Antes da publicação da primeira parte de mais um original concorrente ao concurso “Um Caso Policial no Natal”, apresentamos os resultados alcançados pelos primeiros cinco contos que já foram sujeitos à avaliação e pontuação do júri, com o nosso confrade Paulo (Viseu) na liderança.
01.CONTO: O CONTRATO, de António A.F. Aleixo
27 pontuações validadas:
7+8+5+7+7+8+6+7+7+8+5+7+7+8+5+7+7+6+5+7+8+7+10+8+7+6+7 = 187 pontos.
pontuação média: 6,92592593;
02.CONTO: O FANTASMA DO HOTEL INFANTE D. HENRIQUE, de Bernie Leceiro
27 pontuações validadas:
7+7+5+7+7+8+7+7+6+7+7+6+5+6+7+6+7+7+6+5+6+8+8+7+5+5+8 = 177 pontos.
pontuação média: 6,55555556;
03.CONTO: A MINHA NOITE DE NATAL, de Paulo
27 pontuações validadas:
7+8+6+7+6+7+8+8+6+8+7+8+6+7+7+7+7+7+7+8+6+7+8+6+8+9+9 = 195 pontos.
pontuação média: 7,22222222;
04.CONTO: PRAZERES DE NATAL, de O Gráfico
29 pontuações validadas:
6+6+5+5+6+5+6+5+6+5+5+6+6+6+6+5+5+5+8+9+10+10+6+10+10+7+9+10+7= 190 pontos.
pontuação média: 6,72413793.
05.CONTO: A PRENDA DE NATAL DA MARTINHA, de Paulo
29 pontuações validadas:
7+7+8+7+6+6+7+6+7+8+7+7+6+6+9+8+7+8+7+8+7+6+7+7+7+8+6+9+7=206 pontos
pontuação média: 7,10344828
Eis, portanto, a classificação até ao quinto conto:
1º – “A Minha Noite de Natal”, de Paulo, com 7,222 pontos;
2º – “A Prenda de Natal da Martinha”, de Paulo, com 7,103 pontos;
3º – “O Contrato”, de António A. F. Aleixo, com 6,925 pontos;
4º – “Prazeres de Natal”, de O Gráfico, com 6,724 pontos;
5º – “O Fantasma do Hotel Infante D. Henrique”, de Bernie Leceiro, com 6,555 pontos.
Veremos agora o que acontece com a avaliação do segundo lote de cinco dos dezanove contos a concurso. Para já, aqui fica a primeira parte do nono original, também da autoria de Paulo.
“Um Caso Policial no Natal” – NONO CONTO
A MORTE DO PAI NATAL…, de Paulo
I – PARTE
Os chuviscos não lhe travavam nem aceleravam o passo. Na rua, onde se cruzava com as outras pessoas com os seus guarda-chuvas abertos, ele seguia exposto à ligeira intempérie que se abatera sobre a cidade, ou, pelo menos, sobre aquela parte da urbe. Esses chuviscos nada tinham de estranho. No dia vinte e três de dezembro, era normal que a chuva caísse, ou as nuvens pontuassem o céu com a ameaça de alguma bátega. Era inverno.
Não sabia se havia nuvens. Enquanto a Terra, no seu rodar, não empurrara o Sol para o outro lado do planeta, constatara o aspeto plúmbeo do teto que cobrira toda a região celeste que os seus olhos avistavam, mas, à medida que a noite avançara, deixara de poder observar o céu, e agora apenas aquela morrinha que se abatia sobre si, e sobre todos, era sinal de que teria que haver uma cobertura nebulosa naquele local.
Mas as características dessa cobertura não o ocupavam nem lhe mereciam o menor interesse. Caminhava, colocando um pé atrás do outro, num movimento mecanizado que efetuava sem premeditação, sobre a rua plena de lojas abertas, com montras cheias de árvores de natal e outros enfeites, onde se acentuavam as cores vermelhas e verdes, marcando a época que decorria e o dia que se aproximava. Cada montra que surgia, parecia mais exuberante que a anterior, na expectativa de fazer um apelo aos passantes, transformando-os em clientes que pudessem aumentar as receitas daquele espaço comercial. Era a lei da concorrência na sua força total, mascarando um Natal que se pretendia que fosse a época da fraternidade e da solidariedade.
Caminhava sem se aperceber da luminosidade pendurada sobre a sua cabeça. Eram pequenas luzes de várias cores, enfeitando suportes suspensos com as formas de estrelas, de folhas de uma árvore que não se percebia qual era, de silhuetas de árvores de natal, de bolas, de sinos e, por vezes, de umas pequenas entidades que se propunha que fossem anjos. Eram os enfeites de Natal que decoravam a rua, colocados pela câmara municipal, que numa travessa perpendicular, onde quase não existia comércio, já não colocara as luzes decorativas. O importante era que os clientes das lojas ficassem iluminados. Nas outras ruas não existia Natal. Se não existiam compradores, o Natal não era relevante. Podia dizer-se que era o Natal das compras. Era o Natal no seu máximo esplendor.
Estes pensamentos iam cruzando a mente do homem que caminhava, ou melhor, que avançava naqueles passos de sentido único, naquele movimento maquinal de quem percorrera múltiplas vezes aquele mesmo passeio de pedras polidas e molhadas, que poderiam levar ao fácil escorregamento dos passantes mais descontraídos.
Entre os dois passeios, na rua de chão negro, iam passando automóveis. Lentamente, sendo obrigados a parar nas frequentes passadeiras onde os muitos peões atravessavam a rua, seguiam nos dois sentidos, como se esse movimento fosse importante para o equilíbrio daquele espaço.
O homem não tinha um aspeto normal. Talvez, naquele tempo que decorria, se pudesse considerar mais frequente, mas não era esse pormenor, transportado pelo calendário, que dava à roupa e ao aspeto do homem a normalidade que parecia transparecer nos outros transeuntes.
A sua roupa era vermelha. Um casaco vermelho e umas calças vermelhas, que davam para perceber não ser a sua roupa principal. Era evidente, até pela ligeireza do tecido, pouco eficaz para as baixas temperaturas da época, que outra roupa se alojava por debaixo daquele fato vermelho. Umas botas pretas enfiavam-se sob as pernas das calças, parecendo ser, contrariamente ao restante vestuário exposto, mais adequadas ao clima, como o mostrava o forro branco que transbordava no cano que subia ligeiramente acima do tornozelo, que estava meio tapado pelas calças, só ficando visível no dobrar da perna para cumprimento dos passos que transportavam o homem ao longo da rua.
Na cabeça, um barrete vermelho, orlado de pelos brancos, com a cúpula ligeiramente tombada, onde aparecia uma bola de pelo, também branco, no cocuruto, completava o vestuário. Uma barba postiça, longa, de cor branca, com alguns centímetros de comprimento, escondia um rosto de cinquenta e seis anos.
(continua na próxima edição)