Fábio Pim está entre o sub e o supervalorizado durante a sua carreira. Um jogador que recebia aos 16 anos, 300 mil euros anuais. Sobre o qual, repetiu-se a afirmação de quem tinha visto Ronaldo, o Paim era três vezes melhor (tanto o “caçador de talentos” Professor Aurélio Pereira e até pelo próprio Ronaldo). 1)
O que faltou? Primeiramente, faltou mentalidade. Enquanto um, teve uma base na motivação extrínseca, o outro foi pela motivação intrínseca, enquanto um agarrou-se somente ao seu talento, distraindo-se com outros caminhos, o outro melhorou-o, consolidou-o e focou-se no trabalho. Mas esta história já foi repetida e escrutinada por tantos e nos diversos meios comunicacionais, relevando os dois lados da mesma moeda. Mas não é uma situação antiga, nem única. Pelo contrário, é recorrente e frequente. Mas escondida pelos recursos das academias, ou pelas condições oferecidas pelas estruturas e pelas excessivas expectativas por parte de quem devia ajudar no seu crescimento, e pelo contrário, orbitam à sua volta. No entanto, temos jogadores aos 16 anos e até mais cedo, que já são considerados a futura estrela, o próximo Messi ou Ronaldo. Esta aberração e pressão doentia, afeta não só o crescimento do jogador, como da pessoa. A sua individualidade, a sua personalidade está em crescimento, como as restantes dimensões. 2)
O perigo da especialização precoce está iminente e apressar as fases de crescimento têm sempre os seus danos colaterais, seja a nível físico, mental ou outro. Ao contrário, a preocupação de grandes e responsáveis organizações desportivas com a multilateralidade e a variabilidade de conhecimentos e estímulos, de forma a promover a pluralidade da formação desportiva, tem sido mais constante. Desde a retirada das classificações nas tenras idades de petizes até benjamins (ver o exemplo do Bayern Munique) até a inclusão da psicomotricidade e pedagogia como parte integrante das sessões de treino dos mais jovens. Até porque segundo Einstein “todos somos gênios” em alguma coisa, mas se julgarmos um peixe pela sua capacidade de subir a uma árvore, este passará a vida toda a acreditar que é um incapaz. Nem promover os “Balotellis da Vida”, que vão achando que tudo é fácil e nada é conquistado. E que se vão safando, sem trabalho, nem esforço. 3)
A multiplicação deste fenômeno no colectivo, é visível na prepotência do estatuto de alguns jogadores que não fizeram a sua auto análise ou ninguém o fez. Pior é quando pintam um quadro bonito que está longe do real. Seja pelos pais ou restantes agentes desportivos.4) Isto sempre com uma justificação gasta, de ter uma equipa na mão, ou seja condescender ou manipular para sobreviver. Ligamos a TV, e então começam o debate e o populismo provinciano de quem se tenha “salvar” salta à vista, repetindo o politicamente correto: “não devemos pensar em ganhar mas sim em formar”. Esta conversa bacoca de quem está no topo ou quer lá chegar, faz o que digo não faças o que eu faço, após tantos anos é pura demagogia. Nada mais invertido, do que retirar o resultado do rendimento, retirar a competição da competitividade, retirar o jogo do treino, retirar o foco do processo. 5) Porque tudo isto está mais que presente e não se pode dissociar, o problema não é onde se quer chegar, mas sim como se chega lá. Temos sim de VALORIZAR E PROMOVER MAIS: O PRINCÍPIO, A COMPETITIVIDADE, O CRESCIMENTO E O PROCESSO, mesmo quando o resultado não é aquele que mais nos favorece. Pois este imediatismo no processo e de chegar rapidamente ao prémio, tem consequências negativas a nível individual, mas também colectivo. Com isto, no atropelo para ser o protagonista principal ou estar sempre na “fotografia”, onde está a aprendizagem do foco, da resiliência, do trabalho, do PROCESSO…? 6)
São perguntas antigas e muito sensíveis para quem tem o dever de as responder. Mas se continuarmos com esses Paims, não se queixem dos vossos resultados, pois se não resolvem as causas, treinaram para serem super estrelas de hollywood e não para serem atletas, muito menos de alta competição.