José Carlos Leitão, em entrevista ao AUDIÊNCIA, contou como tem sido a sua jornada como vice-presidente do Valadares Gaia Futebol Clube. Além de responsável pelo Lar do Atleta, e da sua posição de Gestor de Segurança, que mereceu até um email de parabéns da Federação, falou, de coração cheio, do projeto de desporto adaptado do clube. A equipa de futebol de sete para pessoas com paralisia cerebral está parada devido à pandemia, mas cheia de vontade de voltar para os campos, jogar e vencer!
José Carlos Leitão nasceu em 1961 e é natural da Madalena. Desde sempre que os habitantes da Madalena se dividiam a apoiar dois clubes dos regionais: o Coimbrões e o Valadares. Leitão era uma excepção. Filho de barbeiro, contou ao Jornal Audiência que os clientes dos pais o levavam a ver jogos dos dois clubes, por isso, nunca escolheu e apoiava os dois. Na escola também tinha vários colegas de turma que eram jogadores de ambos os clubes, por isso, sempre foi incapaz de escolher apesar de admitir: “Diria que ao nível das camadas jovens eu inclinava mais para o Coimbrões e ao nível dos seniores eu inclinava mais para o Valadares, mas confesso que quando as duas equipas jogavam uma contra a outra, ficava feliz ganhasse quem ganhasse”. Aos dezoito anos, José Carlos Leitão foi trabalhar para o Candal, perto do estádio do clube da região, e ganhou também uma simpatia pelo clube candalense. Mais tarde também teve uma ligação muito forte ao Espinho, principalmente no voleibol, mas o amor pelos dois primeiros clubes da regional nunca passou, até que chegou à direção de um deles.
Desporto adaptado no Valadares Gaia
José Manuel Soares, presidente do Valadares Gaia Futebol Clube, é amigo de José Carlos Leitão, até porque a esposa de José Manuel Soares pertence, tal como Leitão, à Confraria da Pedra. José Carlos Leitão garante que já tinha surgido, várias vezes, de forma informal, a conversa de se juntar ao Valadares, no entanto, não se concretizou até 2019. Foi nesse ano que presidente do clube convidou José Carlos para um almoço garantindo que tinha uma proposta irrecusável. “Fui ao almoço e ele disse-me que queria criar o deporto adaptado no Valadares e que gostava que eu fosse o responsável por esse projeto, ele queria que eu fosse o vice-presidente para o desporto adaptado”, contou José Carlos Leitão. Foi a veia solidária de José Carlos Leitão que não o deixou recusar tal convite. Entrou no clube por volta de julho de 2019, sendo que o projeto de futebol de sete para pessoas com paralisia cerebral começou em setembro desse mesmo ano. O FC Porto tinha terminado com o projeto na área do futebol adaptado e o Valadares acabou por acolher esses atletas, com o apoio imprescindível do atleta internacional Telmo Batista. O projeto no Valadares conta com jogadores entre os dezoito e os quarenta anos. “Nesta modalidade eles são classificados por categoria, consoante o grau da sua incapacidade, é por tipo e por grau, vai de 1 a 3 e de A a C. Os atletas podem estar classificados como 1A, 2B, 3A, etc. Por exemplo, o nosso Telmo, que nomeamos como diretor para a secção, é internacional, guarda-redes, e de categoria 1B”, explicou o vice-presidente do Valadares.
Os atletas deveriam ser inscritos na PCAND – Paralisia Cerebral Associação Nacional de Desporto, mas com as eleições no clube a aproximarem-se, não houve uma apresentação formal da equipa, nem a inscrição da associação, sendo que logo em março de 2020, a pandemia chegou e parou o projeto. Em setembro de 2020 o futebol adaptado voltou aos treinos, mas a aventura só durou até ao Natal, desde aí, a equipa está novamente parada.
A oferta é reduzida no país, segundo o vice-presidente há uma equipa no centro, outra no sul, e depois apenas em Espanha. José Carlos Leitão fala até da possibilidade de um Campeonato Ibérico, no entanto, garante que os “apoios são zero”.
