Fundado a 1 de novembro de 1933, o Lar de Santa Isabel é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), que tem como principais objetivos a manutenção e ocupação das pessoas idosas e o apoio à infância e à juventude. Com tomada de posse dos novos corpos sociais do Lar Santa Isabel, Alberto Paiva, uma vez que não pôde integrar a lista da Direção, passou a ser o novo diretor desta instituição. Relevando, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, que trabalha, há cerca de 14 meses, de forma abnegada, em prol dos utentes, o rosto desta IPSS enumerou as inúmeras mudanças que foram implementadas, tendo em vista a melhoria das infraestruturas e, consequentemente, da qualidade de vida dos residentes. Salientando que o seu principal objetivo é “fazer com que o Lar de Santa Isabel volte a ser uma instituição de referência em Vila Nova de Gaia”, Alberto Paiva reforçou a vontade de “dar dignidade” a esta IPSS.
Há 14 meses, abraçou os destinos do Lar de Santa Isabel. O que o motivou?
O que nos fez vir aqui para o Lar de Santa Isabel foi o facto de eu acreditar que a instituição precisava de um ar fresco. Trata-se de um lar do qual eu sou associado já há mais de 10 anos e tenho vindo acompanhar esta associação, que esteve sempre dentro de polémicas dentro e fora da instituição, como é conhecido na vida social e na vida particular deste lar. Portanto, o que me fez arrastar certos companheiros comigo foi o objetivo de olhar pelos utentes, porque metia-nos muita confusão aquela questão dos processos em tribunal. O nosso principal intuito é fazer com que o Lar de Santa Isabel volte a ser uma instituição de referência em Vila Nova de Gaia e fazer com que os utentes tenham qualidade de vida, tranquilidade e sejam bem tratados. Também é importante que os colaboradores estejam tranquilos, evitando, assim, problemas internos. Isto é um desafio e nós temos de olhar para isto como um amor à causa, porque a Direção não ganha, está em pro bono. Nós estamos aqui, porque o lar precisa de ajuda, pois tivemos um saldo muito negativo em 2023, mais propriamente 286 mil euros negativos. Contas fechadas, temos 240 mil euros, poupamos 40 mil euros. Este é um esforço humano, nosso, que só faz sentido se os utentes se sentirem bem, pois caso contrário não vale a pena estar aqui. Eu acredito que devemos dar à sociedade um pouco daquilo que ela nos deu. Nós temos de contribuir, porque hoje são eles e amanhã somos nós. Os meus colegas de Direção tomaram posse no dia 16 de janeiro de 2024, eu não pude fazer parte da lista, porque fazia parte de outra instituição, mas eu não estava aqui para ocupar lugares, o meu objetivo sempre foi o bem-estar dos utentes, por isso é que eu estou cá e me envolvi neste projeto.
Quantos utentes e funcionários tem o Lar de Santa Isabel?
Nós somos uma instituição com 120 utentes. Também temos 39 crianças e 25 pessoas às quais prestamos o serviço de apoio ao domicílio e temos 20 no centro de dia. Também temos cerca de 110 funcionários. Portanto, esta é uma instituição enorme de Vila Nova de Gaia. Nesta casa, nós temos duas fazes da vida, o nascer, que é a creche, e a ERPI, que é o morrer. Nós temos de dar dignidade a quem nasce, os princípios, e devemos dar a quem está nos seus últimos dias um fim digno, o mais social e alegre possível, é por isso que nós viemos para cá.
O que é que mudou desde a sua chegada e dos novos corpos sociais?
