OS NÚMEROS NÃO MENTEM

Os números dos últimos censos permitem avaliar algumas das políticas que a Social-Democracia aplicou durante os últimos 20 anos na cidade de Ponta Delgada. Cada vez mais pessoas estão a optar por residir na periferia, levando consigo a movida e tornando a cidade num Donut, vazio por dentro e “cheio” por fora.

Os Censos 21 identificam que, fruto das políticas da autarquia de Ponta Delgada nos últimos 20 anos, a movimentação dos cidadãos entre a sua habitação e o seu emprego/escola reduziu para cerca de metade, quer nos que se deslocam a pé (25,5%->13,8%) quer nos que o fazem com recurso a transportes coletivos (25,4%->11,6%). Em contraponto, a população que agora depende exclusivamente de viaturas para realizar estas deslocações aumentou em 26,1% (47,2% -> 73,3%).

Os números não mentem e mostram que a autarquia falhou. Falhou em acompanhar tendências e em prever necessidades. Falhou em promover transportes coletivos que dessem efetiva resposta às necessidades dos ponta-delgadenses. Falhou na promoção de habitação nos núcleos urbanos. Falhou em garantir condições de habitabilidade na cidade. Falhou em toda a linha.

É muito importante promover o regresso das pessoas às cidades. Só com o regresso da população aos núcleos urbanos é que conseguiremos aumentar o número de pessoas que se deslocam a pé ou utilizam os transportes públicos no seu dia-a-dia. Afinal, são as pessoas que dão vida às ruas. São os aglomerados de pessoas que garantem maior perseverança do comércio local! São as pessoas que criam a vizinhança, o bairro e a comunidade! E nem preciso de me alongar muito sobre as questões ambientais associadas a deslocações constantes de viaturas particulares.

Por outro lado, quanto mais as pessoas se afastam dos núcleos urbanos para as periferias, maiores são os custos para a autarquia, refletindo-se num aumento de custos de manutenção dos espaços públicos e num maior investimento na ampliação das redes de saneamento, recolha de lixo e de eletricidade. Ninguém quer cidades-fantasma, onde a habitação existente é apenas para alguns pequenos afortunados e a remanescente ou está devoluta ou é segunda habitação de emigrantes.

A cidade de Ponta Delgada merece mais! Merece mais habitação, através de uma revisão do PDM e de políticas que promovam e apoiem a reabilitação e a construção de mais fogos habitacionais. Merece rever o plano viário de forma integrada com os moradores, através da criação de zonas de condução exclusiva a moradores, construção de passeios de maior dimensão e maior disponibilidade de lugares de estacionamento aos residentes. Merece rever a gestão integrada da sua rede de transportes públicos, prevendo a existência de passes mensais, o prolongamento da rede urbana às freguesias adjacentes da cidade, e a alteração dos trajetos para uma filosofia de rotas axiais ao invés de concêntricas. Merece rever a contentorização do lixo e redefinir os períodos de recolha.

Quando se olha para Ponta Delgada vê-se tanto por fazer, no entanto quem está na bolha do poder não vê ou não quer ver. Faltam ideias ao partido que tem liderado os destinos camarários nos últimos 30 anos. A cidade precisa de se reinventar e inverter esta desertificação do centro histórico e urbano, promovendo condições para o regresso de moradores a tempo inteiro.

 

Carlos Caetano Martins

Vice-Coordenador da Iniciativa Liberal – S. Miguel