Ao convocar a memória colectiva para o aniversário da instituição em referência não posso nem devo fazê-lo com o regozijo inerente às datas festivas, dado o rasto de morte e destruição deixado por esta organização política e militar, sustentáculo do capitalismo mais agressivo e explorador.
Nascida no pós II Guerra Mundial com o pretexto de defesa do ocidente de possíveis inimigos e invasores, mas realmente para suster as ideias libertadoras do comunismo nas democracias populares do leste da Europa inspiradas pela União Soviética, que em defesa criaram o Pacto de Varsóvia, a NATO cedo mostrou os seus reais intentos que provocaram a chamada Guerra Fria, mesmo depois do desmembramento do Pacto de Varsóvia.
São exemplos actuais, a criação do grupo terrorista UCK para justificação e posterior invasão da Jugoslávia, as invasões do Afeganistão, Iraque e Líbia, sob falsos pretextos, o apoio a grupos terroristas para invasão da Síria com a prestimosa ajuda da União Europeia, leia-se, Alemanha, França e Grã-Bretanha, mais recentemente ingerência no Iémen, Somália e Sudão e apoio à presença da União Europeia na Ucrânia Oriental governada por um regime pró nazi, o que originou a anexação pela Rússia da Crimeia, com população esmagadoramente russa.
Depois de um longo intervalo, em 1995, o Presidente Bill Clinton decidiu pôr fim à Guerra da Bósnia-Herzegovina e reinventar uma fórmula para garantir a continuidade da NATO no pós Guerra Fria, política seguida mais brandamente por Obama e agora retomada por Trump.
Os aliados formaram a Força de Intervenção IFOR para separar as facções locais e, pela primeira vez, a NATO mobilizou a sua estrutura para intervir militarmente num conflito e, paralelamente, os Estados Unidos alinharam com a estratégia da Alemanha para assegurar o alargamento da NATO à União Europeia, integrando a Polónia, a República Checa e a Hungria na proclamada nova Europa livre e unida.
As forças norte-americanas, embora com efectivos diferentes, continuam apesar de tudo na Alemanha e no centro da Europa, ocupando bases importantes em termos geoestratégicos e de apoio à política expansionista dos Estados Unidos.
A NATO é uma aliança hegemónica, não é uma aliança entre pares e, nesse sentido, está refém das mudanças estratégicas dos Estados Unidos, que se revelaram em toda a sua extensão depois da última eleição presidencial norte-americana.
A força dos interesses dos Estados Unidos, mas também dos seus aliados europeus, jogam a favor da continuidade da NATO nos dias de hoje, apesar das divergências das concepções estratégicas e das percepções sobre a dinâmica da política internacional, ou seja, o capitalismo, marcado pelas suas contradições internas e pela sua crise estrutural, aposta numa fuga para a frente com o seu instrumento fundamental a NATO, pois fomenta de novo a corrida aos armamentos, desvincula-se de importantes tratados que visam o desanuviamento do relacionamento internacional e o desarmamento, para incrementar o confronto, a ingerência, a provocação e a guerra.
Essencialmente por esta razão, é preocupante e confrangedor verificar o nível de hipocrisia manifestado pelos ministros de negócios estrangeiros na sua declaração de congratulação apresentada no passado dia 4 de Abril ao comemorarem os 70 anos deste bloco político militar, escamoteando todo o percurso a gressivo e criminoso desta organização.
Viver em Paz é um direito de todos os povos e a Constituição da República Portuguesa, criada com o 25 de Abril, é bem explícita sobre este tema ao proclamar no seu Artigo 7º que «Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos».