Cada geração tem os seus problemas característicos, que vão tendo algumas variações consoante os contextos que se vão alterando, fruto das conjunturas económicas e políticas. As gerações jovens sempre enfrentaram problemas próprios e caracteristicamente diferentes das gerações mais velhas. Podemos assumir que, nestes últimos anos, são as dificuldades na emancipação jovem e a descredibilização do papel dos jovens na sociedade, personificadas pela precariedade laboral, pelos baixos salários e pelos estágios não remunerados, que vingam entre as principais lutas dos jovens.
Por entre uma pandemia – que fez o mundo parar e angustiar uma crise inflacionista – e o surgimento de uma guerra em plena Europa – que vem agravar todas as consequências temidas para o mundo pós-Covid – os jovens sabiam que as lutas às quais já vinham a dar voz teriam de se estender no tempo. O que não sabíamos, nos Açores, é que o nosso barco não é o mesmo barco de todos os outros jovens portugueses.
Os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, referente ao ano de 2021, publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, revelam que o risco de pobreza nos Açores aumentou cerca de 15% em 2021. Em 2020 o indicador apontava para 21,9%, passando para 25,1%, em 2021. Comparativamente com o resto do país, os Açores levam o avanço na posição e são a região mais desigual do país, tendo também a desigualdade aumentado 11% em 2021, comparativamente com o ano anterior.
O contexto pode ser o mesmo para todos os jovens, mas as dificuldades sentidas são substancialmente diferentes nos Açores, como nos mostram os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento. A desculpa não pode ser o contexto, porque, afinal, estamos em barcos diferentes. A geração mais jovem está a viver uma das piores crises de sempre, que vem agravar todos os problemas que já se registavam na habitação, no emprego e na qualidade de educação. No meio do caos, o que se espera é que os jovens fiquem em estado suspenso, enquanto o governo regional tenta salvar os domínios que mais gritam.
Os jovens açorianos precisam e merecem um governo regional com a capacidade de nos dar a mão com políticas públicas adequadas ao contexto em que se vive e não um governo regional preocupado em manter o status quo dos partidos que fornam esta coligação, acabando por conduzir os Açores ao maior índice de desigualdade dentro de Portugal, desde que há registo.
Maria do Carmo Pimentel
Secretária Coordenadora da JS Ponta Delgada