SERÁ ESTE ECOTURISMO/TURISMO DE NATUREZA NA MADEIRA VERDADEIRO?

O ecoturismo ou turismo de natureza, é um segmento de actividade turística que utiliza, de forma sustentável, o património natural e cultural, incentiva a sua conservação e a busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.

              Não sei onde começou na realidade este tipo de turismo, mas na verdade é muito praticado, na Europa Central e na nossa vizinha Espanha.

              No entanto, a definição de ecoturismo é difícil de aplicar e de controlar, gerando muitas discussões entre especialistas e até entre as populações locais, quando não ordenado e controlado pelas autoridades competentes.

              O ecoturismo é um segmento turístico que proporcionalmente mais cresce no mundo, enquanto o turismo convencional cresce 7,5% ao ano, o ecoturismo está a crescer entre 15 a 25% por ano e na Madeira talvez mais.

              A Organização Mundial de Turismo  (O.M.T) estima que 10% dos turistas em todo o mundo tenham como principal procura o turismo ecológico, mas será esse o praticado e proporcionado na Madeira?

              Em países da Europa central, afasta-se a circulação automóvel e proporciona-se os transportes ecológicos e públicos. Na Madeira em especial no Pico do Areeiro e Pico Ruivo, já começa a haver lixeiras a céu aberto, e o caos de automóveis é o pão-nosso de cada dia.

              A facturação anual do ecoturismo, a nível mundial, é estimada em 260 bilhões de Euros, do qual a Madeira factura cerca de 75 milhões ou seja quase tanto como o Brasil.

              Embora o trânsito de pessoas e veículos possa ser agressivo ao estado natural desses ecossistemas, os defensores de sua prática argumentam que, complementarmente, o ecoturismo contribui para a preservação dos mesmos, é um dos principais meios de educação ambiental e permite a integração e desenvolvimento económico das comunidades locais em áreas de preservação ambiental, mas se for efectivamente tido como ecoturismo e turismo de natureza o que não vem sendo o caso na Madeira.

              O termo já era usado no século de 700 a.C e 800 a.C para designar rotas com belas paisagens ecológicas na África e até na Europa com os tão famosos caminhos de S. Tiago. Ecoturismo é também um segmento turístico em que a principal motivação do turista é, a observação e apreciação da natureza, contribuindo para sua preservação. E na Madeira é assim? O que nos relatam as redes sociais e as pessoas em geral é que há uma falta de civismo e de respeito pela natureza na nova vaga de turistas.

              A população na Madeira é de cerca de 250 mil habitantes, embora não sendo um especialista na matéria, penso que as infra-estruturas básicas, água, luz, e saneamento básico, estradas etc. estejam preparados para o dobro, mas como é que o eco sistema madeirense aguenta com mais de um milhão?

              Hoje qualquer canto serve para estacionar automóveis, não importa se é permitido ou não o importante é haver espaço nem que seja em frente a uma entrada de garagem, numa paragem de autocarro, ou num lugar reservado a deficientes.

              Quando vão caminhar nas levadas os turistas não olham a meios para conseguirem os fins e se o estacionamento não é problema, porque deixam o carro em qualquer sítio mesmo que os moradores não possam passar, o pior é que em caso de necessidade nem os veículos de emergência o podem fazer, ou seja usa-se e abusa-se.

              As Queimadas, um local aprazível, hoje nem os habitantes locais podem passar devido aos estacionamentos abusivos, porque falar em os próprios madeirenses desfrutar da sua terra é impossível.

              Os nossos governantes vangloriam-se com os prémios consecutivos de melhor destino insular do mundo, o que valem esses supostos prémios, diria até duvidosos, o que pensa o comum do madeirense. Paga o custo de vida altíssimo e ganha salários de miséria, quem ganha com tudo isto?

              Para que uma actividade possa ser considerada como de ecoturismo, ela deve garantir pontos fundamentais: conservação dos recursos naturais e culturais; gerar benefícios para as comunidades receptoras; garantir a Educação Ambiental.

              Nenhum destes itens é garantido pelas autoridades na Madeira, os recursos naturais e culturais, são ultrapassados todos os dias. Gerar benefícios para as actividades receptoras, apenas para alguns, mais a grande maioria do madeirense usufrui do seu salário como prestador de serviços e é explorado. A educação ambiental, bem essa está completamente esquecida, não são alguns folhetos distribuídos que vão dar essa garantia, seria sim um maior empenho dos hotéis, guias turísticos, autoridades etc., mas a maioria apenas pensa no benefício próprio. Já é habitual ver turistas a acampar em qualquer local, alguns trilhos estão completamente cheios de lixo deixado pelos seus utilizadores, não falando nas passagens fora de trilhos e abusos de passagens quando as mesmas estão proibidas. Isto é eco turismo ou turismo de natureza? Isto é turismo civilizado e respeitador?

              O ecoturismo é percebido pelos seus adeptos como pessoas esclarecidas e bem-educadas, conscientes de questões relacionadas à ecologia e ao desenvolvimento sustentável, em busca do aprofundamento de conhecimentos e vivências sobre os temas de meio ambiente. Isto não acontece na Madeira

              O Ecoturismo, nas levadas, nos picos, etc., devia definir-se como um estado ideal de um turismo que:   Minimiza o seu próprio impacto ambiental; será assim na Madeira?

