Começamos pelo apelo ao voto. Eu, como tantos portugueses, estamos fartos de ouvir os mesmos argumentos falaciosos quando nos aproximamos de um acto eleitoral; que os políticos são todos uns corruptos, que são uma m…, uns filhos de p…, que estão aí só para roubar, que a gamela é a mesma, etc, etc, etc.
A recuperação da democracia plena no dia 25 de Abril de 1974 devolveu, entre muitos direitos ao País, a possibilidade de votar em total liberdade de escolha. Todos os partidos e movimentos políticos legitimados têm os seu simpatizantes e militantes , a eles cabe em primeiro lugar votar e discutir os programas de cada partido proposto para a governação, entre eles; o direito e dignificação do trabalho, a defesa do SNS, o direito de todos à educação ,saúde, habitação, a luta contra o racismo, homofobia, a pobreza e soluções para os sem abrigo, a solidariedade entre os povos, e entre outros, a defesa do asilo politico e a integração dos exiliados na sociedade portuguesa. Por isso o apelo para evitar que outros decidam por nós!
Aniversários- O Teatro Rivoli, agora municipal, cumpre 90 anos. Como espectador tenho belas recordações desta casa de espectáculos. A desaparecida sala principal, uma caixinha de bombons, perfeita em acústica para ópera, bailado, concertos e teatro, deu lugar a uma nova sala mais austera, mas também mais moderna e adaptada aos tempos que correm. Hoje temos dois auditórios, o pequeno e o grande que homenageia Isabel Alves Costa, quem muito fizera pela dignificação desse teatro após a sua reabilitação, nomeadamente nas áreas do novo circo (uma novidade entre nós) e no apoio às marionetas e aos festivais do teatro das formas animadas. Lembro no Rivoli a estreia da Companhia Nacional de Bailado, os concertos da Gulbenkian e claro o cinema europeu que distribuidoras como a Lusomundo e Castelo Lopes faziam quando o cinema, era cinema sem pipocas e os filmes americanos não imperavam nos ecrãs como agora. Também me lembro da decadência da sala, de ser convertido numa danceteria. Eram os tempos da Presidência de Fernando Cabral (1985-1989), honra seja feita foi no seu mandato que se comprou o teatro e passou a ser municipal. No mandato seguinte de Fernando Gomes o teatro seria reabilitado com obras profundas.
Também lembro da ocupação do teatro em 2006 pela companhia profissional Teatro Plástico;
“A manifestação começou depois da exibição da peça “Curto-Circuito”, da companhia Teatro Plástico, no pequeno auditório, num protesto convocado pela companhia.
A autora da peça, Regina Guimarães, que também se juntou ao protesto, explicou à Lusa que o objectivo, para além de protestar contra a intenção da Câmara liderada por Rui. Rio (PSD), é também evitar que o cenário se repita em outras zonas de Portugal. “Se não fizermos isto, outras autarquias acabarão por fazer o mesmo com equipamentos similares”, disse. Naquele teatro realizei espetáculos com o Teatro Art´Imagem, Falar Verdade a Mentir de Almeida Garret, actos performativos com os meus alunos da Escola Superior Artística do Porto/ESAP ligados ao Fitei, e devo mencionar que um dos últimos espectáculos realizados nesse teatro foi uma versão minha de As Bacantes e Eurípides há 30 anos com os alunos do Ballet Teatro. Entre os jovens actores que estavam em formação e integravam o elenco , a actriz Dalila Carmo e Nuno Simões. Na sua Rubrica “Cidadania Impura”, na revista do JN de 16/1/22, Valter Hugo Mãe escreve; “Se pudesse definir o Rivoli, por mais que seu corpo de palácio antiquasse, haveria de o fazer através da palavra futuro. Ainda hoje, e talvez especialmente hoje, o Rivoli significa que vamos sobreviver, sim.…O Rivoli faz 90 anos e é a grande casa da ebulição das artes e do pensamento do Porto. A casa de todos, com suas impurezas e suas falhas, é instrumento fundamental da liberdade das pessoas do Porto. O pior que lhe aconteceu em 90 anos leva o nome de Rui Rio, a doença mais horrenda de que a Cultura do Porto alguma vez padeceu. Hoje, podemos dizer que o Rivoli se curou de um cancro. Está vivo. Vai superar a pandemia e significará o futuro para outros miúdos que, como eu um dia, vivem à míngua de oportunidades. O Rivoli é uma solução. Foi uma solução fundamental na deriva da minha vida. Celebrarei sempre sua alegria, sua vigência, seu brio. Por todas estas recordações volto ao tema inicial, vamos votar porque na práctica e na realidade os políticos não são todos iguais!
Finalmente, o meu amigo, o actor Jorge Pinto, cumpriu no domingo passado 70 anos, somos amigos desde 1975, e a ele devo amizade, respeito e admiração mútua, hospitalidade e solidariedade quando foi necessário. Com uma bela carreira começou no TEP como actor profissional, para mais tarde junto a sua companheira Emília Silvestre, integrar outros projectos como Os Comediantes, e logo até agora o Ensemble. O seu último espectáculo, Próspero, monólogo interpretado por ele, baseado na figura central de A Tempestade parece resumir a sua vida, naquilo que Shakespeare escreveu …
“Tal como o grosseiro substrato desta vista, as torres que se elevam para as nuvens, os palácios altivos, as igrejas majestosas, o próprio globo imenso, com tudo o que contém, hão de sumir-se, como se deu com essa visão tênue, sem deixarem vestígio. Nós somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono”. (A Tempestade, Acto IV, cena I)