“Desde pequena que me deixava encantar pela natureza, gostava de explorar as matérias”
Catarina Alves nasceu na Ilha de S. Miguel, onde ainda reside na freguesia de Candelária, e formou-se em Belas Artes- Escultura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Da sua obra destaque para as coroas e brasões das Portas de Cidade em Fall River e o busto em bronze de Natália Correia.
Para quem não conhece, quem é a Catarina Alves? Onde nasceu e fez o seu percurso?
Sou escultora, formadora, artesã empreendedora. Nasci em S. Miguel, 1981, licenciei-me em Escultura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 2004, e depois regressei à Candelária, onde resido e tenho o meu atelier. Criei a marca de joalharia artesanal Pedras de Lava, sou também formadora, colaborando com a VidAçores – Associação para o desenvolvimento Comunitário e com a Aurora Social – Associação para a promoção do emprego apoiado.
Como surgiu a paixão pela escultura?
Sempre soube que queria seguir artes, desde pequena que me deixava encantar pela natureza, colecionava folhas, troncos, pedras, gostava de explorar as matérias, fazias vestidos para as bonecas… Desde sempre participei nas atividades culturais da freguesia, na música até teatro. Também na altura não se ia aos museus com frequência nem havia galerias para se visitar exposições, pelo menos eu não tinha acesso, mas sentia que queria ser artista. Não me destaquei enquanto aluna no liceu, mas foi ao entrar para a FBAL, o contacto mais próximo com as esculturas nas ruas de Lisboa, no Museu do Chiado, ali mesmo ao lado, onde ia encher a alma com as esculturas de Canto da Maya, nos corredores da faculdade com reproduções em gesso de grandes esculturas clássicas, as aulas de desenho, as aulas de modelos com a modelação em barro do nu, o experienciar as oficinas de escultura – a madeira, gesso e pedra, foi crescendo em mim esta paixão pela escultura, o sentir esta ligação com a matéria que se transforma e se revela através do meu corpo.
Há quanto tempo se dedica a esta arte?
Dedico-me à escultura, profissionalmente desde 2004, com algumas pausas, dúvidas e desvios, em 2019 foquei-me em “empreender” e em dedicar-me a tempo inteiro às minhas artes, procurando agarrar e criando mais oportunidades para dar a conhecer o meu trabalho.
Quais considera serem os principais trabalhos que já fez?
Da obra pública destaco a estátua ao Romeiro, no Livramento e as Coroas e Brasões para as Portas da Cidade em Fall River, ambos em basalto; também o Busto de Natália Correia em bronze. Mais recentemente a escultura “A Música, o Mar e os sonhos” em pedra, resina, ferro e acrílico, para a sede da filarmónica Fundação brasileira. Os trofeus para a gala do Desporto de Ponta Delgada também porque, de certa forma, influenciaram a minha marca de joalharia artesanal. Nos últimos anos tenho vindo a desenvolver trabalho de pesquisa e experimentação de materiais-resíduos, nomeadamente o plástico, destacando aqui a exposição: Ensaio sobre o Retorno na Casa do Arcano na Ribeira Grande em 2020. Este projeto permitiu-me pensar sobre o meu impacte no mundo, por um lado a minha pegada ambiental, por outro lado o meu legado enquanto artista.
Qual o trabalho que mais a marcou?
Sem dúvida que as coroas e brasões para as portas da cidade em Fall River, foi um “exercício” de superação, aprendizagem e de crescimento a vários níveis.
Quais os próximos projetos?
Tenho em mãos alguns projetos tanto na área da formação como da criação, destaco “Manifesto ao Desperdício”, projeto para a Musami, esculturas, instalação e multimédia, reutilizando resíduos selecionados do centro de triagem e imagens recolhidas no aterro, refletindo sobre o meu/ nosso impacte ambiental através dos conceitos: Caos, Fardo, Retorno, Mitigação e Resiliência com o objetivo de alertar para os problemas causados pelo excesso de resíduos que produzimos e descartamos, mas devido à pandemia ficou um pouco retido à espera de melhores dias; estou também com uma exposição de escultura em pedra no Centro Municipal de cultura de P. Delgada; além disso estou a investir na minha marca Pedras de Lava. Tenho mais projetos em mente, alguns em fase de maturação e que a seu devido tempo serão partilhados.
Qual o significado para si desta distinção pelo AUDIÊNCIA?
Esta distinção significa muito para mim, significa que o meu trabalho é relevante e que tem interessa para algumas (ou muitas) pessoas, é um grande incentivo para continuar a trabalhar, estou extremamente grata.
Que mensagem gostaria de deixar aos leitores?
A arte tem um papel fundamental na vida, estimula a criatividade e promove o pensamento critico e analítico, para além de promover o respeito pelas liberdades do outro e da natureza, pode mudar mentalidades e comportamentos. Acima de tudo, gostaria de apelar aos leitores que consumem arte, em todas as suas formas, e que se permitem a ver o mundo noutra perspetiva.