O ASSÉDIO MORAL INTRAFAMILIAR

“O assédio moral intrafamiliar, acontece de forma costumeira e insidiosa, passando despercebido. O assédio moral é caracterizado por um clima constante de humilhações e aviltamentos no âmbito da família, gerando nas vítimas assediadas um grande sofrimento, ocasionando transtornos emocionais e físicos, resultando em uma predisposição para o desenvolvimento de doenças crônicas, comprometimento da saúde, desempenho no trabalho e nas relações interpessoais. Esse tipo de violência tem caráter transgeracional, uma vez que os filhos das vítimas, provavelmente, desencadearão esse comportamento nas futuras gerações” (ASSÉDIO MORAL NO ÂMBITO FAMILIAR, Camila Viríssimo Rodrigues/Tatiana Coutinho Pitta Pinto).

As últimas revelações de comportamentos de assedio sexual no mundo cinematográfico de Hollywood, em particular, colocou novamente na ribalta um problema que se arrastra desde os inícios de criação dos estúdios naquela que é chamada a “floresta encantada”.

Foi no mês de Outubro, que tudo começou, com as denúncias, o mês negro para Hollywood, com o escândalo de Harvey Weinstein (1952) produtor cinematográfico norte-americano. Ele e seu irmão, Bob Weinstein, são copresidentes da Weinstein Company, companhia de produção cinematográfica, desde 2005.Já no ano de 2013, Kyle Smith, crítica de cinema do jornal norte-americano The New York Post, apontou para o fato de Weinstein ter produzido inúmeros filmes anticristãos e anticatólicos em particular, entre os quais Prêtre (1994), Le Garçon boucher (1997).

No entanto em 2015,foi homenageado pelo centro Simon-Wiesenthal (organização internacional de direitos humanos fundada em 1977, com sede em Los Angeles) por suas iniciativas políticas. Dezenas de atrizes, entre elas, Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Ashley Judd, Léa Seydoux, Asia Argento e Salma Hayek, contaram pela primeira vez os seus casos particulares denunciando os alegados agressores, era chegada a altura de o fazer, também modelos menos conhecidas, juntaram-se na denúncia.

Uma acha na fogueira foi a posição da atriz francesa Catherine Deneuve que está entre as 100 mulheres que assinaram uma carta aberta onde criticavam o que chamaram de “justiça sumária” estimulada pelo movimento #MeToo (pin utilizado nas cerimónias) defendendo a “liberdade de importunar” de um homem. A carta, publicada no jornal francês Le Monde, gerou uma grande controvérsia, levando mais tarde a atriz a “clarificar” a sua posição, no jornal Libération , Deneuve diz que “ama a liberdade” e que não gosta “desta característica dos nossos tempos em que todos sentem o direito de julgar, arbitrar e condenar.”

Diva do cinema francês e rosto do famoso cineasta espanhol Luis Buñuel, critica o facto de as denúncias nas redes sociais gerarem “punição, resignação e, às vezes e muitas vezes, linchamentos nos Media”… “um ator poder ser apagado digitalmente de um filme”…”Não desculpo nada. Não consigo decidir sobre a culpa desses homens porque não estou qualificada”.

Finalmente e para acabar com a violência contra as mulheres a popular Ópera Carmen, do compositor francês Georges Bizet, estreada em 1875, recebe um novo final. Após mais de 140 anos sendo morta a facadas no palco, a heroína cigana alcança sua própria vingança, atirando em seu frustrado amante Don José. Cristiano Chiarot, do Teatro del Maggio, Florença disse;“Em um momento em que nossa sociedade está tendo que confrontar o assassinato de mulheres, como podemos ousar aplaudir o assassinato de uma mulher?”

O Instituto Nacional de Estatísticas da Itália indica que uma em cada três mulheres italianas entre 16 e 70 anos passou por violência física ou sexual em 2014, enquanto 149 mulheres foram assassinadas em 2016, metade delas mortas por parceiros ou ex-parceiros. Em Portugal no decorrido do ano já são 16 as mulheres assassinadas.