Ora bem, nós tivemos de mexer com muita coisa, não foi fácil, porque nós mexemos com o pessoal, ao nível de restruturação. Nós temos um departamento jurídico e não avançamos sem o seu aconselhamento e havia aqui uma lacuna, porque os colaboradores faltam muito, mas não é só nesta instituição, pois infelizmente as IPSS no futuro vão sofrer um bocado porque não há mão de obra. Não existe mão de obra para as IPSS e o que está a valer aqui é mão de obra estrangeira, porque a portuguesa é mesmo diminuta. Então, nós tentamos criar certas regras na instituição. Há um prémio mensal de 30 euros e, antigamente, quem faltava um dia recebia menos um euro, o que não era justo para quem nunca faltava e nós resolvemos alterar as regras, de modo de quem faltar perde os 30 euros. O nosso objetivo é conseguir aumentar o prémio para 50 euros, algo que ainda não conseguimos implementar, por questões financeiras, dando um incentivo maior aos colaboradores, que são excelentes. Também, mudamos as fardar. Logo, trata-se de um processo muito lento e tem de ser devagarinho, porque estamos a mexer com as pessoas e mexer com as pessoas é terrível. Relativamente aos utentes, nós promovemos várias iniciativas, nomeadamente, passeios culturais, por exemplo, no primeiro sábado de cada mês, os nossos utentes vão ao Mercado do Bolhão e participam no “Chef à moda do Bolhão”, saboreando o que os chefs preparam. Esta é uma forma de saírem da instituição, conviverem e provarem outras coisas. Durante o ano passado, nós só conseguimos fazer um passeio, cujo destino foi Fátima, assim como um piquenique no Monte da Virgem. Este ano, vamos fazer já no dia 24 de abril o passeio a São Bento da Porta Aberta, depois vamos fazer o de Fátima e, mais tarde, outro a Viana do Castelo. Também, é nosso objetivo, e esperamos concretizar, conseguir levar os utentes, entre os meses de junho e setembro, à praia, ao Jardim do Morro, à Ribeira, até ao supermercado, para eles perceberem que estão aqui, mas que o mundo lá fora ainda circula. Pelo carinho que vou recebendo, posso dizer que os utentes estão satisfeitos. Em relação às infraestruturas, nós mudamos os quartos, colocamos calhas técnicas e estamos a colocar iluminação LED, porque temos uma despesa muito grande em eletricidade. No piso 2, ao qual chamamos de “Corredor da Felicidade”, que é onde encontramos as pessoas mais debilitadas, que são acompanhadas por auxiliares na parte da manhã e da tarde, uma enfermeira permanente e uma encarregada, nós colocamos a maior parte das camas articuladas elétricas e compramos umas bacias de banho para cada utente que está acamado. Também adquirimos umas cadeiras de banho e uns carrinhos de apoio ao banho, no qual são colocados o champô, o gel de banho e a toalha do utente. Por outro lado, também arranjamos as campainhas de emergência, para ficarem mais perto dos utentes. Também fizemos mudanças na organização da medicação, isto é, recorremos à unidose, à preparação individualizada da medicação, porque antes as caixas de medicamentos vinham completas e, depois, a equipa da enfermagem sentava-se e fazia a separação medicamento, a medicamento, para cada utente, o que demorava muito tempo e havia um risco enorme de ocorrer um erro. Atualmente, a própria farmácia faz a separação da medicação para cada utente e já não existe qualquer problema de falhas. Neste seguimento, também adquirimos vários tablets, que estão espalhados pelos corredores, onde estão os planos individuais dos utentes e é feito o registo dos tratamentos, dos banhos, etc., isto é, cada colaborador tem o seu username e faz o registo das respetivas atividades. Posteriormente, as encarregadas e a doutora técnica verificam se está tudo certo e recebem um alerta relativo às tarefas não realizadas. O relógio de ponto também foi algo que começou a ser controlado pelo Departamento de Recursos Humanos, que nós implementamos. No início também gastamos muito dinheiro nas carrinhas, porque não havia falta de segurança, nós é que fomos mais exigentes e decidimos fazer uma vistoria às carrinhas todas. A sinalização de emergência também foi substituída, pois estava avariada, assim como as câmaras de filmar do exterior, porque não funcionavam e era uma questão de segurança, principalmente quando os utentes andam a circular pelo jardim. O controlo de entradas e saídas das visitas também foi algo implementado por nós, pois antigamente não existia. Também mudamos a cozinha e contratamos um chef, porque antes eram auxiliares que passaram a cozinheiras, e os utentes sentiram a diferença na qualidade. Reconvertemos uma divisão para um salão nobre, para receber as entidades oficiais. Mudamos o espaço da portaria, de forma a conferir um espaço mais amplo para receber os utentes e os visitantes. Inserimos um ar condicionado na parte onde é agora a terapia ocupacional, pois é muito quente no verão, assim como na enfermagem. Também estamos a renovar os dispensadores da água, sendo que atualmente a água é da companhia e temos apenas o filtro, reduzindo à despesa dos bidões de água. Substituímos, igualmente, as cadeiras de rodas, cadeiras de banho, elevadores e camas articuladas. Também temos uma horta, que cultivada por um casal voluntário e tudo o que dali sai é aproveitado para a cozinha e o excedente é vendido ao público, sendo que todas as receitas entram nas contas da instituição. Os utentes gostam e no verão eles andam pela horta e estão lá entretidos. Renovamos o salão do centro de dia e adquirimos dez cadeirões e agora já estão outros dez para vir, ou seja, o nosso centro de dia ficará com 80 cadeirões e cada utente poderá sentar-se num cadeirão. Também, adquirimos uns carrinhos próprios só para a roupa limpa, para as coisas estarem mais organizadas. É importante salientar que tudo o que está a ser feito aqui é com a ajuda e o envolvimento dos colaboradores.
Já muito foi feito, mas o que mais anseia fazer?