              Patrocina a conservação ambiental; Será assim na Madeira?

              Patrocina projectos que promovam igualdade e redução da pobreza em comunidades locais; isto não se passa na Madeira que actualmente é a segunda região de Portugal onde existe mais pobreza, embora a leviandade de uma deputada recentemente veio dizer em público que não era bem assim, que os pobres na Madeira são de espírito e devido a droga e álcool, que falta de humanidade e civismo desta senhora deputada.

              O Eco turismo deve proporcionar o aumento do conhecimento cultural e ambiental e o entendimento intercultural, será que isto acontece nesta ilha?

              O eco turismo também devia ser financeiramente viável e aberto a todos, mas infelizmente neste suposto melhor destino insular do mundo está apenas aberto a alguns.

              Segundo o reputado órgão de comunicação “Global Ecotourism Network define ecoturismo e turismo natureza, como uma viagem responsável para áreas naturais que conservam o ambiente e melhorem o bem-estar da população local. Isto significa que quem opera e participa de actividades ecoturísticas devem seguir alguns princípios fundamentais.

              Minimizar impactos; desenvolver consciência e respeito ambiental e cultural; fornecer experiências positivas para ambos visitantes e anfitriões; fornecer benefícios financeiros directos para a conservação; fornecer benefícios financeiros e poder legal de decisão para o povo local; elevar a sensibilidade pelo contexto político, ambiental e social dos países anfitriões; apoiar os direitos humanos internacionais e acordos trabalhistas.

              A actividade, como presentemente configurada em muitas partes do mundo, e em especial na Madeira, é confundida com o turismo de aventura e, de fato, há quem inclua esta última, assim como outras nomenclaturas dadas ao turismo (por exemplo: turismo rural, turismo responsável, turismo ecológico, turismo alternativo, turismo verde, turismo cultural) como partes ou derivações de uma generalização chamada ecoturismo.

              O ecoturismo/turismo natureza tem alguns princípios tantas vezes desrespeitados: da natureza nada se tira a não ser fotos; nada se deixa a não ser pegadas; nada se leva a não ser recordações visuais ou fotográficas.

 No entanto, apesar das boas intenções que cercam a prática do ecoturismo, já são conhecidos alguns impactos negativos deste segmento económico. Uma série de artigos científicos diagnosticou em peixes e aves, expostos ao ecoturismo/turismo natureza, um sem número de reacções negativas. Primeiramente os animais sofrem alterações hormonais e metabólicas em nível fisiológico, acabando essas reacções fisiológicas por se expressarem no seu comportamento, modificando  a sua alimentação, a escolha de hábitat, período de atividade, socialidade e comportamento reprodutivo. Decorrem disso mudanças ecológicas, como alterações na população de diferentes espécies que alterarão a comunidade de espécies existentes no ponto turístico. Por fim, dado tempo o suficiente, estas alterações todas podem resultar em mudanças evolutivas para as espécies alvejadas pelo turismo.

              É fundamental, no entanto, esclarecer que isto não significa que o ecoturismo não deva ser desejado ou que seja uma actividade de baixo interesse ambiental, antes pelo contrário, ele pode fomentar a conservação ambiental, desde que o risco que eventualmente apresenta seja conhecido, mensurados e diminuídos.  Aplicar boas práticas de turismo de natureza, que  pode até tornar essa actividade inócua ao ambiente.  Ao invés de abandonar a prática, é necessário definir áreas específicas para sua realização, regular quantidade de visitantes e suas actividades e potencializar seus benefícios e penalizar os prevaricadores.

              Na minha opinião pessoal e pelas notícias neutras que habitualmente vêm a público e até nas conversas informais com os naturais da ilha, apesar de toda a vocação do sector turístico madeirense, este tipo de turismo contribui para o peso na riqueza de alguns mas pouco, muito pouco para a riqueza da população local.

              Muitas são as actividades praticadas pelos turistas na madeira, a maioria delas consideradas de ecoturismo, mas raramente seguem os pressupostos ecológicos desejados, não devendo enquadrar-se na definição de ecoturismo/turismo natureza, pois apenas têm em comum o facto de serem praticadas em meio ao ambiente natural; no entanto, algumas têm suficiente impacto ambiental para não serem consideradas boas práticas pelos ecologistas.

              São imensas as regras elementares quebradas pelos supostos eco turistas ou turistas de natureza que visitam a Madeira ao longo do ano. No mergulho, para ser considerado ecoturismo não se deve quebrar corais, durante um mergulho nem mergulhar no período de reprodução dos animais. Estas condições estão salvaguardadas? Pessoalmente penso que não.

              A ilha da Madeira, no meio do oceano Atlântico, é um local muito procurado para passeios a pé ao longo de veredas e também em levadas, quem não adora subir ao Pico do Areeiro e ver o magnifico por do sol ou nascer do sol, mas alguém se preocupa com o habitat natural das aves no período nocturno?observação de aves a laurissilva  é um passeio de ecoturismo por excelência, que tem como objectivo a observação das aves em seu habitat natural, e, a floresta tão madeirense, sem interferir no seu comportamento ou no seu ambiente, mas quando se saí dos trilhos marcados, não se está a colocar em risco, não apenas a vida de cada um, mas também deste maravilhoso eco sistema Madeirense?

              Será este dito ecoturismo/turismo de natureza na Madeiro verdadeiramente eco e natural?

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