossa música tradicional permaneça viva e seja respeitada por todo o mundo (…). E, a quinta e última salva de palmas, finalmente, vai para os organizadores deste evento e para todos vós que viestes, de perto e de longe, por sentirdes a importância de homenagear o senhor Miguel de Braga Pimentel”, aludiu.
Gualter Furtado, presidente do Conselho Económico e Social dos Açores, presente entre os convidados, quis dar umas palavras. Enalteceu o papel do homenageado “porque a viola da terra faz parte do nosso património cultural e eu valorizo muito isso, sobretudo porque é um instrumento muito ligado à nossa emigração, ao nosso campo, à nossa terra e o senhor Pimentel deu um grande impulso e colocou a viola da terra no patamar que está hoje”, referindo, ainda, os grandes nomes que deixou como discípulos, principalmente Ricardo Melo.
Por fim, a homenagem culminou com um espetáculo musical, protagonizado por ex-alunos do mestre Miguel de Braga Pimentel.