VIDEOCLIPE DE JORGE ROCHA & LIPSTICK LANÇADO 24 ANOS DEPOIS

No dia 12 de setembro de 1998, o grupo Jorge Rocha & Lipstick gravou o tão sonhado videoclipe, ainda sem saber que, pouco depois, se daria o término do projeto musical e que o mesmo nunca iria sair para o público. Numa entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Jorge Martinez, Jorge Rocha à época, contou o percurso da banda e o que significou, para ele, lançar o videoclipe, 24 anos depois.

 

 

 

Jorge Rocha & Lipstick foram o grupo que marcou uma década musical em Portugal. Apesar da carreira longa e de terem passado por cinco editoras, desde independentes a multinacionais, como a BMG, último projeto ao qual pertenceram, a banda apenas gravou um videoclipe, já na fase final da parceria, apesar de, à data da gravação, não estarem cientes desse fim. O facto do videoclipe ter sido gravado pouco antes do término do Jorge Rocha & Lipstick fez com o que o mesmo nunca tivesse visto a luz do dia, mas isso mudou a 24 de setembro de 2022, quando o agora conhecido como Jorge Martinez, antes Jorge Rocha, decidiu lançar a película “Eu só preciso de um minuto”, gravada no Estádio das Antas, a 12 de setembro de 1998.

Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Jorge Martinez, contou o percurso do grupo e falou sobre todas as conquistas, suadas, que tiveram, por se tratarem de “uma banda pioneira, porque não havia nada do género, nem parecido”. O grupo surgiu como uma avalanche no país e Jorge Martinez destacou a lista de coisas que fizeram e que nunca se tinha visto, como, por exemplo, o facto de terem sido “o primeiro grupo a usar pirotecnia em Portugal, e em TV, a usar coros e dançarinas em palco, a apresentar visuais modernos e futuristas, o primeiro grupo com coreografias e encenações de palco, a exprimir-se, musicalmente, sobre sedução e sensualidade e, também, o grupo que teve o primeiro clube de fãs de Portugal”.

“É obvio que o país paralisou, digamos assim, a ver o que era aquilo, o espetáculo, a visão de futuro. O grupo, no primeiro ano, ficou famoso em Portugal”, disse Jorge Martinez sobre a banda e destacou a grande cobertura por parte dos media, à época. “Foi trabalho de lágrimas, suor, entrega, paixão e que fez com que despoletasse os outros artistas para começarem a ter, também, bailarinas e alguns a preocuparem-se com o visual e as coreografias”, referiu, ainda.

Ao longo dos quase dez anos de existência, o Jorge Rocha & Lipstick estiveram na vanguarda, no entanto, o preço de se ser o primeiro é caro, segundo o artista. “O grupo era a loucura para muita gente e uma espécie de outsider”, disse mostrando exemplos pelos quais foram criticados e que, ainda hoje, não percebe, “o facto das Lipstick usarem um body mais curto, ou calções com racha, um decote, por exemplo, foi muito criticado, mesmo que, passados uns anos, toda a gente já tivesse bailarinas de fio dental, já para não falar nas letras de músicas com linguagem ordinária”. As letras das suas músicas também acabaram por criar alguma controvérsia. “A música Dinamite, era muito à frente e, por causa dela, fomos censurados, eliminados, bloqueados das TV’s, de 1996 a 1998, porque a canção falava de sexo. No final, a música tinha a simulação de um orgasmo, daí o grande sucesso da canção”, explicou o cantor.

Depois de muita luta e de passarem por várias editoras, Tozé Brito, da BMG, reconheceu o talento da banda. “Desde o início do Jorge Rocha e Lipstick que o Tozé Brito dizia que este era o grupo certo para ir à Eurovisão (…). Ele acaba por, depois, contratar o grupo, em 1997, e éramos a aposta número um da editora, juntamente com os Santos e Pecadores”, contou. Foi na BMG que surgiu a oportunidade de gravar o videoclipe de “Eu só preciso de um minuto”, no Estádio das Antas. No entanto, pouco tempo depois da gravação, Tozé Brito saiu da editora e todo o trabalho do Jorge Rocha & Lipstick caiu por terra. Depois desse momento, Jorge admitiu que desistiu. “Havia uma saturação total, um cansaço cerebral imenso, um desgaste, não consigo descrever o ataque que recebíamos por todos os lados e de todos feitios, as pessoas só olhavam para nós para nos criticar. Por isso, na altura, eu tomei uma decisão drástica: o fim do grupo. Eu, sinceramente, pensei que fosse o momento para terminar, assim saímos no topo, pela porta grande”, mencionou o artista.

Cerca de um ano depois do término do grupo, Jorge volta com um projeto totalmente diferente. “Apareci com um novo álbum, um novo nome, passei a ser Jorge Martinez, já não há Lipstick, nem há cabelo escuro, nem há cabelo curto, passa a ser longo e loiro”, explicou o cantor, que admite que, depois, ficou tão envolvido na sua carreira a solo que não lhe sobrou muito tempo para pensar neste videoclipe gravado no Estádio das Antas. Com a pandemia da Covid-19, o ritmo abrandou e foi quando, finalmente, Jorge Martinez se dedicou a este projeto, que foi lançado no passado mês de setembro. O artista considerou que era importante lançar este videoclipe “por uma questão de respeito pelo grupo, por tudo o que fizemos, pela notoriedade que conseguimos, pela forma como ajudamos a desenvolver o espetáculo em Portugal, merecíamos e era justo que houvesse documentários e vídeos que demonstrassem tudo isso e que não passasse apenas de um «ouvi falar que»”.

“É uma alegria para toda a gente, principalmente para as pessoas daquela altura e que me pediam algo, porque muita gente me dizia que não havia nada do Jorge Rocha & Lipstick e que isso era uma pena”, frisou, sobre o feedback que tem recebido.

A verdade é que o, agora, Jorge Martinez, diz que continua a sofrer as consequências da inovação com o seu projeto a solo, destacando sucessivos boicotes, por exemplo, à sua participação em grandes festivais nacionais, no entanto, garantiu ao AUDIÊNCIA que continuará a trabalhar, tenha ou não o reconhecimento do seu país. “Agora, eu faço o que tiver a fazer, aliás, eu vou continuar a fazer grandes trabalhos, mas para outras pessoas, para outra dimensão. Se Portugal perceber, um dia, e conseguir abrir os olhos, tudo bem, se não quiserem, tudo bem na mesma, noutros países vão abrir”, referiu. No entanto, deixou a promessa de que vamos ouvir falar dele muito em breve, antes do final do ano de 2022.