SANDIM, OLIVAL, LEVER E CRESTUMA

SANDIM

Não é do meu conhecimento a data da fundação desta freguesia de Santa Maria de Sandim.

Nos tempos do feudalismo, o território desta freguesia e de várias outras, até Avintes, pertencia a um senhor feudal, de nome D. Gondezindo, donde vem o nome de Gondezende dado a um lugar da vizinha freguesia de Olival..

Esse senhor feudal, tendo-lhe nascido uma filha defeituosa e julgando que esse facto se devesse a castigo de Deus, mandou construir em Avintes um Convento para nele recolher a sua filha, dando-lhe 40 escravas para a servir.

Diz a tradição que esse senhor D. Gondezindo, ainda para se pemitenciar perante Deus, legou essas terras ao Convento de Vila Cova das Donas, subordinado ao Convento de S. Bento da Ave-Maria.

DO Convento de Vila Cova das Donas, talvez mandado edificar por ele, ainda existe a capela-Mór da Igreja, onde se venera o S. Brás e a Senhora da Saúde.
Hoje esse lugar tem o nome de Mosteiro e pertence à freguesia de Sandim.

Mais tarde, foram confiscados os bens às Ordens religiosas e as terras foram cedidas a diversos rendeiros que ficaram sujeitos ao pagamento de foros.
Assim se forma repovoando estas paragens dando lugar, mais tarde, talvez por volta do século XV, `fundação da freguesia de SANDIM, cuja Padroeira è Santa Maria, tendo uma área de cerca de 42 Km2.
A sua população, em 1870.segundo Pinho Leal, era de 2.800 habitantes. Hoje, tem cerca de cinco mil.

A Igreja matriz data de 1700, porém anteriormente havia uma outra, segundo dizem, no lugar da Carvalhosa. Nada existe, nem mesmo até o lugar com esse nome.

 

 

OLIVAL

Situada no extremo do concelho, ligando-o com as “Terras da Feira”, é a freguesia do concelho de Vila Nova de Gaia, banhada a norte pelas águas do rio Douro.

A sua história que é antiga anda envolta em lenda e tradição, porque não apareceu ainda quem, filho ou não desta terra, se desse ao trabalho ingrato de libertar a verdade histórica do silêncio e da poeira dos arquivos. Não perdeu o seu carácter tipicamente rural, que conserva de há séculos, com os seus agora três mil e seiscentos habitantes, que nos fins do século XVII não iam além de um milhar.

A sua vida religiosa deve de algum modo andar ligada à Ordem de S. Bento. Teve convento de freiras benedictinas, que no século XV centralizou a vida religiosa da freguesia e que foi extinta no século XVII, passando as religiosas para o convento benedictino da Ave-Maria, da cidade do Porto, e mais tarde, talvez depois de extinto o convento local, pelo Cabido da Sé do Porto com renda anual de 400 escudos.

Nos princípios do século XIX foi pároco colado desta freguesia Manuel Joaquim de Sousa Freitas que foi professor de Teologia Moral do Seminário do Porto, examinador do bispado e visitador.

Fazem parte desta freguesia as antiquíssimas povoações de Seixo-Alvo e de Arnelas.

Os seus nomes já são falados na história do antigo reino de leão, antes chamado das Astúrias e de Oviedo. Aí se diz que Seixo-Alvo, no século X, limitava com os terrenos do Convento de Crestuma e que esta povoação com todos os seus termos fora doada ao bispo de Coimbra, em 922, por D. Ordonho II, rei de Leão,, quando este soberano visitara o então prelado de Coimbra no Convento de Crestuma onde o bispo se tinha acolhido. Terá este facto ligação alguma com a tradição popular que fala duma antiga batalha entre mouros e cristãos e diz ser origem da devoção e culto a Nossa Senhora do Campo localizada numa pequena capela que pretende marcar o lugar da luta?

