UM PARQUE ECOLÓGICO EM VEZ DE UMA SELVA DE PEDRA

Na minha última crónica recordei alguns dos nossos belíssimos parques verdes, verdadeiras joias da natureza do território gaiense que rivalizam em beleza com as nossas magníficas praias de rio e de mar, que nos enchem de orgulho e encantam os turistas que nos visitam. A essas e outras magníficas manchas verdes, hoje cada vez mais cuidadas, quase todas devidamente reabilitadas e equipadas com novas valências de apoio, juntam-se agora os terrenos do antigo Parque de Campismo da Madalena, que estiveram quase condenados a ser transformados numa autêntica selva de pedra, dando lugar a um grande polo tecnológico composto por um conjunto de edificações de betão para sede de empresas e instituições de ensino superior, apoiadas por serviços, como lojas de comércio, habitações de luxo e um hotel de cinco estrelas, que felizmente caiu por terra para dar lugar a um Ecoparque de grandes dimensões, um espaço multifuncional e sustentável, de lazer e educação ambiental.

Na direção do denominado Ecoparque do Atlântico, a convite da Câmara Municipal de Gaia, vai estar Luís Alves, fundador do Cantinho das Aromáticas, empresa produtora de ervas aromáticas fundada há 21 anos na Quinta do Paço, em Canidelo. Foi, aliás, este reputado engenheiro agrónomo que desenhou o conceito e o plano de desenvolvimento do projeto, que tem por base “os princípios da sustentabilidade, acessibilidade inclusiva e manutenção da qualidade ambiental, promovendo o equilíbrio entre atividades culturais [como o Festival Marés Vivas], recreativas, desportivas e de conservação da natureza, tanto dentro da área de intervenção, como nos espaços contíguos, incluindo, ainda, a criação de um Centro de Juventude”, ocupando uma área total de 17 hectares, com a perspetiva de crescer mais 10 hectares, já que o município se propõe adquirir a zona da Ribeira de Atiães, dando assim continuidade à requalificação deste importante e bem-vindo corredor ecológico.

Deste modo, com a aquisição da área de terreno a sul com frente para a rua do Cerro e para a rua Clube Atlântico da Madalena, esta importante mancha verde poderá assumir-se como um parque ecológico de referência do espaço europeu, com a particularidade de se conectar com a frente marítima, o que permitirá a promoção de atividades desportivas, como o surf, por exemplo, em simultâneo com o desenvolvimento de iniciativas focadas nas questões ambientais e na sustentabilidade através da realização de workshops, espaço museológico, escavações arqueológicas, feiras biológicas, entre outros eventos. Ao mesmo tempo que serão também valorizados todos os vestígios arqueológicos existentes, sendo que qualquer intervenção nas imediações das áreas identificadas com a existência de vestígios arqueológicos será precedida de uma avaliação que garanta a preservação desse património.

A expectativa é que o Ecoparque do Atlântico comece a ser visitado já a partir deste próximo verão, sendo o seu acesso livre e gratuito, embora o equipamento continue murado por razões de segurança, mantendo-se a piscina, o restaurante e uma esplanada, ao mesmo tempo que grande parte dos balneários dispersos pelo terreno serão reconvertidos em espaços para o desenvolvimento de ações educativas e de sensibilização ambiental. E durante o usufruto deste enorme parque dominado por eucaliptos e pinheiros-bravos, com oferta de espaços públicos de qualidade e infraestruturas dedicadas a todas as idades, os visitantes poderão ainda acompanhar com a devida segurança os trabalhos que visam o aumento da sua biodiversidade, onde se admite a necessidade de um abate seletivo, dado o grande porte de algumas árvores e de algumas espécies invasoras, a par da indispensável requalificação dos equipamentos existentes e a implementação de tecnologias limpas e práticas sustentáveis

Recorde-se que estes espaços verdes desempenham um papel crucial na promoção da sustentabilidade nas cidades. Não só embelezam e enriquecem a paisagem urbana, como contribuem para melhorar a qualidade do ar, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, baixar a temperatura ambiente e promover a biodiversidade. E desta forma melhoram a qualidade de vida dos cidadãos, ao proporcionarem também espaços de lazer, desporto e convívio social. Por outro lado, ajudam a aumentar a resiliência das cidades aos efeitos das alterações climáticas, como as vagas de calor, as secas e as inundações. Além disso, as áreas verdes incentivam a prática de atividades físicas, já que caminhar, correr ou praticar exercícios ao ar livre em ambientes arborizados é muito mais motivador do que em espaços fechados. E isso, por sua vez, contribui para a prevenção de doenças crónicas, como obesidade, hipertensão e diabetes. Outro grande benefício das áreas verdes está relacionado à redução da poluição do ar, uma vez que árvores e as plantas são excelentes filtros naturais, capazes de absorver gases poluentes e libertar oxigênio, o que melhora a qualidade do ar.

Por estas e outras razões, impõe-se que os candidatos à presidência da Câmara de Gaia nas próximas eleições autárquicas se comprometam com a prossecução deste projeto, rejeitando um retorno ao projeto inicial do presidente em exercício, que alienava esta magnifica mancha verde em benefício de uma mega-urbanização, depois de ter resgatado o terreno do Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado Gaia Douro constituído em 2008 no anterior ciclo autárquico, e que em boa hora reconsiderou e o devolveu aos cidadãos.

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