O regresso está pendente do avanço da situação pandémica, no entanto, José Carlos Leitão garante que toda a equipa está ansiosa por voltar ao campo. “A nossa ideia era fazer jogos treino com os bombeiros, por exemplo, uma equipa da Gaiurb, rapaziada assim que joga, os solteiros e os casados daqui e dacolá, para eles terem competitividade, e quem vier leva”, brincou o vice-presidente do Valadares Gaia que terminou a temática com uma reflexão importante sobre o desporto adaptado e os atletas com paralisia cerebral: “Não são coitadinhos, são diferentes”.
Lar do Atleta
Dentro do Valadares Gaia Futebol Clube, José Carlos Leitão ainda assumiu outro papel importante, praticamente a par da equipa do desporto adaptado. O vice-presidente sentiu que José Manuel Soares precisava de apoio noutro projeto do clube, o do Lar do Atleta, e, novamente, a sua veia social não o deixou indiferente ao projeto, ficando assim responsável pelo Lar do Atleta. Este espaço de três pisos alberga cerca de 17 atletas, que não sendo desta área de residência, habitam nas instalações e só regressam às suas casas nas férias ou nas festas. “Temos atletas do Brasil, um do Algarve, ali de Faro, temos também atletas da Nigéria, do Gana”, deu como exemplo.
O que José Carlos Leitão não sabia, era que rapidamente os atletas instalados neste lar passariam por uma fase complicada: a do confinamento. No início da atual época, dez dos atletas instalados no Lar do Atleta, ficaram infetados com Covid-19, mas o vice-presidente do clube garante que nunca os abandonou e os visitou todos os dias, com todas as precauções necessárias, para que mesmo longe de casa, não se sentissem sozinhos e abandonados.
O gestor de segurança e os PCS
A época atual começou marcada pela situação que o país e o mundo atravessa, fruto da pandemia da Covid-19 e, por isso, a nova legislação pedia a figura de um gestor de segurança, um indivíduo que ficaria responsável pelos eventos desportivos que se realizassem no complexo desportivo. José Carlos Leitão foi o selecionado para tal papel. Tanto o Valares como a SAD o escolherem e então, ficou responsável por ambas as equipas, a feminina que joga na Liga BPI, e pela equipa masculina, que disputa atualmente o Campeonato de Portugal.
“O gestor recebe a equipa adversária, a equipa de arbitragem, o delegado da federação, faz o intercâmbio com as forças de segurança, que estão em prevenção ou no campo, consoante a equipa, faz a ponte com os bombeiros”, explicou José Caros Leitão.
Mas o vice-presidente não está sozinho na tarefa, os “verdinhos”, como são carinhosamente tratados pelos seus coletes verdes, ajudam na tarefa. Mas quem são os verdinhos? São uma equipa de PCS (Ponto de Contacto de Segurança) que ajudam o gestor de segurança, identificado pelo seu colete cor-de-laranja, no trabalho. “Agora chegamos 2h antes do jogo, recebemos a equipa e temos pontos estratégicos, ou seja, estamos espalhados pelas portas, na zona técnica, no balneário. Temos locais onde toda a gente mede a temperatura antes de entrar, desinfeta as mãos, tudo mecanizado. Nós levamos isto muito a sério”, confessou o vice-presidente que diz que recebe inclusive telefonemas de outras equipas a questionar a sua organização e maneira de trabalhar na segurança do complexo.
Os elogios foram surgindo, até mesmo por parte dos delegados da federação, mas a confirmação do bom trabalho desta equipa surgiu em forma de email. A Federação Portuguesa de Futebol enviou um email ao Valadares a parabenizar o clube, e mais especificamente a equipa de segurança, pelo trabalho, organização, empenho e entusiasmo que têm mostrado. José Carlos Leitão não escondeu o orgulho e admitiu mesmo que esse momento o encheu de orgulho.