“O PÚBLICO PORTUENSE É ÚNICO E É O MELHOR QUE HÁ”

O espetáculo “A Revista Volta ao Porto”, da autoria de Filipe La Féria, subiu ao palco do Teatro Sá da Bandeira, entre os passados dias 13 de junho e 14 de julho, assinalando o regresso do encenador à Invicta, onde foi recebido com casa cheia. Com um elenco de renome, composto por FF, Anabela, Filipa Cardoso, entre outros destacados artistas portuenses, como Marta Mota, Ana Queirós, Pedro Ferreira, Ricardo Ferreira e Sara Lima, acompanhados por um grupo excecional de bailarinos, este espetáculo cativou os espectadores com uma mistura inigualável de atualidade, tradição, humor e modernidade, porque “o riso abre as portas da vida”.

 

 

Depois de “A Revista à Moda do Porto”, Filipe La Féria regressou à Invicta com “A Revista Volta ao Porto”, que esteve em cena no Teatro Sá da Bandeira entre os passados dias 13 de junho e 14 de julho. “Nunca nada é igual, porque a revista tem de estar sempre viva e criticar tudo e todos, para fazermos o público rir”, afirmou o encenador e dramaturgo, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, salientando que “foi extraordinário. O público portuense é único e é o melhor que há. Recebeu-nos, sempre, com lotação esgotada e tivemos de prolongar sucessivas vezes”.

Em causa estava um espetáculo para todas as idades, onde a atualidade, a tradição e a modernidade estiveram em simbiose, num tributo à herança cultural da cidade do Porto, repleto de números de crítica político-social e aos bons costumes portugueses.

Com um elenco de renome, composto por FF, Anabela, Filipa Cardoso, entre outros destacados artistas portuenses, como Marta Mota, Ana Queirós, Pedro Ferreira, Ricardo Ferreira e Sara Lima, acompanhados por um grupo excecional de bailarinos, este espetáculo cativou os espectadores com uma mistura inigualável de humor, glamour e entretenimento. “É um espetáculo extraordinário, com um elenco jovem e com atores, bailarinos e cantores do Porto e, de facto, o público foi ao rubro. É muito divertido, muito atual, tem muitas piadas políticas, diz mal de tudo, que é o que os portugueses gostam, mas com garra, com classe e com humor”, ressaltou Filipe La Féria.

Admitindo que procura “ir mesmo ao ponto e às feridas”, o encenador destacou o número que retrata José Castelo Branco e Betty Grafstein, a quem os atores FF e Pedro Ferreira, respetivamente, dão vida. “Acredito que esse número é um dos momentos altos e está muito bem escrito”, assegurou o dramaturgo, afiançando que “é um número delicado, que não entra na violência doméstica. Tenho sempre a preocupação de o que escrevo ser progressista e humano. Sobretudo humano. Eu não trato mal as pessoas”.

Contudo, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, também não ficou esquecido neste espetáculo. “Ele não gosta nada de mim e não descansou enquanto não me deu um pontapé do Rivoli e afinal para nada, porque o Rivoli está ali fechado, parece um mausoléu e aqui o Sá da Bandeira tem estas luzes e na realidade esgota todas as noites”, referiu o encenador.

Evocando o talento que existe na Invicta, Filipe La Féria garantiu que “o Porto tem imensos talentos, não tem é mercado. Os artistas têm de fugir para Lisboa e muitos também já fogem para o estrangeiro. Há muito talento e muito boas escolas, mas as pessoas tiram os cursos, mas depois não têm mercado de trabalho, porque a cultura continua a estar fechada numa elite. Há muita performance e pretensiosismo, mas não há teatro e, sobretudo, não há amor”.

Segundo o dramaturgo, a mensagem de “A Revista Volta ao Porto” foi “sobretudo rir, porque um dia sem rir, é um dia perdido. O riso abre as portas da vida, que é o final desta revista e eu penso que as pessoas que veem este espetáculo saem com otimismo, boa disposição e coragem para rir de tudo e enfrentar a vida”. Todavia, no final, “ficou a saudade, até ao nosso próximo espetáculo na Invicta”.

 

FF, ator

“É uma responsabilidade enorme. A revista fala sobre a nossa atualidade que, felizmente, tem pano para mangas para ser falada e alfinetada e é esse o objetivo, porque a revista quer-se perspicaz, não se quer politicamente correta. Portanto, hoje, aqui, abordamos inúmeros assuntos de várias esferas sociais e políticas que também permitem às pessoas rir um bocadinho dos nossos males, que são comuns a todos. Ficamos muito felizes de receber esta onda de amor, que, na verdade, só acontece aqui no Porto. É um público sempre muito especial. O Sá da Bandeira tem quase 170 anos de existência e nós sentimos que o facto de, por este teatro, terem passado grandes nomes da revista e do teatro, como Vasco Santana, Beatriz Costa, Mirita Casimiro, entre tantos outros geniais, para nós, pisarmos este palco com esta história e trazermos alegria às pessoas é uma grande bênção para a nossa profissão. Portanto, para mim, para a Filipa Cardoso e para a Anabela, que viemos de Lisboa e estamos acompanhados por este elenco extraordinário de bailarinos, cantores e atores maravilhosos, é uma alegria enorme estarmos com eles e também sentirmos este talento que existe no Porto, que é muito”.

