HOMENAGEM AO ACTOR E ENCENADOR

O Sr. António Meireles desde criança com os seus nove anos de idade, surpreendeu a sua professora primária numa declamação de um poema  “O Barnabé “ que era “um menino gordinho que só comia quatro refeições e mais nada ”e desempenhou o seu papel com “ distinção “.

  Este fenómeno de declamação não passou despercebido, à sua mãe Dª Carmem e ao Pároco da Freguesia de Vilar de Andorinho ( Padre  Faria ) que frequentava a casa onde trabalhavam os Pais do Sr .Meireles, que ficaram encantados com a capacidade em decorar facilmente grandes poemas como o “ Melro “ de Guerra Junqueiro e o Poema “ António “ de António Nobre etc.

   Naquela época havia uma figura popular, que percorria a freguesia e frequentava os bailes e devido à sua simpatia era acolhido por todos com muito carinho e o Sr. Meireles imitava-o na perfeição divertindo todos, com o seu talento já a despertar para o Teatro.

  A criança foi se tornando num jovem atento e com apenas 14 anos começou a frequentar a coletividade “ Os Modestos” de Vilar de Andorinho e o Salão Paroquial com a JOC, onde declamava poesia brilhantemente.

  O seu lado Associativo começou bem cedo a desabrochar e a querer colaborar com Associação e como tinha apenas 15 anos e não podia dar a sua opinião tentou ser ainda mais dedicado, dando sempre o seu melhor, ajudando no que podia até completar os 18 anos de idade e dar voz aos seus ideais e objetivos, como pagamento de cotas igual para todos.

  O seu primeiro trabalho de Teatro Amador foi” Um Erro Judicial ou o Louco da Aldeia” com 17 anos e o seu primeiro papel, esta peça foi um sucesso tão grande que havia espetáculo ao sábado à noite, domingo de tarde e à noite, sempre com casa cheia. Como ator a sério foi o Avarento levado pela Coletividade “ Os Modestos “ de Vilar de Andorinho, muitas outras peças e personagens representou como João Corta- Mar como Ator principal a defender o personagem (Capitão Fragata )papel brilhantemente conseguido pela sua postura, figura e atitude em palco; Sílvio Cigano e como tinha um grande talento para decorar interpretava todos os papeis com grande facilidade, tinha boa figura para galã e a sua especialidade era Drama – Comédia.

  O gosto de representar estava no seu ( ADN ) e as Coletividades vizinhas requisitavam-no porque os ensaiadores sabiam no grande ator que o Sr Meireles poderia se tornar pela  sua humildade e gosto de apreender e fez com que o Teatro Amador e a Arte de Representar fosse considerado para ele, a Universidade dos Pobres, a sua Escola de Vida.

  Os anos foram passando e a experiência Teatral fez fortalecer o sonho de ser encenador e passar o seu conhecimento e sabedoria aos novos atores, com humildade e persistência nos seus ideais e objetivos.

  Uma das primeiras peças que ensaiou foi “ A Mordaça “ encenada no Ideal Clube da Madalena em 1975/ 76 e com ela angariar fundos para a sede. Há cerca de 20 anos “ Os Modestos “ de Vilar de Andorinho realizou um Sarou de Poesia ensaiado pelo Oliveira Alves que convidou o Sr Meireles na altura Presidente de Assembleia a dirigir o espetáculo e ele próprio também declamou poesia e como o fez tão brilhantemente foi lhe atribuído o apelido de ( Joaquim Letria ) jornalista considerado o menino bonito da televisão porta voz do Ramalho Eanes.

  Nessa noite de Poesia o Presidente naquela época da Coletividade Sr. Vieira convidou para o evento o Ministro Couto dos Santos mas, devido a algum contratempo chegou já no final do Sarau e os declamadores e Diretores estavam a confraternizar na sala de reuniões e perante o entusiasmo o Sr. Couto dos Santos não deixou de mencionar que gostaria de ter assistido ao momento de Poesia e para espanto de todos o Sr. Meireles para atenuar a desilusão recitou o “ Piquenique “ de Cesário Verde com tanto talento e desenvoltura, que quando o Sr. Ministro foi embora teve a noção que perdeu uma grande noite de Poesia.

  Em 1984 ensaiou a peça “ Alfama “de António Boto na Tuna “A Vencedora “ de Vilar de Andorinho, onde arrecadou o 1º lugar no Concurso do Teatro Amador de Vila Nova de Gaia depois “ A Casa de Pais” de Francisco Ventura, um texto muito atual, revestido de uma realidade que afeta a nossa sociedade atualmente e o desempenho e a dedicação da equipa encenador e atores deu um resultado positivo, porque conquistaram os 3 primeiros lugares no desempenho de Atores e devido a razões técnicas por demoras foram penalizados e perderam o 1º lugar no Concurso de Teatro. Na mesma Coletividade encenou “ Entre Giestas “ de Carlos Selvagem onde em palco teve cerca de 25 personagens, a representar, um trabalho maravilhoso que encheu de orgulho todos os Vilarenses. Pouco tempo depois repetiu nos Plebeus e no Grupo Paroquial de Oliveira do Douro.

Em 2010 o Sr. Meireles encenou e adaptou a peça “ Um Erro Judicial” de Eduardo Baptista também na Associação “ A Vencedora “ultrapassando todas dificuldades, com os seus atores, numa cumplicidade de objetivos capazes de atingir metas por amor à arte de representar.

  A Associação Recreativa “ Os Modestos “ de Vilar de Andorinho teve um espaço de tempo que deixou “ secar “ a semente do Teatro a verdadeira essência da Coletividade e com o apoio da Direção o Sr. Meireles tomou como desafio encenar uma obra clássica “ As Pupilas do Sr. Reitor “ de Júlio Dinis, onde o Sr. Meireles com ajuda do Senhor Gomes de Carvalho fizeram uma excelente adaptação da obra para teatro. Esta representação envolvia cerca de 50 elementos em palco que só muita garra e determinação e gosto em ensinar e também teimosia, levou-o a não desistir de um sonho que só uma pessoa com grande humildade e sabedoria conseguiu contornar e realizar tão grande proeza. A estreia desta representação foi feita no Auditório de Vila Nova de Gaia e foi sem dúvida um enorme sucesso.

  Nos Modestos o caminho do Teatro continuou com uma Retrospetiva Teatral que deu muita experiência a novos talentos que desabrocharam e outros que se aperfeiçoaram pelo ensinamento, de um Homem que nasceu com um espírito forte e determinado, muita humildade, e alma de ator que determinou a sua essência no Teatro e sonho de vida.

Entretanto retorna novamente para a Tuna “ A Vencedora e ensaia a peça “ Terra Firme” de Miguel Torga e por último a obra “ Deus lhe Pague “ de Joracy Camargo, onde o Sr. Meireles foi encenador e ator principal, um texto muito emotivo e real que faz o público refletir no verdadeiro sentido da sociedade em que vivemos.

  A arte de representar está bem presente no coração de um Homem que dedicou toda a sua existência ao Teatro e fez questão de humildemente demonstrar pontos de vista sem fragilizar, apaziguar em prol do Associativismo derrubando preconceitos, ideologias mal formadas com sabedoria, empenho e dedicação por uma causa.

  O Teatro continua e continuará vivo no seu coração e em palco será sempre ou tudo ou nada!

 Porque ainda acredita que a representação irá sempre fazer parte do seu Mundo.