A Festa do Divino Espírito Santo do Império da Santíssima Trindade da Rua e Largo East Providence e Rua da Praça, na Ribeira Grande, teve este ano como mordomo a Sociedade Filarmónica Triunfo. Os momentos altos ficaram marcados pelo concerto do artista José Malhoa no dia 19 de junho e pelos momentos religiosos do dia 20.
Fez-se história na filarmónica mais antiga dos Açores. Pela primeira vez a Sociedade Filarmónica Triunfo foi mordomo de festas em honra do Espírito Santo, desta feita, do Império da Santíssima Trindade da Rua e Largo East Providence e Rua da Praça.
Segundo Paulo Garcia, presidente da direção deste grupo, “o ano passado houve a oportunidade [da filarmónica ser mordomo], nós agarrámos o desafio e agora estamos a concretizá-lo com muita felicidade, com muito empenho e esforço de todos nós”.
Foi com “alegria” que os cerca de 40 membros ativos receberam a notícia e logo toda a gente “se prontificou a trabalhar”, incluindo as famílias dos músicos que, inclusive, ajudaram na preparação das tradicionais Sopas do Espírito Santo que foram distribuídas a mais de 1500 pessoas na quinta-feira, dia do Corpo de Deus.
Paulo Garcia explica toda a logística envolvida para manter a tradição: “nós temos que abrir o quarto na primeira dominga, que é o segundo domingo da Páscoa. Depois a coroa passa pelas sete domingas do império e também temos que distribuir as 150 pensões. Cada pensão é constituída por três a quatro quilos de carne, uma garrafa de vinho e um bolo de massa. Foram distribuídas aos irmãos do império, aos músicos e antigos músicos e também às entidades oficiais que nos ajudaram”. Ainda que tudo envolva muito tempo e muitas tarefas a serem realizadas, o presidente elogia a disponibilidade dos intervenientes, afirmando que “quando o trabalho é feito em equipa, torna-se mais fácil”.
A par desta instituição, também o Sporting Club Ideal e a Associação de Bombeiros Voluntários de Ribeira Grande já foram mordomos desta festa. Tal como disse Paulo Garcia, é importante as instituições participarem e manterem esta tradição porque, no caso em particular da filarmónica, “mostra que estamos inseridos na nossa comunidade”.
Neste sentido, também José António Garcia, presidente da Assembleia Municipal de Ribeira Grande, afirmou que “as próprias instituições devem emergir da comunidade e ao mesmo tempo devem estar em profunda e estreita ligação com a comunidade” para que se possam proporcionar momentos destes.
José António Garcia relembrou, em declarações ao AUDIÊNCIA, que ainda que a Sociedade Filarmónica Triunfo tenha passado por momentos de inatividade desde a sua fundação em 1846, também tem tido a “capacidade de se renovar”, sendo prova disso a atividade que atualmente desenvolve na sociedade em que se insere.
“Não podemos esquecer que é difícil, hoje em dia, atrair a juventude para uma banda filarmónica. Por outro lado, é com agrado que vemos que quando os jovens são desafiados para projetos que valham a pena e que lhes dizem alguma coisa (e penso que este projeto é um projeto que vale a pena porque lhes permite ocupar os tempos livres e ao mesmo tempo ganhar conhecimentos no campo musical), os jovens aderem.”, declara o presidente da Assembleia Municipal que deixou, ainda, uma mensagem aos jovens para que continuem a ingressar em atividades musicais, em especial as filarmónicas: “o saber não ocupa lugar e a música é uma forma muito nobre mas também muito simples (se é que assim se pode dizer) de expandirmos os nossos conhecimentos e expressarmos a nossa sensibilidade através de uma forma artística”.
Presente nestas festas em honra do Divino Espírito Santo esteve também Hernâni Costa, presidente da Junta de Freguesia de Matriz, que demonstrou o seu contentamento com o facto da Triunfo ter sido mordomo do império, afirmando que “a festa fica diferente porque toda a comunidade consegue envolver-se, já que não é de uma pessoa em particular”.
Na ocasião, o presidente da Matriz mencionou o apoio que a Junta de Freguesia dá tanto a nível “financeiro como logístico a todas as coroações, sendo que na Matriz temos neste momento 10 coroações ativas”.
Para Hernâni Costa o apoio logístico revela-se muito importante numa altura em que “as pessoas têm vidas muito atarefadas e pouca disponibilidade para preparar este tipo de eventos, por isso mesmo temos de apoiar para que as tradições não morram”.
Também a apoiar a Sociedade Filarmónica Triunfo esteve Salvador Couto, um emigrante ribeiragrandense que atualmente reside em Hanover, nos Estados Unidos da América. Por ser devoto do Divino Espírito Santo, costuma visitar a cidade que o viu crescer na altura das festas. Este ano “não podia deixar de vir porque colaboro com a direção desta filarmónica”.
Orgulhoso pelo trabalho que todos fizeram, Salvador Couto afirma que “dá-me muito prazer fazer parte desta associação”. Por isso mesmo ajudou no que pôde, em particular a trazer à Ribeira Grande o artista José Malhoa, que atuou na quarta-feira, dia 19 de junho. Uma escolha em cheio, que se revelou um “sucesso”: “não pensava que a Ribeira Grande iria encher como encheu com o José Malhoa”, diz, pelo facto de milhares de pessoas terem presenciado o concerto do artista no Largo Hintze Ribeiro.
Recordando os tempos em que residia na Matriz, Salvador mostra a sua satisfação ao ver que a comunidade continua envolvida nas festas do Espírito Santo: “não tem preço ver estas tradições continuarem, melhor não podia ser”.
Os principais momentos religiosos deram-se com o cortejo para a igreja Matriz, que teve início pelas 11h30 e foi abrilhantado pela Filarmónica de Nossa Senhora das Vitórias e também pela Filarmónica Voz do Progresso, seguindo-se a missa presidida pelo Pe. Manuel Galvão e com a presença do então diácono Fábio Carvalho. A partilha das Sopas do Espírito Santo deu-se pelas 14h e durante a tarde atuou o Grupo Folclórico de Santa Bárbara e à noite a Tia Maria do Nordeste.