“Este espetáculo é especial porque acontece todas as noites. Todos os espetáculos podem ser especiais, até um texto clássico pode ser especial todas as noites em que acontece. A revista vive de uma coisa que, para mim, é muito peculiar, que é este namoro com o público, porque o público faz parte da peça. O público é uma das personagens da peça e esse diálogo faz com que este género seja muito diferente de todos os outros, onde o público apenas está a assistir e a ver. Aqui, há o assumir e o quebrar desta chamada quarta parede para falarmos com o público, para permitirmos que ele reaja e, por isso, também faça com que cada noite seja diferente e, depois, também vive de algum improviso, apesar de este texto ser rigoroso e difícil e de levarmos a magia deste género com o mesmo rigor, com que levaríamos fazendo Shakespeare ou fazendo Brecht”.

“Eu acho que a mensagem final deste espetáculo é muito bonita, que é a mensagem de sabermos rir das nossas tristezas, das nossas desgraças, das coisas de que à partida não nos riríamos em circunstâncias normais, porque o riso também nasce da observação da lente dessa tristeza e desse lado complicado. Se nós nos rirmos de coisas que já por si são felizes, o impacto será muito menor. Portanto, nós temos de nos rir das coisas que nos doem ou afetam e, por isso, ao provarmos um bocadinho essas dores, também saímos daqui um bocadinho mais curados, para descomplicarmos algumas questões do nosso dia a dia e da sociedade que nos afetam também. Por isso é: rir dos nosso males”.

 

Anabela, atriz

“É uma grande alegria e uma grande honra estar, aqui, no Sá da Bandeira, com um público maravilhoso, que tem dado tanto carinho e é tão generoso. Tem sido fantástico. Nós estamos de coração cheio. É sempre muito bom estar aqui com este público extraordinário”.

“Este espetáculo é muito popular. É um espetáculo de revista, com música, dança e números muito engraçados e bonitos, que falam da atualidade social e polícia e, portanto, as pessoas identificam-se, riem e divertem-se muito. É um espetáculo muito português, com muito glamour, muito humor e muita música. Portanto, é um espetáculo em que as pessoas saem, de facto, de barriga cheia de rir e de muitas emoções”.

“Nós estamos aqui de corpo e alma para dar um grande espetáculo e para fazermos uma grande festa, que seja inesquecível”.

Filipa Cardoso, atriz  

“Para mim é uma enorme honra e um grande orgulho fazer parte deste elenco e ser uma das protagonistas. Não sou mais do que nenhum dos restantes elementos que estão no elenco, tenho apenas a responsabilidade acrescida de ter alguns números de maior encargo que o Filipe me atribuiu, mas eu acho que a revista está toda muito coerente e muito coesa e o elenco é todo muito bom. Voltar ao Porto é sempre uma alegria, porque não há, no mundo, público como este. Quando voltamos a esta cidade, seja com que peça for, nós sabemos que vamos ter uma recetividade muito genuína, quer seja na positiva ou na negativa. O público do Porto é muito verdadeiro e muito genuíno e eu adoro isso”.

“O público decide sempre o espetáculo, seja ele qual for. O público do Porto é muito generoso e especialíssimo pela forma maravilhosa com que nos recebe e isso passa para o palco e quando isso acontece a nossa energia dobra e a nossa vontade de trabalhar até à última gota de suor é gigante”.

“O povo portuense tem muita força política, atendendo ao facto de que o Coliseu não foi vendido à Igreja Universal do Reino de Deus, que é uma deixa desta revista, porque o público do Porto não deixou. É um público muito forte, até nesse sentido. Peço para que o público do Porto e o público que gosta e vem ao teatro se manifeste de alguma forma, para outros teatros poderem abrir para nós trazermos o que é português, o que é genuíno e aquilo que gostam, porque numa altura em que viemos cá em janeiro, com “A Revista à Moda do Porto”, tudo o que eu ouvia do público era manifestações de saudade do Filipe. Portanto, isto quer dizer alguma coisa. O Filipe fez grandes espetáculos aqui, que as pessoas aderiram, viram e repetiram e estavam realmente com muitas saudades do que o Filipe cá traz, porque o Filipe é muito forte a escrever e a encenar coisas portuguesas. Ele tem um cunho muito lusitano e sabe verdadeiramente o que é que o povo português gosta, por isso, todas as peças que ele trouxe cá tiveram uma grande adesão e as pessoas têm muitas saudades dele. Eu falo do Filipe, mas falo da Marina Mota, do José Raposo, do João Baião, do Joaquim Monchique e da Maria Rueff, de todos estes grandes artistas que têm a comédia nas veias e que trazem grandes peças para as pessoas do Porto, que muitas vezes não têm possibilidades de ir a Lisboa e gostam de ver os seus artistas, não apenas na televisão, porque ver um espetáculo ao vivo é completamente diferente. A energia é completamente diferente. Eu acho que o público do Norte merece, porque não vem só gente do Porto, vem gente de Viana, Braga, Bragança e até de Lisboa cá ao Porto ver a peça. Portanto há essa dimensão e é bom que os senhores políticos vejam isso”.