D. Ordonho e os seus sucessores, D. Afonso IV e D. Ramiro II, afastaram os mouros mais para o sul dos seus estados.
Arnelas é igualmente lembrada. Fala-se do “Porto de Arnelas” e da sua “Igreja de santo André”. Esta terra, devido à sua situação à beira-rio, e ao seu antigo cais (“Porto de Arnelas”) – muito frequentado pelos barcos que transportavam os vinhos do Alto Douro, para a cidade do Porto (Cais de Gaia!) tornou-se no século XVII o maior centro populacional da freguesia e principalmente depois do tratado de Methwen, nos princípios do século XVIII, que veio dar grande incremento ao comércio do vinho do Douro.

A pedido dos seus habitantes, e no reinado de João V, no século XVIII, foi criada em Arnelas e junto ao rio Douro, uma feira anual e franca, no dia 21 de Setembro – Feira de S. Mateus – que com mais de dois séculos de existência tem continuado sempre com grande valor comercial e com o nome regional de Feira das Nozes.

Como a igreja paroquial se distanciasse uns três quilómetros da povoação, ao mesmo monarca fora pedida a construção duma capela, suficientemente ampla, para facilitar aos seus habitantes o cumprimento dos seus deveres religiosos.

D. João V determinou, então, que no Couto de Crestuma fosse estabelecido um imposto especial, de um real em cada quartilho de vinho do Douro que passasse no rio e igual tributo em cada rasa de sal que fosse vendida a dentro dos limites do referido Couto e que este rendimento se gastasse na construção da capela.

No dia 20 de Outubro de 1723 foi lançada a primeira pedra e quatro anos depois, no dia da Ascensão, foi celebrada a primeira missa no templo de S. Mateus de Arnelas.
Capela de reduzido valor arquitectónico, outro tanto se não poderá dizer do valor artístico dos seus três altares de estilo D. João V.

Alguma coisa ficou Olival a dever á magnificência do reinado de D. João V.

 

 

LEVER

Lever, que geograficamente é a última freguesia do concelho de Gaia pelo lado nascente, está longe de ser a última no tocante à sua antiguidade e aos seus pergaminhos.

Enquadrada desde sempre nas terras de Santa Maria (Feira), só a 11 de Outubro de 1926 foi anexada ao concelho de Gaia pelo decreto 12457.
Embora se desconheça a sua origem ou fundação, no entanto tudo indica ser da mais remota antiguidade, a principiar pelo seu próprio nome.

Na verdade em 19476 (Biblos, vol. XXIII este mereceu um estudo do conhecido professor e especialista no ramo, Dr. Joseph M. Piel, segundo o qual tratar-se-ia duma formação onomástica antroponímica de “Liberius”.
Há porém quem o prenda com outra origem latina (Olivifer) “Olifer”.
Tanto num, como noutro caso existem documentos que lhe oferecem alguma consistência sendo porém mais verosímil a primeira interpretação.

Na verdade em 922, por ocasião da visita que o rei das Astúrias e Leão, Ordonho II, fez ao Bispo de Coimbra, D. Gomado, que se refugiara no mosteiro beneditino de Crestuma, se faz larga alusão à freguesia de Lever e esta então designada pelas formas: “liveri,“ “Leveri”.

Já anteriormente a esta data sabemos da existência do actual lugar de Mourães (Maurannes) e posteriormente são várias as alusões nos forais da Feira, respeitantes a este limite-norte dos seus domínios.
Hoje porém, vamos apenas fazer uma referência a uma tradição antiga, cuja consistência histórica, não nos é possível por enquanto documentar com precisão. Trata-se da visita a Lever do Arcediago de Vermoim e da sua interferência na fundação da actual Capela do Santo.

Este arcediago viria a ser uma personalidade muito discutida no mundo, além de ser até ao presente o único papa português.

Nascido em Lisboa por 1220, conhecido nas Letras pelo nome de Pedro Hispano e em Portugal pelo Pedro Julião, fora médico e lógico eminente, exercera altos cargos eclesiásticos no país e no estrangeiro e chegara a ser eleito arcebispo de Braga e nomeado cardeal por Gregório X no concílio ecunémico de leão. Em 1276 ascendera ao sólio pontifício; porém o seu pontificado deveras promissor, foi muito efémero.

