Rita Francisco é a investigadora portuguesa que liderou uma investigação sobre Doenças Congénitas da Glicosilação em todo o mundo. A investigação chegou diretamente às famílias afetadas em forma de questionário, online, e foi traduzido em cinco línguas diferentes para uma maior abrangência. Alguns resultados já são conhecidos e estão a ser feitas duas novas investigações em torno dos mesmos.
Rita Francisco, investigadora da CDG & Allies Professionals and Patient Associations International Research Network (CDG & Allies PPAIN), liderou uma investigação com famílias com Doenças Congénitas da Glicosilação (CDG) de todo o mundo. O objetivo da investigação era recolher dados de forma a perceber o impacto das infeções, das alergias e de outras patologias na vida das pessoas que sofrem da condição CDG, para implementar uma abordagem centrada nas famílias, assim como desenvolver projetos de investigação na área.
Para chegar a um maior número de pessoas, a investigação teve uma vertente online, como explica a investigadora portuguesa, que também é membro da Associação Portuguesa para as Doenças Congénitas da Glicosilação e outras Doenças Metabólicas Raras (APCDG) e da Organização Mundial das Doenças Congénitas de Glicosilação. “Visto a comunidade CDG estar dispersa pelo globo, optámos por desenvolver uma ferramenta baseada num questionário online, o ImmunoCDGQ. Os questionários foram traduzidos em cinco línguas para facilitar e diversificar a participação das famílias. Desenvolvemos um conjunto de campanhas e estratégias de divulgação e capacitação, explorando diversas plataformas online, de modo a maximizar o recrutamento, mas também para assegurar que os participantes estavam devidamente informados e esclarecidos”, afirmou Rita Francisco.
As conclusões do estudo “New Insights into Immunological Involvement in Congenital Disorders of Glycosylation (CDG) from a People-Centric Approach”, liderado por Rita Francisco, revelam, entre outros aspetos, que os doentes com CDG mostram uma prevalência mais alta de manifestações imunológicas; que a forma mais comum da CDG (PMM2-CDG) apresenta padrões de infeção diversos e graves, que são uma causa importante de hospitalização; que as infeções em PMM2-CDG têm maior relevância clínica na infância e estão significativamente associadas ao trato gastrointestinal; que a suspeita de infeção é o principal gatilho para cuidados médicos com antibióticos; e que as infeções e alergias afetam negativamente a vida diária dos doentes com PMM2-CDG.
Com os resultados obtido, Rita Francisco referiu que estão a ser desenvolvidos dois projetos de investigação, bem como outras iniciativas.
Entenda-se que as Doenças Congénitas da Glicosilação (CDG) são um grupo de 150 doenças hereditárias que afetam a glicosilação, um processo pelo qual todas as células humanas acumulam açúcares de cadeia longa que estão ligados a proteínas ou lípidos (gorduras), essenciais para muitas funções biológicas. Estas doenças são altamente incapacitantes, com uma elevada taxa de mortalidade pediátrica e com significativo impacto negativo na qualidade de vida dos doentes e das famílias. As CDG são uma família de doenças muito raras, estimando-se que a forma mais comum (PMM2-CDG) afete uma em cada vinte mil pessoas.