Sim, ainda há muito a fazer. Temos um objetivo e esperamos conseguir alcançá-lo, porque há muitas férias em atraso e esperamos que sejam acertadas até 2026. Agora, estamos a pensar em trocar os colchões e em pintar, entre muitas outras coisas, mas tem de ser devagarinho. Também, estamos a tentar ver agora a questão dos painéis solares, porque nesta instituição há um gasto enorme de energia, porque os nossos utentes têm aquecimento quase 24 horas ligado e todo o edifício tem aquecimento central e temos as caldeiras. Atualmente, estamos a ver se temos orçamento para isolar termicamente as nossas janelas e, depois, vamos tentar isolar todo o edifício. Nós já colocamos uma parte de capoto no exterior, mas está orçamentado em 400 mil euros, mas estamos à espera que venha algo do PRR para podermos concorrer. É muita coisa, para se fazer em quatro anos. Nós concorremos e já nos foi atribuída uma carrinha de nove lugares, também, pelo PRR, estamos à espera só de orçamentos, só falta agora é comprar, e concorremos a duas carrinhas elétricas de dois lugares para o serviço de apoio domiciliário, que está cheio. O nosso objetivo é estabilizar os 25 utentes de serviço de apoio ao domicílio e, depois, tentar abrir este serviço a mais pessoas. No centro de dia temos 50 utentes e já está atribuído pela Segurança Social, só que não podemos avançar porque queremos mudar esta valência para outro espaço, que está a ser melhorado, estamos à espera do PRR, e depois vamos fazer uma passagem para os utentes poderem circular. As ideias estão cá, agora é o resto que falta.
Aproximar os familiares dos utentes desta instituição também foi grande passo dado por esta Direção.
Antigamente, era muito difícil ligar para cá, porque apenas havia uma linha. Então, nós mudamos a linha e, agora, quando os familiares ligam ouvem uma gravação e têm a opção de escolher qual é o piso ou o serviço que pretendem contactar.
Quais são as principais valências desta instituição?
Nós temos a ERPI, onde estão os residentes, o centro de dia, o serviço de apoio domiciliário e a creche.
A animação sociocultural é uma das principais atividades do Lar de Santa Isabel. Qual é a importância?
Os nossos utentes da ERPI que estejam capazes participam no nosso centro de dia, onde temos teatro, cantares, dança, poesia, artes plásticas e trabalhos manuais. Por exemplo, este ano, os nossos seniores estiveram a fazer uma lembrança alusiva ao Dia da Mulher. Também, podem jogar, por exemplo, damas, ler jornais, ou revistas. Os participantes na animação sociocultural são muito ativos e estão sempre envolvidos. A nossa Direção está aberta a sugestões e à envolvência dos técnicos e colaboradores. É de salientar que temos um barbeiro e cabeleireira duas vezes por semana, assim como uma esteticista. As pessoas estão felizes e percebem que esta Direção é diferente.
Em causa está, a melhoria da qualidade de vida dos utentes?
É tudo em prol dos utentes. Eu sou muito exigente. Eu estive aqui, sucessivamente, durante quatro meses e posso dizer-lhe que a minha vida profissional ficou de pernas para o ar, porque eu tinha de perceber onde é que estava e fiquei assustado quando percebi a realidade desta instituição, mas a Direção tinha de mudar isto. Os utentes tinham de ter alegria. Nós abrimos a nossa porta aqui dentro da instituição e estamos sempre disponíveis para ouvir as necessidades dos utentes e dos colaboradores. Muitas vezes saímos daqui cansados, mas aquilo que eu levo comigo, e estou farto de transmitir aos colaboradores, é que podia ser o meu pai, a minha mãe ou um familiar meu que estivesse aqui e eu não gostava que ele fosse maltratado. Nós devemos criar raízes e temos de mostrar aos colaboradores que nós estamos cá com um objetivo: proporcionar o bem-estar dos utentes.
Quais são os seus maiores sonhos para o Lar de Santa Isabel?
Fazer o centro de dia e colocar a instituição economicamente sustentável, que é o nosso objetivo para estes quatro anos. Sabemos que é muito difícil, derivado ao passivo que temos, mas estamos à espera que as entidades públicas oficiais possam vir ajudar-nos, porque nós não temos problema nenhum em mostrar tudo como está, temos uma auditoria a decorrer, porque é um valor enorme. Também, fizemos uma auditoria ao cofre. Quando chegamos cá dissemos: nós encontramos isto e somos responsáveis a partir daqui, para trás não. Nós gostávamos de, como mencionei anteriormente, colocar os painéis, as janelas duplas em toda a instituição, a massa de capoto, as carrinhas, colocar blackouts no lado nascente. Portanto, nós queremos dar dignidade ao Lar de Santa Isabel, é só isso. O que é que levamos daqui? O bem-estar de saber que amanhã podemos ser nós ou um familiar nosso.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
Que a sociedade olhasse para as IPSS, pois é fundamental. A nossa vida profissional, hoje em dia, é tão agitada que, infelizmente, no futuro, poucas pessoas vão poder tomar conta dos seus familiares no seu final de vida. Então, eu acredito que a sociedade devia olhar para as IPSS não como um local de abandono dos familiares, mas ajudarem as instituições, porque há muita coisa que se pode fazer em regime de voluntariado, em prol dos utentes.