Passara na Universidade de Paris com fama de muito saber. Escrevera um livro de medicina chamado “Tesouro dos Pobres” e redigira as famosas “Summulae Logicales”, cuja influência foi tal no mundo culto, que durante 300 anos serviram de compêndio nas universidades e mereceram uma luminosa referência a Dante na Divina Comédia.
Pois este papa, que teve o nome de João XXI, enquanto arcediago de Vermoim e na qualidade de visitador das terras foreiras da sua ordem, deslocou-se por mais do que vez a Lever, a darmos crédito ao que se lê em alguns prazos velhos. Aqui serviu de padrinho de uma criança, a quem pôs o nome de pêro e que era filha do casal da Mamoela. Este Casal era e foi pertença do Mosteiro de Pedroso até 1700, mas hoje são nulos os vestígios das suas construções, que se situavam junto ao Real.

Grassava então no país o terrível flagelo da peste.
Segundo a tradição, teria sido João XXI quem inculcara nessa altura ao pároco e fregueses de Lever a construção duma capela em honra de S. Sebastião, Advogado da peste, para que os conservasse isentos do mal tão nefasto.
E o que é certo, é que, nos montados junto à Igreja Matriz se ergueu a ermida votiva do Mártir, a quem o povo chama, Capela do Santo.

Ao longo dos séculos terá passado por muitas vicissitudes, mas não sofre dúvidas a sua remota antiguidade. Assim, sabemos ter caído em ruínas no tempo dos Filipes e por ocasião das invasões francesas. Em 1885, o Reitor Vitorino José da Silva a mandou reedificar e a dedicou a S. Francisco de Assis.

Aqui fica uma tradição, que lança raízes na história e que ao longo de 700 anos leva consigo a alma do povo de Lever, com a sua fé, com os seus anseios e com as suas apreensões.

Por isso mesmo não fica deslocada neste livro esta alusão ao povo leverense, desde tempos imemoriais.

 

 

CRESTUMA

Esta antiquíssima povoação, que se estende e debruça sobre a margem esquerda do Douro, a 17 kms. da sede do Concelho, muito haveria a referir, se nos fosse possível, guiados por esses austeros e idóneos cicerones que são os velhos documentos, jornadear através dos largos séculos passados sobre a sua verdadeira génese. Muito embora soubéssemos de antemão da improficuidade desse esforço, no que respeita ao certo em que Crestuma foi fundada, e mesmo por quem o foi, seria, na verdade uma grata viagem para o coração, mas cruz demasiado pesada para os méis fracos ombros!

Mesmo assim, anteolha-se-me grave falta passar a cómoda esponja do esquecimento sobre factos históricos, que são afinal, os marcos milenários, erguidos sobre o Tempo, a testemunhar a antiga grandeza duma antiga Vila, que, em nossos dias, é simplesmente esta bonita e laboriosa freguesia de Crestuma.

Debrucemo-nos, pois, à varanda do Passado, a sorver o perfume e o encanto dessas recuadas eras!
Pelos anos 922 (antes da fundação da Nacionalidade, como é óbvio) já Crestuma existia, ou com o nome de (Crastumire) ou o de (Crastuíma), segundo o Documento nº xxv da Colecção DIPLOMATA ET CHARTAS dos Portugaliae Monumenta Histórica, escrito no Livro Preto da Sé de Coimbra, hoje na posse da Biblioteca da Universidade.

Era então Vila e cabeça de couto do seu nome, por doação da rainha D. Teresa, viúva do Conde D. Henrique, ao então Bispo do Porto, D. Hugo, isto pelos anos de 1110. Como terra fortificada que era (e a tal se refere também, como a tudo o mais, no “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal dominava-a um Castelo (Crasto) e daí, desse Casteloa mirar-se nas águas do Douro, é que lhe adviria o nome de CRASTUMIRE (CRASTRÌMA) – segundo outras opiniões – seria a corrupção de Crasto e Uíma, nome do pequeno afluente que em Crestuma desagua nas águas do Douro.).

