O recente falecimento do cantor lírico Álvaro Malta me leva a recordar a primeira vez que o vi no Teatro São João, na ópera portuguesa Spinalba de Francisco António de Almeida (1702-1755), autor da primeira ópera representada em Portugal, La Pazienza di Socrate (1733), mas tarde estreou La Spinalba ou o Velho Doido em 1739, nos Paços da Ribeira.
“Do compositor português poucos registos biográficos existem, sabendo-se, no entanto, que foi um dos jovens compositores a quem o rei D. João V financiou os estudos em Roma, para onde foi em 1722, e ali foi muito elogiado pelas composições para concertos e música sacra, a oratória La Giuditta, estreada em Roma, em 1726, e cuja partitura, dedicada ao embaixador André Melo de Castro, se encontra na Biblioteca do Património Cultural Prussiano, em Berlim”.
A versão que vi já foi una encenação moderna realizada no teatro nacional de São Carlos/TNSC, em 1965, no 9º festival de música da Fundação Gulbenkian e que em 1976 foi novamente programada numa nova produção com o elenco residente do TNSC com direção musical de Maurice Gendron e encenação de Gino Bechi, no elenco entre outros Fernando Serafim, Elsa saque e Álvaro Malta. Nos seus quase 40 anos de ópera cantou no Teatro Trindade, no São Carlos e no Coliseu, foi frequente também a sua participação em programas da RTP onde começava assuntos e temas relacionado a com ópera, poucos cantores portugueses atuaram tantas vezes no São Carlos.
Álvaro Malta, médico de profissão, para além de uma voz magnífica, destacava-se como um excelente actor. Interpretou o papel do Barão Douphol na célebre versão de La Traviata com Maria Callas em Lisboa, em Março de 1958, versão que ficaria célebre como relatou a imprensa da época; “ A cantora Maria Callas estava no auge da sua carreira. Um camarim do São Carlos foi arranjado de novo para receber a soprano. José Figueiredo, diretor do teatro, foi esperá-la à saída do avião e a imprensa dedicou-lhe primeiras páginas. Callas instalou-se no Hotel Aviz acompanhada do marido, as suas secretárias e o cão. Veio interpretar a ópera de Verdi La Traviata, ao lado do tenor Alfredo Kraus e do barítono Mário Sereni.
O público fez-lhe intermináveis ovações em todos os atos e nos finais das romanzas” (DN – 28 de março de 1958), Em Portugal a obra estreou em 28 de Fevereiro de 1855 no Real Theatro de São João, atual Teatro Nacional de São João, no Porto. A última vez que Álvaro Malta cantou em público foi em 1989, A Serva Padrona, ópera buffa de G.B Pergolesi com Elsa Saque e Vasco Gil.///O Teatro alla Scala de Milão recorda Patrice Chéreau com Electra de Richard Strauss que tornou-se numa referência das artes do palco contemporâneas. O espetáculo assinala os cinco anos da morte do encenador francês.
“Elektra” é a última encenação de Patrice Chéreau, falecido em 2013. A ópera de Richard Strauss estreada em 1909 inspira-se na tragédia grega de Eurípides. “O que me fascina na Elektra são as ideias de vingança que ela exprime no monólogo. Ela vive uma grande palete de emoções”, diz a soprano alemã Ricarda Merbeth intérprete da personagem principal. “É essencialmente uma tragédia em que um assassinato leva a um outro crime. Podemos perceber os sentimentos dessa mulher e por que razão ela sente uma obsessão compulsiva para matar os assassinos do pai”, sublinhou Christoph von Dohnanyi , o diretor de orquestra. Daniel Barenboim, que trabalhou muito com Patrice Chéreau, dizia que a música era uma grande fonte de inspiração para ele. Chéreau era um homem do palco, um artista universal, um génio que tinha muito a dizer. Ele conseguia criar uma atmosfera especial sem precisar de opulência”.
Deve-se a Chéreau a descoberta do teatro de Bernard Marie-Koltés, autor que encenou como se fossem suas as palavras. Na Solidão dos Campos de Algodão, que em 1995 se apresentou na Alfandega do Porto pelo Teatro Nacional São João/TNSJ. Como não poder recordar esse espetáculo, talvez uma das suas mais famosas encenações, precisamente aquela que experimentava um modo de pensar “ o jogo entre actores como um jogo”. O fim de Elektra (como em Salomé) é uma dança como se fosse um monólogo. Ela quer dançar mais uma vez e depois morrer. Patrice Chéreau queria que houvesse um movimento particular, que exprime a necessidade de dançar e ao mesmo tempo a incapacidade de fazê-lo, o que leva Elektra a cair no vazio sem fim”.