Era vastíssima a sua área, tanto que os seus domínios se espraiavam por terras de Avança, Cortegaça e Ovar e abrangiam ainda localidades das margem direita do rio.

Está provado que em Crestuma existiu igualmente um Convento de frades bentos, fundado ao que parece no século VII e onde mais tarde se recolheu, depois de resignada a mirra, o Bispo de Coimbra, D, Gomado, por quem o rei D. Ordonho, a rainha e toda a corte tinham respeito que o foram visitar, utilizando barcos, àquele mosteiro de CRASTUMIRE, e lhe fizeram mercê de novas e fecundas terras.

Crestuma é composta por 25 lugar bem conhecidos: Areia,burgo,Carmona, Carvalhosa, Casal, Casalinho, Castanheiros, Cepo, Cimo de Aldeia, Colégio, Devesa, Fioso, Fonte, Igreja, Lage, Lagoa, Murça, Pena, Penedo, Picoto, Quinta da Velha, Sobral. Torrão e Vessada.

É conhecida pela sua passagem que apresenta mais parecendo uma Cascata banhada pelo rio Douro e atravessada pelo rio Uíma.

Situam-se em Crestuma equipamentos desportivo e infraestruturas de carácter internacional. Por exemplo: Centro de Treinos e Formação Desportiva PORTOGAIA (actual centro de treinos do F.C.Porto – localizado em parte também em Olival; Igreja de Crestuma; Pavilhão Desportivo de Crestuma; B.V. de Crestuma e Barragem de Crestuma-Lever.

No Ensino, a freguesia conta com um Jardim de Infância no Picoto; outro Infância Urbano dos santos Moura; Escola B.B. 1º Ciclo do Picoto; Escola E.B. 1º Ciclo Urbano dos santos Moura.

Quanto a colectividades, temos a Associação Cultural e Recreativa “Juventude em Marcha”; Associação de Solidariedade Social de Crestuma; Clube Náutico de Crestuma (com cartaz Internacional); Crestuma Andebol Clube; Futebol, Clube de Crestuma e Grupo Coral da Paróquia de Crestuma.

Ainda no domínio da música, para além da sua famosa Filarmónica temos o Grupo Coral Associação de Reformados e Pensionistas de Gaia – Núcleo de Crestuma; Grupo Folclórico e Etnográfico de Santa Maria de Crestuma; Rancho e Fanfarra ” A Juventude em Marcha”; Rancho Folclórico e Etnográfico de santa marinha de Crestuma; Sociedade Columbófila “Asas de Crestuma”; e, então, a histórica Sociedade Filarmónica de Crestuma.

Muitos outros elementos se poderiam colher e referir, mas, por este pequena resenha, respigada em documentos válidos, se fará uma ideia’, embora sucinta, da idade secular da actual freguesia de Crestuma, tão longe, em vastidão, da grandeza de antanho, mas sempre igual na nobreza e na fé dos seus Maiores!

Reafirmar ( e aí é que se identificam as vozes e os ecos!) que esta é uma povoação cheia de pergaminhos, de profundas raízes históricas, onde as pedras e as sombras, em sua linguagem muda, nos falam ainda de todo um passado de glória, reafirmar – dizíamos – tudi isso, é curvamo-nos, reverentes, perante a memória de Reis e cavaleiros, de Monges e Fidalgos, sem esquecer o Povo. (O ponteiro maior das grande Horas!), que nesses tempos áureos da sua grandeza, deram a Crestuma o valor e o preço duma jóia rara! Prestar-lhe vassalagem no é querer puxar a corda ao estafado sino da fama, mas apenas beber, da sua fonte perene, a linfa puríssima da Verdade!
CRESTUMA – tem a nobreza e o inconfundível encanto das Grande damas antigas. Por isso, ainda hoje o Douro – esse belo pagem de brocado verde! – lhe beija, desde há séculos, a fímbria do vestido.

 

 

 

Escrito por Júlio Martins, em 2011